Minha estratégia de não dirigir mais a palavra a Renata não poderia ser quebrada, por isso, mesmo com ela quase arrebentando a porta, segui sem me mover. Minutos depois, chegaram o zelador e um funcionário, eles já sabiam que nós tínhamos nos separados, mas, claro, ficaram constrangidos de se envolverem. Quando os viu, minha ex ficou ainda mais nervosa e começou a chorar desesperadamente. O zelador disse:
-Por favor, dona Renata, nós não queremos nos meter na briga, mas como o doutor Andersom explicou, a senhora só pode vir pegar as suas coisas, agora se a polícia, a justiça, sei lá quem, mandar deixar a senhora entrar, eu tenho que acatar, mas no momento, ele é quem manda, por isso eu peço numa boa para senhora pegar suas coisas, a gente ajuda ou então deixa aí, mas não pode ficar no prédio.
-Ele vai ter que falar comigo. Abre!!!
O outro funcionário apenas olhava a tudo calado. Renata alternava momentos de fúrias com desespero implorando para falar comigo. Após várias pancadas na porta, ela simplesmente se jogou contra a mesma, fazendo um grande barulho e assustando os homens que assistiam a tudo e até a mim, minha ex bateu a cabeça e o ombro violentamente na porta. Vendo que os dois não conseguiriam resolver a situação, em um momento em que ela se afastou um pouco da porta e seguia sendo convencida pelo zelador a ir embora, abri a porta e num gesto rápido, fui para fora e já tranquei pelo lado de fora, ela arregalou os olhos e achou que eu mudaria de ideia, porém, sem lhe dar pelota, disse ao funcionário:
-Heriberto, segura a porta do elevador de serviço que eu vou colocar essas tralhas, e o senhor, seu José, pode chamar a polícia, chega de papo, sou advogado e se não quero uma pessoa em minha residência tenho o meu direito, se ela discordar, mande-a buscar uma autorização judicial para entrar no meu imóvel.
Renata se colocou em minha frente, tentando me parar:
-Andersom, para com isso? Vamos apenas conversar lá dentro, olha o escândalo que isso virou.
Sem responder ou olhar apenas comecei a pegar as bolsas e jogá-las, sem nenhum zelo, dentro do elevador. Desesperada, Renata tentava coloca-las de volta para o corredor, mas eu era mais ágil. Nervoso com o impasse, o zelador disse:
-Por favor, dona Renata, se ele não quer deixar a senhora entrar, não posso obriga-lo, entenda meu lado. Vai na polícia como ele falou e resolve isso, mas não complica minha vida aqui.
Vendo que não teria acordo, Renata voltou a chorar e quando acabei com as bolsas, peguei as duas malas que ela tinha trazido e joguei-as com força no elevador, provocando um forte barulho. Minha ex ainda insistiu em termos uma conversa, mas vendo que eu não responderia gritou já na porta do elevador:
-Você vai me pagar caro, Andersom, seu corno, eu vou te foder legal!!!
Ela veio para cima de mim com a intenção claro de me agredir, mas o zelador entrou na frente e a segurou, ela, num gesto inesperado, cuspiu literalmente no meu rosto, a maior parte foi em cima do nariz e no olho esquerdo, mas também senti respingos na testa e na face. Na adolescência, lembro-me que durante um jogo de futebol, recebi uma cusparada do goleiro adversário antes da cobrança de escanteio, aquilo me irritou mais do que se fosse um soco ou chute, perdi a cabeça e acabei indo parar dentro do gol, socando e chutando o autor da cafajestada, por isso, na hora que Renata me cuspiu, além do ato em si, havia todo um contexto de quatro anos juntos, sendo que dois pagando todas as suas contas e morando juntos, confesso que faltou pouco para arrebentá-la completamente, mas tive uma paciência de Gandhi para não fazer o que seria uma covardia e apenas passei calmamente a mão no rosto, enquanto o zelador e o funcionário me olhavam incrédulos. Ela própria talvez tenha notado que passou da conta e ficou de olhos arregalados e boca aberta me vendo limpar seu cuspe. Derrotada, Renata aceitou entrar no elevador e desceu desaparecendo de vez daquele prédio, mas não da minha vida.
Tive vontade de socar as paredes. Os vizinhos, mesmo trancados com o medo do barraco, tinham ouvido tudo e era uma questão de horas para que todos no prédio ficassem sabendo. A cusparada na cara era algo que eu jamais imaginara, mas vindo de alguém que decidiu sair de um relacionamento de quatro anos por causa de uma viagem às Ilhas Gregas, não deveria mais ser surpresa, foi apenas um ato simbólico que ilustrava seu caráter. Tentei controlar meus nervos e ainda de cabeça quente, conclui que era melhor vender em breve meu apartamento e ir morar em outro lugar, não só pela vergonha, mas para esquecer de vez dela. Mais do que triste eu estava furioso.
Entretanto, meu sábado de tormento ainda não tinha terminado, por volta das 21h, estava tentando comer uma pizza quando recebo um áudio de Monteiro. Não acreditei que o filho da puta ainda queria falar algo. A curiosidade novamente foi maior e cliquei:
“Olá, doutorzinho! Ah ah ah ah ah. Tenho que te agradecer muito pelo que fez hoje, rapaz, você foi brilhante!!! Primeiro, permita-me explicar: eu estou realmente apaixonado pela tua mulher, quer dizer ex, agora ela é a minha garota. Foram mais de dez dias maravilhosos fazendo amor em diferentes ilhas gregas, Míconos, Samos, Milos, você já esteve lá? Acredito que não, com o que um advogado do seu nível ganha, no máximo dá para ter umas feriazinhas em Bariloche e parcelado, mas voltando ao assunto, foram dias maravilhosos, até em barcos nós fizemos amor e ela teve tudo do bom e do melhor: caviar, frutos do mar, roupas caras e lembranças locais, mas sabe que apesar de ter se fartado, Renata, como eu já previa, quis tentar voltar para você. Eu a levei para minha casa após a viagem, disse que morasse comigo, mas ontem percebi que ela estava chateada, aí hoje acordo e buummmmmm, minha garota tinha me deixado, acho que senti o mesmo que você no dia em que Renata te deixou um bilhete e foi viajar comigo, é uma sensação muito desagradável, admito, porém algumas horas depois, vejo-a voltando completamente destroçada, a coitadinha até se jogou no chão chorando antes de me contar a humilhação hiper, ultra, mega máster que você a fez passar. Ela chorou muito e disse que nunca mais irá te procurar. Claro que eu não posso acreditar 100% nisso, até porque você é um corno manso e vai que logo começa achar que poderiam tentar uma reconciliação e tal, por isso, lamento, mas terei que desconstruir um pouquinho a sua imagem perante a ela e aos demais. O que acha de começarmos com algumas fotos suas no carro com sua tia? Uhhhhh, tens bom gosto, que mulherão, mas será que seu tio e demais familiares gostarão de saber? Pois é, foi fácil conseguir essas provas, pouco antes de viajar, botei um cara na tua cola e depois mandei ele averiguar quem era a loirona gostosa, meu objetivo era mandar para o corno do marido dela, mas quando soube que ela já fora casada com seu tio, aí eu guardei para uma ocasião especial, quem sabe um almoço de Natal? As fotos de vocês se beijando dentro do carro ou entrando no motel? Também tem a questão profissional, se segura, malandro, porque na hora certa vou mexer meus pauzinhos, alguns contatos e quem sabe não pinta uma exclusão da inscrição na OAB? Vamos ver, por enquanto, vou curtir o momento. E se um dia alguém perguntar, mas por que você esmagou aquele advogadozinho feito uma barata, responderei: porque eu posso! Porque eu quis! (gritando) Se nessa vida já prejudiquei seriamente quem me deu um bom dia atravessado, por que não ferrar com um cara que além do fato de ter a mulher que eu quero, ainda foi deveras petulante? Ou pensa que me esqueci de você ter me chamado de palhaço idoso em nosso primeiro encontro? E das demais vezes também, sempre com um ar de que estava acima de mim, quando não chega nem a sola do meu sapato. E ainda teve a última vez em que você praticamente me enxotou do seu escritório, como se eu fosse o quê? Um vendedor de porta a porta? Ah, seu moleque de merda! Mesmo que não tivesse a minha doce Renata entre nós, eu ainda assim te perseguiria. Para terminar, após esse meu desabafo um pouco elevado, admito, quero te perguntar se você se lembra que te falei do meu segredinho de gostar de vídeos de sacanagem amadora? Em breve, te mandarei alguns bem quentes. Por ora, muito obrigado por me ajudar ainda que indiretamente a ficar com a Renata e Carpem Diem (curta o momento) enquanto o pesadelo não começa, dou-tor-zi-nho.”
Irritado, pensei em gravar um áudio dizendo primeiro que independentemente da Renata querer ou não ficar com ele, a única certeza que ele poderia ter é que eu não a queria mais. Dizer também que sabia que ele era perigoso, mas que se a primeira jogada dele no tabuleiro não fosse já um xeque-mate capaz de me inutilizar completamente, que se preparasse, pois meu contra-ataque seria fatal.
Porém, refleti melhor e decidi não dizer a nada. Teria que tomar cuidado, mas estar pronto para revidar.
FIM da primeira temporada
Amigos, esses capítulos disponibilizados até aqui encerram a primeira parte, a segunda, será dividida em 13 capítulos e encerrará a história. Além dos personagens que estiveram presentes nessa primeira parte, novos entrarão e dois deles que posso adiantar são a filha de Bia e a filha de Monteiro. Na segunda parte, a pegada será mais de grandes reviravoltas, dramas familiares e graves conflitos, inclusive com morte. Claro que haverá sexo, mas os que gostam da pegada psicológica e de surpresas bem amarradas ao contexto da história, creio que gostarão. Particularmente, acho que a 2ª parte ficou mais intensa.
Assim como fiz na outra história, disponibilizarei essa 2ª parte com 13 capítulos (quase 22 mil palavras) aos que quiserem comprar pelo valor módico de R$ 10,00. Os interessados devem enviar um e-mail para laelocara@gmail.com ( o proprietário do site permitiu que eu oferecesse o material)
Só mais um esclarecimento, a 2ª temporada não será postada aqui,
Seguem os títulos dos capítulos da 2ª temporada e alguns trechos de diferentes capítulos
I- Sexo, vídeos e tortura psicológica
II- Natália, uma jovem viúva
III- Anne, a filha de Bia
IV-A Armação
V- Aos 28 segundos...
VI- Lavando a alma com sangue
VII- Uma noite maravilhosa
VIII- No meio do caminho havia um tal Jonathan Davis
IX- A filha de Monteiro e o agente infiltrado
X- Destino final: Uruguai
XI- O verdadeiro Jonathan Davis
XII-Desarmados
XIII- Uma tarde qualquer em um shopping
Trechos de diferentes capítulos:
“Nem pense em remexer nisso, você mesma testemunhou o quanto ele é violento, um completo animal, porém extremamente inteligente, diria até maquiavélico para armar tal plano. Meu grande erro foi ter subestimado sua capacidade”.
“No caminho de volta para casa, como o trânsito estava péssimo e sou acostumado a ouvir músicas antigas, apertei a primeira da playlist e ironicamente começou a tocar justamente If you leave me now, a música que dancei com ela no casamento de Valéria, já de cara o trecho: If you leave me now You'll take away the biggest part of me (Se você me deixar agora, você levará embora a maior parte de mim), me fez colocar as costas da mão na boca e começar a chorar compulsivamente. Eu tinha perdido o amor da minha vida, estava perdendo meu pai e a vida estava perdendo totalmente a graça”.
“...afinal de contas, ele tinha fama de machão, conservador e defensor da família (quando tem esse combo, certeza de que é um farsante), se aparecesse num vídeo assim, nunca mais teria coragem de ir a uma festa de bacanas ou dar entrevistas exaltando seus feitos e valores morais”.
“...dizer o quanto a amava, por sorte, eu estava tão bêbado que acabei discando para a pizzaria e me declarando para a moça que anota os pedidos”.
“Pode parecer loucura, mas eu já odiava Jonathan Davis mais do que Monteiro, ou melhor, não o odiava, invejava-o por ter o que eu mais desejei em toda minha vida”.
“...fez um sinal com os dedos indicador e médio querendo dizer “Tem coisa aí entre vocês”, fiz um sinal discreto com a cabeça de que não e ela colocou o dedo abaixo do olho puxando a pálpebra, como quem diz “Não sou boba” e em seguida riu meio que aprovando”.
“Ele já é considerado um foragido pela Justiça e com a repercussão desses horrendos crimes na mídia e a divulgação de sua foto nas redes sociais e na internet, creio que será questão de dias, talvez horas, para que venhamos a prendê-lo”,