Ma Petite Princesse - 2° Temporada - XXII

Um conto erótico de Ana_Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 9921 palavras
Data: 05/02/2022 21:18:44
Última revisão: 29/10/2024 04:01:23

Sinopse: Decisões tomadas em meio ao sentimento de raiva. Quais as chances de um arrependimento?

***

O vestido de cor vinho com alças finas, bem justo no corpo, destacando os meus seios em um decote V e discreto foi o escolhido para aquela comemoração. A saia rodada exibia um pouco as minhas coxas o que me incomodava bastante, mas a minha mãe insistiu para que eu comprasse e usasse naquela ocasião especial. A sandália também da mesma cor era de salto baixo e não iria me cansar demais nas primeiras horas de festa.

Era noite de sábado e os meus pais decidiram comemorar o aniversário de casamento na nossa casa ao lado dos amigos mais próximos. O aniversário da minha mãe aconteceu uma semana antes e ao invés de festa, nós três viajamos um final de semana para São Paulo. Passeamos pela cidade, minha mãe fez compras pela famosa rua Oscar Freire e meu pai nos levou no bairro onde ele morou com os meus avós e os meus tios até a sua pré adolescência antes de eles se mudarem para a França. A casa ainda era a mesma é claro, mas com outros moradores e ele ficou feliz em dividir comigo e com ela as lembranças do seu lado brasileiro.

Eu me olhava no espelho já arrumada e fiquei pensando em como seria aquela noite. A parte boa era que eu não iria reviver os momentos de horror que eu vivi com aquele verme nojento mas a ansiedade de encontrar ou não com o Eric me dominava por inteira. Finalizei colocando o meu colar com o pingente da minha inicial, penteei os meus cabelos e fiquei me olhando uma última vez cada detalhe. Nada exagerado na maquiagem. Fiz uma limpeza de pele na parte da manhã apenas para me maquiar com o básico: batom na cor rosa claro e os olhos marcados com rímel e lápis pretos.

- Filha, posso entrar? - ouvi a voz da minha mãe depois de uma batida rápida na porta no que ela entrou de imediato - Ah, Deus! Linda como sempre! - Ela sorriu ao se aproximar de mim - Já está pronta?

- Já sim, mãe. Você também está linda. - elogiei olhando ela pelo espelho.

O lindo vestido dela na cor bege era parecido com o meu mas a saia era reta até a metade das suas coxas grossas. Seus olhos acho que ficaram mais azuis com a maquiagem ao redor deles e o salto dos sapatos chamaram a minha atenção. Com certeza ela ficou da mesma altura que o meu pai.

- Ah, que ótimo! Se não for demorar muito, vem comigo e salva o seu professor!

- O quê? Como assim? - me virei na direção dela - O Eric já chegou?

- Eric? - ela questionou sem entender - Você chama ele apenas pelo nome? Ele é o seu professor, meu anjo.

- Ah... - fiquei sem ar - Foi sem querer.

Que gafe.

- É apenas uma questão de respeito e você não deve chamá-lo assim, não se esqueça... Mas então, ele veio sozinho e a Marina não perdeu tempo para se jogar em cima dele!

- A Luciana não veio? - perguntei sentindo as minhas mãos geladas ainda pela gafe e por ele estar sozinho.

- Pois é filha, eu também estranhei! Ele me disse que ela precisou fazer uma viagem de última hora e por isso não poderia vir. Será isso foi uma desculpa e eles dois estão em crise no namoro?

- Mãe, eles não namoram... - suspirei fundo.

- Isso é o que ele sempre vai dizer, meu anjo. Mas ali tem romance escondido.

Voltei a me olhar no espelho sem demonstrar nenhuma reação. ''Como você reagiria se descobrisse que eu e o Eric éramos namorados, mãe?'' pensei enquanto passava os dedos indicador e o do meio pelo meu pingente enquanto acalmava a minha respiração e o meu coração acelerado.

- Ele está sozinho com a Marina? - perguntei, tentando desviar aquele pensamento.

- Melissa e Felipe estão com eles mas você sabe como a Marina é: ainda sonha em ter uma chance com o seu professor e não é nem um pouco discreta quanto a isso. Vem, vamos logo! - me puxou pela mão e saímos as duas do quarto.

Meu coração parecia que estava batendo errado, se confundindo com o ruído dos saltos da minha mãe, a cada passo que eu dava ao lado dela pelo corredor até chegarmos na sala que estava sem nenhum dos móveis. Tudo estava igual como no aniversário: o espaço, os convidados, alguns garçons do buffet servindo e o fotógrafo registrando cada detalhe.

Meus olhos se viraram na direção daquelas quatro pessoas que estavam sentadas em um canto da sala e sem perceber soltei uma risada meio que de nervoso. Marina sentada bem perto do Eric que parecia se esforçar para ser simpático. Melissa como sempre comendo a famosa torta de frango e Felipe ao me olhar tentava também não rir, colocando uma das mãos na boca e com um dos braços cruzado na direção do seu tórax.

- Boa noite! - cumprimentei todos ao me aproximar com a minha mãe e o olhar dele era de alívio ao me ver - Desculpem pela demora.

- Nívea, minha querida! - Marina deixou a taça com vinho branco em uma mesinha que estava perto e se levantou para me cumprimentar - Que bom te ver, linda!

- Você também, Marina. - correspondi ao abraço e pude sentir o perfume adocicado que ela usava me deixando tonta por alguns segundos - Oi Professor - me virei para ele e o bolo na garganta começou a querer me sufocar.

- Oi, senhorita Martin. Está muito elegante como sempre. - seus olhos percorreram todo o meu corpo e tive a impressão de sentir a minha calcinha apertar por entre as minhas pernas mais do que o normal.

Eric não iria cansar nunca de ficar mais lindo? Usava uma blusa social preta com as mangas dobradas até os cotovelos com a calça social e sapatos da mesma cor. E mesmo parecendo sério ao me encarar, seu rosto era a pura perfeição. Aquela noite não iria ser fácil.

- Obrigada. Pensei de você não vir.

- Bom, eu cometi a desfeita de não ir na inauguração da clínica da sua mãe então agora estou me redimindo.

- Isso é verdade! - Marina estava com o seu braço cruzado com o meu e entrou na conversa - Fiquei triste demais por você não ter ido, professor.

- Acreditem, eu também fiquei... - ele sorriu sem tirar os olhos de mim.

- O professor Schneider agora terá a companhia da melhor aluna dele, Mari - minha mãe também queria salvá-lo dela - Não é?

- Tudo bem, mãe. A Marina também pode ficar aqui com a gente.

Ficar a "sós" com ele mesmo tendo a companhia dos meus dois amigos? Jamais!

- Você consegue ser muito mais agradável que a sua mãe, é incrível.

- Vou ficar de olho em você. - minha mãe advertiu.

- Tá legal, Lena. Ficarei muito bem na companhia dos jovens.

Minha mãe saiu para dar atenção aos outros convidados e eu me sentei junto deles observando quem já havia chegado. Dona Cecília e o Senhor Henrique, amigos de trabalho dos meus pais... Mas a sala não estava tão cheia. Os arranjos de flores que meus pais receberam durante o dia serviram de decoração e o mais bonito foi um de rosas vermelhas que eles receberam dos meus avós.

- Mas eu ainda não consigo acreditar que você veio desacompanhado, professor! - a voz da melhor amiga da minha mãe chamou a minha atenção para a conversa.

- Luciana adoraria ter vindo mas... Surgiu um problema particular que ela precisava resolver.

- Como ela está?

- Está bem, trabalha muito como sempre.

- Eu vivo dizendo para a Lena que ela é uma mulher de sorte! E claro nós aqui também por saber que você se tornou amigo da família Martin.

- Sim, isso foi acontecendo naturalmente.

Por que a Luciana ainda me incomodava, mesmo o Eric me dizendo várias vezes que os dois eram praticamente irmãos? E com a Marina ali se insinuando para ele, usando um vestido mais curto e apertado que o meu, eu não sentia o mesmo? Por que tudo se tornava tão confuso pra mim mesmo depois do fim do nosso namoro? Parecia que eu iria enlouquecer a qualquer momento.

- Sendo assim, espero que não se incomode em ter a minha companhia além da sua melhor aluna. - Marina era mesmo direta com o que queria e sua mão livre pousou sobre a dele.

- Não, imagine. - ele a respondeu, bem desconfortável, permitindo aquele toque. Comecei a sentir até um pouco de pena do Eric.

- E como você se saiu nas provas, Nívea? - Felipe me perguntou e aquela situação tensa diminuiu.

- Fui bem, Lipe, obrigada. A viagem de aniversário da minha mãe encaixou bem no fim de semana depois delas.

- A Lena sempre fala isso de você e eu tenho que concordar: você é tão inteligente quanto ela.

- Minha mãe exagera.

- Será mesmo? - e me olhava de um jeito duvidoso e então se voltou para o Eric - Conta pra nós, professor, a Nívea se saiu bem ou não na sua prova? - ela insistia em manter sua mão junto da mão dele.

- Uma nota 9.7 diz muita coisa.

- Viu só? Não seja modesta, minha linda! Você é uma aluna exemplar. Seus pais só tem elogios para você.

- Bom, eu estou indo pegar mais torta, alguém vai querer? - A ruiva perguntou com o pequeno prato vazio nas mãos já se levantando.

- Não Meli, depois eu como alguma coisinha.

- Então... Mudei de ideia. - Melissa de repente fez uma pausa, olhando na direção da porta e se sentou de novo.

- O que foi? - perguntei e olhei na mesma direção.

E então o Frederik estava ali. Na porta, ao lado dos pais, sendo recebido pelos anfitriões da festa. Meu pai não conseguia esconder a alegria em vê-lo lhe dando um abraço carinhoso e um tapinha nas costas. Meu amigo estava bem arrumado com roupas sociais parecidas com as do Eric mas em outra cor e totalmente sem jeito com aquela euforia do senhor Jacques Martin.

- Olha só quem chegou, lindona! - a melhor amiga da minha mãe me cutucou - Seu amigo príncipe!

Respirei fundo.

- Com licença, vou salvar o Frederik das garras do meu pai - brinquei e todos riram. Talvez nem todos.

Caminhei em passos rápidos, atravessando a sala e parei ao lado do Frederik cruzando o meu braço com o dele.

- Oi Nívea! - nos abraçamos rapidamente e me beijou na testa.

- Que bom que vieram! - cumprimentei os pais dele que sempre foram tão gentis comigo durante esses meses em que eu e o filho nos tornamos mais próximos.

- Você não vai mais se sentir deslocado, meu querido! O meu anjo vai te fazer companhia.

- Claro, mãe. - sorri sem graça - Vem comigo. Os nossos amigos e o professor Schneider estão bem ali.

- Ah, legal!

Puxei o Frederik pelo braço e o levei para onde estávamos. Quando nos aproximamos novamente, o olhar lindo e sério do Eric era de incômodo em me ver junto daquele que era o seu aluno.

- Boa noite! - ele cumprimentou a todos e em especial o Eric para quem estendeu a mão - Oi professor, tudo bom?

- Sim, Senhor Bertrand. - correspondeu ao aperto de mão - Obrigado.

Frederik puxou uma cadeira se sentando bem do meu lado ficando entre eu e a Melissa que estava ao lado do meio irmão. E assim, Marina ficou do meu outro lado entre eu e o Eric.

- Não precisa ficar incomodado. Hoje vai ser bem diferente do jantar no início do ano.

- Eu espero que sim! - ele sorriu, relaxando os ombros.

- É uma pena que a Gabriele e o Patrick não vieram... - Melissa lamentou - Aí a zoeira ficaria completa.

- O Patrick ficou revoltado porque também queria vir. Mas a vó Raquel inventou essa viagem para Campos do Jordão e levou os dois. Eles viajaram ontem de noite mas amanhã estão de volta.

- Eu percebi nesses meses de contato que a Dona Raquel gosta de viajar...

- Depois que o avô da Gabi e do Patrick faleceu, ela se sentiu muito sozinha - ele explicou - E então o William trouxe ela pra morar com eles. E isso se tornou uma terapia pra ela. Viajar e cuidar da casa.

- Com licença... - Dona Denise se aproximou de nós - Quase ia esquecendo, não é filho? - e lhe entregou um envelope branco de tamanho médio, piscando pra mim em seguida e voltando para onde estava ao lado do marido.

- Caramba, verdade! Valeu, mãe.

- O que houve? - perguntei curiosa.

- Toma - ele me passou o envelope - Abre que você vai gostar.

Peguei o envelope e abri devagar sem entender. Quando vi o que era, não consegui esconder o espanto.

- Ah, meu Deus! - e comecei a rir, colocando as duas mãos na boca - Não acredito nisso.

- O que é, amiga??? Mostra!!!!

Era uma foto onde eu estava do lado do Frederik na nossa turminha do jardim de infância. Eu e ele usávamos aventais transparentes, por cima do uniforme, que estavam sujos de tinta guache e posando para a foto, talvez tirada pela nossa professora da época. Meus cabelos estavam curtos na altura do pescoço com uma franja e duas pequenas mechas presas em lacinhos cor de rosa. Meu sorriso era mais tímido que o dele. Ambos mostrando nossos trabalhinhos em folha de papel ofício na sala de aula: o meu era uma boneca com os traços em preto e branco que eu pintei com várias cores e o dele um cowboy também pintado.

Eu olhava a imagem e um filme cortado estava passando na minha cabeça. Eram poucas as minhas lembranças dos meus primeiros anos no colégio e ver aquela foto aqueceu o meu coração de alegria.

- Essa foto já está pronta lá em casa desde a primeira semana de aula depois que nos encontramos no restaurante.

- É sério? - perguntei enquanto olhava a foto lembrando daquele tempo.

- Aham. Busquei o álbum com a minha mãe e consegui digitalizar. Depois foi só passar para um pen drive e enviar pra revelar.

- E por que você demorou esse tempo todo pra me mostrar?

- Isso eu vacilei mesmo mas lá em casa de manhã é aquela correria de sempre e eu esquecia de colocar na mochila pra te dar. Mas agora tá aí.

- Deixa eu ver amiga! - Melissa me pediu e entreguei a ela a foto que claro não deixou passar a zoação - Oooownn a Ni usava franjinhaaaaa - e começou a rir mostrando a foto para o mais velho - O augeeeee.

- Eu gostava do meu cabelo desse jeito tá bom?

- Você era muito bonitinha, Nívea - Felipe elogiou enquanto também olhava a foto - Seus olhos continuam os mesmos.

- Posso? - Eric estendeu a mão na direção do Felipe e ele passou a foto

- Obrigado.

Eric e Marina olhavam juntos a foto e sua expressão séria permanecia a mesma. Seus olhos alternavam entre o meu rosto e a foto.

- Você foi a bebê mais linda daquela maternidade, Nívea. - ela olhava a foto e comentava sobre o dia do meu nascimento - As enfermeiras no berçário não comentavam outra coisa no dia em que fui visitar você e a sua mãe. E essa foto aqui só confirma isso.

- Realmente - Eric então me devolveu a foto - Você era uma linda criança. Mas já sabia quando vi a sua foto ali na parede quando era bebê. - falou, apontando na direção do quadro.

- Obrigada - senti meu pescoço esquentar de vergonha - Posso mesmo ficar com ela, Frederik? - voltei minha atenção para ele.

- Claro, é sua! Vai ficar legal se você colocar ela no mural de fotos do seu quarto.

''Não Frederik. Não precisa dizer que você conhece o meu quarto.''

- Nossa, super concordo! - Melissa fez questão de piorar aquele simples comentário - Aliás Frederik, você não acha que o mural já está ficando lotado de fotos da nossa amiga?

- Quando eu vi estava bastante cheio mas achei bonito. A foto que eu mais curti foi aquela sua com os seus primos andando de bicicleta pelo Parc la... - ele parou para pensar - Qual é mesmo o nome?

- Parc de la Tête d'Or...

- Isso mesmo. Ficou show!

''Você e o Eric não estão mais juntos!

Você e o Eric não estão mais juntos!

Você e o Eric não estão mais juntos!''

Era essa a minha situação há alguns meses e eu tinha que parar de ficar paranóica com aquele comentário.

- Vocês podem me dar licença um instante? - me levantei com calma - Vou no meu quarto guardar a foto.

- Quer que eu te ajude a colocar ela no mural?

- Não Frederik, obrigada! Eu não vou demorar. - e saí em passos ligeiros corredor adentro, entrando no quarto. Desacelera coração, por favor!

Coloquei a foto de volta dentro do envelope e deixei em cima da minha mesa, me servindo com um copo d'água da jarra que sempre estava ali. Olhei rapidamente para o mural de fotos e em específico para a foto que o Frederik havia falado. Henry, Madeleine e eu passamos a manhã de domingo do parque no dia seguinte em que eu conversei com os meus pais por Skype nas férias de julho. Foi um passeio super agradável.

***

Para evitar qualquer momento desagradável, circulei um pouco pela festa, experimentei a comida que fora servida, conversava com as amigas da minha mãe e tirava fotos com algumas delas. Me esforçava ao máximo para driblar minha timidez de sempre. Olhava onde eu estava sentada e via o Frederik conversando normalmente com a Melissa, o Felipe e o Eric. Por algum milagre, a Marina deixou de sufocá-lo e estava conversando com outras convidadas. Deixei o meu quarto com o celular em mãos para "fofocar" com a Melissa por mensagem.

- Oi Catarina! - fui cumprimentá-la quando a vi na cozinha orientando os funcionários do buffet.

- Olá Nívea, como vai? Quer alguma coisa?

- Não obrigada, eu ainda não tinha te visto.

- Pois é, tá corrido aqui. Mas tudo se saindo bem.

Soube que depois do aniversário de 40 anos da minha mãe, o buffet que a Catarina gerenciava disparou em trabalhos todos os fins de semana. Por muito pouco, ela não conseguiu ser a responsável por servir a festa de inauguração da clínica mas felizmente deu para encaixar a data na agenda da equipe.

- Quando eu e as meninas vimos o seu professor chegando foi difícil conter a euforia - e começou a rir.

- Eu imagino. O professor Schneider acabou se tornando amigo da família.

Como era esquisito dizer aquilo.

- Isso é ótimo. - ela foi até a mesa onde estavam algumas fatias de torta prontas para serem servidas. - Toma, leva pra sua amiga e maior fã da nossa torta. Realmente não quer comer nada?

- Não, obrigada. Já comi um dos pratos principais.

- Tá bom então.

Deixei a cozinha e vi de longe minha mãe sentada com uma taça de vinho tinto nas mãos, conversando com o Eric e imediatamente acendi meu sinal de alerta.

Fui até a Melissa e lhe entreguei o pequeno prato no que ela não recusou.

- Filha, vem cá! - ela esticou o braço me chamando e me vi forçada a me aproximar novamente do Eric - O seu professor estava me contando a origem do nome dele.

- Ah é? - me sentei em uma das coxas dela e seu braço envolveu a minha cintura.

- Meu pai desde jovem é fã do cantor e guitarrista inglês Eric Clapton.

- Legal - sorri sem jeito - acho que já ouvi algumas músicas...

- O nome do meu anjo eu pus em homenagem à minha avó. Foi uma situação engraçada porque o Jacques queria que ela se chamasse Caroline.

- Em homenagem à princesa de Mônaco? - ele perguntou não desviando os olhos de mim.

Cínico. Ele já sabia desde aquela tarde de tempestade.

- Exato! Ele sempre admirou a beleza da princesa quando era jovem e eu queria Nívea. Mas aí a minha avó foi quem deu a ideia: ''Por que não coloca os dois nomes?'' E então eu peguei uma folha de papel, escrevi e realmente ficou lindo. Nívea Caroline!

- Se eu for chamada pelos dois nomes já sei que estou encrencada! - brinquei e minha mãe riu.

- Mas não é só você aqui que tem o nome de realeza, meu anjo.

- Não?

- Sua mãe conversou comigo, Frederik - ela se virou pra ele sorridente - A escolha do seu nome foi muito bonita também!

- Ah é... - foi a vez dele ficar envergonhado - Foi meu pai que escolheu na verdade. Por causa do príncipe herdeiro da Dinamarca.

- Não acredito... - me levantei e sentei na cadeira do lado - Tá falando sério? - fiquei realmente curiosa com a origem do nome dele.

- Dinamarca é um país escandinavo não é? - Melissa perguntou em meio a uma garfada na torta.

- É sim - ele começou a explicar - Os meus pais viajaram para os países escandinavos em lua de mel. E na semana em que eles chegaram na capital, em Copenhagen, iria acontecer o casamento do príncipe herdeiro. O país estava totalmente em festa por causa do acontecimento. E tudo bem, meus pais curtiram a viagem pelo país e tal. Quando eles voltaram pro Brasil, minha mãe precisou ser hospitalizada pois começou a passar mal. Fizeram os exames e então ela descobriu que estava grávida!

- Poxa, que legal.

- Pois é - ele riu - Aí meu pai decidiu: se fosse menino, o bebê teria o mesmo nome do príncipe e se fosse menina a minha mãe que iria escolher.

- Um nome de príncipe escandinavo... - a frase que eu ouvi meses atrás acabou virando uma coincidência.

- Isso mesmo - ele confirmou.

- História legal - Felipe se levantou - Vou pegar alguma coisa para beber.

- Eu te acompanho. - Eric se levantou em seguida - E vou aproveitar para pegar um pouco de ar lá fora na varanda.

- Fiquem à vontade, rapazes. - Minha mãe terminou de beber a taça de vinho, deixando na mesa - Vou ver como estão as coisas na cozinha.

Eu, Frederik e Melissa ficamos conversando sobre outras coisas e então acabei me rendendo à famosa torta que estavam servindo. Comi uma fatia e depois que terminei, visualizei a tela do meu celular e havia uma mensagem do Felipe. Desbloqueei a tela para ler.

- ''O Eric me pediu para te avisar que não vai embora sem antes conversar com vc.''

A geleira no meu estômago surgiu feito mágica. Como o Eric queria falar comigo em meio à festa? Eu já estava ficando cansada com a insistência dele.

- Diz pra ele esperar sentado porque não temos nada para conversar! - foi a minha resposta.

- ''Tranquilo. Ele tá dizendo aqui que se tiver que esperar a noite inteira dentro do carro parado na esquina, ele vai esperar!''

Puxei o ar com toda força e soltei para me acalmar.

- ''Nívea, escuta o que ele tem pra te dizer e acaba logo com isso.''

- Eu vou pensar e agora vou deixar o celular de volta no quarto - encerrei a conversa fazendo o que havia falado.

***

- Então você não vem mesmo no meu aniversário?

- Infelizmente não. Conversei com a minha avó hoje de manhã e ela já fez as reservas em um resort nos Alpes pra janeiro. Eu vou com ela e o meu avô.

- Entendi.

Estávamos em pé em um canto da sala e era triste dizer aquilo ao Frederik, mas o sábado de janeiro em que ele iria comemorar o aniversário era na semana que eu estaria com os meus avós na estação de esqui.

- Eu sinto muito. De verdade.

- Tudo bem. - ele deu um meio sorriso.

- Mas os meus pais e a Melissa com certeza vão estar com você.

- Claro. Ela e a Gabriele fazem todo mundo rir.

- Certeza que sim.

- E hoje? Quando acabar tudo aqui você vai pra algum lugar? Você e a Melissa podem ir lá pra casa como sempre.

Era uma saída. Ir para a casa do Frederik e então a conversa que o Eric queria ter comigo não aconteceria. Mas ao mesmo tempo isso seria uma fuga. E essa minha mania de fugir dos problemas era uma coisa que eu precisava domar.

Felipe estava certo.

- Vou ficar em casa. Tudo bem pra você?

- De boa. As reuniões que os meus pais costumam promover lá em casa também são chatas e cansativas.

Por que o coração faz escolhas que não podemos mudar? Seria tudo tão mais fácil se ele tivesse escolhido o Frederik. Da mesma idade que eu, que me trata com tanta gentileza e educação, que nunca ousou me agarrar e me beijar à força... Eu podia tentar e dar uma chance a ele mas quando o Eric está perto de mim, meu corpo todo reage de um jeito que não dá para controlar. Eu o amo e sinto raiva por isso, sinto raiva pelo que ele me fez e sinto raiva por não conseguir esquecer dos nossos momentos juntos.

- Com licença - Dona Denise se aproximou - Espero não estar atrapalhando.

- Claro que não, mãe.

- Já estamos indo embora, filho. Já vai dar meia-noite.

- A noite passou tão rápido que eu nem reparei - olhei a hora na tela do meu celular.

- Pensei em uma coisa...

- O quê?

- Onde está o professor Schneider?

- Lá na varanda. Helena nos apresentou a ele. Muito simpático... E bonito também - ela comentou dando uma risada discreta - Por que filho?

- Vem comigo, Nívea?

- Claro...

Seguimos os três em direção à varanda e Eric estava em pé na sacada com o Felipe e a Melissa sentada em uma cadeira.

- Eu já estou indo pra casa, professor. Vim me despedir. - os dois trocaram um aperto de mão sendo observados por mim, a mãe e os meus dois amigos.

- Nos vemos na segunda-feira, Sr. Bertrand.

- E queria também te convidar para o meu aniversário em janeiro.

Fiquei sem reação com o que tinha acabado de ouvir, olhando para o Frederik boquiaberta.

- Seu... Aniversário?

Por essa ele não esperava.

- Sim, eu vou confirmar a data da festa quando chegar perto. Te envio uma mensagem pelo Instagram, tudo bem?

- Bom... Eu volto da casa dos meus pais no Sul no início do mês mas... Claro, me escreva sim. Obrigado pelo convite.

- Legal!

- Já está virando rotina ir aos aniversários dos meus alunos. - ele brincou.

Eu, Melissa e Felipe trocamos nossos olhares no mais absoluto silêncio por algo tão inesperado vindo do Frederik. E pensar que no início do ano, ele nem podia ouvir falar no nome daquele que era conhecido como o professor carrasco e mal humorado.

- Foi um prazer em conhecê-lo, professor - A mãe dele se despediu e virou se para mim - Tchau minha linda - me deu dois beijos no rosto - Espero você e a Melissa lá em casa como sempre.

- Claro, Dona Denise. - a ruiva confirmou - Já sinto falta da piscina.

- Eu vou até a portaria com vocês.

Desci com os meus pais e a família Bertrand até a portaria e terminamos de nos despedir. A festa estava aos poucos chegando no fim e eu sabia disso porque o cansaço começou a alertar os meus pés.

- Falta muito pra acabar essa noite? - perguntei dentro do elevador que nos levava de volta.

- Temos que dar atenção aos convidados que ainda estão na festa, mon ange.

- Contando os minutos para ela acabar.

- Eu também meu anjo.

Saímos os três do elevador e quando chegamos na porta de casa, Eric estava parado ao lado do Felipe.

- Também já vai embora professor?

- Sim, Helena. Está ficando tarde.

- Será sempre bem vindo na nossa casa, professeur - meu pai lhe deu um tapinha amistoso nas costas - A festa hoje não foi tão grandiosa quanto o aniversário da Helena mas espero que tenha gostado.

- Foi tudo perfeito. - seus olhos se voltaram para mim - E nos vemos na aula, senhorita Martin.

- Claro, professor.

- Eu vou descer com o Eric. - Felipe anunciou e após as despedidas de sempre os dois saíram em direção ao elevador.

Estranhei mas me senti aliviada por saber que o Eric estava indo embora e eu poderia me recolher para o meu quarto também.

Procurei pela Melissa e quando a achei, ela continuava sentada na varanda, desligada do mundo, atenta ao celular.

- Eu já vou me deitar, Meli.

- Poxa Ni, ainda está cedo. - ela retrucou ainda com os olhos na tela - Vamos comigo rapidinho lá na loja do posto.

- A essa hora?

- O Fê quer comprar algumas coisas pra abastecer a dispensa lá em Ipanema que está vazia. Vou me encontrar com ele na portaria e ele pediu para te chamar também.

- Ele desceu com o Eric.

- Eu sei, ele está indo embora.

- Será que está?

- Ué, eles não desceram? - ela então me encarou.

- Não sei... Eu vou no meu quarto tirar as sandálias e colocar algo mais confortável.

- Tá, vou ficar te esperando aqui.

Entrei no meu quarto e todo o meu corpo se aliviou quando fiquei descalça mesmo as sandálias não sendo de salto alto. Troquei por uma rasteirinha preta e depois de usar o banheiro e deixando o meu celular recarregando a bateria, voltei para o salão onde eu vi a minha amiga conversando com os pais.

- O Felipe está mesmo lá embaixo esperando vocês duas? - O Senhor Henrique perguntou ao lado da Dona Cecília.

- Foi o que a Meli me disse. Se ele não estiver eu subo de volta.

- Claro Ni, eu também.

- Não demorem meninas - a mãe alertou - essa rua aqui fica muito deserta depois de uma certa hora.

- Não vamos.

- Eu e a sua mãe estamos indo pra casa. Qualquer coisa telefona pra gente.

- Tá bom.

Mais uma vez descemos e ainda da recepção onde o porteiro fica, vimos o Felipe na calçada esperando em frente ao portão.

- Só você mesmo pra querer ir na loja do posto a essa hora! Depois a retardada sou eu.

- Eu lembrei agora do que eu precisava comprar, vou fazer o quê? Eu e você não vamos pra lá amanhã? Então...

Caminhamos em direção ao posto. A rua estava deserta, a brisa fria da noite me arrepiou os braços e comecei a esfregá-los com as mãos na tentativa de me aquecer. E paralisei quando vi uma pessoa encostada na porta do carro do motorista em direção da calçada.

- Eric?

- Eu disse que ia te esperar.

- Ah, meu Deus... - a ruiva também paralisou.

- Vocês dois armaram pra mim??? - perguntei sendo tomada pela raiva.

- Amiga, eu não sabia de nada, eu juro! - Melissa tentou se explicar e Felipe ficou em silêncio, abaixando a cabeça logo em seguida se tornando um alvo - Mas você é um canalha mesmo! - e partiu pra cima do meio irmão dando socos e chutes.

- Para com isso, sua maluca! - Ele conseguiu segurar os dois pulsos impedindo ela de continuar - Era isso ou a Nívea não teria motivo para descer!

- Melissa, para! - Eric ordenou - A culpa é minha, fui eu quem pediu pro Felipe fazer isso.

- Eu vou voltar pra casa agora!

- Não, Nívea! - e uma das suas mãos agarrou o meu pulso - Você não vai voltar sem antes me ouvir!

- Me solta! - puxei de volta, conseguindo me soltar - Eu já disse que não temos mais nada para conversar!

- Eu e a Melissa vamos te esperar no jardim do prédio.

- Não vou deixar a minha amiga sozinha!

- Quer parar de ser histérica? Vem comigo agora!

Vi o mais velho puxando a ruiva pelo pulso, no que ela tentava se soltar mas não conseguia. Fizeram o caminho de volta, me deixando sozinha com o Eric. Não adiantou de nada evitar todo o tempo da festa ficar a sós com ele.

Me encostei no muro do prédio que dobrava a esquina, com os braços cruzados por causa do frio e de raiva em ter sido feita de imbecil.

- Fala de uma vez o que você quer! - disparei sem paciência.

- Você sabe... Quero que você volte pra mim...

- E pra quê? Pra continuar fazendo o que fez comigo? Gritar na minha cara, falando um monte de grosserias?

- Eu sei que eu errei nisso, ma petite...

- Para de me chamar assim!

- Eu errei mas você também errou.

- Eu errei? Você fica do lado da sua ex aluna e a errada sou eu? - devolvi a pergunta e ele respirou fundo.

- Não foi certo o jeito como você a tratou.

- Também não foi certo ela só faltar querer sentar no seu colo.

- Nívea, nós não vamos chegar a lugar nenhum sobre isso! Nós dois erramos e pronto! Vamos esquecer de uma vez por todas!

- Não vou conseguir esquecer! Eu ainda tenho pesadelos com os seus gritos quase todas as noites, Eric! - não consegui mais segurar o choro - Acordo assustada de madrugada e volto a pegar no sono por causa do cansaço de tanto chorar! - Ele engoliu em seco quando ouviu o meu desabafo.

- Eu não podia imaginar que isso tinha te magoado tanto... Te atingido dessa forma... - ele se aproximou de mim, acariciando o meu rosto e deslizando o polegar pela minha bochecha - Você é mesmo muito sensível e eu não quis entender. Eu sinto muito. Me perdoa, meu amor... Minha vida sem você tá um lixo.

- Então pode encontrar uma mulher de verdade! Que não vai mais precisar crescer. Não foi isso que você me disse? E como eu não vou crescer do jeito que quer então eu não sirvo. Eu estou bem como estou.

Sua mão abaixou, interrompendo aquela carícia e seu rosto endureceu, com o pescoço ficando vermelho dominado pela raiva.

- É, eu percebi - falou debochado - Essa noite inteira eu vi como você estava. Bem acompanhada.

- Se ficou incomodado com o Frederik, poderia ter ido embora ou nem precisava ter vindo! Apenas te tratei com educação por causa dos meus pais.

- Está namorando com ele?

- E se eu estiver? Isso não é da sua conta!

- Só quero a verdade, Nívea. Como sempre foi entre eu e você.

- A verdade? Então tá. A verdade é que eu não tenho ninguém. E se eu não tenho ninguém, eu estou livre pra me esfregar e abrir as minhas pernas para o Frederik e para quem eu quiser! Você não é mais nada meu! Não é meu dono, entendeu? Apenas o professor em sala de aula.

Aquelas palavras o atingiram como deveriam. Eric me encarava, analisando cada detalhe do meu rosto e os seus olhos eram pura tristeza.

- São as suas últimas palavras?

- São. Eu não quero mais você me perseguindo, me mandando mensagem e aparecendo de propósito nos lugares onde eu estou.

- Entendi... - ele abaixou e balançou a cabeça em um sim como sinal de que tinha desistido - Então tá bom, Nívea. Vai ser como você quiser e seremos isso. Professor e aluna.

- Ótimo. - respondi de um jeito áspero e ele engoliu em seco.

- Ainda tem algumas coisas suas lá em casa...

- Pode jogar no lixo, fazer o que quiser. E a coelha de pelúcia você pode doar para algum orfanato. Vai fazer uma criança feliz.

Ele continuava a me olhar sem acreditar nas minhas palavras em forma de espinhos.

- Nos vemos na aula na segunda-feira, professor.

Desencostei do muro e segui de volta para o meu prédio sem olhar para trás. Limpei rapidamente as lágrimas que escorriam pelo meu rosto pois era o fim de tudo e eu não podia mais chorar. Se eu fiquei todo aquele tempo sem ter o calor do corpo e o amor do Eric, eu apenas iria continuar seguindo em frente normalmente. Sem ele.

***

- E foi isso. Conseguimos curtir Campos do Jordão pra valer apenas no sábado. Domingo também foi bom mas no fim da tarde já estávamos em São Paulo pegando o avião de volta.

Gabriele passou o almoço e o intervalo inteiro contando sobre a viagem no fim de semana: os restaurantes, as lojas, os pontos turísticos... E eu ouvia tudo atentamente, sentindo o braço do Patrick por cima do meu ombro. Estávamos voltando para a sala de aula vendo a movimentação de alguns alunos que faziam o mesmo pelos corredores.

- Que bom que se divertiram.

- Mais ou menos - o irmão comentou mascando um chiclete - A vovó se divertiu bem mais. A cidade é bonita mas eu preferia ter ficado no Rio.

- O Frederik me falou no sábado.

- A festa dos seus pais foi boa?

- Foi - suspirei - Não foi um festão mas deu pra curtir.

''Somente o fim da comemoração que não foi tão bom assim'', pensei.

No momento em que entramos na sala, uma cena nos chamou a atenção: Frederik estava em pé consolando a Nicole, uma colega de turma, que chorava muito a ponto de soluçar sentada à mesa dos professores perto do Eric, que fazia um leve carinho no seu braço em forma de alento. Ao nos ver, Frederik deu de ombros e se voltou para ela, fazendo um último carinho no seu ombro e deixou um beijo no topo dos cabelos castanhos, ondulados e longos que ela tinha. O volume dos fios fazia ela ficar parecida com a Hermione de Harry Potter.

- O que será que houve com ela? - perguntei baixinho para que apenas os irmãos ouvissem.

- Deve ter sido sério... - Patrick comentou - Nunca vi a Nicole pra baixo e muito menos chorando desse jeito...

Entramos, Frederik foi se sentar no seu lugar e fizemos o mesmo. Enquanto eu guardava minha bolsa de mão e pegava o material para a aula de Literatura, Eric conversava com ela bem baixinho e perto do seu rosto que estava abaixado na mesa. Além da tristeza, o rosto inchado e molhado pelas lágrimas com certeza a deixaram envergonhada.

- O quê que aconteceu com ela, Frederik? - Gabriele virou para trás e perguntou para que ninguém ouvisse.

- Cheguem mais perto porque eu tenho que falar baixo - ele pediu e, sentados, ficamos bem próximos um do outro, sendo nós duas viradas com o corpo pra trás na cadeira - A avó da Nicole faleceu na sexta-feira antes da semana de provas começar.

- Ah meu Deus, tadinha...

- E com o choque, ela tirou sete na prova de Literatura.

- Sério???? - arregalei os olhos e a Gabriele ficou boquiaberta.

- Cacete! - Patrick que estava atrás de mim disparou - Pra média geral da turma, é uma nota horrível.

- Exato - o representante da turma confirmou - Não é uma nota ruim mas vai manchar o histórico escolar dela.

- Que pena, Frederik. Não tem como ela recuperar essa média? - perguntei preocupada.

- Esse bimestre vai ser ou tudo ou nada. É torcer para que ela consiga alcançar as médias de sempre pois ano que vem a pressão vai aumentar pra cima da gente. Formatura e vestibular.

- Com certeza - Gabriele comentou - Nossa, eu nem consigo imaginar um sete no meu boletim.

- Nem eu.

- Por isso que ela também está chorando porque não foi apenas em Literatura, parece que as notas dela em outras disciplinas ficaram bem abaixo do normal. E para o vestibular vai fazer diferença.

Me virei para frente e observei a Nicole limpando o rosto e os seus óculos usando lenços de papel que estavam na mesa. Eric a olhava sério e preocupado e rapidamente os dois trocaram um olhar terno junto de um meio sorriso. O sinal tocou, o restante dos alunos entraram em sala e ela se levantou indo para o seu lugar.

Mesmo sentindo muita pena do que tinha acontecido, eu não queria estar na pele dela.

***

Estávamos na segunda aula sobre o Naturalismo francês, período literário que começou no final do século XIX.

O romance Thérèse Raquin, do escritor Émile Zola foi o livro indicado para a leitura do último bimestre. Eric nos explicou na primeira aula que o livro, mesmo recebendo muitas críticas, foi considerado a obra que iniciou o movimento literário na França.

Estudamos outros autores do mesmo período, respondendo às questões do livro e algumas que o Eric havia deixado no quadro.

- Et alors? - ele se levantou da cadeira, ficando encostado na mesa observando a turma - Comment se passe la lecture du livre ?

(E então? Como estão indo com a leitura do livro?)

- Je le commence aujourd'hui, professeur. - Nicole lhe respondeu ainda com a voz baixa e um pouco rouca por causa do choro - Y-a-t-il un problème?

(Eu vou começar a ler hoje, professor. Tem algum problema?)

- Pas de problème, Mademoiselle Dumont. Avec vos lectures à jour, votre note sera excellente. Comme vous l'avez fait la dernière fois.

(Problema nenhum senhorita Dumont. Com a leitura em dia, sua nota será ótima. Assim como foi da última prova.)

Eric estava fazendo de tudo para diminuir a tristeza dela.

- Oui professeur, mais la meilleure note de la classe était celle de Nivea. Elle a eu un 9,7.

(Sim professor, mas a nota maior da turma foi da Nívea. Ela tirou 9,7.)

- Gabriele! - me virei e chamei a atenção da minha amiga, não acreditando no que tinha acabado de ouvir.

- Je sais mademoiselle Fernandes, c'était moi qui a corrigé les examens.

(Eu sei senhorita Fernandes, eu corrigi as provas.)

- Alors pourquoi vous faites l'éloge de la note de Nicole si ce n'était même pas la meilleure de la classe ? Ce n'est pas juste !

(Então por que está elogiando a nota da Nicole se nem foi a maior da sala? Isso não é justo!)

- Gabi, arrête !

(Gabi, para com isso!)

- Arrête, uma ova! A sua nota foi a maior! E eu vou falar em português mesmo! - e se levantou, quebrando a regra de conversação em sala de aula, chamando a atenção da turma inteira, me fazendo ficar roxa de vergonha - A Nívea sempre foi a melhor aluna na sua disciplina, professor! - enfatizou, apontando para mim - Quem merece elogios é ela pela nota!

- Senhorita Fernandes, eu sei que a senhorita Martin é uma excelente aluna, afinal eu tenho acesso às notas de todos os meus alunos. E exatamente por ela ser excelente, eu não vejo mais razão para me preocupar com ela.

Por que esta última frase me incomodou mais do que deveria?

- E portanto, daqui pra frente eu vou dar atenção aos alunos cujas notas precisam ser melhoradas. Afinal, estamos no último bimestre - falou na direção de todos os alunos - Entendeu? - se voltou para ela - Agora, sente-se! - ordenou.

- Droga! - ela se sentou na mesa com os braços cruzados e a cara amarrada.

- Você só me faz passar vergonha mesmo! - o irmão sentado atrás falou baixinho com a mão na testa.

- Dane-se! A maior nota foi da nossa amiga! - ela protestou, respondendo ao irmão.

Ao me virar, Nicole que estava sentada na fileira do lado olhava na nossa direção com os olhos ainda inchados.

- C'était une excellente note, Nicole. - elogiei.

(Foi uma ótima nota, Nicole)

- Merci, Nívea. - ela sorriu pra mim de um jeito muito doce.

(Obrigada, Nívea)

- S'il vous plaît la classe, lisez le livre ! Je vous demande de le faire chaque bimestre et celui-là ne sera pas différent.

(Por favor turma, leiam o livro! Eu peço isso à vocês em todos os bimestres e agora não será diferente.)

- Oui, professeur! - todos responderam.

(Sim, professor)

- Dans vingt minutes, nous corrigerons les questions au tableau. - e ele voltou a se sentar na sua cadeira.

(Daqui a vinte minutos vamos corrigir as questões no quadro.)

A aula continuou normalmente após essa histeria da Gabriele e o silêncio tomou conta da sala. Observei o Eric abrindo em uma página do livro de Literatura, começando a ler algo atentamente. Não trocou seu olhar comigo e nem piscou pra mim discretamente como sempre acontecia.

Claro que não iria trocar, Nívea! Vocês terminaram o namoro, não terminaram?

Sim, terminamos.

***

Demorei a me dar conta de que estava com as mãos suadas e segurando com força as alças da minha mochila após flagrar aquela cena na hora da saída, um pouco mais acima na calçada do colégio. Eric estava próximo à carrocinha de pipoca, conversando com a Nicole e uma senhora que parecia ser a sua mãe. Seu rosto dominado pela tristeza e ele a consolava ao mesmo tempo que a mulher mais velha continuava a conversar com ele.

- Perdeu o posto de aluna preferida. - Gabriele me cutucou.

- O quê?

- Está vendo o mesmo que eu. Nicole agora é a favorita do professor Schneider...

- Ele nunca teve alunos preferidos na turma, Gabi.

- Ué, ele pode não demonstrar mas você sempre foi a favoritinha dele, sim!

- A Nicole está passando por um momento difícil e ele está dando apoio. É só isso.

Eu precisava me convencer de que era isso.

- Vamos embora, meninas? - ouvimos a voz do Evandro e vimos Frederik dar a volta no carro, entrando pelo lado do carona e entramos em seguida. Patrick já estava sentado atrás, com o seu game nas mãos, esperando para irmos embora.

Entramos e ao olhar para trás uma última vez, Eric ainda conversava com mãe e filha.

***

"Eu não vejo mais razão para me preocupar com ela..."

Durante o jantar eu observava o prato de comida pela metade enquanto aquela frase e a pessoa que disse, não saíam da minha cabeça.

- Tá tudo bem, meu anjo?

- Hein? Ah... Sim mãe, tudo bem.

- Pensando na sua colega que tirou a nota ruim? - meu pai questionou enquanto dava uma garfada no frango grelhado.

- É... - respirei fundo - Fiquei com muita pena dela.

- Realmente, é uma grande perda na família. E o professeur Schneider tenho certeza de que vai ajudar a menina a se recuperar!

- Vai sim, papa!

Continuei a comer mesmo sem muita vontade pois a frase insistia em martelar na minha cabeça. Eric não iria se preocupar mais comigo porque eu sempre fui boa aluna. E iria fazer tudo aquilo que eu tinha lhe falado no sábado.

Professor e aluna. Nada mais além disso.

Depois do jantar, voltei para o meu quarto e ajeitei o meu material de aula para o dia seguinte. Troquei de roupa, colocando minha camisola de dormir e me deitei na cama. Não conseguia parar de pensar na cena da hora da saída e da conversa com a Gabriele.

Era apenas uma paranoia ridícula que cresceu na minha cabeça e eu precisava varrer ela de uma vez por todas.

Peguei meu celular, buscando pelo contato do Frederik no Whatsapp.

- Ocupado?

- Oi Nívea! Tô não, pq?

- Vc tem o contato da Nicole aqui no zap?

- Tenho sim, vou te passar.

- Obrigada.

Esperei uns segundos e logo em seguida recebi o contato dela. Salvei e ao abrir uma conversa, vi sua foto que era ela ao lado de um menino menor e atrás o castelo da Disney.

- Oi Nicole, é a Nívea.

Minutos depois, ela me respondeu:

- Oi Nívea, tudo bom?

- Tudo sim, peguei o seu contato com o Frederik. Queria saber como vc está.

- Estou indo, obg por perguntar. O clima aqui em casa que está péssimo. Meu irmão caçula, esse da foto, não para de chorar. Ela morava no apartamento em frente ao nosso e quase todas as noites nós dois íamos jantar com ela. Agora não vamos mais ter isso. É horrível.

- Eu posso imaginar... Tô te escrevendo porque se vc precisar de alguma coisa, ajuda com as matérias do colégio pode falar comigo.

- Ah sim, é muito gentil. Eu vou precisar mesmo. Fiquei abaixo de nove em cinco disciplinas. A morte da vovó afetou demais o meu desempenho nas provas.

- Nossa... Que chato.

- Muito, mas o professor Schneider me deu muita força também e disse que vai me ajudar bastante no último bimestre.

Engoli em seco.

- É... Eu vi vocês conversando na hora da saída.

- Sim. Ele e a minha mãe conversaram e disse para eu não me preocupar em tirar nota dez em tudo mas que eu apenas volte a ficar acima de nove.

- Isso é bom. Conversaram apenas isso?

- Sim, pq?

- Não, por nada!

Que pergunta idiota, Nívea!

- E com vc, tdo bem?

- Sim, normal. Eu entrei em contato pra isso. Saber como vc está.

- Vou ficar bem aos poucos.

- Vai sim, tenho certeza e vou torcer para vc se sair bem nas últimas provas.

- Obrigada mesmo. Te achei no Instagram e vou te seguir ok?

- Claro! Vou fazer o mesmo.

- Tá bom. Tô indo lá, amanhã acordamos cedo né? Rsrsrs

- Eu também vou dormir. Beijos.

- 😗

Minimizei a tela do App e recebi a notificação do Instagram. O @ nick_dumont estava me seguindo e fiz o mesmo na hora. A foto recente era ela com sua falecida avó e um texto emocionante de despedida. Dei um like e rolei a tela rapidamente para ver as suas outras fotos dando like em algumas.

Parei e pensei que não havia nada demais. Eric iria apenas ajudar uma de suas alunas a tirar boas notas.

***

No sábado, depois de mais uma aula de dança e do almoço, fui para a Melissa onde passamos a tarde no quarto dela ficando de bobeira. Felipe estava trancado no quarto focado em seu trabalho final de curso e eu ainda não tinha visto ou falado com ele naquele dia.

Estávamos deitadas nós duas na cama repleta de caixas de chocolates, bombons e outros doces que havíamos comido. Durante a semana, a Gabriele levou para a aula e me presenteou com vários chocolates da viagem em Campos do Jordão e pediu para que eu entregasse para a Melissa as lembranças da famosa cidade que parecia com a Suíça.

Mas nem todo doce do mundo fez com que a sensação amarga dentro de mim diminuísse. Me sentia uma completa idiota em ficar encarando a tela do celular, aberta no perfil do Eric no Instagram o qual eu havia bloqueado. Mas era mais forte que eu e fiz o que não deveria fazer. Desbloqueei. Movida pela curiosidade em saber o que se passava com ele, nada tinha mudado. Nenhum post nos stories ou foto nova. Deixei como estava e apenas não o segui novamente pois eu poderia stalkear sempre que quisesse. Era algo estúpido e eu sabia disso.

Eric realmente cumpriu o que eu pedi para fazer e não me procurou mais pelo celular.

- Meninas!!! - Dona Cecília entrou de repente no quarto nos dando um susto - Vamos comigo no shopping agora?

- Caramba, mãe! Meu coração quase saiu na boca!

- Desculpa querida, mas é que amanhã eu e o Henrique temos um almoço de aniversário de uma colega minha do Fórum pra ir e eu só me lembrei hoje de comprar um presente!

- Isso depende.

- Depende do que, Melissa?

- Vamos trazer um lanche na volta?

- Vai, anda logo e se arruma!

- Sem lanche eu não vou!

- Você detonou todos os chocolates possíveis e ainda quer lanche?

- Claro ué, lanche da noite.

- Vou pensar no seu caso.

- Nada de pensar, sem lanche eu e a Ni não vamos!

- Eu trago o lanche, agora vai e se arruma!

- Oba! - ela deu um salto da cama e começou a dançar igual doida abrindo o guarda-roupa.

- Vou em casa falar com os meus pais - sai da cama, calçando os chinelos.

- Tá bom, minha querida. Vamos sair daqui a pouco.

Voltei em casa e fui direto no quarto dos meus pais. Encontrei minha mãe no seu closet, onde ela estava colocando suas roupas em ordem.

- Mãe, tô indo no shopping com a Meli e a Dona Cecília, tudo bem?

- Claro minha vida, pode ir sim. - ela permitiu, enquanto olhava com atenção para as suas roupas - Onde que eu deixei aquela calça preta riscada? - se perguntou olhando para todos os cantos - Queria ir trabalhar com ela na segunda-feira...

- Boa sorte aí. - brinquei e ela riu - Mon père está no escritório?

- Como sempre.

- Tá bom então.

Deixei o closet indo para o meu quarto. Troquei a saia jeans que eu estava usando por um short também jeans claro, um tênis cor de rosa e fiquei com a blusa branca de alças finas que estava usando. Penteei os cabelos para ajeitá-los e pus o meu celular e minha carteira em uma bolsa pequena de alça na mesma cor do tênis. Borrifei um pouco do meu perfume de frutas... E rapidamente estava pronta para sair.

***

Era por volta de seis e meia da noite quando entramos no shopping e ele estava bem cheio. Eu e Melissa andávamos de braços cruzados e a Dona Cecília caminhava olhando as vitrines como se não tivesse ideia do que comprar para dar de presente.

- Mãe, da próxima vez compra com mais antecedência!

- Eu sei, mas você sabe como é a minha semana no gabinete. Não tive tempo. Vocês têm alguma sugestão de presente?

- Eu sou péssima para presentear as pessoas. Se no ano que vem eu dar pro Lipe mais uma camisa do Lyon, ele com certeza vai me esganar! - comentei, enquanto desviava das pessoas vindo na nossa direção.

De repente paramos em uma loja que era especializada em artigos para presente e ela viu uma luminária em formato da Torre Eiffel.

- A Samantha voltou recentemente de uma viagem que fez até Paris. O que acham dessa luminária? Será que ela vai gostar?

- É linda, Dona Cecília.

- Então ótimo, vou levar. Não quero perder tempo batendo perna e ficar pensando muito.

A vendedora se aproximou de nós e a mãe da minha amiga rapidamente fez o pedido. Esperamos alguns minutos até ela pagar pela compra e ser embrulhada especialmente para presente.

- Vou deixar isso no carro antes de ir com vocês para a praça de alimentação.

- Tá legal, mãe. Estamos indo na frente - E a ruiva me puxou pela mão - Vamos te esperar lá.

Se o shopping estava cheio, a praça de alimentação estava pior. Não havia um lugar vazio entre as mesas e as filas nas lanchonetes estavam dando voltas e mais voltas.

- Vai querer levar o que, Meli? Qualquer coisa menos pizza, por favor - implorei.

- Mas se não for pizza, vai ser o quê?

- Ah... - me peguei pensando em uma das várias noites de sábado em que eu pedia e ele atendia o que eu queria - Aqueles baldes de frango, que tal?

- Amei! Espera a minha mãe voltar e pedimos a porção gigante pra viagem.

Entramos na fila da lanchonete que vendia as porções de frango e vimos a Dona Cecília se aproximar para esperar com a gente.

- Nívea, sabe quem eu vi agora quando passei pelas mesas?

- Quem?

- O seu professor. É Eric o nome dele não é? O que foi no aniversário do Felipe. Um rosto tão bonito como o dele é impossível esquecer mas vamos fingir que eu não falei isso.

- Aqui na praça? - gelei por inteira.

- Tem certeza disso, mãe? - Melissa pegou na minha mão, apertando com força.

- Tenho, filha! Óbvio que eu não fui cumprimentá-lo pois estava acompanhado mas era ele sim!

- Ele está com a Luciana?

- Pois então, ele está com outra mulher. A Helena comentou comigo na festa que talvez eles estejam em crise e quem sabe até terminado o namoro.

- E essa que está com ele? É bonita?

- Ah filha, não fiquei olhando muito né? Vi rapidamente eles dois.

Eric sempre me dizia que passava os sábados trabalhando. Respirei fundo tentando não acreditar nas palavras da Dona Cecília pois ela poderia ter se enganado. Na verdade eu desejava por esse engano.

- Por que vocês não vão lá falar com ele? Apenas para dar um oi, sem incomodar muito.

- Você quer ir, amiga? - Melissa continuava segurando a minha mão - Só pra ver ele de longe...

- Isso, vão lá! Eles estão bem no meio da praça em uma mesa para dois.

Meu coração batia tão rápido e eu não sabia o que pensar. Não tínhamos mais nada, droga! Mas a curiosidade em saber quem era ela estava me consumindo.

- Vamos ver ele de longe, então...

- Eu fico na fila e peço pra vocês.

- A porção gigante, mãe!

Continuei de mãos dadas com a Melissa e a cada passo na direção das mesas mais eu sentia as minhas pernas tremendo.

- Vamos voltar, Ni...

- Só quero saber como ela é...

Olhei para as mesas e minutos depois eu encontrei os dois, apontando para a Melissa na direção de onde estavam. Felizmente a distância era boa o suficiente para que ele não percebesse que eu estava ali. Eric conversava e sorria com uma mulher que eu nunca tinha visto antes. Era morena de cabelos pretos e curtos com franja e estava gargalhando sem parar. Na mesa havia uma porção de batatas fritas com bacon e queijo junto de dois copos com Coca-Cola

- O sorriso dela é bonito. - a ruiva comentou.

- É...

Eu não podia deixar que a angústia no meu peito se transformasse em lágrimas porque fui eu quem colocou um ponto final no nosso namoro. Ele estava livre e eu também.

Voltamos e encontramos a Dona Cecília ainda na fila quase chegando a sua vez para ser atendida.

- E então? Falaram com ele?

- Não quis incomodar...

- É mãe, ficamos de longe.

- Próximo, por favor! - a operadora de caixa chamou, Melissa fez o pedido junto da mãe sem precisar olhar o cardápio dos combos e eu fiquei em silêncio.

Lindo como sempre foi, Eric não iria ficar muito tempo solteiro e a cena que eu tinha visto era a prova.

***

- Mas isso aqui tá muito bom! - Felipe elogiou enquanto mergulhava o frango empanado no catchup, dando uma mordida em seguida - Deveria ter começado a pedir isso mais vezes lá em Ipanema - falou, logo depois de mastigar.

Havia duas pequenas coxas empanadas em um pequeno prato mas nem conseguir comer uma por inteiro. Melissa me observava e toda a tristeza nos meus olhos era nítida.

- Você não vai comer, amiga?

- Vou... - dei um suspiro.

- O quê que você tem?

- A gente viu o Eric na praça de alimentação com uma mulher, Fê...

- E daí? Ele está solteiro. Você falou tudo o que tinha que falar pra ele sábado passado, não foi?

- Foi. Falei tudo.

- Pois então... Vida que segue pra você e pra ele.

- Isso - olhei para o Felipe concordando - Estamos livres.

Dei uma mordida no frango quase frio e bebi um gole do refrigerante.

- Vou pra casa. Posso levar alguns pedaços?

- Claro, leva sim.

Melissa pegou a embalagem de plástico dentro da sacola de papel e colocou mais alguns pedaços de frango e eu terminei de fechar. Me despedi dos meus amigos e a ruiva foi comigo até a porta.

- Tá tudo bem?

- Por que não estaria?

- É assim que se fala. Tchau - trocamos um beijo e eu fui para casa.

Deitada na cama e pronta pra dormir, cliquei no vídeo mais recente da Gabriele para assistir sobre sombras para os olhos. Estava quase no final quando vejo uma notificação do zap.

- Já foi dormir?

Era a Melissa.

- Vou daqui a pouco.

- O Eric postou nos stories uma foto dele com a morena no shopping. Quer ver?

- Eu bloqueei ele, esqueceu? - menti.

- Ah, eu sei. Pensei que quisesse saber mais sobre ela...

- Qual o nome dela?

- Ana Luíza. É professora universitária. Já stalkeei o perfil todo kkkkkkkkk

- Hum... Então são amigos de trabalho.

- Sim. Ou não.

Apertei com força os lábios e as lágrimas tomaram vida própria. Me virei de lado, ainda olhando pra tela e podia chorar o quanto quisesse.

- Quer que eu te mande o print?

- Não, Meli. Não qro ver. - digitei com os dedos tremendo.

- Tá legal. É melhor mesmo. O sorriso dela é realmente bonito mas vc é muito mais linda que ela. - Li e sorri em meio ao choro.

- Vou dormir, amiga. Boa noite.

- Pra vc tbm. 😗

Coloquei o celular no meu criado-mudo e desliguei o abajour. A frieza do Eric em sala de aula, encontrar ele acompanhado na praça de alimentação... Lembrar de tudo isso, serviu para que eu chorasse sem parar.

No entanto, eu precisava manter o que tinha decidido pra mim: não podia perdoar as palavras duras que ouvi dele naquela noite na faculdade e assim, dar uma chance para que aquilo se repetisse.

Continua...

Eu sei, os fãs do casal estão se descabelando querendo me levar para a fogueira com esse término mas eu tenho uma boa notícia: a temporada não acabou! Portanto, confiem em mim.

Eu lamento demais a demora em postar esse capítulo e por isso fiz ele bem longo para compensar o tempo sem postar. Espero que vocês tenham gostado dele. Se gostaram, podem surtar. Se não gostaram, surtem também hahahahahah.

No próximo capítulo, teremos uma festa de aniversário surpresa. Alguém estará completando 36 anos 😉

Contato: a_escritora@outlook.com

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(Perfil está trancado, mas eu aceito as solicitações. Mas se chegar de gracinha ou com ofensas no direct, é block!)

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Foto de perfil de Ana_EscritoraAna_EscritoraContos: 63Seguidores: 174Seguindo: 34Mensagem "Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo." Toni Morrison

Comentários

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Por favor, faz esse menina ter uma aventura com o Frederick, um momento quente, algo assim! Ou coloca outra história paralela!

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Ou pelo um menos um sonho do Frederik. Só pra a gente vê como seria kkk

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Espero que a Nívea aprenda com esse gelo. Essa Ana Luiza não perdeu tempo, hein 😉🤭

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