Perguntam-me se a Baleia de Jonas existe. Respondo: não somente existe como me tornei assíduo frequentador desse ambiente maravilhoso. Uma espécie de conselheiro para assuntos aleatórios, já que sou um dos mais idosos frequentadores do lugar – há mais velhos do que eu, mas poucos, a quase totalidade está na faixa dos 18 aos 40. Também me pedem dicas sobre como escrever. Mas eu também preciso de conselhos, de opinião sobre os mais diversos assuntos que me afligem e me incomodam, e não tenho o menor pudor em pedir a gente mais nova e (talvez por isso) mais descolada e com a mente mais leve do que a minha. Na verdade, um fator que não se leva em consideração, nessas horas, por aqui, é quanto tempo se tem de vida.
Sempre que vou por lá, saio com as energias renovadas, com a cabeça arejada – por vezes também com o corpo satisfeito sexualmente. Mas, repito, o sexo não é uma premente necessidade, mas consequência de um envolvimento, de uma conversa, de um afago – isso, sim, mais importante que tudo.
Há pouco, por exemplo, estava eu lendo no notebook um artigo bem interessante sobre a evolução da sigla do movimento, até chegar ao LGBTPQIA+, quando surge em minha frente, como que se materializando do nada (porque eu estava tão absorto na leitura que não o vi se aproximar), um garoto lindo, mas triste – beleza e tristeza competiam em seu rosto. Perguntou se podíamos conversar. Parei imediatamente a leitura que fazia, fechei o computador e assenti com um leve movimento de cabeça e um sorriso acolhedor.
Como eu estava nu (assim como a maioria dos que estão lá, sempre fico despido), ele rapidamente retirou a espécie de macaquito que vestia, liberando uma rola fina e semiereta; eu estava sentado num sofá, num dos cantos da “baleia”, ele preferiu sentar-se no chão, sobre o tapete, ao lado de minhas pernas, recostado no mesmo sofá e, portanto, de costas para mim. Eu preferia ficar olhando seus olhos, mas respeitei sua decisão e me pus a ouvi-lo.
Falou do momento difícil de contar oficialmente em casa sobre sua sexualidade. Todos tinham uma ideia, pelas suas preferências, seus gestos, suas roupas, por sempre estar com garotos, nunca ter levado uma namorada para casa... Mas assumir mesmo só quando fez 18, há coisa de um mês. Como esperava, não causou espanto ou surpresa. Ainda assim, notou certo “clima”, uma leve tensão disfarçada em sorrisos e papos aparentemente corriqueiros, mas algo artificiais. É como se, antes da revelação, ainda alimentassem alguma espécie de esperança de não ser o que estava nítido ser.
Eu ouvia e afagava seus cabelos loiros, encaracolados, que roçavam suavemente em minha coxa. Minha pica também estava meio ereta; a dele, vista de cima, da minha posição, ora parecia dormir placidamente, ora acordava, levantava a cabeça... em alguns momentos vi-a endurecer e mesmo palpitar.
Seu pai – como sempre acontece nas melhores famílias – foi o mais incomodado, embora não tenha se colocado resistente à revelação. Preferiu comentar sobre a parte mais prática da situação: o perigo que o filho corria, numa sociedade homofóbica e violenta. A mãe, olhos marejados, abraçava “seu bebê” e reafirmava que estava ao seu lado, pronta para qualquer coisa. Seus irmãos e sua irmã, como ele já esperava, demonstraram estar de boa, embora procurassem disfarçar certo desconforto.
Mas o que estava incomodando um pouco meu amigo, e o que o deixava assim meio triste e carente daquela conversa, é que, mesmo sem agressividade, ele sentiu a relação mudar – pareceu-lhe “esfriar” um pouco: algumas brincadeiras eram evitadas (até mesmo interrompidas), os familiares pareciam falar menos e com mais cuidado... Enfim: estava esquisito.
Chegada a minha vez de falar, disse-lhe que aquilo era natural. Se não houvera rejeição, mas aceitação geral, todos estavam procurando digerir e administrar interiormente aquela situação nova (ele me ouvia com os braços sobre a minha coxa e o queixo apoiado nos braços – eu continuava mexendo nos seus cachos). O comportamento meio “esquisito” era natural, e logo se regularia. Ele só não poderia recuar, isolar-se naquele momento, porque isso criaria um vácuo que facilmente evoluiria para cratera e abismo entre ele e a família; deveria continuar agindo com a naturalidade que lhe fosse possível, também sem forçar nada – deixasse a coisa rolar, de boas (uma de suas mãos, num movimento involuntário, tocara de leve minha rola, e ficara sobre ela, acariciando despretensiosamente (como eu fazia em seus cabelos), fazendo-a endurecer e pulsar – mas isso não tirava em nada o foco da nossa conversa e principalmente a atenção dele no que eu falava).
Eu sentia a dureza da minha pica entre os dedos do moleque, mas minha cabeça estava voltada para o assunto sobre o qual discorríamos. Falei um pouco mais a respeito da forma como as coisas iriam se arrumando, que, aos poucos a intimidade voltaria – não como antes, mas de uma forma diferente –, dei algumas dicas de como agir, sobre o que falar e quando silenciar. E, aproveitando meu próprio conselho, eu mesmo silenciei, para meu ouvinte processar tudo que escutara.
Ele acomodou a cabeça na minha coxa, fechou levemente os olhos, como em reflexão. A mão continuava, distraidamente, a me acariciar a pica, como se mexesse num objeto qualquer, para descarregar a tensão. Naquele momento pude compreender como é possível que um gesto normalmente ligado à punheta, uma rola extremamente rígida e palpitante (natural reação biológica) não precisa necessariamente estar ligada à foda. Eu sentia um carinho imenso por aquele rapaz, mas não tinha desejo de fodê-lo ou que me fodesse, naquele momento.
Ele, então, levantou a cabeça, fitou-me com um sorriso contido, os olhos molhados... Parecia pleno, feliz. Largou minha rola para enxugar um fio de lágrima que descia, e, num impulso, levantou-se, sentou-se no meu colo (senti-lhe a maciez das nádegas sobre minhas coxas) e me deu um abraço apertado e demorado... e muito gostoso. Depois afastou-se um pouco, pegou meu rosto com as duas mãos e colocou sua boca sobre meus lábios, num beijo encharcado de agradecimento. Ao final, abraçou-me novamente (“Obrigado, cara! Valeu!”, sussurrou no meu ouvido), acariciei com vigor seus cabelos e ele os meus.
Ele se levantou (sua pica vibrando no ar), ao abaixar-se para pegar a roupa, pude ver, de relance, seu cuzinho rosado e depilado (somente então meu desejo de foda se acendeu – mas aquele não era o momento, reconheci), ele se vestiu e afastou-se, enxugando o rosto. Acompanhei-o com meus olhos também umedecidos: dirigiu-se à porta, onde trocou um abraço pendurado com Amora, que acabara de chegar, e desapareceu no corredor que o levaria ao elevador.
Amora cumprimentou a todos, soprou-me um beijo na palma da mão e sentou-se ao lado de uma amiga, trocando com ela um longo beijo. Contaram-se novidades, se acariciando (mãos por dentro das poucas roupas, que iam saindo do corpo), e em pouco tempo, nuas e belas, comiam-se felizes, no meio dos amigos.
Eu sorri, com os olhos na minha rola ainda dura, mas o meu maior tesão naquele momento não era meter. Peguei o computador, coloquei-o no colo, sentindo a cabeça da rola tocando no quentinho da máquina, e meio feito Clarice atualizada, escrevi este texto.