YURI
Sem reação. Assim fiquei durante a ligação de JL. O irmão mais velho de Zedu havia saído da prisão e cumpriria sua sentença em regime aberto. A voz de JL falhou diversas vezes. De repente, algumas memórias do dia em que ele nos atacou apareceram na minha mente.
O Zedu vai ficar arrasado quando souber dessa informação. Nós não conversamos por muito tempo, porém, o estrago estava feito. Aparentemente, o JL ficaria na casa da mãe, ou seja, a família o acolheu. Nem imagino o que está se passando na cabeça de Tereza, a mãe deles.
Ao desligar o telefone, entro no aplicativo de mensagens e ligo para a minha tia. Precisava desabafar com outra pessoa. Eu sou ansioso. E a ligação me deixa transpirando, mesmo que os termômetros estejam negativos. O primeiro nome que vejo é o da minha tia, a Olívia.
***
— Atende. — pedi, olhando para a tela do celular, que mostrava uma foto da tia Olívia com o Carlos, o seu esposo.
— Yuri? — tia Olívia demorou para aparecer na tela. — Oi, filho. Tá tudo bem?
— Tia, o irmão do Zedu saiu da prisão. Ele me ligou e quer marcar um encontro com o Zedu. Eu não sei o que fazer. — soltei.
— Meu Deus. Eu vou falar com a Teresa. Pensei que o José Leandro teria mais alguns anos para cumprir. — comentou Titia, andando pela casa com o celular em mãos.
— Aparentemente, o bom comportamento dele afetou a sentença. Tia, o Zedu continua tendo pesadelos e não quer buscar ajuda. Ele vai surtar quando souber do regime aberto do JL.
— Filho, infelizmente, o Zedu vai ter que enfrentar os próprios demônios. Só nos resta apoiá-lo. Somos time Zedu! — declarou titia me fazendo rir. — Eu preciso desligar agora. Tenho uma audiência. Você me liga à noite?
— Tudo bem. E, tia, obrigado. — agradeci. — Mais tarde conversamos.
***
Puta merda. Puta merda. Estou em uma encruzilhada. Por um lado, se eu manter segredo, o Zedu não vai se estressar. Porém, se ele descobrir que eu sei, o negócio vai ficar ruim para o meu lado. Eu preciso de uma solução. Sou péssimo em esconder segredos do Zedu.
ZEDU
Estou mudo. O mundo parece que parou ao meu redor. Como assim? Eu vou voltar para Manaus. Eu pego o chá, que até então era para o seu Hernando e tomo em um único gole. Eu não posso voltar para o Amazonas. E se o JL tentar machucar o Yuri?
A atenção do seu Hernando se volta para mim. Ele conseguiu encaminhar a mensagem para o seu contato e começou um discurso sobre responsabilidade. Cara, a palavra Manaus continua martelando em minha cabeça. Fiz de tudo para fugir desse lugar maldito e o destino me coloca em rota de colisão contra ele.
— José Eduardo, nos meus 30 anos trabalhando no ramo da publicidade nunca conheci ninguém com o seu talento e compromisso. — ele pegou no meu ombro. — Estamos abrindo uma agência em Manaus e, claro, gostaríamos que você assumisse o posto de gerente geral da sucursal do Amazonas. O salário será 5 vezes maior e te daremos todo o apoio financeiro para você formar a própria equipe.
— Seu Hernando, eu fico lisonjeado, só que não estou preparado e...
— Tolice. Você é noivo, né? Tenho certeza que pretende ter um bom casamento. O primeiro passo é escalar a escada do sucesso. O teu noivo vai aprovar essa promoção.
— Sim, o Yuri vai ficar orgulhoso. E ele merece o mundo. — pondero, mas sentindo uma coisa estranha dentro do meu peito.
— Muito bem. O RH vai preparar todos os documentos. Queremos você em Manaus até o fim do mês.
— Fim do mês? — levanto da cadeira e assusto o seu Hernando.
— Sim. Queremos que você faça um reconhecimento do mercado manauense e...
— Manauara. O gentílico é manauara, seu Hernando. — respondi, sentando, ainda impactado com a chuva de informações.
Que semana, hein? Todos na empresa estavam com expectativas altas sobre o meu novo cargo. Eu deveria estar comemorando, né? Afinal, vou poder dar uma vida confortável para o Yuri. Ele é a razão de todos os meus esforços. Eu sou mais forte graças ao meu ursão. Fora, que posso comprar uma casa em um condomínio fechado. Ninguém vai nos machucar.
No meio do dia, o Yuri recebo uma ligação do Yuri. A gente não tem costume de ligar um para o outro, apenas quando o assunto é muito sério.
— Amor, está tudo bem? — pergunto, porque conversamos apenas por mensagem de texto.
— Sim. Eu só queria saber como o meu noivo está. Ah, e acabou o papel higiênico. — desconversou Yuri.
— Uê, mas eu comprei ontem esqueceu?
— Ah, é verdade. Então, então...
— Yuri, amor do meu coração, qual é o problema? — questionei, enquanto digitava uma mensagem para Caroline.
"Preciso me reunir com você! AGORA!"
— Ok. Ainda estou preocupado com esses seus pesadelos. Eu tenho medo que você se perca. Desculpa, eu não queria te atrapalhar.
— Amor. — um sorriso se abriu no meu rosto. — Você está sendo o parceiro perfeito. E você não me atrapalha em nada, lindão. Eu só preciso de tempo para pensar. Juro. E hoje você não precisa cozinhar. Vamos jantar fora. — o convidei.
— Para onde?
— Surpresa, amor. Eu te amo muito. Te busco às 19h. — falei.
— Tudo bem, amor.
— Yuri, sério. Tá tudo bem, viu.
— Eu acredito em você. Te amo.
— Te amo.
Eu não sabia que ligações podiam ser tão românticas. Na real, o Yuri é um cara romântico. Muito mais do que eu. Dele sempre parte todas as surpresas românticas, mas hoje eu quero agradá-lo. Ele é um noivo incrível. Eu tenho muita sorte em tê-lo na minha vida.
YURI
Eu sou um péssimo noivo. Eu não consegui contar a verdade para o Zedu. Meu Deus, ele vai surtar quando souber da situação do irmão. Gente, eu preciso de ajuda. Eu preciso do Google. Entro no meu computador e começo a pesquisar "melhores maneiras de dar uma má notícia", no caso, uma péssima notícia. Ok, a pesquisa não foi tão útil, pois me deixou com mais incertezas.
Coloquei uma seleção de músicas do Oasis para tocar. A música sempre me salvou nas situações mais difíceis. A voz de Liam Gallagher sai da caixa de som e deixa o meu coração quentinho. Eu não sei dizer o motivo, mas o Oasis sempre me cativou e ajudou em momentos cruciais.
***
Quantas pessoas especiais mudam?
Quantas vidas vivem estranhamente?
Onde você estava enquanto ficávamos chapados?
***
Aproveito para fazer uma faxina express no apartamento. É uma segunda-feira e estou limpando o banheiro ao som de Oasis. Eu uso uma luva de plástico para aguentar o frio da água. Enquanto lavo o box, recebo uma mensagem do Zedu. Uma foto. É inevitável não sorrir. Ele está ao lado de Camille, que é um amor de pessoa e melhor amiga do meu namorado em Canela.
— Trabalhar que é bom, né? — mandei um áudio para os dois, que responderam com outra foto.
Aproveito o horário do almoço para xeretar as redes sociais dos meus amigos de Manaus. A primeira da lista é a Luciana. Nos últimos anos, a minha amiga engrenou na carreira de apresentadora e se formou em Jornalismo. O Brutus, que agora só quer ser chamado de Bruno, virou um famoso personal trainer de Manaus.
A Ramona cursou medicina, porém, não se especificou em nenhuma área. Ao contrário do que pensamos, ela decidiu investir o dinheiro dos plantões e se tornou uma empresária de sucesso no mercado farmacêutico. Vai entender. A escola de dança do Juarez e Mundico disparou entre as melhores do país. O Lucas seguiu a carreira do tio George e abriu um estúdio de fotografia.
Todos estão encaminhados na vida, quer dizer, eu ainda não. Me formei em engenharia e nunca trabalhei na área. O Zedu nunca me deixou faltar nada, inclusive, ele gasta mais comigo do que com si mesmo. Só que não estava nos meus planos me tornar um sanguessuga. Por esse motivo, busco deixar a casa arrumada e a comida pronta quando o meu noivo chega.
Passando fotos e vídeos. Essa é a minha diversão de segunda à tarde. Acabo adormecendo em cima do meu celular.
ZEDU
Não consigo trabalhar. Tentei me distrair conversando com a Camille, até mandamos umas fotos engraçadas para o Yuri, mas a minha cabeça continuava em Manaus. Será que eu conseguia aguentar o fardo de morar na mesma cidade que o JL? Pelo menos, ainda tenho dois anos até liberarem o psicopata.
Eu tenho muito pena da mamãe. Apesar de tudo o que ela passou o amor continua presente. Acho que o amor de mãe é infinito. A dona Teresa nunca me julgou por ser gay, muito pelo contrário. Além de tratar muito bem o meu esposo.
— Chefinho, não esquece que tem um jantar com o Yurizinho. — avisou Camille.
— Ah, sim. Obrigado. Ei, Camille, você já cogitou morar fora de Canela? — questionei desligando o notebook.
— São Paulo. Recife. Rio de Janeiro. São Luís. Belém. Eu tenho vontade de morar em muitas cidades, Zedu.
— E Manaus?
— Manaus, tá aí uma cidade interessante para se morar. É a tua cidade natal, né?
— Sim. Eu fui convidado para assumir a sucursal da agência em Manaus.
— Mentira. Cala boca. — me abraçando. — Que bom, Zedu. Tá vendo, você é um profissional excelente. Parabéns.
— Obrigado. — ri sem graça, porque não sei receber elogios. — Bem, queria saber se toparia se aventurar comigo. Você está se formando e pode assumir um papel na nova equipe. Eu conheço o teu profissionalismo.
— Zedu. Sério? Em Manaus, eu ficaria mais perto da minha família. O Mato Grosso faz fronteira com o Amazonas. Eu topo. — Camille parecia mais animada que o normal.
—Ótimo. Temos um mês. Vai se preparando. Agora, eu tenho um noivo para me agradar e contar a novidade. — avisei pegando a mochila e seguindo para a porta. — Ei, Camille. Vai ser uma grande oportunidade para nós.
Manaus. Manaus. Manaus. O nome da cidade ecoa dentro do meu cérebro. A voz do seu Hernando martela Manaus dentro de mim. Tenho certeza que o Yuri vai ficar feliz e assustado, afinal, ele sabe o que Manaus significa. Só que eu não vou ser idiota e dispensar uma oportunidade profissional tão importante.
Ao chegar no estacionamento percebo que o frio congelou o limpador do para-brisa. Odeio quando isso acontece, pois perco um tempo enorme para quebrar o gelo. E para piorar esqueci minhas luvas. São 18h53, ou seja, o Yuri já deve estar esperando. Droga!
YURI
— São 18h54! Puta merda. — olhando na tela do celular e levantando com pressa.
Eu nunca tomei um banho tão rápido na vida. Nem liguei para o frio. Vesti uma roupa, enquanto escovava os dentes. Usei um moletom bege e uma calça quentinha. Calcei uma bota marrom, nem precisava usar meia, porque a peça era revestida com uma espécie de tecido que evitava baixas temperaturas.
Estou na porta de casa às 19h05. Meu Deus, que droga. O carro do Zedu já está na rua. Tadinho deve ter esperado horrores. Entro no veículo e o cumprimento com um beijo. Ele avisa que vamos em um restaurante conhecido na cidade pela qualidade da massa. É isso que estou precisando de algo quente e acolhedor.
— Como foi seu dia, amor? — ele questiona, sem tirar os olhos do trânsito.
— Tranquilo. Até dei um cochilo de tarde. Limpei o banheiro. Ah, o Brutus está de namorada nova. — comento, enquanto acaricio a orelha do Zedu.
— A Helena?
— Essa se chama Raquel. A Helena foi no mês passado, amor. — digo rindo da situação do Brutus.
— E na agência, ocorreu tudo bem?
— Sim. Muitas novidades, mas deixa só eu estacionar.
O Zedu é o amor da minha vida. Eu percebo essas coisas nos pequenos detalhes. Como na boca dele que se contorce toda vez que faz uma baliza. O meu noivo é bom em milhares de coisas, mas a baliza é o seu ponto fraco. O Zedu tenta quatro vezes, só que não consegue entrar na vaga.
Ele desiste e faz um beicinho de fofo. Esse é o sinal para eu assumir o volante. A gente se aperta para trocar de assento sem precisar sair do carro. O corpo dele pesa sobre o meu. Um beijo é inevitável, mas dura pouco tempo, porque estamos parados no meio da rua. Ajustei o banco do motorista e consegui colocar o carro na vaga.
— Eba. — Zedu bate palma freneticamente, mas não sai nenhum som. — Meu amor 1, a vaga 0.
— Tenho que ser bom em alguma coisa, né? Você não pode ser o perfeito da relação.
— Você é o perfeito da relação, Yuri Teixeira. — me abraçando e beijando. — Vamos? A reserva está para às 19h.
— Vish.
O restaurante é aconchegante. Na verdade, a maioria dos restaurantes de Canela são lindos. A estrutura da cidade é muito bonita. Acho que os comerciantes brigam para ter o prédio mais aconchegante. Pedimos um "Risoto à Parisiense", um dos melhores que já provei na vida. Já tentei replicar essa receita, mas nunca dá certo. E, claro, pedimos um vinho para acompanhar o manjar dos deuses.
— Você disse que tinha novidades. — comentei, depois de tomar um pouco de vinho.
— Sim. Tá preparado? — Zedu perguntou segurando na minha mão.
— Sim, quer dizer, eu acho. Manda bala.
— Ok. Vou falar de uma vez. É algo novo, assustador e excitante.
— Fala logo, amor. Eu estou pensando em mil coisas. — reclamei, porque sou um fofoqueiro de carteirinha.
— Vou tirar o band aid de vez. O seu Hernando me convidou para assumir a sucursal da agência em Manaus. O salário vai ter seis dígitos. Eu sei que tenho meus problemas com Manaus, mas seria maluco se recusasse essa vaga. — Zedu se transformou em uma metralhadora de informações bombásticas. — Yuri. Yuri. — acenando na minha direção.
— Isso é... isso é....
Isso é péssimo, Zedu. Isso é péssimo. Estamos lascados. E agora? O JL vai estar solto e o Zedu não vai conseguir assimilar essa informação.
— O JL saiu da prisão. A pena dele foi diminuída por bom comportamento. Aparentemente, o JL vai morar na casa da tua mãe. Ele me ligou hoje e queria conversar contigo! — falei tão alto e desesperado, que chamei a atenção dos outros clientes.
Ótimo, Yuri. Você conseguiu dar a notícia de forma tranquila para o Zedu. Os olhos do meu noivo perderam o brilho. Ele pegou o casaco e saiu do restaurante. No desespero, corri para chamar o garçom, porque, precisávamos pagar a conta.
— Droga, Zedu. Onde você foi? — pensei, enquanto passava o cartão na máquina.
***
PESSOAL, ANTES DE MAIS NADA QUERO AGRADECER AOS LEITORES PELO APOIO. SE POSSÍVEL EU GOSTARIA QUE VOCÊS COMENTASSE E VOTASSEM NA HISTÓRIA. MUITO OBRIGADO!
Gente, não sei o que está acontecendo, mas a própria plataforma está demorando a postar os meus conteúdos alegando que estou escrevendo história com cr-ianç*s e afins, o que não é verdade, porque todos os meus personagens são maiores de idade. Para quem quiser acompanhar em tempo integral, estou publicando em um aplicativo chamado Wattpad. Basta procurar o perfil @EscrevoAmor. Fica difícil escrever dessa maneira. Desde já agradeço.