>>>Rodrigo<<<
Já são duas e meia da manhã e ainda não consegui dormir. Já tem uns dias que a Jéssica está estranha comigo. Será que o Felipe está acordado? Não, não vou incomodar ele esse horário. Ok que ele já fez isso comigo, mas não vou fazer isso com ele, amanhã temos aula.
Desde a briga que Jéssica teve com a mãe dela, ela está muito diferente, agindo de forma seca comigo. Queria poder fazer algo para ajudar, mas ela está recusando a ajuda.
-Filho? Está acordado? -Minha mãe falou batendo na porta
-Oi mãe, estou sim. -Eu respondi
Esqueci de desligar a luz do quarto, provavelmente ela foi beber água e viu a luz acesa pelo vão da porta.
-Posso entrar? Aconteceu alguma coisa? -Minha mãe falou
-Não precisa mãe, não aconteceu nada. Já vou dormir. -Eu falei
-É aquela garota? -Minha mãe falou
-Mãe... Para com isso. -Eu falei
-Eu não falo mais nada, mas coloque os seus joelhos no chão e ore, pede para Deus mostrar a verdadeira face dessa menina.
-Mãe, olha a hora. Para com isso, só to terminando um trabalho da faculdade e já vou dormir.
-Tudo bem, tudo bem. Boa noite, dorme com Deus. Te amo muito meu filho.
-Boa noite mãe.
Minha mãe nunca gostou muito da Jéssica, completamente sem motivos, a Jéssica sempre foi extremamente respeitosa com ela. Acredito que o único motivo seja por a Jéssica não fazer parte da mesma religião que a nossa. Nós somos evangélicos e a Jéssica é espírita. Isso sempre incomodou minha mãe, já tive até que ouvir a Jéssica fez pacto com o diabo e coisas do tipo.
Tirando essa questão religiosa, gosto muito do lar em que cresci. Meus pais são casados a mais de 30 anos e só tiveram eu de filho, então sempre tive (quase) tudo que eu sempre quis. Se eles não fossem dessa religião acredito que teria sido melhor ainda.
Apaguei a luz e fui dormir.
Acordei no dia seguinte com o Felipe me ligando, olhei que horas eram e vi que já estava atrasado ao ponto de nem valer a pena ir para a faculdade, atendi o telefone.
-Ta acontecendo alguma coisa com você? -Felipe perguntou
-É a Jéssica, ela ta estranha já tem umas semanas, to preocupado com ela... Ela ta se matando para trabalhar e estudar. Tentei ajudar ela, acolher ela aqui em casa, mas ela não quis. -Eu falei
-Também tentei ajudar, mas ela também não quis. Você sabe que ela é assim, sempre se fecha quando está passando por um problema grande. -Felipe falou
-Ah, mas agora é diferente né, somos namorados. -Eu falei
-É o jeito dela.. Você não vai para a aula?
-Não. Você ta ai na universidade?
-Não fui também, marquei de sair com o Heitor agora cedo, mas ele só vai poder vir mais tarde e to aqui sozinho agora.
-Não quer fazer algo? Precisamos conversar, com essa correria toda nem conversamos a respeito desse Heitor, que aliás você precisa me apresentar.
-Só estamos ficando, não tem nada demais. Mas vamos fazer algo sim, não quer vir aqui em casa? Da para gente fazer um almoço, daí se Heitor aparecer você já conhece ele.
-Vou tomar um banho e já colo ai.
Me arrumei e fui para a casa do Felipe. Dava uns 10 minutos de distância.
Teve uma época que eu tinha certeza de que o Felipe gostava de mim, foi no ensino fundamental, antes de eu namorar a Jéssica. Nunca cheguei a comentar nada com ele, mas eu acho que sentia umas coisas diferentes por ele também, nunca pensei em dar abertura, na época eu tentei acreditar piamente que era apenas uma questão de amizade e que eu estava confundindo as coisas, principalmente por nunca ter pensado em algo sexual com ele. Felizmente pouco tempo depois desenrolei com a Jéssica e isso ficou para trás.
Cheguei na casa do Felipe e ele estava me esperando no portão.
-Tava com saudades – Felipe falou me abraçando
-Eu também – Eu falei retribuindo o abraço de forma bem apertada
Fomos entrando, a casa dele é bem grande, na verdade a casa não é dele, é da mãe, mas como ela mudou para o interior ele acabou ficando com a casa para ele morar. Na parte da frente só tinha a garagem, mas no fundo tinha um quintal enorme, cheio de arvores, plantas... Tinha um pé de manga imenso com uns bancos em baixo, lembro de quando éramos menores, vivíamos brincando ali.
Fomos para a cozinha.
-Amigo, eu já dei uma boa adiantada no almoço, to fazendo um strogonoff. O Heitor falou que ama. -Felipe falou
-Nossa, já ta desse nível e você ainda falou que não era nada demais? -Eu falei
-Ai amigo, ele é tão fofo comigo... Domingo agora fomos fazer um piquenique no Ibirapuera, onde que eu imaginar que iria ter isso, sendo gay? Acho que por sempre ter conhecido outros caras por meios desses apps de pegação nunca tinha achado alguém igual a ele. -Felipe falou
Algo básico, que eu sempre tive até com as garotas que só peguei, para ele era algo muito grande, conseguia perceber isso através da feição. Pude ver que ele estava muito feliz com isso que estava acontecendo entre ele e o Heitor.
-Fico muito feliz por você, você sempre quis um namoro assim, sempre. Mas olha aqui, toma cuidado viu? Vai com calma, conhece ele melhor para não quebrar a cara depois. Não to querendo te deixar para baixo, muito pelo contrário, você é uma pessoa muito importante para mim e estou querendo te proteger de algo que possa vir a ocorrer. -Eu falei
-Eu sei... To tentando controlar meus impulsos, mas é difícil. O cara é quase perfeito vey, olha foto dele aqui –Felipe falou passando o celular para eu ver fotos do Heitor
-É, ele é bonitinho.. -Eu falei
-Nem vem, ele é gostoso pra caralho. -Felipe falou rindo
Continuamos conversando enquanto ele cozinhava. Uns 30 minutos depois o Heitor chegou. Felipe nos apresentou. Gostei dele, parecia ser uma boa pessoa.
-Gente, eu trouxe um negócio aqui, não sei se vocês curtem.. -Heitor falou
-O que? -Eu falei
-Maconha -Heitor falou
-Eu nunca usei -Felipe falou
-Eu também não. -Eu falei
-Seria perfeito usar lá no quintal, vocês topam? -Heitor falou
-Eu não. Mas se vocês quiserem usar tudo bem. -Eu falei
-Eu quero -Felipe falou
