Continuando aqui porque estou comemorando esta volta depois de 6 anos sem escrever para vocês, quem não viu a parte 1, leiam, ela será importante.
onde paramos:
O dia foi puxado, mas não vi a Melina durante o dia todo.
Quando a hora de nos recolher, coloquei água no fogo, iria usá-la para cozinhar um para um belo banho. E nesse exato momento Melina entrou porta a dentro, e eu não acreditei no que vi....
A Melina estava com a roupa do corpo pregada, de tão molhada, no minimo caiu dentro da nascente ou algo assim, e analisando bem pude perceber alguns relados no seu corpo que estavam minando um pouco de sangue. Ela entrou muito calada, e nada falou.
Ela simplesmente deitou na cama do jeito que estava e se cobriu. Fiquei muito preocupada, principalmente na hora em que eu ouvi ela começar a chorar... Inicialmente não queria me meter, pois as pessoas ficam muito desconfortáveis comigo, então peguei um banquinho e sentei la fora, na parte onde fica alguns banquinhos e uma rede. Passou um tempo, ouvi alguns passos, e a Melina chegou perto de mim, serena, e disse:
- Ei Fernanda, poderia permitir que eu pegue um pouco da sua água que está no fogo?
Olhei para trás devagar e me deparei com a Fernanda tremendo muito de frio, pois ela ainda estava com aquela roupa pregada de molhada no corpo, e apontando para uma parte da perna toda melada de sangue, a fazendo mancar.
- O que é isso Melina??? Temos que comunicar a professora!
Ela pediu que por favor eu não fizesse isso, que ela se explicaria após cuidar daquele ferimento.
EU concordei e entrei para ajudá-la,sei que ela poderia ficar envergonhada, então peguei dois grandes galões, busquei umas duas viagens de água e joguei dentro do lugar que se parecia uma banheira, peguei a água que estava fervendo no fogão a lenha e temperei a temperatura da banheira, até estar boa para um banho, naquela hora da noite.
- Melina, olha só, toma um bom banho, eu vou sair para deixá-la confortável, mas precisa banhar-se, para se limpar por completa e esse machucado não piorar...
Ela me observou até quase sair, e disse baixo:
- Obrigada por isso, não quero incomodar, terminando o banho, farei algo para que possamos comer, mas só peço que por favor não saia, não me deixe aqui sozinha...
Sinceramente, achei isso muito estranho, muito mesmo, mas acatei o que ela pediu, e fui me adiantar no jantar, sabia que ela estava com fome.
Peguei os legumes e verduras que colhi durante o dia, fiz uma bela sopa de condimentos com o que deu, jogando o arroz, e se tornando uma nova invenção, como se fosse um Risotto de legumes.
Retirei os talheres, os coloquei na mesa e deixei a panela cozinhar tudo no fogo. Melina se movimentava devagar, sentindo dor, gemendo baixo, parecia arder as feridas, as mesmas que fiquei confusa, pois umas pareciam já estar lá há algum tempo.
Melina saiu já vestida de trás do biombo, e nesse momento eu estava já colocando a mesa.
Ela, percebendo como molhou toda a cama, sentou no cantinho do quarto, em uma de suas malas, e já se preparava para se ajeitar para dormir.
- Hey, fiz o jantar para nós duas, sei que está com fome, entao por que não se sentou na mesa? - Disse eu confusa
- Estou tão envergonhada, mais do que você possa imaginar. Eu não queria estar passando por isso agora, e te envolver nisso.
- Do que está falando Melina, quero que sente-se aqui e venhar comer, não será a melhor refeição da sua vida, mas garanto que será melhor que somente o arroz e feijão, que talvez você não cozinharia hshs
Ela ficou muito sem graça, mas parecia estar com muita fome, pois veio devagar até a mesa, e aceitou de bom grado o prato com talher que estiquei para ela.
- Amanhã prometo cozinhar, não quero que se sinta obrigada a fazer nada por mim Fernanda, isso também é um absurdo. Me perdoa, mas sim, estou com bastante fome. Obrigada.
- Eu cozinharia contigo aqui ou não, não me custa colocar umas colheres de arroz a mais na água para cozir.
O silêncio parou um pouco naquele ambiente, comíamos em silêncio, com o sono já vindo tentar me tomar, até que percebi que Melina estava pingando sono. Mas calma, ela havia molhado toda a cama dela. Como eu faria um convite para ela, não ficando nada estranho, a fornecendo dormir em minha cama? Na verdade eu deveria dormir na rede, e a deixar na cama.
Eu só disse a ela que colocaria a rede para dentro da casa, e que ela poderia escolher onde dormir.
Ela sorriu e quebrou o silêncio da pior forma que poderia:
- Engraçado como você está tentando me deixar confortável, sendo que na verdade você que está desconfortável. A todo momento tentou manter distancia, manter-se sem fazer contato visual, eu entendo o que está passando, mas já digo que não precisa disso tá, seja você mesma ok? E obrigada por me ajudar.
Sim, eu fiquei azul, rosa, vermelha, fiquei muito sem graça mas me senti confortável depois daquilo.
Conversamos um pouco, ela disse dos machucados recentes.... se tratava de brincadeiras de muito mal gosto das meninas da escola ao escalar em Rapel...
Sobre os outros ela silenciou e não disse mais nada. Eu respeitei. Viramos boas amigas, conversávamos sempre que nos encontrávamos no chalé. Até que uma bela noite, ela foi deitar mais cedo, não estava passando bem. Procurou sua manta e não achou, até pensou que fosse novas brincadeiras das garotas. A madrugada chegou e trouxe consigo o frio, e Melina estava tremendo.
Eu nem pensei duas vezes, fazia parte do instinto, peguei o cobertor da minha cama e fui até ela. Enquanto colocava devagar o cobertor sobre ela, a mesma acordou e assustou comigo, ficou realmente muito assustada e eu gelei, travei.
- Calma Melina, é só um cobertor.
Melina sentou muito rápido na cama se recolhendo para trás, acuada. Aquilo me deixou muito mal. Pedi desculpa e me afastei.
Após um tempo, me observando ela me chamou... disse que queria me contar algo...
- Fernanda, desculpa... nao tenho as melhores memórias desse tipo de sensação, foi assim que as coisas começaram....
Pulando uma boa parte dessa conversa que foi muuuito longa e emocionante, ela me disse que era abusada pelo padrasto que a tratava como posse... ele nunca chegou a consumar nada. Só "cuidados", carinhos estranhos. E como ela passou um período de até fome em casa antes da vinda dele, ela não reportava pra mãe, pelo fato de ele ser quem sustentava a casa. Mas o preço era alto.
Isso a impedia de ter relacionamentos até, ele era altamente abusivo, possessivo e ciumento.
Aquilo me deixou mal... e começou a fazer sentindo os machucados...
-Melina, ele te bate???
- Na verdade eu só fujo e me machuco assim. Nunca fui de receber um carinho, não sei o que é isso. E quando acontece contatos assim, eu fico apavorada. Me desculpa, não faço por mal....
- Faz assim, descansa, só queria te cobrir mesmo. Amanhã será um novo dia.
Ouvindo essas coisas, umas lágrimas pesadas dos olhos dela acabou caindo... ela estava emotiva e desabafou. Eu não sabia como consolá-la.
Acabou que viramos a noite conversando. E foi muito bom. Eu não tinha amigos.... mas sinceramente, precisava controlar os impulsos de possibilidades de gostar dela.
No dia seguinte fizemos juntas algumas atividades. E foi assim que ela, ao tentar subir em uma árvore, escorregou, caindo feio no chão e se machucando novamente.
Corri em sua direção, e sem querer, no impulso ao tentar carregá-la, ela gritou:
- Não faz isso Fernanda!
O contesto ficou horrível quando algumas garotas viram a cena e pensaram que eu havia talvez a machucado. Gritaram pra eu sair de perto dela, tentei me explicar mas foi em vão. Digamos que aproveitaram o ódio que tinham de mim, e enquanto algumas garotas ajudavam a Melina, outras três foram me seguindo, em direção ao corrego, onde eu fui pra lavar o rosto e passar o susto.
Elas juntaram, e fizeram o inesperado.
Duas delas me seguraram fazendo um discurso de ódio e feminismo, muito homofóbico também. Me desferiram vários socos na barriga, tapas no rosto. Só poderiam ser a mando de Melina, talvez. Não deveria ter sido gentil nunca. Olha o que ganhei.
Me deixaram lá estirada como um animal abatido. Fiquei até cair a noitinha sentada encostada de frente o corrego , com muita dor e sem acreditar.
Peguei umas plantas lá e levei pro Chalé para uma compressa.
A Melina não estava. Normal, talvez não queria me ver.
Fiz um banho de ervas e entrei dentro pra aliviar a dor do corpo e a do ego.
Sabia que ficaria sozinha. Até que a porta abriu e fechou devagar...
- Fernanda? Posso ir até você?... ela foi dizendo isso e se aproximando.... Eu procurei você por todo o campo, pra me desculpar por mais cedo.... o que é isso em seu rosto?
- Suas amigas já pediram desculpas por você. Está tudo certo.
- Do que você está falando?
- Não se faça de desentendida, suas amigas foram atrás de mim. Elas fizeram isso, eu queria dizer que eu não tive tempo de me explicar. Eu não estava com nenhuma má intenção se quer saber. Não precisava disso.
- Do que você está falando Fernanda? Não são minhas amigas e não pedi nada a elas. Eu disse a elas o que houve, e logo após fui procurar você. Eu não acredito que fizeram isso contigo por minha causa, me desculpa, eu nunca quis te fazer mal.
- Poderia por favor me dar licença... preciso me vestir....
Ela se afastou e deixou me vestir, quando eu enfim me deitei, ela veio com um prato de arroz com legumes que ela mesma preparou.
- Por favor, come um pouco, e deixa me explicar. Juro que nunca faria isso com você. A pessoa que me estendeu a mão.
Eu percebi que realmente não teria sido ela a ter feito tufo aquilo.
Eu só fiquei quietinha... ela então soltou um "ai" e só aí pude ver aquele belo machucado em sua perna.
Molhei uma toalha na água de ervas, e fui até ela.
- Olha fica calma, estou te pedindo a permissão para tocar seu corpo, posso colocar isso no seu machucado?
Eu fiz isso para não assusta-la novamente, e tentar manter o respeito.
Devagar, ela assustada mesmo assim, acenou com a cabeça que sim... e devagar fui me aproximando, sem deixar de olhar pra ela nos olhos e fazer movimentos lentos...
Até que ela...
PRÓXIMO CONTO PESSOAL.
ESTAREI POSTANDO SEMPRE QUE CONSEGUIR ATÉ FINALIZAR A HISTORIA
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Beijos,Fernanda Araújo