Continuando…
Eu estava novamente de frente para os dois traidores. A raiva que me consumia chegava a me cegar. Fui tirado daquele estado de fúria pela fala do Júlio:
- Antes de vocês começarem, eu exijo total respeito aqui dentro. Não quero saber de agressões. Se eu tiver que usar a força para manter a conversa em um nível aceitável, eu o farei.
Ao ouvir o que o Júlio disse, eu olhei com mais atenção para o rosto do Flávio. Um enorme hematoma havia se formado no olho esquerdo, que estava muito inchado e praticamente fechado pelo soco do dia anterior. Me deu uma satisfação enorme aquela visão. Eu encarei o Flávio com ódio e disse:
- Você começa! O que você acha que pode me dizer para amenizar a sua traição? Seu aproveitador. Se não fosse pelo Júlio, minha vontade era dar um tiro na sua cara e na dela. Eu só saí de casa ontem, para evitar que isso acontecesse. Minha primeira vontade, foi pegar minha arma e acabar com a vida dos dois. Se ela não estivesse guardada no closet e vocês não estivessem no caminho…
Júlio tomou a frente, me deu alguns tapinhas na costa e disse:
- Calma, respira! Ainda bem que isso não aconteceu. Você teria acabado com sua vida também.
Na verdade, em momento nenhum eu pensei no que acabara de dizer. Essas palavras me vieram à mente somente agora, no momento da raiva. Quando eu vi os dois na minha cama, minha vontade era só de sumir dali, apagar aquele momento da minha vida. Só disse isso, para tentar deixá-lo com medo. Eu jamais teria a coragem de tirar a vida de alguém. Nunca fui um cara agressivo. Como disse antes, sou até pacífico demais.
Vendo a completa apatia do Flávio e a falta de justificativa, Angel, até então, quieta e de cabeça baixa, resolveu se manifestar:
- Eu conto tudo o que você quiser saber, mas só se estivermos sozinhos. Eu e você.
Que abusada! Minha vontade era de socá-la também. Fazer um hematoma naquela cara de pau, ainda maior do que o do Flávio. Eu, ainda mais furioso, disse:
- Você ainda quer ditar as regras, sua piranha! Quem você pensa que é?
Júlio interveio novamente na situação e disse:
- Luiz, o que eu falei serve para você também. Respeito!
Eu me irritei e respondi:
- Vai se foder, Júlio! Você vai passar a mão na cabeça desses dois pilantras? Vai ficar do lado desses filhos da puta também? Aí o puteiro vai estar completo: o aproveitador, a puta e o leão de chácara.
Júlio, sem se alterar com os meus insultos, disse:
- Eu não estou do lado de ninguém. Só quero que essa situação seja resolvida sem ninguém fazer bobagens. Principalmente você.
Angel se achou no direito de me dar um ultimato. Ela disse:
- Ou você conversa comigo a sós, ou paramos por aqui.
Eu olhei para ela, pela primeira vez com nojo e disse:
- Vai tomar no cu, sua vadia! E quer saber, fodam-se as explicações de vocês. A partir de agora, sua conversa será com os meus advogados. Vagabunda traidora.
Angel explodiu de vez. A mulher se transformou e começou a gritar:
- É por isso que você foi corno. Já que você não quis atender ao meu pedido, vou falar tudo aqui mesmo, na frente dos seus amigos, eu só queria te poupar. Eu disse que o dinheiro ia mudar você. Só que em vez de crescer, você conseguiu ficar ainda mais encostado. Mais devagar. Nem para comer a sua mulher direito você prestava mais. Era só aquele papai e mamãe sem graça duas vezes na semana. Às vezes, nem duas. Enquanto isso, os outros me desejavam e me elogiavam. Você nem prestava mais a atenção em mim…
Tentei agredi-la, mas Júlio foi mais rápido me contendo. Enquanto Júlio me segurava, ela continuou:
- Eu nunca imaginei que ia dar para o Flávio. Mas, toda vez que a gente brigava e você não esboçava nenhuma reação e continuava sentado no sofá jogando vídeo game, naquela vidinha sem objetivo, ele me escutava e levantava o meu astral. As lingeries que eu comprava para você ver e me elogiar, passavam despercebidas. Você nunca mais me olhou com desejo. Minha depilação dolorosa, você nunca notou. Mas, ele, ele sim sabe apreciar uma mulher e tirar o melhor dela. Daí para a cama, foi um pulo.
As palavras da Angel me atingiam com força. E ela não parava:
- Você é o cara mais inteligente que eu conheço e o mais sem força de vontade. Teve uma ideia genial, mas precisou do Júlio para que ela funcionasse. Ficou rico e em vez de curtir a vida, estagnou. Qual é o seu próximo projeto? Me diz? Qualquer um, mesmo que não dê certo. Você tem uma empresa milionária que não produz mais nada. Quanto tempo você acha que vai demorar para a tecnologia mudar e o seu programa se tornar obsoleto?
Angel se jogou no sofá chorando muito. Ela tinha colocado tudo para fora. Tudo o que ela pensava de mim foi dito ali, sem filtros. Mesmo destruído pela traição, eu não podia negar a verdade de suas palavras. O ditado é claro: camarão que dorme, a onda leva.
Empurrei o Júlio, dei uma última olhada para a Angel e saí. Passei em casa e fiz uma pequena mala às pressas e peguei o meu celular também. Joguei a mala no banco de trás do carro e voltei a rodar sem rumo. As palavras da Angel martelavam meus pensamentos. Por mais dolorosa que fosse a traição, eu realmente tinha uma grande parcela de culpa.
Mesmo reconhecendo a minha parte na tempestade que atingiu a minha vida e também tendo a certeza que eu ainda a amava, eu jamais a aceitaria de volta. Corno, tudo bem! Mas, manso? Jamais!
Outra vez, recorri a um hotel e voltei a beber. Mas, dessa vez com um pouco mais de moderação. Me recostei na grade da sacada do quarto e fiquei olhando para a noite nublada e imaginando quais seriam os próximos passos da minha vida.
Em uma coisa, eu concordava com a Angel: eu realmente estava estagnado. Tinha dezenas de projetos engavetados que eu mesmo criei e depois de pouco tempo, abandonei. Alguma coisa boa deveria ter naquele meio. Me lembrei da Natália e do sexo maravilhoso daquela tarde, será que ela viria se eu chamasse? Liguei sem muitas pretensões e ela logo atendeu:
- Boa noite, Sr. Luiz! O que posso fazer pelo senhor?
Pelo jeito que ela atendeu, imaginei que estava acompanhada de alguém que eu talvez conhecesse. Eu disse:
- Tem algum conhecido do seu lado? Por isso me atendeu dessa forma?
Natália, com a voz mais descontraída, disse:
- Sim, senhor! A Luana, que também trabalha na empresa, estuda comigo. Moramos perto e voltamos para casa juntas.
- Vem ficar comigo. Preciso de companhia. Pega um Uber e vem. Vou te mandar o endereço por mensagem e autorizar a sua subida. Posso esperar?
Natália, dissimulando a conversa para a amiga, respondeu:
- Sim, senhor! Pode contar comigo. Boa noite!
Trepamos gostoso mais uma vez. E mais uma vez, a Angel estava certa: o sexo com Natália era muito melhor do que o sexo murcho que eu e ela fazíamos. Aquele sexo era mecânico e sem pegada. Isso ficava bem evidente comparado a toda a luxúria dessa ninfetinha que quicava de se acabar na minha rola. Mas, era só sexo mesmo. Carnal, devasso…
Na manhã seguinte, mandei mensagem ao Júlio dizendo que me afastaria por algumas semanas. Ele concordou dizendo que cuidaria de tudo e que era melhor mesmo eu tirar alguns dias para colocar a cabeça no lugar. Por vários dias, fiquei naquele hotel. Natália vinha toda noite e me trazia os diagramas dos meus projetos abandonados em pen drives, já que o servidor que os armazenavam, era offline para não corrermos os riscos de uma espionagem industrial. Eu e ela fazíamos sexo selvagem, com muita pegada e eu estava aprendendo muito com a Natália a ser um amante melhor. O resto do tempo, eu usava para completar os meus projetos e ver quais tinham potencial para uso real no ambiente da rede.
Na quarta à noite, recebi a primeira mensagem da Angel no meu celular:
" Podemos conversar? Por favor! Eu só quero falar com você. Sei que você está muito chateado comigo. Mas, só peço que ouça o que eu tenho para falar."
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Três dias antes, após Luiz sair do apartamento do Júlio…
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- Eu achei que seria bem pior. - Flávio disse, despertando o olhar furioso do Júlio.
Júlio olhava com total aversão para ele. Júlio não conseguiu segurar as palavras:
- Sai daqui! Some da minha frente. Você não traiu só o Luiz. Você traiu a amizade de todos nós.
Flávio ainda tentou se explicar, mas Júlio, aos empurrões, o colocou para fora.
Júlio logo se virou para Angel e perguntou:
- O que foi que deu em vocês? Logo o Flávio?
Angel não respondeu, ela tinha outra pergunta a fazer:
- Você acha que eu consigo reconquistar o meu marido? Mesmo após ter explodido dessa maneira?
Continua…