Continuando…
Júlio estava sentado em seu escritório, com um sorriso de orelha a orelha, após se dar conta da maravilha criada por Luiz que tinha nas mãos. Ele sentiu o seu celular vibrar e o pegou. Seu sorriso foi quebrado, dando lugar a uma expressão de raiva, ao ler no visor do aparelho o nome de quem o ligava. Júlio atendeu grosseiramente:
- O que você quer seu desgraçado? Já não basta o estrago que você fez na vida do seu até então, melhor amigo?
Flávio não demonstrava nenhum constrangimento do outro lado da linha:
- Precisamos negociar!
Júlio começou a se sentir traído também. O que levava uma pessoa, que fora tratado como um igual durante a vida toda, a se revelar dessa maneira e tentar destruir a vida dos amigos. Ele disse, de forma seca:
- Resolveu me chantagear também? Tá afim de comprar essa briga? Tem certeza que você tem bala na agulha para um confronto comigo?
Flávio não tinha mais nada a perder. Seus planos foram por água abaixo. O flagrante que ele armou saiu ao contrário do que ele esperava e só lhe restava mesmo, a chantagem. Ele disse:
- Vamos fazer o seguinte: você vai me arrumar cinco milhões de dólares e eu entrego os vídeos da Angel. Ah! E quanto a você, será que o Luiz vai ficar feliz quando souber que o melhor amigo, escondia a informante da esposa vadia, debaixo do nariz dele? E para finalizar, uma informação de graça: neste exato momento, Luiz e a xis nove vadia estão curtindo a vida felizes em um hotel executivo três estrelas no centro da cidade. Dá os seus pulos, você tem duas semanas. Eu sei que uma quantidade de dinheiro grande assim, não se saca do dia para a noite.
Flávio desligou, deixando Júlio muito triste do outro lado da linha. Tanto o Júlio quanto o Luiz, nunca deixaram que Flávio se sentisse diminuído. Nunca usaram da fortuna para menosprezar ou desqualificar o amigo. Sempre lhe deram um salário de diretor da empresa, mesmo que ele nunca trabalhasse por lá. Trocavam o seu carro por um modelo novo a cada dois anos, compraram para ele, um apartamento do mesmo tamanho e valor idêntico ao do Júlio. "Como pode uma pessoa mudar tanto?" Pensava Júlio.
De uma coisa ele tinha certeza: jamais se sujeitaria às chantagens do Flávio. Se era guerra o que ele queria, Júlio estava preparado para o confronto. Começou a bolar um plano de contenção, que protegesse além dele, Luiz e Angel também. Se dinheiro não compra a felicidade, ao menos ele compra influência. E isso, Júlio tinha de sobra. Durante alguns dias, ele começou a se cercar das pessoas certas para lhe ajudar na empreitada contra Flávio.
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Na casa de Angel e Luiz, já faziam nove dias que Angel não saía do quarto, não comia direito e não tinha respostas das inúmeras mensagens enviadas ao Luiz. Ela estava muito mal. Naquela manhã, ao tomar banho sentiu um enorme desconforto na região genital. Ao levar a mão a entrada da sua vagina, um líquido amarelo e mal cheiroso, parecido com pus, escorria pelas suas pernas e grudava nos seus dedos.
- Aaaaahhhhhh! - Angel gritou desesperada.
Valentina, sua irmã, correu desesperada de encontro a ela. Valentina, Tina para a família, era estudante de medicina e Angel lhe mostrou o que estava acontecendo. Tina disse:
- Isso é gonorréia. Precisamos ir ao médico já. O tratamento é fácil. Mas as complicações de esperar é que são o problema. Coloque um absorvente, se arrume e vamos.
Angel obedeceu e logo as duas chegaram a uma médica conhecida da família. Angel estava muito envergonhada e não sabia onde enfiar a cara. Com bastante tato e simpatia, a médica conseguiu fazer com que ela relaxasse e a deixasse tratar do problema. A solução era bem simples, na verdade: Uma primeira injeção, ali mesmo, de um antibiótico forte e um tratamento à base de comprimidos em casa. Em quinze dias, Angel estaria curada. Só não podia praticar sexo nesse período, o que fez Angel dar uma risada nervosa, se lembrando que a única pessoa no mundo com quem queria isso, talvez nunca mais olhasse para ela.
Angel seguiria o tratamento à risca sendo sempre vigiada e cuidada pela irmã. Mas, esse tempo de recuperação da doença física, seria também, o tempo necessário para o começo da doença psicológica. Angel começaria a entrar em uma depressão profunda
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No centro da cidade, Luiz tinha acabado de tomar banho e se arrumava para encontrar com seus advogados. Marcaram as duas horas na firma que representava sua empresa. Natália, nua na cama, disse:
- Vem aqui! Ainda dá tempo para mais uma.
Luiz olhou para ela sem muita alegria. A verdade, é que já estava saturado daqueles dez dias que passou enclausurado, trabalhando e fodendo sem parar. Agora que tinha terminado de vez a versão final do programa, começava a pensar em viajar. Ele sempre teve o sonho de ir a Cancún. Quem sabe não era agora a hora? Virou para Natália e disse:
- Você precisa voltar para a sua vida. Vou sair agora e não volto mais. Vou passar um tempo viajando. Até te levaria comigo, mas sei que você tem a faculdade e precisa continuar trabalhando.
Natália ficou muito triste, mas sabia que uma hora, aquele conto de fadas chegaria ao fim. Ela se levantou, deu um beijo que foi correspondido em Luiz e falou:
- Obrigado por tudo! Sei que você precisa voltar para a sua vida também. Eu amei cada momento que passamos juntos. Você é um cara muito especial. Vou lembrar com carinho dos nossos momentos. Quando voltar, se for a sua vontade, estarei aqui.
Natália começou a procurar as suas roupas espalhadas pelo chão do quarto. Luiz ainda disse:
- Fique tranquila! Darei ordens para cuidarem muito bem de você na empresa. Também foi especial para mim.
Luiz pegou a sua mala, seu celular, suas chaves e saiu. Passou pela recepção do hotel, acertou a conta pendente, entrou no seu carro e acelerou.
No carro, ia pensando na vida e Angel sempre invadia os seus pensamentos. Não teve coragem de abrir nenhuma das dezenas de mensagens dela. A primeira que leu, já tinha sido o suficiente para ele saber que não podia se deixar levar pela tentação. O tamanho da dor que ainda sentia, era proporcional ao amor que sempre teve por ela. Mesmo que tenha se deixado levar pela comodidade e pela falta de atenção à esposa durante o casamento, sabia que se cedesse o mínimo que fosse, não teria forças para resistir e uma reaproximação seria difícil de evitar. Luiz estava fugindo outra vez. Fugindo da dor, do confronto, da tentação, do desespero…
Estacionou em frente ao escritório de advocacia e entrou apressado. Queria resolver logo a separação, antes que desistisse.
Uma das secretárias, pediu que ele sentasse na enorme sala de reuniões e logo três advogados adentraram o recinto. Um deles disse:
- Boa tarde, Sr. Luiz! Como o senhor pediu, analisamos todos os papéis referentes aos direitos da sua esposa em caso de separação. Se o Senhor assim desejar, ela não tem direito a quase nada, visto que o seu patrimônio, decaiu após o casamento.
Luiz estranhou e o advogado vendo a sua reação, explicou:
- Sua fortuna ainda é bastante considerável. Mas, o senhor teve mais débitos do que créditos nos últimos três anos. A Ong que o senhor financia é a responsável por isso. Todo o lucro dos seus investimentos é drenado por essa filantropia.
Luiz riu. No fim das contas, Angel era a responsável por não ter vantagens nenhuma no divórcio. O advogado continuou:
- Tudo conquistado após o casamento seria dividido. Mas, não houve conquistas após esse período. Portanto, assinando os papéis, o senhor volta a ser um homem solteiro e continua rico… sem dívidas nenhuma com a sua esposa, ou melhor, futura ex esposa.
Luiz não gostou do jeito que aquelas palavras soaram nos seus ouvidos: "futura ex esposa." Mas ele jamais deixaria Angel desamparada. Foi por causa dele que ela largou o mercado de trabalho. Decidiu que deixaria uma quantia razoável para ela viver, mas não o suficiente para a Ong continuar operando. "Maldita ong." Pensou ele. Virou para os advogados e disse:
- Podem deixar a casa em que morávamos para ela e cinco por cento do meu patrimônio líquido em dinheiro. É uma quantidade razoável para qualquer um começar a vida. E investido corretamente, talvez nem seja necessário voltar a trabalhar.
Luiz fez isso por gratidão. Mesmo que fosse ele o criador, sem o apoio dela no começo, não teria chegado a lugar nenhum. Como ela mesmo disse, Luiz era um encostado e se não fossem os incentivos de Angel, ele talvez estivesse empacado ainda na vida.
Deixou uma procuração dando plenos poderes aos advogados, não queria estar presente no dia que ela viesse.
Saiu dali e foi direto ao escritório conversar com Júlio. Subiu direto para o escritório do amigo no lado administrativo da empresa. O seu, ficava no lado oposto, na área de criação. Já chegou dizendo:
- Acha que consegue um visto para o México até amanhã?
Júlio estranhou:
Boa tarde para você também! Está melhor?
Luiz não queria voltar aos assuntos que o machucavam tanto. Ele insistiu:
- E então? Consegue burlar os trinta dias de espera do visto ou não?
Júlio mudou de tática:
O que você vai fazer no México?
Luiz dissimulou:
- Sempre tive vontade de conhecer Cancún. Como devemos esperar ainda mais um mês para o reconhecimento da patente, achei que seria bom respirar novos ares.
Nisso Júlio concordava. O prazo dado por Flávio ia vencer e seria bom que Luiz estivesse longe dessa guerra. Luiz achou Júlio um pouco receoso, parecendo que queria lhe dizer alguma coisa. Ele perguntou:
- Está tudo bem, amigo? Você parece preocupado.
Júlio preferiu disfarçar, não achava que era a hora de ter uma conversa mais séria com o sócio e melhor amigo. Ele disse:
- As preocupações de sempre. Não se preocupe. Nada que eu já não esteja acostumado.
Luiz ainda pediu:
- Posso dormir essa noite na sua casa? Se você conseguir o visto, saio cedo amanhã e viajo de uma vez.
Júlio respondeu:
- Vou providenciar o seu visto e te entrego em casa à noite.
Luiz pegou as chaves do apartamento com o amigo e saiu feliz. Passou em uma loja famosa e comprou todas as roupas e coisas gerais que precisava para a viagem. Durante a noite, Júlio lhe entregou o visto e conversaram sobre muitas coisas, com Luiz sempre se desviando do assunto Angel. Mais ficou muito preocupado quando soube que ela não estava nada bem com a separação. Preferiu não responder. Dormiu ansioso durante aquela noite.
Na manhã seguinte já estava no avião com destino a Cancún. Antes, pelo celular, fez uma reserva no primeiro hotel caro da lista, o Temptation Cancun Resort, sem saber onde estaria se metendo. As dez horas de viagem foram cansativas, mas ele conseguiu dormir durante voo e nem se importou tanto com as escalas.
Chegou ao destino e após se instalar em uma suíte maravilhosa que custava dois mil dólares a diária, queria sair e explorar um pouco do que o seu dinheiro estava pagando. Desceu para o bar de decoração tropical à beira mar. Uma enorme construção de madeira com teto de palha e uma decoração bem caribenha. Em inglês, disse ao barman para surpreendê-lo no drink e enquanto esperava, notou que do outro lado do balcão, uma linda morena o encarava.
Sorriu demonstrando simpatia e percebeu que ela tinha traços físicos muito parecidos com os da Angel, apesar de se vestir de forma muito mais elegante. Angel era simples, estava sempre de calça jeans e blusa da Ong ou roupas de academia, que a deixavam muito gostosa. A mulher à sua frente, vestia uma blusa mais refinada, para o clima tropical, mas via-se que era cara, e completava o look com um chapéu estiloso feminino.
O garçom trouxe a sua bebida e disse:
- Cortesia da cliente à sua frente.
Luiz aceitou e fez um sinal de agradecimento com a cabeça. Mas não resistiu a curiosidade e logo estava dando a volta pelo balcão e indo se sentar próximo a mulher que mantinha os olhos fixos nele, acompanhando sua chegada:
- Hi! I'm Luiz. Thanks for the drink. ( Olá! Eu sou o Luiz. Obrigado pela bebida.)
A mulher riu e Luiz deu uma olhada mais detalhada para ela. Era uma bela mulher com a idade bem próxima a sua. Ela disse:
- Oi, Luiz! Eu sou a Beatriz.
Luiz riu também. Estava gastando o seu inglês sem motivo para falar com uma brasileira. Ela voltou a falar:
- Eu sei quem você é. Sou uma das encarregadas de trabalhar com o seu programa. E devo dizer que ele facilitou muito a nossa vida. Obrigado por isso. Drink merecido.
Luiz se sentiu muito envaidecido pelo elogio. Ficaram um bom tempo por lá se conhecendo melhor e durante todo esse tempo, a dor em seu peito não se fez presente. Luiz perguntou:
- Está de férias?
Beatriz deu um gole no seu mojito e respondeu:
- Não, estou aqui a trabalho. Vim fazer uma divulgação de mídia social para a empresa. E você?
Luiz se lembrou do motivo de estar ali, estava fugindo. Mas, preferiu não dizer nada. Acabava de conhecer Beatriz e isso, talvez a assustasse. Ele desconversou:
- Vim a passeio mesmo. Sempre tive o sonho de conhecer Cancún. Reservei o primeiro resort que apareceu, peguei o avião e vim.
Beatriz fez graça:
- Esse é o bom de ser rico. Hoje estou afim de viajar, acho que vou para Cancún…
Os dois riram da brincadeira dela e do nada, pararam de rir e começaram a se encarar. Luiz não resistiu e a beijou, parecia ser atraído pela sua boca. Após o beijo, Beatriz disse:
- Vem comigo!
Luiz se entregou de vez e a seguiu. Pararam em frente a uma tenda toda fechada com uma placa simples na frente: massagem tântrica. Luiz não tinha a mínima ideia do que tântrica significava, mas uma massagem? Isso seria muito bom depois de dez horas de voo. Beatriz perguntou:
- Você prefere homem ou mulher como massagista?
Luiz, dando uma de macho, respondeu:
- Mulher, lógico!
Beatriz concordou:
- Mulher para mim também.
Luiz imaginou que ela fosse tímida. Beatriz foi até uma pequena abertura lateral e voltou minutos depois puxando Luiz pela mão e entrando na tenda. Cada um se dirigiu a um biombo, tiraram as roupas e voltaram enrolados às toalhas. Se sentaram nas macas que estavam uma ao lado da outra e minutos depois, duas lindas morenas mexicanas entravam pela parte de trás com os seios desnudos e só com uma minúscula tanguinha tampando suas bucetinhas estufadas.
Continua…