Vou falar agora com a voz do João...
Sim meus amigos era Joana! Além de sua especialidade em dominar, ela era especialista em envolver homens e invadir espaços.
Estava ali, em minha sala, sentada, me esperando... Incrivelmente linda.
Primeira coisa que fiz foi pedir: o que você faz aqui e como entrou?
Ela de pronto me respondeu: não foi fácil entrar aqui, mas foi mais fácil de que te reconquistar...
Joana estava linda, muito mais bonita que Andressa, Joana tinha silicone agora, recauchutado tudo e mesmo sendo uma “dominatrix” se vestia como uma grande dama da sociedade.
Usava um vestido preto, de grife, coisa cara. Carregava consigo uma bolsa que sinceramente acho que valia mais do que o meu salário...
Sem muita enrolação pedi: e o que quer?
Ela só me respondeu: você sempre soube o que eu quero... mas nesse momento vim conversar contigo e não falar sobre o que eu quero.
E eu simplesmente falei: não posso conversar com uma suspeita.
E ela: mudou agora? De juiz virou membro do júri? Meu querido, você não irá me condenar, muito menos me inocentar, quem fará será o júri e tenho certeza que a sua decisão em sentença, se você não se considerar suspeito, será de acordo com critério técnico, porque você é inteligente demais, eu que fui burra essa vida toda.
E ela continuou: você sabia que fiz cirurgia intima? Me fiz de bobo e ela prosseguiu: sim, sou virgem novamente, fiz a cirurgia nesse dia, me entregando uma declaração médica. Sou virgem desde que nós terminamos e permanecerei assim para o resto da vida se você não me perdoar.
Meus amigos, confesso a todos que nesse momento eu quase cai e fiz o que até então não tinha feito, chorei... e sabem o que ela disse: e agora eu estou aqui para ouvir você, justamente a pessoa que a vida toda me ouviu... nunca tive o dom de ouvir você, éramos felizes comigo falando e você me ouvindo, agora estou aqui para fazer diferente, eu quero ouvir você.
Naquele momento eu respirei fundo e falei tudo, dos meus relacionamentos, do que deu certo com Carol, do que não deu, do tesão por Andressa, não ocultei nada, nenhum detalhe e ela ali, pela primeira vez me ouvindo. A mandona, a dona da razão, servindo de pinico para as minhas lamentações...
Falei sobre a faculdade, contei tudo o que aconteceu depois daquele dia que ela saiu do meu apartamento. Falei sobre as mensagens que ela enviava e que eu ficava horas pensando se respondia ou não, ela na hora me disse: eu sei, você chegava a digitar e não mandava nada.
Até que pedi a ela: por que você veio aqui?
E ela me respondeu: eu vim para fazer a única coisa que eu não tinha feito até hoje, te ouvir... e dizer que independente de sua decisão, eu estarei pura, te esperando ou morrendo dessa forma... seja na cadeia, seja em liberdade, seja aqui, seja nos Estados Unidos, seja na Europa, só tenho uma certeza em minha vida, você foi o meu único amor e homem.
Mediante a isso eu refleti... e falei curto e grosso: hoje eu vejo que nunca deixei de te amar, me magoou, doeu, te magoei, sei que doeu pra ti também saber que fiz amor com Andressa.
Ela na hora interveio e disse: não doeu não, doeu em você, em mim não, o impacto maior foi em ti, quem teve remorso foi você. O que doeu em mim foi não ter te contado, foi não ter sido transparente contigo desde o inicio, você sim foi comigo, quando você dormiu com ela me contou, depois, mas me contou...
Joana prosseguiu: já que você gosta de me ouvir, então, eu segui minha vida, sem você fisicamente mas contigo sempre em meu coração. Me tornei dona de mim, eu tinha ambições e consegui tudo o que queria. Encontrei muitas pedras no caminho como essa que nos colocou agora frente a frente, embora nessa eu acredito que tenho menor dificuldade do que meu grande desafio, ter novamente você ao meu lado, já que o seu amor sei que nunca deixei de ter.
Joana se despediu de forma terna, com um beijo no rosto de João e um pequeno afago, mas antes de sair disse: era só o que eu vim fazer, a partir de agora estou te bloqueando dos meus contatos, não fica bem o juiz ter um “lance” com a acusada. Mas se quiser, você ainda tem o contato da minha secretaria Andressa, fala com ela e ela vai saber aonde eu estarei...
Meus amigos... vocês não fazem a ideia do alívio que eu tive perante a isso tudo... Sim minha gente, alivio, tirei um peso das minhas costas.
Primeira coisa, eu não podia continuar no caso, na verdade eu recém tinha pego ele, sequer tinha lido ele na integra, o antigo juiz tinha sido transferido e acabei “herdando” o caso. Tinha apenas dado aquela olhada inicial e me deixou muito confuso.
O MP, brilhantemente, disse que Joana era apaixonada pela vítima, esse fato por si só já me tornava suspeito ao caso, por uma razão óbvia, Joana me amava, disso eu tinha agora plena certeza. Eu indiretamente era parte do negócio...
Eu em meu escritório, em um lado da cabeça dizia assim: FAÇA O CERTO, SAIA DO CASO, o outro dizia: ENTRE NO CASO E SALVE JOANA e em outra extremidade dizia assim: ENTRE NO CASO E CONDENE ELA, FAÇA SUA VINGANÇA.
Eu como profissional jamais iria condena-la, porque sabia que a tese da acusação era falsa. Mas ao mesmo tempo, quem iria decidir era o júri e não eu. Eu apenas daria a sentença, que devido aos “requintes de crueldade” não seria pouca coisa.
Naturalmente que como qualquer pessoa inteligente tomei minha decisão.
Uma semana depois eu contatei Andressa, marquei um novo encontro com Joana para uma quarta pela tarde, em Curitiba, onde estudei, a fim de não levantar qualquer suspeita.
Pedi a minha secretaria que reservasse o voo, naturalmente que paguei a conta do meu bolso.
Era a hora da verdade, tinha pensado muito, decidi que era hora de me retirar do caso e seguir o que o meu coração mandava.
Ia inclusive pedir licença do cargo de juiz (desde que entrei não tinha tirado férias nem licença) e se Joana permitisse, iria atuar junto a defesa dela, se tivéssemos sucesso, iria quem sabe abandonar a carreira de juiz e me tornar criminalista.
O meu nome seria feito condenando ou inocentando e eu estava ali prestes a tomar a maior decisão de toda minha vida.
Marcamos para a quarta. Na terça a tarde conversei com a minha assessora que me mandou tomar um banho de banheira com sais de banho para tirar a tensão que era evidente.
Final da tarde de terça protocolei o pedido para me afastar do caso alegando ser suspeito, não precisei dar maiores informações. Além disso, pedi minhas férias e iria pedir afastamento se o juiz substituto não fizesse o julgamento de Andressa.
A noite passei no shopping, comprei sais de banho, chequei em casa, deixei meu veículo na garagem, subi ao meu quarto, tirei minha roupa, fui até o banheiro da suíte com meus sais de banhos (que dizia no rótulo eram relaxantes).
Chegando lá, meus amigos uma nova surpresa...
