ZEDU
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Aparentemente, o JL ganhou uma torcida organizada. Eu não consigo entender a compaixão dos meus familiares. O cara nos dopou. Em seguida, levou todo mundo para um matadouro e atirou no Fred. As pessoas são muito ingênuas. Eu usei toda a frustração no trabalho. Me dediquei para fazer o melhor lançamento que está cidade já viu.
A marca da agência já rolava nos outdoors, jornais e redes sociais. Eu faria uma entrevista para a TV Mundo, o maior veículo de comunicação da cidade. A Camille preparou toda uma apresentação para divulgarmos. Nos últimos dias, se dormi 3 horas foi muito. Na noite que descobri o fã-clube do JL, eu tive um pesadelo. Então, decidi que a melhor coisa a se fazer era não dormir.
— Zedu. — Camille chamou a minha atenção. — O sol de Manaus não está te fazendo bem. — pegando um pó e passando no meu rosto.
— O que é isso?
— Milagre divino. Estou salvando o meu chefe. Não quero que ele pareça um zumbi em plena Rede Mundo. — ela disse passando maquiagem no meu rosto.
— Vai precisar de um caminhão de maquiagem. — respondi com os olhos fechados.
— Cara, eu não gosto de me meter, mas o Yuri está em uma encruzilhada, Zedu. Imagina, ficar entre o noivo e a sogra. Ele quer agradar os dois. Peraí, que vou passar um blush nas bochechas lindas.
Eu devo ser o pior noivo do universo. Desde o início, o Yuri tem sido um excelente parceiro. Sempre embarca nas minhas vontades. Nos mudamos para São Paulo, depois para Canela. Em todas essas mudanças, a única constante era o Yuri. Ele é o motivo de eu não desistir. E como eu trato a única pessoa que está ao meu lado? Como uma merda.
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Amor da minha vida:
Estamos todos no aguardo do jornal. Avisa quando for entrar ao vivo. Te amo e arrasa.
Paixão do meu viver:
Obrigado, bebê. Estou muito nervoso. Eu te amo demais.
(imagem)
Como estou?
Amor da minha vida:
Gato!!!! Quero autógrafo!!!!
(imagem)
Estamos todos torcendo por você.
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A minha família e a do Zedu estão reunidas para me assistir. Mesmo depois de tudo o que eu fiz. Eles ainda torcem por mim. Os meus olhos ficaram marejados, mas eu não tinha tempo para pensar em mais nada. Um dos produtores me puxou e avisou que a entrevista ia começar. Avisei ao Yuri, espero que estejam todos torcendo por mim.
O corredor para o Estúdio era pequeno, mas pareceu uma eternidade chegar lá. A cada passo, o meu espírito dissipa o corpo. A apresentadora, Diana Alencar, era amiga da Luciana, que trabalhava na emissora. Tivemos uma conversa rápida. Ela explicou quais seriam as perguntas e orientou que eu falasse das redes sociais da agência.
Os bastidores de um telejornal é uma loucura. Pessoas indo e vindo, mas na hora do 'Ao Vivo' todo mundo desaparecia. De repente, estávamos apenas a Diana e eu. De maneira descontraída, a apresentadora foi tirando todas as dúvidas. Eu estava nervoso e minhas mãos suando, graças aos céus, eu não segurei nenhum microfone, pois eles colocaram um pequeno no meu paletó.
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YURI
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Nunca vi o Zedu tão seguro de si. Ele respondeu todos os questionamentos sem titubear. A apresentadora conduziu bem a entrevista. Finalmente, o amor da minha vida estava tendo o reconhecimento que merecia. No fim da entrevista, a apresentadora pediu para que o Zedu deixasse uma mensagem para os telespectadores.
— Bem, Diana. Em primeiro lugar, quero agradecer ao convite. E dizer a todos que podem entrar em contato pelo telefone A nossa equipe vai ter o prazer em tirar todas as dúvidas. Outra coisa que queria destacar é o apoio dos meus parceiros de trabalho, família e amigos. Em especial ao meu noivo, Yuri Teixeira, que está acompanhando essa entrevista.
— Bem, José. Agradecemos a sua participação e tenha um bom dia. — se despedindo de Zedu e virando para outra câmera. — Em Manaus, o número de serviços online tem aumentado e...
Carlos baixou o volume do canal. Um minuto de silêncio. Eu estava no chão, literalmente, assista a entrevista sentado no chão. Os meus familiares começaram a fazer piadinhas sobre a declaração. Eu coloquei a almofada no rosto. Eu não sabia como reagir. Como devemos reagir quando ganhamos uma mensagem tão especial na televisão?
— Que linda declaração. — destacou tia Olívia. — Pessoal, agora eu preciso ir. Tenho duas audiências. — avisou tia Olívia deixando o Júnior aos nossos cuidados.
— Eu também, querida. Te dou uma carona. Afinal, à noite vamos ao evento do Evandro. — lembrou Carlos, dando um abraço no filho. — Júnior, cuide dos seus primos, por favor.
— Ei, Giovanna. — a chamei de maneira engraçada. — Você viu a mensagem que o Zedu deixou para mim?
A minha irmã nem se importou. Ela estava concentrada em uma mensagem no celular. Segundo o Richard, a Giovanna puxou a orelha do Sérgio por nunca ter recebido uma declaração tão significativa.
— E tú? — perguntei do Richard, levantando e sentando no sofá. — É romântico com o Ned?
— Por favor, Yuri. Olha para mim. — colocando a mão na cintura. — Eu que recebo mensagens calorosas. Quer ver o meu celular?
— Não, tô de boa.
— Ah, que ódio. Eu quero uma mensagem na TV. — resmungou Giovanna, voltando sua atenção para nós.
— O Sérgio do deixo que é grosso. — Richard comentou sentando ao meu lado e cruzando as pernas. — Você deu azar, irmãnzona.
— Eu vou conseguir uma declaração até o fim deste ano. Quem sabe um pedido de casamento. — Giovanna soltou de maneira romântica.
— Sonhar é de graça. — brincou Richard, levando uma travesseirada no rosto.
— Grossa! — reclamou Richard.
— Titios são bagunceiros. — comentou Júnior pegando outro travesseiro e tacando no Richard.
Depois de uma declaração em rede local, eu preciso fazer alguma coisa para surpreender o Zedu. Acho que podemos apimentar à noite. Ligo para um motel e reservo uma suíte para nós. O Zeduzinho vai ter uma bela surpresa.
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ZEDU
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Estou exausto. Preciso de um descanso imediatamente. São 18h e eu não parei nem para almoçar. Depois da entrevista participei de três reuniões. Sério, eu só queria dormir e acordar daqui três anos. Finalmente, conheci o meu secretário. A Camille teria outras prioridades, então, contratei uma pessoa para me auxiliar.
Dessa vez, escolhi um homem. Ele se chama Edson e está acostumado com a rotina de um escritório. A última reunião do dia é com o Edson e a Camille. Nós passamos todos os direcionamentos específicos e suas atribuições. Uma delas é ser meu braço direito.
— Senhor José e Dona Camille não vou decepcionar vocês. — disse Edson, fazendo várias anotações no seu I-pad.
— Pode me chamar de Zedu. É a fusão dos nomes: José + Eduardo (Zé - Du). — expliquei fazendo o Edson rir.
— Desculpe, geralmente, eu trabalho para pessoas mais velhas. Se duvidar vocês são mais novos que eu.
— Sim. A empresa gosta de dar oportunidade para pessoas jovens e ambiciosas. Funcionamos como um relógio, ou seja, qualquer válvula fora do lugar é um problema. — disse Camille. — Eu vou te passar uma planilha por e-mail.
— Tudo bem, Celine. — concordou Edson, ainda escrevendo no I-pad.
Decidi não pedir um carro por aplicativo. Fiz do Brutus o meu motorista particular. Cara, nunca pensei depois de tantos anos a gente continuasse com essa amizade. O Brutus é praticamente o meu irmãozinho. Mesmo quando eu saí do armário, ele continuou me amando e respeitando.
Diferente de mim, o Brutus criou músculos. Ele agora era um respeitado personal trainer de Manaus. A única coisa que não mudou foi a limpeza do carro do meu amigo. Lata de energético, marmitas velhas, roupas usadas e, até mesmo, lubrificante. Esse cara não dorme no ponto.
No trajeto para casa, o desgraçado me convence a beber em um posto de gasolina. Bem o perfil do Brutus fazer isso. Apesar do cansaço, eu concordo, porque, preciso espairecer. Ultimamente, o Yuri está cheio de cuidados comigo, principalmente, agora que sei do JL e sua torcida cativa.
Paramos em um posto próximo ao condomínio da família do Yuri. Descemos e o Brutus me pagou uma cerveja e comprou um suco para si. Aparentemente, ele estava em uma dieta que o proibia álcool. Porém, eu ainda precisava relaxar e aceitei a oferta.
— Quem diria, Brutus...
— Bruno, me chamo Bruno. — ele me cortou e depois tomou um gole de suco.
— Bruno, — revirei os olhos e sorri. — quem diria que aqueles dois moleques do Colégio Dom Pedro II se tornaram alguém.
— Eu estou na batalha, mano. Agora, você meu amigo, você é um caso a parte. Estou muito feliz com suas conquistas. Mais feliz ainda que você voltou. Não aguentava mais os dramas da Luciana e Ramona. — reclamou Brutus. — E como estão as coisas com o JL?
— Bem, o desgraçado tem um fã-clube e quer conversar comigo. Eu não sei o que fazer. O Yuri, coitado, quer me agradar, só que tem a mesma opinião da minha família. Acho que estou sendo muito duro com o Yuri. Eu não quero isso. — desabafei.
— Eu imagino, Zedu. Tipo, o Yuri é um cara muito família. Assim como tú, ele perdeu muitas pessoas no caminho. É uma merda. — Brutus jogou o copo de plástico no chão com força, mas logo pegou e colocou no lixo. — Ser adulto é uma merda!!!! Grita comigo, porra.
— Brutus. — Zedu o repreendeu.
— Grita comigo, Zedu! Ser adulto é uma merda! Caso contrário, eu não paro. — ele ameaçou sorrindo e gritando outra vez.
— Ser adulto é uma merda. — soltei.
— Mais alto, porra! Ser adulto é uma merda!!!
— Ser adulto é uma merda!!! — eu gritei a plenos pulmões. — Ser adulto é uma merda!!!
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YURI
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Ser adulto é maravilhoso. Eu consigo comprar tudo online. A gente ainda não escolheu uma casa, mas estou garimpando alguns móveis maravilhosas. Comprei uma estante e vários quadros maravilhosos. Pedi permissão da tia Olívia para usar um antigo deposito da casa para guardar as compras.
O Zedu havia mandado uma mensagem que se atrasaria por motivos de Brutus. Esses dois são inseparáveis. Liguei para o motel para mudar o horário do check-in. No quarto, separei algumas peças de roupas que precisaríamos no dia seguinte.
— Yuri, tá ocupado? — perguntou a tia Olívia, sem entrar no quarto.
— Não, tia.
— O Zedu está aqui? — ela questionou, do mesmo lugar.
— Não. Algum problema?
De repente, escuto uma gritaria vindo da sala. A tia Olívia e eu corremos para saber o que estava acontecendo. Encontramos o coitado do Carlos apartando uma briga de Zedu e JL, quer dizer, o Carlos impedia que o Zedu matasse o irmão com as próprias mãos.
— Qual é, cara. Não faz isso. — pediu o Carlos, segurando o Zedu, que chutou o JL no rosto.
— Eu preciso falar contigo, Zedu. Eu só peço uma oportunidade. — implorou JL, choroso.
— Zedu. — o chamei.
— Yuri, saí daqui. Ele vai te machucar! — Zedu gritou.
De alguma forma, Zedu conseguiu se desvencilhar do Carlos e deu uma sequência de socos em JL, que não reagiu, apenas deixou o irmão descontar toda a raiva. Eu fiquei tão chocado com a raiva do Zedu, que entrei no meio da confusão. Segurei a mão do Zedu e levei um tapa que acertou o meu pescoço.
— Yuri! — Zedu gritou ao perceber que havia me batido. — Me perdoa, eu... eu...