Almir é apaixonante. Conheci-o no primeiro dia de aula do semestre. Enquanto o campus fervilhava de alunos que iam e vinham, que se reencontravam e se confraternizavam depois da distância provocada pela pandemia, gente que se dirigia aos pontos de ônibus, ele estava sentado numa mesa do canto, na praça de alimentação, como um gatinho acuado, assustado. Baixou o professor altruísta em mim e fui ter com ele.
Perguntei se poderia sentar, ele aquiesceu com a cabeça. Confirmei: tímido, assustado, retraído. Procurei me solidarizar: perguntei pelo seu curso, de onde era, e essas coisas de começo de conversa. Ele pareceu renascer do ensimesmamento e falou que era seu primeiro dia em São Carlos e na universidade, que estava meio perdidão, sem amigos e sem jeito de fazê-los. Era de uma minúscula cidade a pouco mais de duas horas daqui, chamada Uru; sua família era proprietária de terras e tinha uma grande fazenda de pecuária na região. O pai estava bancando seu curso de Agronomia, visando que, no futuro, o filho único tomasse conta das terras e dos negócios da família.
Vinte minutos ou meia hora de conversa, e a praça de alimentação já se esvaziava, pelo adiantado da hora. Perguntei onde estava morando em São Carlos; num condomínio de classe média-alta, perto do centro da cidade – era meu caminho para casa. Ofereci carona, que ele aceitou, aliviado e agradecido.
Almir tinha 18 anos. Era alvo de tão branco – acho que nunca tomava sol. Cabelos negros (como a asa da graúna – inevitável me lembrar de Alencar), rosto bem formado, mãos que pareciam delicadas, tinha mais ou menos a minha altura. Simpatizei com o garoto. No carro, ele estava mais descontraído; conversamos sobre coisas da universidade, passei algumas dicas básicas, lamentei que não seria seu professor (sou de Filosofia), mas disse que poderia contar comigo, na hora que precisasse. Para reafirmar o que eu dizia, falei que aquele era meu caminho de todas as noites, e, se ele quisesse, enquanto não se enturmava, poderia ir e vir comigo todas as noites. Eu passaria no prédio dele e o pegava, na ida; e, na volta, nos encontraríamos no mesmo lugar que nos conhecemos.
Ele exultou. Trocamos os contatos e o deixei na frente do condomínio. Ele agradeceu timidamente, estendeu a mão – macias demais, bem se via que nunca tivera uma enxada ou um machado entre elas – e desceu do carro, sorriso nos lábios. Aguardei que entrasse e fui para casa, contente comigo mesmo pela boa ação com que começara o ano letivo.
Na noite seguinte, conforme combinado, ele me aguardava na portaria. Estava mais leve, mais sorridente, cabelos revoltos... A conversa rolou mais solta, até a universidade. Também na volta. E assim durante todo o restante da semana. Ele falava muito sobre si, sobre seus medos e desejos, suas vontades e planos. E eu me peguei também comentando algumas nóias minhas. Parecíamos amigos de infância. Os exatos quarenta anos que nos separavam cronologicamente pareciam não ter a menor importância. E não tinham mesmo.
Assim chegou a sexta-feira. Nós nos despedimos, ele passaria o final de semana na fazenda, para fazer alguns ajustes da mudança para São Carlos. Deveria estar de volta na segunda-feira, mas somente retornaria à universidade na terça.
Durante o final de semana, me peguei pensando em Almir algumas vezes. Lembrando seu rosto de carente, seu jeito de assustado, sua pele branquinha, seus cabelos revoltos, sua mão delicada... E comecei a pensar nele mais insistentemente do que o normal. Surpreendi-me: eu estava sentindo saudade daquele moleque branquelo.
Em algumas noites de carona, eu dissimulava, olhando para seu corpo jovem, passava os olhos em suas coxas ajustadas sob as calças apertadas, ou soltas, saindo da bermuda jeans; flagrei, por vezes, sua mala proeminente entre as pernas, e dormia imaginando como seria sua rola. Mais para o final da semana, tive a impressão de que ele também me secava, disfarçadamente, mas procurei afastar incisivamente esse pensamento. Deveria ser minha carência; ele era apenas um garoto assustado, depositando toda a confiança num professor que encontrara no primeiro dia de aula. Não era e não poderia ser mais do que isso. Eu deveria era sossegar meus instintos e não estragar uma relação que prometia ser muito bonita. Recriminava-me de pensar essas coisas, mas chegava em casa, e, ao tomar banho antes de dormir, minha rola rígida pedia uma punheta, com a imaginação naquele carinha.
Na terça-feira, ao pegá-lo, senti-o diferente. Inquieto, mais calado. “Fiz merda!” – pensei. Devo ter dado alguma bandeira. Perguntei se estava tudo bem, ele disse que sim, e chegamos à universidade conversando amenidades. Mas, porra, tinha algo no ar, ah, tinha sim! Isso se confirmou no retorno, depois das aulas. Almir estava visivelmente agitado. Respondia minhas interpelações com monossílabos, o olhar vagava para fora do carro, acompanhando os pingos da chuva chegante, que riscavam o para-brisas; os dedos nervosos se entrelaçavam nos bolsos e fitas da mochila que carregava...
Antes de dar a partida, virei para ele, toquei firme em suas coxas e falei, enfático, que havia percebido ele diferente, e que agora estava MUITO diferente. Ele precisava se abrir, que eu estava preocupadão... “Foi alguma coisa que eu fiz ou disse?” Minhas mãos pareciam queimar suas pernas, ele estava respirando alteradamente. Quando eu me preparava para encerrar aquele tormento ali mesmo, levando-o em silêncio para casa e pedindo para ele se virar sozinho a partir do dia seguinte, virou-se para mim (os olhos estavam úmidos), disse que queria me mostrar uma coisa, mas só quando chegasse em casa.
Nunca o trajeto foi tão longo. Nunca um silêncio pesou tanto. Eu estava numa inquietude sem tamanho. Além do mais, o aguaceiro que chegou, repentinamente, me obrigava a dirigir mais devagar. Que agonia dum caralho! Por que diabos aquele fedelho estava mexendo assim comigo, um quase sessentão, que imaginava saber tudo sobre essas coisas da vida?! A única coisa que ele falou, em todo o percurso foi para me perguntar se eu poderia demorar um pouco mais, ao chegarmos em sua casa. Nem que eu tivesse a maior das emergências eu deixaria de atender àquele pedido. A curiosidade e ansiedade me consumiam.
Diante do condomínio, Almir pediu para eu manobrar para dentro. Paramos sob a coberta que protegia a entrada, e ele falou para o porteiro que eu iria entrar. O deslizar do portão permitiu que eu penetrasse no pátio. Ele me conduziu até sua vaga, com passagem seca para o interior do bloco. Elevador no sétimo andar, e a tensão era visível – ele parecia estar mais agitado do que eu.
Entramos. Apartamento pequeno, mas aconchegante. Algumas coisas ainda fora de lugar. Mas eu não tinha paciência nem clima para ficar analisando o ambiente. Almir levou-me até a varanda, fechada com um vidro, que mostrava a torrencial chuva que caía. Livrou-se do casaco, ficando apenas de camiseta com estampa de uma árvore estilizada. Sentamos frente a frente, em duas confortáveis poltronas, e somente então ele abriu a mochila, retirou um caderno de capa dura, abriu na primeira página, de onde retirou um papel dobrado. Uma mão trêmula estendeu o papel para mim. Com meus olhos nos seus olhos, tentando adivinhar-lhe os pensamentos, peguei e desdobrei cuidadosamente; era uma página inteira, escrita à mão.
Li-a com a avidez de um faminto o conteúdo que todos já conhecem. Ele acompanhava minha leitura, tenso, mais pálido do que era normalmente.
“Do seu Almir.” Ao concluir a leitura, meu coração aos saltos, deixei-me ficar por algum tempo com os olhos no papel (sem dar dica de que terminara), enquanto processava tudo aquilo. Nunca minha mente experimentara tamanha confusão e exigia imediata reação. Eu tinha, diante de mim, um garoto de 18 anos, que se declarava apaixonado por um professor de 58, que acabara de conhecer, e deveria estar perto de ter um treco, de tanta ansiedade, acompanhando imóvel, cada movimento meu.
O que demônios eu deveria fazer? Obedecer ao que gritava minha razão quase sexagenária e buscar palavras em todos os tomos de filosofia que eu já lera, para tentar demover o garoto daquela ideia? Ou seguir o que bradava meu corpo sem idade, que ansiava por aquele branquelo em meus braços, no mais louco dos amores e no mais aconchegante dos carinhos?
Não sabia o que fazer. Mas sabia que precisava fazer algo. E urgente. Que não dava mais para enrolar que ainda estava lendo. Então dobrei lentamente o papel, olhos baixos, tempestade uivando lá fora, levantei os olhos e encontrei Almir próximo a uma síncope, de tão nervoso. Num fiapo de voz, ele murmurou, quase choroso: “Por favor, Cláudio, diz alguma coisa...”
Endireitei o corpo, coloquei-me na ponta do assento, aproximei-me dele, toquei seu queixo trêmulo, trouxe-o para perto de mim e nossos lábios se tocaram suavemente. Senti um estremecimento em meu corpo inteiro. Sua boca era macia, seus lábios carnudos e vermelhos. Ficamos por segundos completamente imóveis, nossos lábios apenas encostados. Imperceptivelmente, começamos a mover nossas bocas, nossas línguas se pronunciaram e adocicaram nossos lábios, num beijo longo, suave e devagar...
Levantamo-nos, ainda agarrados, e nos abraçamos inteiramente. Senti toda a quentura de seu corpo e a dureza de seu pau – o meu também estava rígido. E nos estreitamos com firmeza, acariciando nossas respectivas nucas. Afrouxamos um pouco o abraço, afastamo-nos e nos olhamos nos olhos por um tempo que não sei determinar. Fechamos os olhos e nossas bocas voltaram a se encontrar, agora com mais vigor, mas sem alvoroço.
Distanciamo-nos mais uma vez, e, olhos perdidos nos olhos do outro, retirei bem devagar sua camiseta, revelando um peito liso e branco, axilas sem um pelo sequer e perfumadas – depositei-a sobre a poltrona onde estivera sentado até há pouco. O silêncio reinava, apenas se ouvia o barulho da forte chuva contra o vidro da varanda. Almir enfiou a mão pelas minhas costas, trouxe-as para a frente e foi levando minha camiseta para o alto, depositando-a sobre a dele. Novo abraço apertado, sentindo o roçar de nossos peitos, o quente de nossos corpos.
Momento seguinte, bem devagar, tomei seus mamilos entre meus lábios e rocei minha língua. Eles estavam duros. Enquanto isso, minhas mãos desatavam seu cinto e a bermuda jeans descia aos pés. A cueca negra, completamente armada, retirei-a também suavemente, liberando uma rola branquinha e mais grande do que grossa, completamente dura, a babar discretamente. Aproximei meu rosto, senti-lhe o cheiro delicioso, rocei-a pela minha face, molhei-a com minha boca, enquanto meus dedos massageavam sua bunda e rondavam o buraquinho de seu cu.
Levantei-me devagar, levando todos os gostos e cheiros daquele garoto para sua boca. Em seguida foi ele que sugou meus mamilos, enquanto se atrapalhava um pouco com o botão da minha calça. Ao descê-la, constatou que não uso nada por baixo e apoderou-se da minha rola pulsante, colocando-a na boca, sugando bem devagar, como a aproveitar cada centímetro.
Logo após, Almir também subiu, roçando no meu corpo e nos abraçamos mais uma vez, agora completamente nus, nossas rolas tesas a se imprensarem entre nossos corpos ávidos. E nos deixamos ficar, tempo sem fim, assim, abraçados, sentindo o calor um do outro, o tesão que nos envolvia, e admirando, extasiados, a tempestade que varria tudo lá fora, e sacudia tudo cá dentro de nós.