Acreditasse eu em Deus e pediria, como tanta gente faz; como não creio nessa entidade, mas apenas na evolução e nos caminhos da Natureza, e como a Natureza não ouve nem atende pedidos, somente torço... Torço para me manter com o desejo-quase-paranoia de estar sempre limpo e cheiroso, com, no mínimo, dois banhos por dia. Eu não suportaria ser um idoso fedido, enojar-me com meu fétido odor...
Como garoto de programa, por vezes tenho que recusar alguns clientes mais velhos, que não dão muita atenção à higiene pessoal. Aí, cara, perco uma grana, mas não dá mesmo pra encarar. O pau não sobe, sabe? Como a maioria deles quer ser fodido, não tem como comer. Se ele que quer me comer, ainda dá para levar adiante, mas depois fico um longo tempo engulhando e tentando tirar o fedor do meu corpo. Prefiro mesmo dispensar.
Mas existem caras maduros que representam exceções dessa regra nojenta. Por vezes, encontro alguns cheirosos de limpeza e de perfume. Aí, minha gente, é delírio em alto grau. Porque adoro um coroa – eles são competentes demais no sexo, sabem exatamente como fazer, tanto para dar como para ter prazer. Terminam sendo os programas mais caros, porque, além da grana, recebo muito prazer.
Com Rafael foi assim. Encontrei-o no bar de um hotel de luxo, em Salvador. Estávamos sozinhos, em nossas respectivas mesas, era cedo da noite e havia pouca gente no ambiente. Eu já estava quando ele entrou. Logo de cara me chamou a atenção seu passo aprumado, meio requebrando, buscando uma mesa afastada. Dei-lhe não mais de 50 anos (surpreendi-me quando, mais tarde, afirmou ter 60), roupa discreta, mas de marca; cabelos levemente revoltos, sob uma boina marrom, bem barbeado – um sorriso encantador, ao chamar o garçom e fazer-lhe o pedido.
Eu o observava, procurando ser igualmente discreto, mas fazendo-o perceber meu interesse. Nossos olhares, por vezes, cruzavam-se, porém continuavam paisagem pelo ambiente, este delicadamente decorado.
Minutos depois, o garçom aproximou-se de sua mesa; na bandeja, dois drinques coloridos, ornados com motivos tropicais. Entendi a mensagem: deveria estar acompanhado, e pedira as duas bebidas enquanto a companhia chegava. Constatada a impossibilidade de desenvolvimento da paquera, retirei meus olhos e os fiz vagar, em busca de outro possível cliente.
Entretanto, o garçom não deixou as duas taças em sua mesa. Fez-se uma interrogação em minha cabeça, que se tornou exclamação, exclamações que se iam multiplicando na medida em que o rapaz se dirigia a minha mesa, parou diante de mim e depositou o bonito drinque a minha frente: “Aquele senhor pediu para servi-lo!”
Senti como um arrepio prazeroso em todo o corpo, com aquele gesto. Mesmo sendo um profissional do sexo, portanto habituado a todo tipo de situação, aquela fora a primeira vez que me acontecia algo assim.
Com o recipiente gelado entre meus dedos, dirigi meu olhar para ele, fiz um leve meneio de cabeça, enquanto ele levantava a própria bebida, num brinde à distância. Correspondi, sorrindo, à gentileza, já me derretendo por dentro e me armando por fora. Ao provar a bebida, ergui-me e, com a ginga que me foi possível naquela situação, em que, pela primeira vez, eu me sentia caça e não caçador, fui até sua mesa.
“Posso?” Perguntei, tentando disfarçar em charme o tremor da voz. Ele levantou os olhos castanhos, sorriu lindamente, e apontou para a cadeira a sua frente. Encantado com tanta gentileza e tranquilidade, pousei diante dele, também sorrindo, mas buscando avidamente o que dizer. O gosto do drinque bailando na minha língua forneceu o assunto inicial: “Delicioso!”
– Eu ou a Piña Colada? (Rápido no gatilho!)
– Suponho que os dois... (Embarquei na dele...)
– Por que supõe?
– Porque só provei um até agora...
Estávamos em franca e aberta batalha de paquera. Sem arrodeios, mas educadamente, apenas com a ênfase necessária para fazer meu coração agitar-se descompassadamente.
Eu já começava a contabilizar aquele encontro como uma pausa no meu trabalho; eu já queria aquele homem de qualquer maneira, por absoluto prazer, sem cobrança financeira – não estava tão bem assim, financeiramente, que pudesse me dar àquele luxo de trocar um cliente por um amante, mas aquele senhor tinha algo de diferente, que me encantava, me atraía terrivelmente. Meu falo teso falava por meu corpo inteiro.
O assunto foi deslizando por aí, sem pressa; assim como saboreávamos nossas Piñas Coladas, igualmente nos degustávamos visualmente. Era perspicaz, inteligente, poético, e falava com um sorriso lindo bailando nos lábios. Ao tocar minha mão, sobre a mesa, para enfatizar algo que falava, senti meu corpo estremecer; ele percebeu e deixou-se ficar, acariciando levemente o dorso da minha mão. Meus dedos movimentaram-se por entre os seus e as palmas de nossas mãos se carinhavam...
Enquanto conversávamos (não me perguntem sobre o quê, eu não retive na memória muita coisa além da beleza e encanto daquele homem), sua voz se entranhava pelos meus ouvidos e pareciam uma carícia sonora, que me fustigava o tesão.
Terminamos nossos drinques, ele fez um gesto para o garçom, que se aproximou com uma comanda, a qual ele assinou – entendi que estava hospedado no hotel.
– Vamos subir? – indagou-me com naturalidade, como se já estivéssemos juntos há muito tempo, ou se tivéssemos combinado tudo aquilo. Estranhamente, achei tão natural o convite, que aquiesci sem qualquer autoquestionamento nem resistência. Eu estava entregue àquele homem maduro e lindo.
Entramos no elevador e pude sentir, estando mais perto dele, seu cheiro gostoso. Buscava forças para controlar meu insano desejo de o agarrar e o cheirar ali mesmo, diante da indiscreta câmera que acompanhava atentamente nossos movimentos. A razão falou mais alto e consegui me conter.
Quando a metálica voz feminina anunciou o nono andar, a porta deslizou silenciosamente, abrindo-se a um corredor que se iluminava à nossa passagem e que nos levou para a frente de um dos apartamentos, cujo painel recebeu seu cartão e se abriu, num discreto estalo. Ele, gentilmente como sempre, através de um gesto suave, convidou-me a entrar, fechando a porta atrás de si.
Uma música suave, instrumental, ouvia-se baixinho, inundando discretamente o ambiente; apenas uma lâmpada de uma luminária sobre a mesa estava acesa, enchendo de sombras transparentes todo o apartamento.
Ele, então, aproximou-se de mim, pôs-se a minha frente e acariciou meu rosto. Eu estava transido, mas de emoção. Eu, que dominava (ou pensava que dominava) todas as técnicas de sedução, não conseguia mais que me deixar levar pelas carícias daquele homem, pela serenidade de seu rosto, mas principalmente, pelo cheiro bom que exalava de todo seu corpo.
Fechei os olhos, para melhor usufruir toda aquela magia, e senti seus lábios colarem-se aos meus, entreabrirem-se e sua língua visitar minha boca, trazendo um cheiro e um gosto que me enlouqueciam, sem, entretanto, agredir minhas papilas olfato-gustativas. Beijamo-nos como dois apaixonados. Sentíamos nossos mastros rígidos se tocando através de nossas roupas.
O passo seguinte foi de extrema delicadeza. Rafael foi retirando cadencialmente cada peça de minha roupa, acariciando meu corpo todo o tempo em que me desnudava. Eu estava um arrepio só. A rola que pinotou, tesa, ao descer minha última peça, fê-lo acaricia-la, cheirá-la e sentir-lhe o gosto, antes de a sugar com suavidade, por instantes.
Quando ele se levantou, e voltamos a nos beijar, foi minha vez de deixa-lo nu. A cada bocado de sua pele suave que se me mostrava, eu sentia o perfume delicioso e/porque natural daquele corpo: o pescoço, o peito, as axilas... tudo naquele sessentão tinha um odor afrodisíaco. Mas ao chegar ao seu pênis, ereto e pulsante, minhas narinas experimentaram o olor do paraíso; eu roçava aquele membro duro pelo meu nariz e rosto, sentindo-o babar discretamente. Coloquei-o inteiro na minha boca e passei a chupá-lo com cadência e ritmo ditados pelo meu tesão, subindo logo para encontrar sua boca ávida pela minha.
Nossos corpos deslizaram-se com suavidade para a cama macia, e sobre os lençóis impecavelmente limpos e brancos, esfregávamos nossos corpos, em gemidos discretos. Rafael, então foi se virando discretamente, e um cu rosado e completamente depilado mostrou-se para mim. Cheirei-o, chupei-o, penetrei-o com a língua e depois com os dedos, enquanto seu corpo se remexia sensualmente.
Não consegui mais esperar: ao deitar-me sobre seu dorso, minha pica encontrou imediatamente a entrada daquela caverna de prazer, e foi se sumindo dentro dela. Rafael aumentara a intensidade dos gemidos e dos requebros, enquanto eu o penetrava e passava a estocar seu rabinho, com suave vigor.
Em pouco tempo, senti raios de prazer me percorrer todo o corpo, e explodirem, aos borbotões dentro daquele cu tão receptivo. Eu grunhia, roucamente, enquanto ele sorria, satisfeito do meu gozo. À última golfada, minha pica ficou pulsando dentro de seu cu encharcado de mim, até que a fui retirando lentamente. Fiquei um tempo sobre suas costas, sentindo seu calor, o sobe-e-desce de sua respiração, e principalmente o cheiro incrível daquele homem.
Com uma delicadeza peculiar, Rafael saiu de baixo de mim, sentou-se no espelho da cama, abrindo as pernas e sorrindo. Seu pau vibrava para o alto. Entendi que ele não queria me comer (pelo menos não naquele momento), mas ser mamado. Abocanhei aquele pitéu dos deuses, evoquei toda a minha experiência de anos vendendo sexo e praticando boquetes, e passei a tê-lo inteiro em minha boca e garganta, em outros momentos apenas a cabecinha entre meus lábios ou na ponta da minha língua.
Rafael uivava de prazer. Quando eu pressentia o iminente gozo, mudava a técnica, friccionava outra parte com mais ênfase, de modo a esticar ao máximo seu prazer. Até quando ele não segurou mais, e a pulsação constante e crescente de seu pênis mostrou-me o inevitável orgasmo.
Peguei seu membro molhado com as duas mãos, em forma de buceta, e passei a friccionar com mais insistência, e apontando a cabecinha para meu rosto. A explosão foi intensa e dardos pastosos atingiram minha face, meus olhos, minha boca... e... caralho, que leite delicioso, cheiroso como nunca tinha sentido outro.
O corpo de Rafael estava aos sobressaltos, enquanto ele gozava; os gemidos viraram quase gritos; seu perfume parece que rescendia ainda mais. Tudo naquele homem maduro era cheiro e néctar.
Ao concluir o gozo, ele deslizou para o colchão, limpou ligeiramente meu rosto, me abraçou e ficamos alguns minutos assim. Eu deitado sobre seu peito arfante e suado (suor cheiroso danado!); ele a me cheirar e acariciar meu corpo. A quentura de nossos pós-orgasmos nos envolvia completamente, e, vez em quando, ainda sentíamos involuntários impulsos de nossos membros.
Algum tempo depois, ele levantou-se, foi até o frigobar e me perguntou o que desejava beber; tomamos cada um uma dose de um edênico gim, enquanto, sentados frente a frente, admirávamos mutuamente nossos corpos nus e amassados de tanto prazer.
Falou-me, então, mansamente: “Você utiliza aplicativo de cartão de crédito no seu celular?”
Inicialmente, não compreendi a extensão do significado da pergunta. Segundos depois, captei a mensagem, e – admirado pela sua fina percepção, ao me identificar minha ocupação profissional, eu quis protestar. Ele foi mais rápido:
– Por favor, não se constranja... é o seu trabalho, e não seria justo se assim não fosse... A fronteira entre o que você vende para viver, e o prazer que me proporcionou, e que eu sei que também lhe proporcionei, essa fronteira é muito frágil, e devemos acabar com ela com a força da naturalidade. Não sejamos puritanos ou falsos moralistas, não percamos nosso tempo e nosso tesão com essa dicotomia tão ao gosto dos infelizes convencionais...
Rafael falava de um jeito tão especial que não deixava espaço para qualquer tipo de constrangimento, de minha parte. Ele se expressava divinamente, sem que nenhuma de suas palavras me fizesse sentir diminuído ou objetificado.
Ele estendeu-me o cartão de crédito, e pude perceber, na sua discrição em não perguntar pelo preço do programa, a confiança de que não seria explorado por mim. Digitei um valor inferior ao que normalmente recebo dos meus clientes “normais”; ele colocou a senha, dizendo que não precisava comprovante. Efetuado o ato mercantil, olhou nos meus olhos, sorriu aquele riso que me provocava etéreas sensações, aproximou-se de mim, tomou meu rosto ainda meio melecado pelos seus fluidos e nos beijamos com ardor.
Quando nos desgrudamos, dirigi-me ao banheiro e tomei uma ducha – embora desejasse levar o cheiro daquele homem maravilhoso impregnado em minha pele. Sabia que não poderia nem deveria; além do mais todo ele estava marcado dentro de mim, na lembrança viva de cada momento de prazer há pouco vivido.
Vesti-me, enquanto ele se servia de mais uma dose (e eu recusava repetir, senão não daria conta de mim tão cedo). Quando terminei, ele levantou-se, dirigindo-se até a porta do apartamento. Segui-o, ainda admirando cada parte daquele corpo nu que parecia desfilar somente para mim. Ao abrir a porta, mas antes que eu passasse, beijamo-nos mais uma vez, ele sorriu, e, ao longo do corredor, no elevador, no saguão e finalmente na rua noturna e fria, eu levava em minha boca, o gosto inebriante de gim e beijo.