VIDA QUE SEGUE
Seguiram-se ótimas semanas. Estávamos bem, física e mentalmente. Namorávamos a todo o momento, bastava um se esfregar no outro que um tesão louco se apoderava da gente. Se não fossem nossas filhas, certamente passaríamos a maior parte do dia pelados para aproveitar aquele verdadeiro “sex appeal”.
Certo dia decidi fazer uma surpresa enquanto nossas filhas estavam na escola. Comprei um buque de rosas vermelhas e fui para casa no meio da tarde. Estava com o tesão nas alturas e queria fazer um amorzinho com minha esposa. Chegando em minha casa, estranhei um carro sedan preto com placas que não conhecia estacionado na frente do portão de minha casa. Fiquei encanado na hora. Abri a porta da sala de estar e não vi ninguém, nem na cozinha integrada. De repente comecei a ouvir gemidos e sons de tapas vindos do nosso quarto. “Ah, Nanda! Você não fez isso!?”, pensei já imaginando o pior. Acabei deixando o buquê que havia comprado no sofá da sala e fui com o máximo de silêncio para nossa suíte.
Antes de alcançar a porta, minhas pernas começaram a pesar uma tonelada, bambearam. Tive que parar, me recostando na parede porque pensei que fosse ter um “treco”. A porta estava entreaberta e a cada passo, os gemidos e os sons de um sexo pesado aumentavam mais e mais. Respirei fundo e pensei que, se ela teve coragem de fazer isso, acabaria com tudo ali na mesma hora e sem qualquer peso na consciência. Saquei meu celular e o preparei para dar um flagra naquela safada. “Me divorcio, mas faço ela perder a guarda das filhas!”, pensei colérico, mas ainda com um pouco de sanidade. Aproximei-me da porta, respirando fundo outra vez, e a abri de uma vez com o celular na mão:
- Ahhhhhhh!!!! - Gritaram histéricas Nanda e Bia sobre minha cama.
Ambas estavam vestidas e me olharam com olhos arregalados. Estavam com as faces vermelhas, não sei se do susto ou da vergonha de serem flagradas. Entendi no ato que o som de sexo não vinha da cama, mas da televisão de nosso quarto:
- Mas que caralho está acontecendo aqui, Nanda!? - Perguntei enquanto me dirigia a uma posição que pudesse me dar condições de ver o que elas assistiam na televisão.
Nanda a desligou rapidamente, mas não antes que eu pudesse ver uma mulher sendo sodomizada por um negão com um pau de bom calibre enquanto ouvia um sonoro tapa:
- Mark! O que você está fazendo aqui? - Me perguntou Nanda, ainda tremendo na cama: - Você quase nos matou de susto!
- Eu moro aqui, não sei se você se lembra… E não muda de assunto, o que está acontecendo aqui? - Insisti, mas agora já rindo da situação.
Passado o susto inicial e elas vendo minha reação, começaram a rir também. Gargalharam na verdade um bom tempo, alternando entre me olhar e se olhar com ar de sapecas:
- Não foi nada, não, Mark. Assuntos de mulher. - Respondeu Bia.
- Vocês estavam assistindo um pornozão “hardcore” que eu ouvi e cheguei a ver de relance. Só não entendi porque não me convidaram e ao Bernardo. - Falei ainda rindo e Insisti: - E aí? Vão me deixar no vácuo mesmo? Ou contam, ou ligo pra ele!
- Ah, “Mor”. Deixa disso. Vem. Vamos tomar um café. - Disse Nanda se levantando da cama, ainda sorrindo.
Bia também se levantou, mas antes de vir em nossa direção, vi que abaixou do lado da cama para pegar algo no chão que, de onde eu estava, parecia uma calcinha. Então, observei melhor e vi uma calcinha jogada em um canto do outro lado da cama. Não falei nada e fomos para a cozinha. Já do corredor, a Nanda viu o buquê que eu tinha comprado e foi correndo pegá-lo:
- Ah, “Mor”. Pra mim? Ai que lindas! – Disse, vindo me beijar e ainda falou toda orgulhosa: - Olha, Bia!? Que maridinho eu tenho...
- Nanda, vamos deixar o café para outra hora. Acho que ele tá querendo namorar você… - Falou Bia, rindo.
- Fica aí, Bia. Não esquenta, não. - Falei, naturalmente sendo cortês.
- Outro dia, Mark. Outro dia. - Disse, enquanto me dava um selinho: - Ah, e por favor, não conta pro Bê o que você viu aqui hoje. Ele ainda tá meio verde e pode não entender de boa certas coisas.
- Entender o quê? Vocês ainda não me contaram nada. - Falei.
- É uma surpresa que a Nanda está preparando para você. Só vou dizer isso! - Respondeu, enquanto dava um selinho na Nanda: - Depois você me liga, amiga?
- Ligo sim.
Despediram-se na porta e logo Nanda voltou sorridente e se jogou em meus braços:
- Não vai me contar? - Insisti mais uma vez.
- Não. É surpresa!
- Nanda!... - Insisti com voz firme.
- Ah… Para de ser chato. É uma surpresa.
- Um negão pauzudo enrabando uma mulher!? - Falei abertamente: - Você quer dar pra um negão, é isso?
- Você só viu uma imagem fora de contexto. Confia em mim, não é nada de ruim e nem sei se vamos fazer ainda. Estou avaliando as possibilidades. - Disse segurando meu rosto enquanto me dava um selinho e mudou de assunto, ostentando agora um sorriso malicioso: - Já que você está aqui, a gente podia aproveitar para namorar um pouquinho. Que tal? Aliás, acho que é justamente isso que você veio fazer aqui, né, seu safado!?
- Aham! - Resmunguei, a encarando.
- Ah, Mark... Quer mesmo assistir? - Disse e me encarou: - Eu até não queria, mas vou te mostrar. É bom que você me ajuda a decidir se é uma boa ou não.
Ela me pegou pela mão e fomos até o quarto. Sentamo-nos recostados na cabeceira da cama e ela ligou o aparelho, iniciando um filme. No início nada demais, era sobre um casal que passava por uma crise de queda de libido e buscava meios para esquentar seu relacionamento novamente:
- Já passamos por isso. - Falei.
- É.
O filme seguiu com o casal indo até um sex shop, onde compraram diversos itens, aparelhos, consolo, vibradores, cintas, algemas, chicote, etc:
- Ainda não tem nada demais… - Resmunguei, olhando para ela.
Ela só me indicou a direção da televisão. Não vou entrar em todos os detalhes do filme, mas foi mais ou menos isso mesmo: crise, romantismo e sexo com um toque sadomasoquista. O filme já se arrastava há mais de uma hora e eu já estava ficando cansado daquele ritmo. A estória era fraca, os atores idem e a produção pecava pelo amadorismo. Como já esperado, o casal transava entre si, usando os sex toys e a moça simulava gozar horrores:
- Que gozada mais falsa! Podiam ter arrumado uns atores melhores, né? - Falei sem obter resposta.
Eu tentava interagir com a Nanda, mas nada. Ela estava estranhamente vidrada. Depois de mais uma sequência de cenas sem importância, volta o casal a se pegar num quarto que eu julguei ser de motel e eles passaram a executar um desengonçado “bondage”. Ele amarrando ela, e a fodendo forte, fazendo ela novamente “gozar”. Depois ela o amarrou e fez um sexo morno com ele até que gozasse:
- É uma versão de bem fraca de “Quarenta Tons de Cinza”. - Resmunguei.
- Você não curte mesmo esse tipo de filme, né!? - Disse Nanda, pausando o vídeo e me encarando.
- Olha. Eu não curto exatamente é esse negócio de BDSM. Você sabe disso. - Falei sendo totalmente sincero para ela: - Se você tiver curiosidade, posso até te acompanhar para experimentar e talvez aprender, mas é o tipo de situação que eu não consigo imaginar integrada no nosso dia a dia.
- Mas não é para se integrar mesmo. Lembra “Quinta Regra - Nossa vida liberal não é regra, é exceção!” - Repetiu ela com o dedinho em riste, quase didaticamente, e depois, alisando meu pau me perguntou: - Você não gostou de nadinha mesmo do filme?
- Os brinquedinhos, vibradores, eu topo sem problema algum, consolos só para você. Tanto que a gente tem alguns. - Eu respondi.
- Acho que errei feio! Você não curtiu nada. Olha só pra ele: tadinho! - Disse passando a mão sobre o meu pau bastante murcho.
- Relaxa, Nanda. Talvez seja só questão de eu me acostumar com a ideia. Quem saiu com essa história? Você ou a Bia?
- Eu fiquei curiosa depois que vi uns vídeos na internet. Daí fizemos aquilo no escritório…
- É. E daquele jeito, naquele dia, até que foi legal. Me pegou de surpresa, mas não vi mal algum naquilo. Foi até bastante divertido.
- Divertido!? Putz! Me senti uma palhaça agora. - Resmungou.
- Corta essa! Só estou brincando. - Falei.
- Então, tá… Depois conversamos com a Bia no aniversário e ela falou que já tinha experimentado.
- E daí?
- Daí ela me ligou para saber da gente e para perguntar se eu não poderia ajudá-la com umas decisões do casamento.
- Mas isso é muito legal! Eles já decidiram a data?
- Ainda não, mas querem casar até o final do ano.
- Joia!
- Aí, papo vai, papo vem, acabamos voltando naquele tema e ela me disse que tinha um vídeo legal, perguntando se eu queria assisti-lo. Então, veio aqui em casa e você nos pegou com a boca na botija. - Falou, rindo.
- Verdade! - Comecei a rir do comentário e da lembrança das caras delas naquela hora, e falei: - Bom… Vamos terminar de assistir e ver se melhora no final.
Ela concordou e deu sequência no filme que continuou com mais algumas cenas sem importância. O casal apareceu num restaurante, conversando sobre as experiências e eles pareciam perdidos. Então, foram abordados por um senhor de meia idade, talvez uns cinquenta anos, um loirão alto, forte e imponente por si só. Ele chegou, se sentou, se apresentou e começou a conversar com o casal. Após um tempo de conversa, anunciou ser um adepto da dominação BDSM e que eles tinham o perfil que ele procurava: casal, jovem, sexualmente ativos e interessantes. Então, explicou algumas regras para o casal, convidando-os a experimentarem a prática. Mais cenas se seguiram com a natural indecisão do casal e depois decidindo experimentar.
Logo depois, apareceram eles chegando no que parecia ser a casa do “dominador”, em que foram recepcionados por um homem negro, alto e forte e então encaminhados a uma antessala onde o loiro os esperava. Explicou novamente as regras da casa e, com a concordância deles em participar, receberam a ordem de se despir, o que fizeram.
Seguiram então para uma outra sala bem maior onde havia uma espécie de cama quadrada imensa com dossel adornadas por diversos apetrechos sadomasoquistas. Ali o “ator/marido” foi acorrentado a uma espécie de “X” que estava na parede, bem próximo a lateral da cama, e a “atriz/esposa” foi amarrada de costas na cama, com os braços e pernas abertos. Então, o sexo começou a correr solto com o loirão usando e abusando da “atriz/esposa”. Fizeram de tudo, sufocamento com as mãos, oral, garganta profunda até a atriz quase ficar sem ar, vaginal, até com dupla penetração vaginal, uso de vibradores diversos, etc., sendo o loirão auxiliado pelo negão.
A certa altura, o “ator/marido” quis reclamar da forma como estavam tratando sua esposa e o loiro mandou o negão dar uma surra no marido, sendo acorrentado pelo pescoço agora no chão. Vou te dizer que a cena foi tão realista que até parecia de verdade porque o ator chegou a simular ter mijado no meio da surra. Então, o loiro ordenou ao negão que comesse o cu da “atriz/esposa”, o que ele fez de bom grado e com muita vontade, raiva mesmo. E o estrago foi grande, porque o negão tinha um senhor pau. Era justamente a cena que eu vira de relance quando flagrei Nanda e Bia.
Nesse instante, olhei para Nanda e ela nem piscava, estava boquiaberta e hipnotizada com o vídeo: aparentemente ela curtia aquele tipo de situação. Depois deles se revezarem nela por um bom tempo, gozaram em fartura sobre e dentro dela. Por fim, soltaram o “ator/marido” e o fizeram limpá-la com a língua. Seguiram-se mais algumas cenas, agora deles sendo ajudados pelo negão a se recompor e depois deles conversando com loiro sobre a experiência que tiveram, prometendo retornarem. Por fim, o famoso “Fim”.
Eu já estava encarando a Nanda há algum tempo e só com o “Fim” do vídeo que ela voltou a piscar e se lembrar que eu existia:
- Que foi? - Me perguntou ao notar que eu a estava observando e já completou: - “Mor”! Que loucura!
- Nem sei o que falar… - Completei, mas não pude deixar de perguntar ao vê-la tão interessada: - Você curtiu, né?
- Ah, não sei. Acho que não. Uns tapinhas eu até toparia, mas aquilo ali tudo foi muito violento. Não viu a cara do ator no final? Parecia ter apanhado de verdade.
- Olha… O filme inteiro eu pensei ser encenado até ver aquela cena. Realmente impressionou! - Falei, mas já voltei a brincar: - Agora, se for falta de uns tapas, eu resolvo seu problema.
Ela riu e virou a banda de sua bunda para mim, dando tapinhas em cima. Levantei-me e tirei o pendrive da televisão e o entreguei em sua mão, falando:
- Pronto! Já pode devolver para a Bia.
- Ela me deu. É uma cópia.
- Então... Jogue fora, ok? Acho que isso não é pra gente! - Insisti.
- Credo, Mark! É só um vídeo bobo de sexo. Já assistimos coisa muito mais pesada que isso.
Ela estava certa, mas ainda assim aquele vídeo me deixou com uma pulga atrás da orelha. De qualquer forma, havíamos perdido a tarde com aquela bobagem e nem teríamos tempo para uma rapidinha. Eu já tinha que ir buscar as meninas na escola e Nanda veio comigo porque queria arejar as ideias:
- Você está pensando naquele filme, não está? - Perguntei.
- Então… Achei tudo meio forçado, mas, ao mesmo tempo, tinha algumas partes que pareciam ser reais e até excitantes. Dava quase pra sentir na pele…
Estacionei para aguardarmos a saída das meninas e perguntei:
- Você tem algum tesão nesse negócio de dominação, Nanda? Se você curte isso, eu posso pesquisar, ler a respeito, aprender para podermos brincar.
- Aquele dia que fizemos no escritório, eu gostei. Mas estaria mentindo se dissesse que não fiquei com vontade de estar do outro lado, sendo dominada. Se você não achar que sou uma tarada, eu queria experimentar com você um dia, sim.
- Nanda, eu nunca vou achar que você é uma tarada porque eu já tenho certeza disso. - Falei e ri, enquanto ela me dava uns tapinhas: - Você sabe que eu não tenho problema algum em experimentar essas loucuras com você. Só não sei se quero ir tão fundo como no filme, ou envolver um terceiro, porque não gostaria de ver alguém abusando de você daquele jeito.
- Nem se eu quisesse deixá-lo abusar de mim? - Perguntou com um sorriso malicioso.
Eu a encarei sério nessa hora e me aproximei dela, lhe dando um inesperado tapinha no rosto, fazendo-a corar, e falei:
- Primeira lição, esteja pronta para satisfazer seu mestre sempre que eu, e somente eu, o seu mestre, quiser.
Ela me olhou surpresa com a mão no rosto, mas me deu um sorriso safado e mordeu o canto inferior de seu lábio:
- Sim, senhor. Meu mestre. - Disse, caindo na risada.
As meninas saíram e voltamos para casa. Nanda colocou sua mão em minha nuca e começou a arranhá-la, num claro sinal de que estava excitada. Chegamos em casa e as meninas já entraram correndo, disputando o banho. Nanda seguia na minha frente com aquela bunda deliciosa. Não tive dúvidas e lhe dei um forte tapa:
- Bate como um homem ou arrumo um mestre melhor que você. - Disse e saiu correndo para trás da ilha de nossa cozinha, rindo à beça.
Fui atrás dela porque não iria deixar aquele “desrespeito” impune. Se a pegasse, iria lhe dar um tapa para ela lembrar por um bom tempo. Começamos aquele jogo de gato e rato em volta da ilha, e pouco depois vi que mais alguém corria conosco: nossa caçula achou tratar-se de uma brincadeira e se sentiu no direito de participar. Claro que passamos a brincar com ela e, em pouco tempo, estávamos os três gargalhando no sofá. Pouco depois, a mais velha chegou de banho tomado, semblante sério, celular na mão e se sentou de canto, olhando-nos pelo canto dos olhos. Fui em sua direção e ela já começou a falar:
- Não… Não. Não! Pode parar que não sou de brincadeiras!
Dito isso a encarei de frente. Depois me sentei ao seu lado e, sem que ela esperasse, pulei em cima e comecei a lhe fazer cócegas. Depois Nanda e a caçula se juntaram a nós e foi uma farra só. Mais tarde, com as meninas já dormindo, namoramos gostoso e eu ganhei um caprichado boquete de minha esposa:
- Goza na boquinha da sua escrava. Goza! - Me pediu, com aquele já conhecido sorriso malicioso.
Enquanto ela voltava ao boquete, a peguei pela nuca e forcei de leve sua cabeça para baixo e ela se deixou levar até conseguir colocar todo meu pau na garganta. Então, vendo sua desenvoltura fiquei usando sua cabeça para me masturbar até que não aguentei mais e gozei. Ela, me surpreendendo, engoliu tudo, vindo depois me beijar a boca:
- Sentiu o gostinho? - Perguntou.
- Não tenho porque ter nojo. Fui eu que fiz. Meu veneno não me mata! - Disse, rindo e depois de um tempo, dormimos, abraçados e nus.
Semanas se passaram sem novidades, mas já transávamos com boa habitualidade, despreocupados, mas usando camisinha quando se tratava de sexo nela, é claro. A vida seguia tranquila. Então marcamos nova consulta com a doutora Camila para Nanda refazer o exame de HIV. Ela gentilmente nos cumprimentou, mas desta feita me deu dois beijinhos na face e uma olhada mais direta, fazendo Nanda nos encarar com aquele olhinho de ciúmes que eu já conhecia de outras oportunidades. Após uma breve conversa, como das outras vezes, acompanhou Nanda até o laboratório e, feito isso, retornaram em questão de minutos:
- Fernanda, estou muito feliz em dizer que você está muito bem e seus exames só tem confirmado isso. Nenhuma infecção ou contaminação de qualquer espécie. - Disse a doutora Camila.
- Graças a Deus, doutora.
- Agora, é só retornar daqui uns noventa dias e fazemos os últimos. Mas é só para cumprir o protocolo, porque tenho certeza absoluta que você não foi infectada. - Insistiu a doutora Camila, sorrindo.
- Maravilha! - Disse eu, comemorando enquanto já pensava em aposentar a camisinha.
- Mark! Que é isso!? - Disse Nanda, rindo.
- Que foi? - Perguntei: - Só estou feliz. Não posso?
- Claro que pode. Aliás, deve! - Disse Camila.
- Tá vendo? Ela me entende… - Insisti.
- Ah, vá… - Respondeu-me Nanda, sorrindo.
Não sei se foi impressão minha, mas a médica me encarava mais que o normal nesse dia e Nanda também parece ter percebido isso, porque, em certo momento, ela me agarrou o braço e não soltou mais. Na saída de seu consultório, perguntei para Nanda se não poderíamos tentar ver o doutor Galeano:
- Claro. Vamos, sim. - Respondeu, mas não me largava.
- Que é isso? Tá carente? - Perguntei, rindo e levantando minha mão com os dedos dela emaranhados nos meus.
- Só estou mostrando para certas doutoras que este aqui já tem dona. Só isso! - Falou, me encarando e rangendo os dentes, provocando-me risos novamente.
Subimos até a antessala do consultório do doutor Galeano e coincidentemente ele estava na porta se despedindo de um rapaz jovem, alto e todo bombado, que imaginei seu algum paciente seu. Fomos até seu encontro e eles dois nos cumprimentaram: o doutor Galeano com um forte aperto de mão e sorriso no rosto principalmente por nos ver ali aparentemente bem e grudados, e aquele rapaz com um olhar estranho para mim e outro que beirava a lascívia para cima da Nanda:
- Coisa boa vê-los bem, meus amigos! Entrem e vamos tomar um café. - Nos convidou, não sem antes se corrigir: - Me desculpem a grosseria. Esse é meu filho Davi. Davi estes são Mark e Fernanda.
Cumprimentamo-nos formalmente e ele perdeu um pouco mais de tempo com a Nanda. Preferi ignorar e me voltei para o doutor Galeano:
- Só viemos cumprimentá-lo, doutor. Não queremos atrapalhar seu trabalho.
- Atrapalhar!? Que é isso? Eu tenho um tempo e ia mesmo tomar um café. Entrem. Faço questão.
Diferentemente das outras vezes, nos acomodou num sofá dentro de seu consultório e ela se aproveitou para pegar meu braço e colocá-lo sobre seu ombro. Ele fez todo aquele ritual em sua cafeteira e logo voltou com dois cappuccinos, entregando-nos. Sentou-se então em um outro sofá praticamente de frente para o nosso:
- Acho que nem preciso perguntar se estão bem?... - Falou.
- Estamos bem, sim, doutor. - Respondi.
- Bem, bem, beeeemm, muiiiito bem, doutor. - Nanda falou, na sequência.
Acabamos caindo os três numa gostosa risada da forma como ela respondeu. Depois de nos controlarmos, voltamos a papear amenidades e ele viu que tínhamos encontrado um caminho e estávamos indo bem. Depois de um tempo, falei com Nanda que precisávamos ir e ela concordou:
- Doutor, tenho que ver seus honorários também. - Falei.
- Está tudo bem, Mark. Gostei tanto de vocês que acabei tomando-os como filhos postiços. Não vou cobrar. - Disse se levantando do sofá: - Além disso, o caso de vocês foi algo tão diferente e surpreendente que eu comecei a escrever um artigo científico, sem mencionar seus nomes, é claro. Mas ainda assim queria a concordância de vocês para poder apresentá-lo.
- Se nosso nome não for apresentado, não vejo nenhum problema. - Falei.
- Assim, eu também não me oponho. - Completou Nanda.
- Então, ótimo!
Quase na porta, parei para encará-lo uma vez mais:
- Doutor, aquela pergunta que o senhor deixou para a gente naquela sessão improvisada “Há alguém que agiu mais certo e menos errado?”, eu acho que sei a resposta. - Falei.
- Ótimo! Mas não me conte. - Ele disse, surpreendendo-me: - Aquela é uma pergunta retórica que tinha exclusivamente a função de fazê-los pensar sobre os pontos positivos e negativos que vocês vivenciaram, não apenas naquele fatídico dia, mas também os obrigando a revistar os momentos de sua história em comum. A resposta só interessa a vocês e fico feliz que a tenham encontrado. - Finalizou.
Apertei novamente a mão daquele homem e ali vi uma capacidade que nunca imaginara encontrar antes. Ele havia me conduzido de uma forma tão sutil que acabei me deixando levar sem notar. Nanda o abraçou forte e lhe deu um beijo na face para depois dizer um “Obrigada!” cheio de gratidão. Estava com os olhos marejados e o fez marejar igualmente. Despedimo-nos uma última vez e saímos novamente de mãos dadas, felizes com aquele encontro.