Pouco antes da fama – parte 3

Um conto erótico de Dan-Dan
Categoria: Heterossexual
Contém 5047 palavras
Data: 23/05/2022 22:51:54
Última revisão: 24/05/2022 16:38:34

Engraçado como depois de muito tempo, e das nossas experiências de vida, as coisas se tornam tão mais claras e sem mistério. Especialmente sobre o passado. Mas na época, não tendo a vivência e o conhecimento, nos sentimos perdidos e sem saber para onde seguir.

Eu me recordava sempre, as últimas palavras do Leopoldo ao telefone:

“Então, aproveite o que está ao seu alcance. Não sofra pelo que não existe. ”

Naquele dia eu não quis terminar a ligação telefônica com ele pondo um ponto final naquilo que ele havia proposto. Segundo ele eu deveria me sentir livre para fazer o que desejasse, e ficar com quem eu quisesse. Então, disse que iria pensar e voltaria a conversar com ele. Nos despedimos como sempre muito carinhosos. Mas naquele dia o meu coração estava tropeçando em vez de bater, sem saber como agir.

Pensei durante a noite. Me apavorava o medo de perder o Leopoldo. Talvez ele quisesse mesmo se afastar para não sofrer. Eu estava estudando, não podia sair da cidade para viagens longas. Nas minhas folgas, geralmente o empresário agendava apresentações minhas em alguns locais, clubes, bares, e rádios, onde eu divulgava meu disco. A aceitação estava sendo ótima, e já havia até alguns críticos de outras capitais que ouviram o disco, o elogiavam. Minha carreira prometia decolar conforme todos disseram. Mas ainda estava no começo e minhas apresentações tinham o foco principal de recuperar o investimento feito que não era pequeno. Eu vivia ainda com poucos recursos, mas era bem melhor do que antes. Já ganhava algum dinheiro nas apresentações e isso me dava um pouco mais de conforto, além de ajudar minha mãe. E aquilo me obrigava a ser realmente focada e dedicada. Não fora criada com preconceito ou com regras muito rígidas sobre sexo, e meu mestre iniciador, o Lírio, fizera com que eu fosse de fato uma moça bem liberal, aberta e descontraída. Eu sentia de fato muito prazer com parceiros eventuais, até ter conhecido o Leopoldo, por quem realmente me apaixonara. Essa paixão, era correspondida por ele, e por isso, eu não sentira muito a necessidade de ter encontros com outros. Mas, com o tempo, passei a ficar carente e a proximidade do Lírio, um amante que eu adorava, era uma tentação real. Eu gostava muito do Lírio, também um homem mais velho, experiente, meu primeiro amante, e muito importante na minha vida. Sentia por ele muito desejo também e sabia que ele como amante nunca seria esquecido.

Pensei muito e resolvi ser muito sincera com o Leopoldo. Liguei para ele no dia seguinte, e revelei o que sentia de verdade. Eu tinha necessidade de sexo, e o Lírio era uma alternativa que me atraía. Ele me disse:

— Dan-Dan, querida, eu a conheci depois que você tinha feito sexo com vários parceiros, até mais importantes do que eu, como o Lírio. Não senti ciúme ou algo do tipo pois não tenho sentimento de posse. Não misturo, de verdade, sexo, com o que eu tenho por você. E espero que você sinta o mesmo por mim. Então, se eventualmente você fizer sexo com alguém enquanto estamos distantes, não me diz respeito. Gostaria de estar perto, e ser eu o seu parceiro em vez de outro, mas não podendo, não coloco impedimento.

Eu, pouco experiente ainda tentei:

— Será que não é porque você não é assim tão apaixonado por mim?

Leopoldo sorriu um pouco desanimado e respondeu:

— Não, é o contrário. É exatamente por ser muito apaixonado por você. Minha paixão por você não envolve um sentimento de posse, não a vejo como minha propriedade, sendo exclusiva. A vida e os relacionamentos que eu tive, me educaram para ser desapegado de sentimentos de posse. Só tenho sentimentos de pertencimento. Ou seja, pertencer ao lado mais querido. Só isso. Eu a vejo como a pessoa que eu me encantei, admirei e gostei. Nenhum de nós dois pode mudar agora a vida de um momento para outro, e temos essa situação. E quero que seja feliz. Se você estiver feliz tendo sexo casual com parceiros eventuais ou fixos, eu espero apenas que esteja sendo bom e fique satisfeita.

Eu questionei:

— Mas se eu penso que você está tendo uma parceira sexual, tendo prazer com ela, gostando de estar fazendo sexo com ela, eu me sinto um pouco triste, com um pouco de ciúme.

Leopoldo concordou e explicou:

— O ciúme sadio, que faz você querer estar no lugar da outra, é natural, é bom, estimulante, mas o ciúme por achar que a pessoa por gostar de você, e você dela, não pode ter prazer com outro, é um sentimento de posse, egoísta, de cerceamento da liberdade do outro. O certo, se gostamos, é dar liberdade para a pessoa que queremos bem fazer o que gosta.

Eu nunca havia pensado naquilo e naqueles termos. Era uma forma muito mais sincera de ser. Parei para analisar melhor. Eu argumentei:

— Eu entendo com isso que posso fazer sexo com outra pessoa e não deixar de gostar de você, de querer que fosse você estando comigo em vez dele. Posso sim ter prazer com essa outra pessoa. Mesmo que não seja tão bom como seria com você. Mas por outro lado, não vou deixar de ficar meio enciumada de saber que você fica com outra. Mesmo que eu admita que está no seu direito.

Parei um pouco para tentar explicar melhor. Por fim concluí:

— Então, acho que é isso que você sente se eu estiver com outro, terá um pouco de ciúme, vontade de ser você comigo, e por isso não quero provocar esse sentimento em você.

Leopoldo era uma pessoa compreensiva e sensível e respondeu:

— Você tem esse seu jeito. Eu tenho o meu. Pode ser que você, mesmo admitindo que eu posso ficar com outra, não se sinta bem em saber disso. É o seu jeito hoje, com o que você aprendeu até agora. Eu sou exatamente o contrário. Eu, sabendo que você está bem, e tendo prazer com outro parceiro, mesmo que não seja como seria comigo, vou ficar feliz por você. Eu sou a favor do prazer. Da liberdade de ter o prazer. Prazer não é algo ruim, é sempre bom. Não retira pedaço. Não acho bom negar e impedir o prazer. Se você me contar o prazer, que teve, como foi, se gostou, eu vou gostar de saber, vou vibrar por você. Mesmo sentindo um certo ciúme de ser com outro, não vou achar ruim. Entende isso?

Eu entendia, mas ainda não sabia se aceitava. Tentei uma outra abordagem:

— Leopoldo, você está dizendo que se eu ficar com o Lírio, ou outra pessoa, e gostar, e depois contar para você como foi, e falar do prazer que tive, você vai gostar?

Ele concordou:

— Isso, exatamente isso. O que eu gosto numa relação de parceria, é essa sinceridade e essa cumplicidade. Se você fizer sexo com o Lírio ou outro, e for bom, eu vou adorar saber, e prefiro que você me conte, do que me esconda isso. A transparência é a base da confiança.

Eu não tinha mais nada a argumentar, então, falei:

— Está bem, então, se eu sentir vontade vou ficar com quem quiser, sem receio de estar magoando você, e depois contarei tudo a você para não ter nada a esconder. É isso?

— Isso, querida. Exatamente isso.

— E você vai fazer o mesmo comigo? Se ficar com alguém vai contar?

— Claro, certamente. Só não conto se você não quiser.

Concordei, trocamos beijos, confessamos nossa saudade, e eu desliguei. Me sentia mais tranquila em relação aos sentimentos dele. Ainda inquieta com o medo de perder o Leopoldo, mas no fundo, eu já admitia que estava mesmo precisando de uma noite boa de sexo com o Lírio.

Nos dias que se seguiram, claro que o Lírio apareceu, e demonstrava estar com saudade de nossos momentos íntimos. E eu também já havia me convencido de que precisava muito daquilo.

No fundo eu também nutria grande admiração e carinho pelo meu mestre, e ele era um homem muito sensual e ótimo amante. Já no abraço que demos ele sentiu que eu estava fervendo de desejo e ele não parecia diferente. Nos beijamos com intensidade e volúpia. Mas naquele beijo eu percebi que havia uma grande diferença entre o beijo com ele e com o Leopoldo. Escrever para contar talvez não seja a melhor forma de transmitir o que eu sentia. O beijo com o Lírio, embora houvesse carinho e admiração entre nós, já não era mais como fora antes de eu conhecer o Leopoldo. Depois de beijar e ser abraçada pelo Leopoldo, e possuída por ele numa intensidade de sentimentos inigualável, eu descobria que o que eu sentia pelo Lírio, embora ainda com muita admiração, carinho e gratidão, era mesmo muito mais físico do que paixão afetiva. Era sexo delicioso, mas menos encantador como fora com o Leopoldo. Lírio era gostoso e fazia sexo bom, e fora o homem que me ensinou tudo o que eu sabia de sexo até então.

Nós nos entregamos ao prazer, eu me deliciei com as chupadas que ele me dava, e também chupei aquele pau grande e poderoso que tanto prazer já me havia dado. Nós nos conhecíamos, e nos entregávamos sem restrição. Fiz sexo com ele em várias posições, e em quase todas eu tive os orgasmos intensos que sempre tivera com ele. Mas era sexo, não tinha aquele componente alucinante da emoção quando estive com Leopoldo. Naquela noite eu tive uma deliciosa aula de vida, descobrindo que era possível ter sexo de forma intensa e libidinosa, com um grande parceiro, sem deixar de gostar profundamente do homem que eu me apaixonara. Se eu não tivesse conhecido o Leopoldo, se não tivesse ouvido ele falar e explicar, e se não tivesse a experiência com o Lírio, jamais entenderia.

Hoje, tantos anos passados depois, me recordando daqueles momentos, eu compreendo como reagem as pessoas que não tiveram esse tipo de formação liberal, não tiveram a liberdade de vivenciar, e sempre ficaram presos a um tipo de educação e padrões muito restritivos. A relação monogâmica, a prisão do matrimônio restrito entre marido e mulher. Entendo que rejeitem, condenem e se prendam. Faz parte do seu universo de valores, de sua educação e formação.

Naquela noite, tive o prazer de fazer sexo com o Lírio, de uma forma totalmente desprendida, solta, uma entrega sem medo e sem culpa, desfrutando se sensações e prazeres incríveis, e mesmo assim, sabia, a todo instante, que nada daquilo se igualava ao prazer que eu sentira com o homem pelo qual me apaixonara no Rio de Janeiro.

Agora, vivida, experiente, posso entender o motor das traições, o que faz as pessoas enganarem seus parceiros, em busca de algo diferente, para vivenciar a emoção de um sexo fora da relação, diferente, variado, distinto, sem vergonha, e liberado. As pessoas se cansam e se acostumam com aquilo que não se renova e não se transforma.

Naquela altura eu estava aprendendo com meus amores, a ser realmente uma mulher liberada, livre, e dona de meu corpo, da minha vida, e meu destino.

No dia seguinte, liguei para o Leopoldo e contei a ele o que eu fizera, e o que eu sentira. A reação dele foi incrível, me parabenizou, e disse que ficava muito feliz ao saber que eu estava aprendendo tanto em tão pouco tempo. Eu não sabia que ele ficaria tão excitado ao saber o que eu fizera, como fizera, e o prazer que tivemos. Foi quando entendi que não precisava mentir ou trair, que poderia assumir tudo e ser eu mesma. Mas, curiosa, eu quis saber dele qual era o sentimento dele em relação ao que eu acabara de contar. Leopoldo foi surpreendente:

— Dan-Dan, que bom que deve ter sido. Eu imagino como foi prazeroso para você e para o Lírio. Afinal, vocês já se conhecem bem e sabem o que cada um gosta.

Eu questionei:

— Sim, foi delicioso. Mas eu quero saber, e você, o que sentiu ao saber?

Leopoldo deu uma risada verdadeira e confessou:

— Fiquei com uma certa inveja do Lírio, afinal, sei como você é deliciosa e como faz sexo gostoso. E fiquei cheio de tesão também, pois imaginei vocês fazendo um sexo intenso e isso me excitou muito. Imaginei e me excitei com isso. Só de lembrar você de perninhas abertas e mostrando a sua bocetinha para ele, louca para ser penetrada pelo pau dele, me deixou muito tarado. Agora estou aqui cheio de vontade, de pau duro, e carente. Vou ter que me masturbar.

Ele deu uma parada pensando algo e depois completou:

— A vontade que me dá é pegar um avião agora, e ir ver você, buscar você e trazer para cá. Pegar e guardar e jogar a chave fora.

Ao ouvir aquilo eu na altura tive duas reações quase simultâneas. A primeira foi ficar excitada ao saber que ele teve tesão ao me imaginar fazendo sexo com o Lírio. Não entendia muito bem aquilo mas percebia a cumplicidade dele comigo, com o meu prazer.

Mas em seguida, me bateu uma dor enorme no peito, a paixão apertando, sabendo que eu também estava louca para que ele viesse me buscar e me levasse com ele. Vivíamos uma paixão meio proibida e isso era muito angustiante. Cheguei a soltar lágrimas. E me surpreendi quando o Leopoldo falou:

— Dan-Dan, eu quase chorei aqui de emoção. Você acabou de me contar que nossa paixão está acima até do sentimento máximo de prazer com o homem que a iniciou e a fez mulher. Não existe nada que me deixe tão emocionado como isso. Se for assim, a gente vai manter essa paixão acessa, independente do que acontecer.

Não consegui segurar e comecei a chorar, emocionada. Leopoldo percebeu e ficou calado, paciente, me esperando. Quase um minuto onde só se ouvia os meus suspiros e fungadas do nariz escorrendo. Finalmente eu disse:

— Querido, vou desligar. Voltamos a falar outra hora, pode ser?

Ele me desejou paz, tranquilidade e disse que estava feliz e também com muita saudade.

Desligamos. E eu fiquei o resto do dia emocionada com tudo aquilo. Só de me lembrar eu chorava novamente.

Duas semanas se passaram e eu me dividia nos estudos, nas aulas de canto, e nas apresentações. Estava ganhando um pouco melhor, o produtor administrava tudo corretamente.

A cada dia que passava eu percebia que era genuína a admiração das pessoas pelo meu canto, e estava começando a formar uma certa legião de admiradores. Naquela época, as pessoas mandavam cartas para o endereço do produtor e agente da cantora, e eu já colecionava centenas de cartinhas de pessoas que compraram o disco, que haviam me visto cantar, e se manifestavam. Quando eu ia a alguma rádio divulgar alguma apresentação, aconteciam muitos telefonemas. E logo começaram a aparecer os admiradores e paqueradores. Nos dias de apresentação, sempre aconteciam assédios e muitos eram até interessantes. Eu era simpática e receptiva com todos, mas não dava muita intimidade. O produtor estava me preparando, me ensinando como lidar com uma fama que se aproximava.

Aos poucos, eu fui perdendo o receio de me soltar, fiquei bem mais segura e desinibida.

Depois de três encontros deliciosos com o Lírio, para sexo intenso e liberado, um deles inclusive depois de uma apresentação onde a Sally fez backing vocal, fomos os três para a cama em um motel e foi novamente uma noite deliciosa. Eu também gostava de ficar com ela, fazer sexo com mulher me dava muito prazer e tesão, provocar o prazer em uma mulher me causava uma satisfação enorme, e naquela altura eu já sabia que era bissexual sem nenhuma dúvida.

Como sempre, no dia seguinte eu ligava para o Leopoldo, para contar o que havia feito, e como havia sido. Todas as vezes ele se mostrava contente de saber, e me pedia que eu relatasse como foi que aconteceu e o que senti. Eu, intrigada, perguntava o motivo daquilo, e ele confessou que ao saber os detalhes, ficava muito excitado, morria de saudade e de vontade de estar comigo. Mas se sentia feliz por eu ter me divertido e me satisfeito. E por ter a capacidade de contar.

Um dia ele me disse uma frase que me marcou muito: “Gostar de verdade, é saber dividir, e não ser egoísta, não negar a outro a satisfação de prazeres que são gratificantes sempre”.

Esse era o jeito dele pensar e levar a vida. E eu ia aprendendo. Assim, com o passar do tempo eu me habituei a ser mais liberada, sabia que ele me endossava aquela liberdade, e aceitei sair com outros parceiros e parceiras. E descobri que também me dava prazer contar a ele e saber que ele se sentia muito excitado com meu relato. Até que falei de um colega de curso, que era muito simpático e assanhado. Ele era novinho, apenas um ano mais velho, mas era bonitinho, gostosinho e safadinho. E eu fiquei tentada a experimentar.

Mas antes, perguntei para o Leopoldo o que ele achava sobre essa minha vontade. Ele respondeu:

— A primeira coisa que deve analisar é o caráter dele. Se é correto e não apenas um aproveitador. A segunda, é ver se ele sabe ser discreto. Você tem uma carreira agora, e artistas são muito visados. Você tem que ser muito discreta e manter sua vida privada muito reservada. E a terceira, é sempre se cuidar, para evitar gravidez e doenças. Fora isso, está tudo bem. Torço para que seja bom.

Agradeci, e disse que ia me precaver, e depois contava. Depois fiquei pensando que não era possível que o Leopoldo não sentisse ciúme. Aquilo me invocava um pouco, como se ele não ligasse muito para o que eu fizesse. Eu ainda estava presa a valores românticos possessivos. Mas aquilo era o que eu pensava na altura.

O rapaz, se chamava Guto, era filho de uma boa família de classe média, bem-educado, estudioso, e nunca me pareceu um farrista ou bagunceiro. Só era mais safado um pouco e eu me sentia atraída por essa atitude, ele muitas vezes falando bobagens, brincava, contava piadas. O Guto sempre me olhava com desejo, e aos poucos foi se insinuando. Era de estatura média, pouco mais alto do que eu, tinha bom físico, praticava esportes, cabelos castanhos lisos e compridos, olhos grandes, expressivos, castanhos, e um sorriso bonito. Troquei conversa com ele algumas vezes e depois de uns três dias ele me ofereceu carona para casa. Eu tinha combinado com o produtor que não daria o endereço de onde morava para ninguém, para evitar assédio. Então eu disse que aceitava, mas só até um local perto da minha casa. Havia um mercado, e eu aproveitava a volta da aula, para comprar algumas coisas para cozinhar. Assim, ele me deu carona até lá. E no trajeto nos conhecemos melhor. Ao conhecer o Guto, vi que a imagem que ele passava não correspondia à realidade. Ele era divertido, extrovertido, brincalhão, mas era inexperiente e até reservado. Depois da terceira carona ele me contou que nunca havia namorado, mas se sentia atraído por mim.

Durante três semanas eu não tive nenhuma aventura, e nada tinha para contar ao Leopoldo. E contei apenas que trocara algumas palavras com o Guto, mas não havia avançado.

Hoje, me lembrando melhor, eu assumo que percebendo que o Guto estava muito atraído, e por ser discreto e mais respeitador, não avançava o sinal, assim, fiquei muito interessada nele, e pela primeira vez, era uma pessoa que não sentia como um caso de sexo eventual. Eu percebia que ele poderia alimentar sentimento, e eu também. Nunca tivera alguém da minha idade, que se declarava atraído e encantado. Eu até então era uma moça humilde, e sem posses. E nunca havia namorado.

As intenções dele não eram movidas apenas pelo interesse sexual, isso ficou patente. E foi justamente isso que me cativou. O sentimento que eu tinha ali era diferente do que eu sentia pelo Lírio, que era admiração artística e desejo físico. Também diferente do que eu sentia pelo Leopoldo que era um encanto e uma admiração incrível pelo homem experiente e amoroso, além de uma atração física quase doentia. Mas ele estava longe e parecia cada vez mais difícil. Então, sentindo um certo vazio afetivo, eu percebi que podia ter um parceiro, para chamar de meu. A sensação que eu tive era de que eu poderia exercer algum tipo de poder sobre aquele menino bonito que encantado me desejava. Então, não revelei ao Leopoldo que estava me sentindo atraída pelo Guto, e mais envolvida afetivamente.

Mais algumas semanas e eu já estava indo com o Guto para o motel, e descobri que ele era bem inexperiente em termos sexuais. Na verdade, ele era bem despreparado, tivera poucas experiências com prostitutas, e de forma bem resumidas. Aquilo, em vez de me afastar dele me deu mais vontade de ensinar, de fazer com que ele tivesse comigo um aprendizado sexual muito mais avançado. Fiz questão de pedir total sigilo a ele, de ser discreto, não demonstrar aos colegas o que fazíamos, e evitar acusar algum tipo de envolvimento. Ele me dava carona para casa e isso servia como álibi. Assim, algumas vezes íamos ao motel e eu comecei a ensinar a ele como ser um bom amante. Guto se encantou, se mostrava muito dócil, aprendia mais como ser um amante melhor, e seguia à risca as nossas regras de cuidado e discrição.

Aquilo me fez muito bem, me sentia cuidando de alguém que também cuidava de mim, e que preenchia o vazio afetivo que eu sentia, de forma serena e sem exigir nada a não ser poder ficar comigo quando podíamos.

Eu falava com Leopoldo, uma vez por semana, às vezes ficava quinze dias sem falar, e isso porque eu temia revelar o que estava acontecendo. Mas eu sofria, porque não queria esconder nada dele. Mas ainda não havia contado. Até que novamente a experiência do Leopoldo falou mais alto. Estávamos numa conversa normal, contando coisas do dia-a-dia, e ele perguntou:

— Você tem algo para me contar e não está conseguindo?

Na hora eu fiquei gelada, congelei por alguns segundos, sem saber como agir. Ele me estimulou

— Não tenha receio. Pode falar comigo. Não é assim que dá certo. O único caminho que é saudável é ser verdadeira, sincera e transparente. Seja você, pois eu gosto é de você como você é.

Tomei fôlego e vi que não adiantava calar, ele sabia, e estava certo. Eu deveria ser verdadeira. Então contei:

— Sabe, esse amigo, o Guto, o colega que eu contei. Então, a gente está ficando mais amigos, estou descobrindo um amigo muito bom. Parceiro.

Leopoldo como sempre manteve o clima otimista:

— Que legal! Muito bom. Afinal, ele não é apenas eventual. Está sendo um amigo mais regular.

Tentei explicar sem ser grosseira:

— Estamos todos os dias juntos, estudamos, ele me dá carona, conversamos...

— Que ótimo. Então o rapaz é dos bons. Fico feliz, você merece uma amizade mais próxima, menos eventual.

Eu percebi que ele já sabia, havia percebido, mas não falava, deixava espaço para eu contar. Fui sincera:

— Eu fiquei pensando se deixaria você triste se contasse que fiquei com ele. Fomos a um motel. Eu não queria magoar você.

Leopoldo foi preciso:

— Ocultar magoa mais do que a verdade. Se tem sentimento envolvido, é muito bom, mas é mais delicado para você. Eu quero que você seja feliz, não se prenda.

Eu estava apavorada, mas não ia negar nada, então tentei contar como tinha sido, mas contrariando o que ele sempre fazia, ele disse:

— Dan-Dan, você está aprendendo tudo agora, e é ótimo que tenha descoberto alguém que a ligação não seja apenas física. Não preciso de detalhes neste caso. Prefiro que você se resguarde. Preserve isso entre vocês. Eu adoro você. Fique à vontade. A vida é feita para a gente viver.

Fiquei tensa. Temia que ele estivesse mesmo chateado. Perguntei:

— Você não gostou? Não quero o magoar...

— Dan-Dan, é só não esconder nada, não omitir, que eu não me chateio. Mas entendo você perfeitamente. Está aqui se abrindo e contando. Seu medo é injustificado no meu caso, nunca impedi nada, nunca impus nada, apenas a sinceridade. Mas não estou chateado. Quero que você seja feliz. Sempre. Conte comigo, estarei sempre aqui.

Sem ter o que dizer, e entendendo que tinha falhado com ele por ter omitido, tentei perguntar:

— Você nunca ficou com ninguém? Não teve mais nada para me contar?

— Se tivesse teria contado. Faz cinco meses que você viajou daqui e desde então, eu não senti vontade de ficar com ninguém. Não foi por falta de oportunidade, foi falta de vontade, mas isso não significa que eu estava em desvantagem ou que você tenha feito algo que eu não fiz. Pode relaxar. Você está apenas começando a aprender e conhecer muitas coisas novas. Faz parte.

Fiquei calada. Sabia que tinha pisado na bola, mas ao mesmo tempo sentia que tinha que tomar decisões baseadas nas minhas vontades e tinha que assumir isso. Então, suspirei e falei:

— Eu senti vontade, tinha carência de algo mais afetivo e emocional. Está sendo bom. Estou gostando. Me desculpe.

— Não se desculpe. Você está certa e eu fico muito satisfeito que isso esteja acontecendo. Faz o que o seu coração pede. Não tenha medo.

Agradeci. Pedi se podia desligar, expliquei que estava emocionada. Ele se despediu como sempre dizendo que mantinha a mesma paixão de antes. E aquela foi a última vez que falamos ao telefone por quase dois anos. Eu não liguei mais e ele também não.

Guto se tornou, nos meses seguintes, um parceiro quase constante. Só não ia nas minhas apresentações. No final daquele ano nós dois já estávamos vivendo juntos, num apartamentinho pequeno, mas os pais dele não me aceitavam, por eu ser negra e ter origem pobre. Ele nem me levou lá para evitar que eu fosse mal recebida. Ele ficava envergonhado disso. E o que poderia ser evitado, acabou acontecendo. Eu engravidei no final do ano. Mas a nossa relação foi aos poucos se deteriorando. Desse episódio em diante, eu e o Guto não nos dávamos mais tão bem. Certamente muito por influência da família dele. Trabalhei durante quase toda a gravidez, do início do ano até julho. Nesse meio tempo a minha agenda de shows cresceu, ocupava vários dias da semana, o faturamento aumentou. E no meio daquele turbilhão, a fama veio, a vida ficou agitada, os discos passaram a ser vendidos por uma gravadora e distribuidora em todo o brasil. O produtor foi correto e muito dedicado, cuidou sempre de tudo, e acertou tudo que tínhamos pendentes. Guto e eu praticamente não ficávamos juntos mais. Ele estudava para um concurso e eu grávida perdi o encanto. Em agosto tive uma filha linda, mestiça, a Giuliana, que minha mãe me ajudava a cuidar. Poucos meses depois o Guto conseguiu uma bolsa e decidiu ir estudar fora, e sumiu da minha vida. Na época acho que ele se apavorou com a responsabilidade de ser pai e chefe de família ainda tão jovem. Então, preferiu partir.

Eu estava ganhando relativamente bem com a venda do primeiro disco, e alguns shows que aumentavam a receita. A partir disso, os ganhos cresceram e eu passei a poder pagar uma casa melhor, quando trouxe a minha mãe para cuidar da família e passei a dar uma mesada para ela e para os irmãos, pagando seus estudos. Mas eu mesma tive que parar os estudos. A carreira decolou e a fama chegando.

Mas eu não me perdoava por ter abandonado o Leopoldo. Eu tinha muita vergonha de ter feito isso e me afastado dele. Por isso não o procurei.

A única salvação era que o Lírio nunca deixou de me visitar, me compensava com sexo eventual de qualidade, e me ajudava muito na carreira. Ele e o produtor estavam preparando o repertório para o segundo disco. A ideia era lançar no ano seguinte.

Um dia, eu fui me apresentar numa casa de shows nova que haviam inaugurado. Era sinal de que eu já me tornara uma cantora respeitada e em ascensão. Estava na hora de começar a comparecer nos programas de televisão, mas o produtor disse que reservava isso para o lançamento do novo LP. Naquela noite eu cantava uma das canções que eu mais gostava, do repertório antigo, que me recordava de quando conheci o Leopoldo.

Talvez um dia a gente possa se encontrar de novo

Quem sabe numa outra esquina desse sentimento

Não digo que não beberei jamais da mesma fonte

Pois esse amor, já foi um rio doce em tantos bons momentos.

Quem sabe você não se cansa dessas batucadas

Esquece o braço do cavaco e vem pro meu abraço

Descarta o jogo e faz a ronda das minhas pegadas

E o meu amor te espera pra curar de vez o seu cansaço

Quando você achar que é

A hora de voltar pra mim

Troque o conhaque por café

Tire seus pés do botequim

Deixa essa mesa de bilhar

Que eu faço o jogo do perdão

Fecha essa conta neste bar

Que eu abro o coração

Confesso que às vezes penso que melhor seria

Em vez de ser mulher eu fosse a tal da boêmia

Eu juro que me sentiria muito mais amada

Porque você seria meu em toda santa madrugada.

O público cantava junto, animado, e eu me aproximei da beirada do palco, o facho de luz que me acompanhava varreu a plateia próxima. Quando as luzes do palco deram uma clareada maior eu quase tive um ataque no coração. Quase errei a letra e o compasso. Ali, bem na frente do palco, visível, de pé, bem próximo, estava o Leopoldo, o cabelo um pouco mais esbranquiçado, mas sempre com aquele ar jovial e feliz.

O coração disparou totalmente. Entrei em modo automático. E eu nem sei dizer mais como foi aquele show.

No camarim todos elogiavam, havia uma fila enorme de pessoas querendo autógrafo nos discos. E o Leopoldo não aparecia.

Continua.

Espero que tenham gostado. Beijos. Dan-Dan.

Vi que alguns autores colocam um lembrete no final dos seus contos. Então farei igual. Não quero a minha história publicada em outros locais por terceiros sem a minha autorização: “Esta história não deve ser copiada ou reproduzida em outros blogs e sites. Tem direitos autorais reservados”. Obrigada.

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Foto de perfil de Dan-DanDan-DanContos: 8Seguidores: 535Seguindo: 9Mensagem Uma mulher comum, liberal, empoderada de sua liberdade, sem medo de viver e de ser feliz.

Comentários

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Olha Dan-Dan - Você publicou várias partes da sua história. E eu estou admirado. Muito bom. Desculpe eu não ter vindo comentar antes. Vou ler cada uma e comentar. Estava mergulhado nos meus trabalhos. Está excelente. Texto impecável e narrativa muito agradável, leve e detalhada. Parabéns.

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Uau Dandan... Está se destacando bastante... Super excitante e bem escrito meus parabéns... Entrando no grupo dos grandes aqui

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Dany/Joana - fico muito grata. Obrigada. Não tenho essa pretensão, apenas contar a minha história. Nada mais.

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De tirar o fôlego. Escrita impecável, coisa de livro. Nem vou falar muito mais. Um beijo grande, moça. Você vai muito longe!

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GarotaOculta, fico grata pela sua mensagem. Estou tentando acertar e fazer o melhor. Contar nossa história não é fácil.

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Obrigada Lívia Pepper. Fico muito feliz com a sua mensagem.

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Dan Dan está música se chama santa madrugada, gravada em 1993 por Cristina Monteiro, conhece?

Estou adorando os seus contos

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Espartano67. Obrigada. Mas é claro que eu conheço. Cantei muito essa música, muito significativa para mim. Como pode ler na história. Que bom que você conhece a música. Fico muito satisfeita.

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Saori_ishikawa. Fico emocionada. Obrigada. Minha gratidão.

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Fer-Nanda, obrigada. Retribuindo corações. 💖💖💖💖💖

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Ellen-Zinha - 💖💖💖💖💖 E ficou uma filha desse relacionamento relâmpago. Tem muito o que contar ainda. Obrigada.

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Seguindo os amigos abaixo, reafirmo também:

Você é fodástica. A letra da música é linda.

Já que não posso lhe dar uma constelação, três estrelas.

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Eu assino embaixo, Duda!

Só não consigo me decidir. Gosto de todos igualmente.

Leon, Dan-Dan, Claudinha8, Neto, nossas garotas que começaram a postar também e vários outros. Todos são ótimos e acrescentam algo em mim. Beijo grande, casal querido.

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Quanto temos histórias boas e bem feitas, temos o encanto do leitor. Autores bons para bons leitores. Obrigada Max AL-Harbi.

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Max Al-Harbi. Obrigada. Bons autores trazem boas histórias. Boas histórias para bons leitores.

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Não quero ser melhor, Duda&Kiko, quero ficar feliz ao ler um depoimento onde diz "Amo esse conto" - pois é a minha história que trago para vocês. Obrigada.

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Listas em que este conto está presente