[...]
Rimos mais um pouco de nós mesmos e em pouco tempo já estávamos de boa. Acabamos não transando mais naquela noite, nem ela me deixou passar “creminho” em sua boceta, mas dormimos agarradinhos.
No dia seguinte, acordamos ainda melhores um com o outro. Nanda sabia que eu não havia feito por mal e sabia também que, se ela tivesse me pedido, eu teria parado. No fundo, bem no fundinho, ela também quis brincar e se deixou levar. Como de costume, tomamos nosso café da manhã em família e, logo depois, saí rumo ao meu escritório. Dia normal, sem ocorrências significativas e, no final da tarde, voltei para casa após buscar as meninas na escola. Nanda terminava de cozinhar mandioca esperando a chegada das costelas bovinas que havia me encomendado para fazer uma “vaca atolada”. Saí novamente rumo ao supermercado para corrigir meu esquecimento. No caminho de volta para casa, Marcos me ligou:
- Mark, boa noite. Tá podendo falar?
- Fala, Marcos. Boa noite. Posso. - Respondi objetivamente, ainda na condução de meu carro.
- Desmarca a reunião com a Denise. - Me pediu, claramente chateado.
- Desmarcar!? Mas porquê? - Perguntei, surpreso com a novidade.
- O filho da puta do Antunes teve a coragem de me ligar para saber como eu estava passando e me pedir desculpas por ter se envolvido com a Denise, justificando que, infelizmente, se deixou envolver por ela e acabou se apaixonando. - Disse, com a voz claramente embargada.
Precisei estacionar o carro porque a notícia me atingiu como a força de um coice de mula e eu precisava confirmar se havia ouvido realmente aquela notícia. Pois ele me confirmou novamente e continuou:
- Falou também que ainda estava se encontrando com ela e… - Ouvi um xingamento e uma suspirada: - Acredita que no final ele ainda me ofereceu ajuda para tentar convencê-la a se divorciar amigavelmente porque achava importante eu e ela continuarmos amigos pelo bem do filho!?
Eu estava boquiaberto e, mesmo ele não sendo exatamente um amigo próximo, fiquei atordoado com a pancada por ele recebida. Eu nem compreendia como ele conseguia estar falando tão articuladamente naquele momento. Fosse eu na sua condição e considerando a Nanda do outro lado, estaria em pedaços:
- Marcos, ele não faz parte do seu relacionamento. No seu casamento, somente há você e a Denise. Deixa eu ligar para ela amanhã de manhã para sondar o que está acontecendo antes de decidir alguma coisa, por favor? - Lhe pedi.
- Mark, eu não tenho condições de olhar para ela sabendo que ainda está se encontrando com aquele filho da puta! Vou acabar falando besteira e, tudo o que não preciso, é ser denunciado na Lei Maria da Penha. - Me justificou.
- Não tiro sua razão… - Falei, porque era uma conclusão lógica para um operador do direito: - Amanhã de manhã ligo para ela cancelando e já tento estabelecer os próximos passos no seu divórcio.
- Ótimo! Obrigado.
- Não há o que agradecer. Eu só lamento que você tenha passado por essa.
- Eu também, mas vida que segue. - Falou, combalido: - Boa noite, meu amigo. Manda um beijo pra Nanda.
- Mando, sim. Boa noite.
Minutos depois cheguei em casa e Nanda, mulher madura e quase telepata, sacou na hora que alguma coisa havia acontecido no trajeto casa-supermercado-casa:
- Que cara é essa, “Mor”? - Perguntou.
- O Marcos acabou de tomar uma paulada que doeu até em mim. - Respondi.
Nesse meio tempo, nossa caçula chegou na cozinha e o assunto foi tosado na raiz. Coloquei a costela para cozinhar na pressão, com água, sal, pimenta e um bom alho caipira e fui tomar um merecido banho. Nem a água quente, regulada para o máximo do inverno, conseguiu acalmar meus músculos, imagina o coitado do Marcos, então. Voltei para a cozinha e o “tchi-tchi-tchi” da panela de pressão zunia a toda. Não costumo beber durante a semana, mas precisei abrir uma cerveja. Me sentei na mesa da cozinha e voltei a analisar aquele tabuleiro de xadrez. Nanda chegou sei lá de onde e se sentou do meu lado, tensa com minha aparente tensão:
- “Mor”...
- Agora não, Nanda. Depois que elas se deitarem, te conto a sacanagem que fizeram com o Marcos. - Falei e tentei brincar: - Se fosse hoje, acho que eu deixaria você dar “umazinha” com ele só para animá-lo, mas acredito que ele nem conseguiria ficar de pé.
- Credo! O que aconteceu? - Perguntou, mais aflita ainda.
- Depois… - Insisti.
Com a costela já pronta, bem cozida e macia, tirei parte daquele caldo e gordura para fazer um “engrossado” com farinha de milho, muito parecido com um angu. Na panela da costela, colocamos a mandioca, dando uma reforçada no tempero e a voltamos para apurar o sabor. Minutos depois, nos sentamos todos à mesa e degustamos aquelas deliciosas iguarias com um arroz branco e nada mais além de um puro suco de laranja da terrinha.
Eu estava antissocial nessa noite. Na sala, não interagia com ninguém. A televisão falava e eu não entendia patavinas do que ela falava. Minhas filhas me olhavam ressabiadas. Nanda me olhava ressabiada, mas me conhecendo, as tranquilizou dizendo ser “problema do trabalho”:
- Acho que não quero mais ser advogada. - Falou Maryeva, baixinho.
- Eu ainda quero ser advogada, médica, massagista e jogadora de futebol. - Falou Mirian, rindo.
Eu ouvia tudo, registrava pouco e falava nada. Lá pelas nove e meia, foram elas para o quarto se preparar para outra noite de sono. Vieram buscar a benção e só aí vi que tinha sido relapso com elas. As abençoei, abracei e as beijei muito, numa atitude proativa que todo pai deve ter, pedindo também desculpas pela minha “ausência”. “Aposto que o Marcos adoraria poder fazer isso com o Ben agora.”, pensei. Se foram em definitivo para o quarto e agora eu poderia desabafar com a dona patroa.
Falei. Contei. Expliquei. Acho que até me emocionei imaginando o suplício que o Marcos deveria estar experimentando. Nanda me ouvia quieta e, calada, se levantou rumo à geladeira. Voltou com uma lata de cerveja nas mãos e fiquei feliz por ter pensado em mim. A abriu e tomou praticamente todo o conteúdo, me entregando em seguida. Olhei para aquele recipiente quase vazio e ela se tocou:
- Desculpa! - Disse e voltou para buscar outra: - Essa história parece que só piora.
- Pois é…
- Mas e agora?
- Agora, nada. Vou ligar e desmarcar a reunião, explicando para a Denise o motivo.
Nanda, tomada por um instinto materno, me perguntou se poderia ligar para o Marcos e, antes que eu respondesse, ela já mandou uma mensagem para ele em nosso grupo de amigos do WhatsApp. Ficaram papeando e era nítida sua chateação nos áudios que enviou para ela. Nanda tentou animá-lo, mas nada parecia inspirá-lo. À certa altura, tentando brincar, ele ainda disse que talvez só a companhia dela pudesse animá-lo novamente. Senti que ela até tremeu na base, talvez imbuída de um sentimento de pena, mas logo, gentil e sutilmente tal qual bloqueio do “Marcelo Negrão”, o lembrou que eram apenas amigos. Ele sabia e disse que estava brincando, mesmo porque eu também estava no grupo e ela concordou. Conversaram mais um pouco e logo se despediram. Fomos nos deitar, concluindo que a reconciliação do casal parecia cada vez mais distante. Acabamos dormindo abraçados e gratos por termos um ao outro apesar de todas as dificuldades já enfrentadas.
No dia seguinte, assim que cheguei no meu escritório, liguei para Denise e desmarquei o encontro. Ela ficou muito surpresa e quis entender o porquê daquilo. Me senti no direito e contei sobre a ligação do Antunes para o Marcos e frisei bastante a parte em que ele afirmou que eles ainda estavam se encontrando:
- Mas eu não tenho mais nada sério com o Antunes. Não tenho. Não tenho… - Insistiu, tentando me convencer, ou talvez a si própria.
- Não foi isso que ele disse para o Marcos. - Insisti.
Após um breve silêncio, aliás, um breve momento de murmúrios chorosos no outro lado da ligação, ela voltou a falar:
- Talvez seja melhor assim, doutor. Talvez não seja para a gente continuar juntos mesmo.
- Denise, quem sou eu para tomar uma decisão do que é melhor ou pior para um casal? Minha intenção era somente tentar aproximá-los para que vocês dois pudessem conversar e talvez buscar ou redescobrir um motivo forte o suficiente para continuarem juntos. - Falei e já propus na sequência: - Vou conversar com ele e tentar remarcar novamente. Se não puderem continuar como casal, que sigam como amigos pelo bem do filho. Só te peço, caso ainda tenha contato com esse tal Antunes, que ele não ligue para o Marcos. Isso não está ajudando em nada.
Conversamos mais alguns assuntos relacionados à questão do divórcio que ela não havia entendido bem e fiquei de lhe retornar assim que conversasse com o Marcos.
Naquele mesmo dia à tarde, liguei para ele e não consegui convencê-lo a se encontrar com a Denise novamente. Decidi deixá-los em “banho maria” por alguns dias para a poeira abaixar. Era sua última semana de férias e ele nos convidou para jantar num restaurante do shopping, insistiu e insistiu várias vezes. Em casa, contei para Nanda do convite e ela recusou novamente sua companhia. Se houve tesão ou interesse por parte dela, agora não existia mais. Em nosso grupo de WhatsApp, ela gentilmente o agradeceu e o dispensou.
A vida seguia normal e já havia passado quase duas semanas do retorno de Marcos para a capital quando ele me ligou, cobrando uma solução para o divórcio. Perguntei se podia marcar uma nova reunião com a Denise, oportunidade em que já levaria o acordo até então combinado entre os dois para assinatura. Com este argumento, ele concordou com a reunião e depois de contatá-la, marquei para a próxima semana, numa quarta-feira, às 14:00. No dia combinado, viajei para a capital, me encontrando com o Marcos para um almoço antes da reunião:
- Fala, doutor Mark. Como tem passado, meu amigo? E dona Nanda? Estou com saudades de vocês. - Me falou.
- Vou bem, Marcos, e você? Tenho certeza que você deve estar com saudades dela, certeza! - Respondi, sorrindo.
- Então… Você não pode negar que eu tenho bom gosto, não é!? - Disse e riu.
Rimos e ficamos conversando diversas amenidades e assuntos relacionados ao processo. Por mais que eu quisesse juntá-los novamente, parecia que ele havia perdido o sentimento responsável por uni-lo a ela. Sua forma de falar, demonstrava um certo distanciamento ou intenção de se distanciar. Nessa hora me lembrei da Nanda falando “se ele tiver algum sentimento, você intermedia; senão você faz o seu trabalho e que eles tenham boa sorte nos próximos relacionamentos.”
Saímos do restaurante rumo ao apartamento da Denise. Na portaria, nossa entrada foi autorizada pelo próprio Marcos: o apartamento era dele e ele gozava de bom prestígio ali. Subimos até o apartamento e a própria Denise nos recebeu. Estava belíssima: trajava um vestido longo, de alcinha que exibiam seu corpo sem torná-la vulgar. Ela era a típica falsa magra: com a roupa certa ficava deslumbrante, sem qualquer dificuldade. No rosto, uma maquiagem singela e um batom dois ou três tons mais escuro que seus próprios lábios. Nos pés, calçava uma sandália de salto médio e uma tornozeleira fina de ouro, sem qualquer pingente no tornozelo direito, ostentando unhas feitas recentemente com um esmalte claro, o mesmo que usava nas mãos.
Fiquei embasbacado com aquela imagem. Aliás, ficamos os dois. Ela era realmente uma mulher linda, alta, esguia, simpática, educada. A seu modo e não fosse eu casado com a mulher de minha vida, ela seria uma oponente à altura para Nanda, e seria uma disputa entre titãs. Só faltava saber se na cama ela tinha o mesmo trê-lê-lê da minha esposa. Fosse esse o caso, o perigo loiro estaria à solta e me encarando naquele momento.
Recobrei um pouco da sanidade ao me tocar que ela me encarava ao invés do marido e isso não seria nada apropriado para quem estava ali justamente para tentar reconciliá-los:
- Boa tarde, Denise. Como tem passado? - Perguntei, passado meu estupor.
- Boa tarde, doutor Mark. - Respondeu e veio me dar dois beijinhos na face: - Vou bem, obrigada. E o senhor?
- Vou bem, obrigado. - Disse, tentando esconder meu constrangimento em ser cumprimentado daquela forma.
Nesse momento, os dois, enfim, se encararam e ficaram mudos por um momento. Eu apenas acompanhava, curioso, o deslinde daquela disputa não verbal. Por um momento, imaginei que fossem se atirar nos braços um do outro, mas Marcos esticou sua mão para ela, cumprimentando-a:
- Oi, Denise. Tudo bem com você?
Ela o olhou surpresa e, sem outra possibilidade, também lhe estendeu a mão:
- Estou bem, Marcos. E você?
- Estou bem, obrigado. - Respondeu, solenemente: - E o Ben? Está aí?
- Está dormindo no quarto. Entra lá para vê-lo. - Ela o convidou e se corrigiu: - Aliás, por favor, entrem. Sejam bem-vindos.
Entramos e surgiu um clima estranhamente constrangedor. Ninguém falava nada, ninguém se movia. Tive que tomar a frente:
- Você não ia ver seu filho, Marcos? - Perguntei.
- Acho que posso fazer isso depois. Ele está dormindo…
- Há muito tempo para resolvermos as demais questões. Vão lá e eu os aguardo. - Insisti.
Denise, vendo sua hesitação, o pegou pela mão e praticamente o puxou para a área reservada do apartamento, não sem antes me oferecer o sofá para que eu me sentasse. Vi enquanto se afastavam e a imagem daquela mulher me inundou a mente. “Bem que a Nanda podia topar de apadrinharmos esses dois.”, pensei e sorri para mim mesmo. Fiquei batucando minha pasta de documentos e, uns vinte minutos depois, voltaram. Ele agora trazia o filho no colo para me apresentar:
- Doutor Mark, este é o Benjamin, Ben para os amigos.
Me levantei e fui conhecê-lo de perto:
- Então, você que vai me ajudar a colocar um pouco de juízo na cabeça do papai e da mamãe, Ben? - Perguntei, brincando, mas deixando uma óbvia ponta de verdade exposta.
O menino simpatizou comigo de cara. Aliás, sempre tive uma grande facilidade com crianças. Digo desde cedo para Nanda que eu nasci para ser pai, tamanho é o meu jeito com crianças e o Ben provava novamente que eu estava certo. Sem que esperassem, ele jogou os braços e me pediu colo. Eles, embora surpresos, me autorizaram a pegá-lo, o que fiz no ato, dando um jeito de, com a minha posição, obrigar o Marcos a ficar do lado da Denise. Num primeiro momento, eles não se notaram, mas quando se tocaram que estavam lado a lado, a centímetros um do outro, ficaram encabulados. Não perdi a deixa novamente:
- Ben, o que a gente fala para esses adultos bobos que ficam envergonhados sem motivo algum? - Perguntei, brincando com o bebê.
- A-dá, a-dá, dá, dá! - Respondeu e sorriu.
- Isso! Concordo totalmente. Menino esperto, o filho de vocês, viu!? - Falei e todos riram timidamente.
Para não forçar muito mais a situação, perguntei onde poderíamos fazer a reunião e Denise nos conduziu até uma mesa circular em sua cozinha, trazendo minha pasta consigo. Sentamo-nos e Ben não queria sair do meu colo. Então fiz algo que sempre funcionava com minhas filhas quando bebês: coloquei uma folha de papel na sua frente e a amassei e ele passou a se divertir sozinho. Marcos não parava de encarar o filho, Denise não parava de me encarar e isso começou a me incomodar:
- O senhor é pai, doutor Mark? - Ela me perguntou.
- Sim. Pai de duas meninas. - Respondi.
- O senhor leva o maior jeito com criança… - Falou e sempre me encarando.
- Obrigado… - Falei, meio constrangido e mudei o foco, passando a bola para a Denise: - Bem, meus caros, marcamos essa reunião porque a Denise pediu a chance de conversar com você sobre alguns assuntos antes de tomarem uma decisão definitiva, Marcos.
Estranhamente, a Denise não parecia mais tão interessada naquela reunião de reconciliação. Vi que ela titubeou por um momento e não tirava os olhos de mim. Eu preferi acreditar que ela olhava para o filho, mas não era essa a impressão que eu estava tendo. Surpreendendo a todos, Marcos se adiantou e tomou a palavra:
- Denise, eu queria te pedir desculpas por todo o mal que te fiz. Eu errei, e não quero procurar justificativas, só errei. Espero apenas que possamos ser bons amigos, pelo Ben.
Ela o olhava nos olhos nesse momento e, na sequência, baixou os seus, olhando para o tampo da mesa:
- Tá tudo bem, Marcos. Aquilo já passou… - Disse, relutante: - Acho que eu também te devo desculpas. Até hoje não sei como fui me rebaixar a ponto de deixar me envolver pelo Antunes…
Ben, à essa altura, havia descoberto minha barba e estava tentando pegá-la:
- Para, menininho arteiro. Papai e mamãe estão conversando… - Falei, brincando e fazendo cócegas, ele se desmanchou em risadas.
Vendo que eles haviam chegado num impasse, tomei a iniciativa novamente:
- Marcos, Denise, antes de prosseguirmos, eu gostaria de perguntar: vocês têm certeza de que não existe espaço para perdão no coração de vocês? Eu sei que há uma ferida e recente, e ela irá sangrar por muito tempo ainda, mas olhem para vocês… - Parei e fiz com que se encarassem: - Existe sentimento aqui. Eu estou vendo e é um sentimento bom, não é, Ben?
Ben não respondeu, mas continuou olhando para os dois, chupando com vontade o dedão indicador direito. Denise se adiantou:
- Você gostaria de tentar novamente, Marcos? Pela gente, pelo Ben?
Marcos a encarava com a mão esquerda sobre a boca, depois passou a olhar para o filho e depois para ela novamente. “Aprende comigo, Santo Antônio!”, pensei. Ele estava cedendo, era clara sua vontade. Quando estava prestes a falar algo, a campainha do apartamento tocou. “Caralho! Bem no fim do ‘round’.”, lamentei para mim mesmo. A campainha tocou novamente e Denise nos pediu licença para atender a porta, levantando-se:
- Marcos?... - O chamei.
- Engolir um sapo desses não vai ser fácil, Mark. - Me falou.
- Está com medo de ser feliz, homem!? A tua mulher está ali, arrependida e louquinha de vontade de te fazer feliz. Engole o orgulho e vá ser feliz com ela e teu filho, não é, Ben? - Insisti novamente e Ben deu uma babada caprichada no meu terno, fazendo-nos rir.
Ao longe, ouvíamos a voz da Denise e, pelo tom, ela parecia surpresa e extremamente incomodada com o interlocutor:
- Não! Me solta e vai embora daqui. Estou ocupada e não posso atendê-lo. - Falou.
- Por favor, Denise. Eu só quero conversar com você. Não quero causar qualquer tipo de incômodo, mas você nunca mais me ligou. Estou com saudade de seu toque, sua boca. - Disse uma voz masculina.
Marcos, de repente, arregalou os olhos, me encarando:
- Não acredito que aquele filho da puta teve a coragem de vir aqui! - Falou e já foi se levantando da mesa.
Saquei na hora que deveria ser o tal Antunes. Marcos se dirigiu até a porta e eu fui atrás. Denise quando o viu se aproximando, se colocou no meio dos dois:
- Marcos!? Mas que surpresa te encontrar aqui? - Falou Antunes: - Eu gostaria mesmo de falar com você sobre tudo o que aconteceu…
- Aconteceu que vou te arrebentar de uma forma como você nunca imaginou apanhar, seu filho de uma puta! - O interrompeu Marcos, já partindo para a briga.
Denise, apesar de alta, não daria conta de segurar os dois. Então, tive que partir para o bom e velho ativismo machista mineiro:
- Parados vocês dois! - Falei em alto e bom tom, sendo ouvido por ambos, enquanto tampava os ouvidos do Ben com a mão e meu peito: - Vocês irão respeitar a casa da Denise, ou irei colocar vocês dois para fora aos pontapés.
Denise me viu ali protegendo seu filho e veio pegá-lo do meu colo:
- Se afasta, Marcos! - Mandei e já perguntei para Denise: - A casa é sua, Denise. Os dois não podem ficar no mesmo ambiente. Quem sai?
- Antunes, sai! - Disse, objetivamente: - E não volte. Nunca mais!
- Mas Denise, por favor, minha querida. Eu te amo!
Eu conheço o poder dessas três palavrinhas juntas, mas o efeito que causou no Marcos, naquele momento, foi diametralmente oposta ao que se espera. Ele partiu para cima do Antunes e lhe acertou um direto de esquerda na altura do olho direito, jogando-o na parede. Eu imediatamente o peguei pelo pescoço e o joguei no outro lado da sala. Sem dar tempo do Antunes entender o que estava acontecendo, o peguei pelo pescoço e pelos fundilhos da calça, e o joguei no hall do elevador, fechando a porta atrás de mim. Marcos ainda veio procurando a briga que eu interrompi, mas fui taxativo com ele:
- Marcos, não! Para agora!
Ele viu que eu não sairia da frente da porta e parou, bufando e me encarando. Denise e Ben choravam no canto da sala:
- Marcos, o Antunes mora neste prédio? - Perguntei.
- Não. Pelo menos, eu acho que não… - Ele me respondeu.
- Não. Não mora. - Falou Denise.
- Então, liga na portaria e peça para o segurança, porteiro ou o síndico expulsar ele daqui! Vai. Agora! - Mandei e ele o fez.
Olhei pelo “olho mágico” da porta e o Antunes estava atordoado no hall do elevador, em frente à porta do apartamento da Denise. Vi quando ele ligou para alguém, mas não consegui ouvir a conversa. Em poucos minutos, dois homens, aparentemente porteiros ou seguranças do condomínio, surgiram no elevador e conversaram alguma coisa com ele, fazendo-o entrar no elevador e o acompanhando:
- Ele já foi. - Eu falei.
Denise e Marcos estavam abalados, nervosos e chorosos. Ben já estava mais tranquilo, alheio aos efeitos nocivos daquela experiência. Entre choramingos, Denise disse que precisava preparar uma mamadeira para o filho e perguntou se poderíamos segurar o bebê. Marcos o pegou e voltamos para a mesa. Denise começou a chorar na pia novamente e eu indiquei ficar com o bebê para ele ajudá-la, mas ele recusou com a cabeça. Fui eu, então:
- Fica calma, Denise. - Falei.
A mulher tremia como uma vara verde em meio a uma ventania. Eu a ajudei no preparo da mamadeira e ela a entregou para o Marcos alimentar o filho. Ela voltou em seguida e pegou alguns quitutes que já estavam prontos num forno e me pediu para levá-los à mesa, trazendo consigo uma jarra de suco:
- Não sei como me desculpar com o senhor, doutor. - Me falou.
- Mark. Somente Mark. Sem doutor e sem senhor, por favor. - Pedi: - E fica tranquila: quem iria imaginar que esse tal Antunes apareceria aqui e logo hoje.
- Ela poderia… - Disse Marcos suavemente, mas causando um grande impacto.
Denise abaixou a cabeça e vi que ele tinha razão. Ele próprio continuou:
- Só entram no condomínio moradores, terceiros acompanhados por moradores ou terceiros autorizados por moradores. - Falou Marcos: - Ele não mora, nem estava acompanhado.
- Marcos… - Falou uma quase inaudível Denise.
- Deixa para lá, Denise. Eu não sei, nem quero saber, que tipo de relacionamento você tem com ele. A vida é sua: faça o que bem entender! - Marcos falou para ela e, então, se voltou para mim: - Eu só quero terminar logo essa história e tocar minha vida, Mark.
- Gente, vocês não querem esfriar a cabeça? Nós podemos continuar amanhã, com mais calma. O que me dizem? - Sugeri.
- Não! Ficou bem claro para mim que eles ainda estão juntos. - Ele disse.
- Não! Nós não estamos. Eu só esqueci de bloquear o acesso dele. Só isso. Eu juro! - Defendeu-se ela.
- Mark, eu te contratei para resolver, então resolva, por favor. - Me pediu: - Ou terei que procurar outro advogado. Apesar de achar que isso não é necessário.
Denise me olhou com os olhos marejados, mas se rendeu ao acaso daquela inesperada visita. Aparentemente havia se convencido de que seu casamento não era para ser. Perguntei, uma vez mais, se eles estavam mesmo cientes dos efeitos do divórcio e se aquela era realmente a vontade de ambos. Os dois me confirmaram. Então, li a petição do divórcio com o acordo então pactuado entre ambos, que confirmaram novamente aqueles termos. Antes que assinassem, fiz uma última tentativa:
- Gente! Vocês se amam. Tá na cara de vocês. Não deixem essa merda do Antunes acabar com a felicidade de vocês que só está começando. Vocês não tem ideia de como serão ainda mais felizes convivendo dia a dia com o Ben. Deem uma chance a vocês. Eu estou pedindo.
Ela olhou outra vez para o Marcos e ele baixou os olhos. Então, ela própria puxou a petição para si, rubricando todas as páginas e assinando a última, empurrando-a para ele na sequência. Ele também a rubricou e assinou. Por mim, teríamos ido embora naquele momento, mas ela insistiu que ficássemos para o lanche que havia preparado e acabamos aceitando. O lanche estava delicioso, mas o tempero moral era indigesto demais. O silêncio no ambiente também militou para prejudicar ainda mais a digestão. Depois de um tempo lá, me despedi dela e saímos do prédio. Marcos era só um rabisco mal feito de um homem empoderado de antes:
- Você vai ficar bem? - Perguntei, preocupado mesmo com seu semblante.
- Vou sim. Tenho que ficar pelo meu filho. - Ele respondeu.
Nos despedimos e voltei para casa. Durante a viagem de volta, Nanda me ligou e eu preferi deixar para contar os detalhes daquela desastrosa experiência para ela pessoalmente. Pelo meu tom, ela já notou que tinha dado tudo errado:
- O filho da puta do Antunes apareceu lá no apartamento dela. - Contei na esperança de fazê-la sossegar com a saraivada de perguntas que me desferia.
- No apartamento dela!? Mas que biscate!... - Ela começou a xingar.
- Para, Nanda! - A interrompi: - Estou dirigindo agora e não quero me distrair. Daqui umas horas chego aí e a gente conversa.
- Tá bom, “Mor”. Você tá bem?
- Só estou chateado, mas fazer o quê, né?
- Vem com calma. Te amo.
- Também te amo.
Durante o trajeto da viagem de volta, não pude deixar de ficar abismado com as coincidências desse caso. Ou aquele filho da mãe do Antunes ficou sabendo da reunião naquele dia e apareceu para atrapalhar tudo, ou o Marcos e a Denise são o mais perfeito exemplo da expressão “vítimas do destino”. Era muito azar! Mas uma coisa me parecia certa: a Denise tinha sua parcela de culpa e, além disso, eu já não sabia se ela era tão inocente assim, afinal havia liberado a entrada do Antunes na portaria e nunca negou estar com eles desde que se separou do Marcos.
Cheguei em casa no início da noite e, longe das meninas, contei tudo para a Nanda. Quase tudo… No final, ela deu de ombros e disse que talvez não fosse para eles continuarem juntos mesmo. Talvez ela estivesse certa, talvez não. A única certeza que eu tinha naquele momento é que eles não iriam se reconciliar, então agi profissionalmente e dei entrada no divórcio judicial deles. Dez dias depois recebi a intimação para comparecer com eles no balcão da secretaria em que se processava o divórcio para que confirmassem a intenção e assim, assinassem a ata de homologação. Os avisei e no dia e hora marcados, lá estávamos nós. Antes de sermos atendidos, tentei uma última vez:
- Marcos, Denise, têm certeza que querem levar o divórcio adiante? Se assinarem a homologação e decidirem voltar um dia, terão que se casar novamente. - E agora frisei: - Não querem se dar mais uma chance de serem felizes juntos?
Eles se olharam por um momento, mas não via aquela intenção que antes percebia no olhar da Denise. Marcos igualmente não se mostrou receptivo:
- Não, Mark. Vamos adiante. - Falou Marcos.
- Concordo. Vamos resolver isso de uma vez por todas. - Ela ratificou.
Os levei até o balcão e a escrivã, a mando do juiz da vara, os advertiu uma vez mais dos efeitos da homologação, praticamente falando novamente o que eu já havia dito. Eles ouviram e ratificaram a intenção de se divorciar. Assinaram então a ata e o ato foi homologado. Quando o formal de partilha e o mandado de averbação estivessem prontos, eu seria novamente intimado e lhes entregaria. Me despedi novamente deles, lhes desejando sorte e sucesso na vida. Marcos saiu antes de mim e Denise porque tinha que voltar para sua secretaria. Denise me convidou para um café numa cafeteria em frente ao Fórum antes de ir embora. Não vi mal algum no convite e aceitei.
Na cafeteria, me pediu desculpas por ter passado por aquele constrangimento dentro de seu apartamento e me agradeceu pela forma como conduzi a situação. Depois me disse que o Antunes voltou a procurá-la, inclusive dizendo que iria processar o Marcos e a mim, mas que ela conseguiu convencê-lo a não fazer isso, porque ele estava no lugar errado, na hora errada e sem convite algum:
- Denise, desculpe a pergunta, se não quiser respondê-la eu vou entender perfeitamente, mas você está ou não com esse Antunes? - Perguntei, objetivamente.
- Não, doutor… digo, Mark. Não estamos juntos. Ficamos algumas vezes, mesmo depois que me separei do Marcos, mas nada sério. Ele é que fica dando em cima de mim, mas eu não quero nada com ele. - Disse e complementou me encarando: - Eu preciso de um homem mais família, bom pai e que saiba valorizar uma mulher de verdade. Tudo o que eu sei que ele não é.
Apesar de eu ter entendido bem a indireta, saí pela tangente, com uma imensa dor no coração, mas saí pela tangente:
- Você é nova, Denise. Logo você encontrará alguém que te faça feliz. Só dê tempo ao tempo. - Falei.
- Eu já encontrei. - Falou, sempre me encarando: - Infelizmente, ele já é comprometido e parece não abrir espaço para uma aproximação.
- Então, talvez você deva partir para outro. Reativar antigas amizades, com certeza você deve ter alguma amiga solteira ou divorciada, não é? Volte a sair, conhecer pessoas. - A orientei.
- É. Talvez… - Respondeu, meio desanimada com minha resposta.
Não sei se intencionalmente ou não, ela resvalou sua perna na minha duas ou três vezes por baixo da mesa enquanto conversávamos. Mas eu já tinha experiência de vida o suficiente para saber que ela estava me paquerando, sutil, discretamente, mas estava. Nessa hora eu lamentei não ter um relacionamento mais aberto ainda com a Nanda, porque, fosse esse o caso, eu teria aproveitado grandes momentos com aquela deliciosa mulher. Coincidentemente, Nanda me ligou naquela mesma hora:
- Alô!? Oi, Nanda. Diga. - Falei, pensando comigo mesmo “salvo pelo gongo”.
- Oi, “Mor”. Vai demorar muito para chegar?
- Nem saí ainda de São Paulo, Nanda. Já terminamos a audiência e agora só estamos tomando um café antes de eu pegar a rodovia de volta. Acho que chego aí em umas três horas.
- Ah, o Marcos tá aí? - Perguntou, curiosa: - Como ele está?
- Está bem, mas não está aqui, não. Ele já foi. Estamos somente eu e a Denise.
- Você está sozinho com a oxigenada?? - Falou e ouvi um xingamento no fundo da ligação.
- Sim. Estamos numa cafeteria ao lado do Fórum, mas já estou de saída, senão vou acabar tendo que dirigir à noite.
- Ahammm!!! Sei… Juízo, hein, “Mor”! Eu sei que já pisei na bola com você antes, mas não faz isso comigo, por favor.
- Tá bom, sua boba. Eu te amo! - Disse e ri: - Beijo.
- Também te amo. Vem com calma na rodovia. Beijo. - Falou e riu: - Comprei lingerie nova…
- Tá. Agora eu volto voando. - Falei e ri na sequência.
Desligamos.
Denise me encarava com olhos ainda mais desejosos. Acho que aquela pequena conversa acendeu de vez sua libido e a inveja de minha mulher, apesar de não conhecê-la estava estampada no seu rosto:
- Mulher de sorte essa “Nanda”. - Falou.
- Acho que ambos temos sorte de nos termos, porque no final é exatamente isso, uma troca, uma complementação, é mútuo, entende? - Respondi.
- Eu adoraria entender se você quisesse me explicar melhor… - Lançou um sorriso sutilmente malicioso que me fez tremer na base.
Para evitar o risco de cair nos braços, boca e demais buracos daquela mulher, decidi encerrar nossa conversa dando a desculpa do “adiantado da hora”. Despedi-me dela formalmente, mas não tive como evitar um abraço e um beijo no rosto que ela fez questão de me dar, acompanhado de um “espero te ver novamente em breve, Mark!”, o que fez os pelos do meu braço se arrepiarem. Dei meu melhor sorriso, a fim de ocultar minha excitação, me virei, xingando-me de vários nomes impróprios, e saí em busca do refúgio de meu carro. Mal entrei no veículo e Nanda me ligou numa chamada de vídeo. Atendi:
- “Mor”, você já tá vindo? - Me perguntou, com olhos preocupados.
- Já, Nanda. Estou dentro do carro. Óóóó… - Disse e mostrei onde eu estava.
- Tá. Desculpa, mas fiquei insegura de novo. - Falou, dando um sorriso tímido.
- Deixa disso, sua boba. Já estou voltando pra você, morrendo de curiosidade de ver sua lingerie nova. - Falei e sorri.
- Vem com cuidado, “Mor”. Acho que você vai gostar…
Desligamos e me coloquei a caminho de casa. O tempo virou de uma hora para a outra e caiu uma chuva torrencial, fazendo surgir um engarrafamento do nada. Ouvindo uma rádio local, soube que o caminho que costumo utilizar para sair da cidade estava inundado. De qualquer forma, não conseguiria fazer nenhum outro por estar preso no engarrafamento. Já passava das oito da noite e Nanda me ligou:
- Já tá chegando, “Mor”?
- Nanda, nem saí de São Paulo. Estou preso num engarrafamento, debaixo de um temporal e acabei de ouvir numa rádio que a saída que costumo utilizar está bloqueada.
- Você tá brincando?
- Não. Não estou. Vou fazer uma chamada de vídeo.
Desliguei a ligação dela e fiz uma chamada de vídeo, mostrando para ela o caos em que eu me encontrava:
- Nossa, “Mor”, e agora?
- Agora, estou tentando pelo menos sair do engarrafamento e vou tentar achar um hotel para ficar. Não vou pegar a rodovia debaixo desse temporal.
- Não, claro. Nem pode. - Ela concordou.
Ficamos conversando mais uns quinze minutos e o trânsito começou a fluir lenta, muito lentamente, mas constante. Consegui pegar uma via secundária e cheguei em um hotel no centro. A avisei onde estava e desligamos. Por sorte, consegui um quarto e pedi um lanche e refrigerante para o serviço de quarto. Nanda voltou a me fazer uma chamada de vídeo, agora com as meninas, e ficamos papeando enquanto eu comia:
- Sacanagem isso! O pai sai para trabalhar e inventa desculpa de dormir fora só para comer lanche gostoso. - Resmungou Maryeva: - Trás um pra mim, viu!?
- Pra mim também. - Gritou Mirian.
- Gente, os lanches daí dão de dez a zero neste. Pouco recheio e fraco de sabor, viu? Não vale a pena. - Rebati.
Conversamos mais um pouco e me despedi delas, dizendo que iria tomar uma ducha e me deitar para sair bem cedo na manhã do dia seguinte. Assim fiz.
Por volta das dez e pouco da noite, estava eu deitado na cama, assistindo a um programa qualquer na televisão, quando ouço um aviso de notificação do WhatsApp no meu celular. Pego o aparelho e vejo uma mensagem da… “Denise!?”. Abro o aplicativo e vejo um cumprimento. Ao perceber que estou online, ela começa a teclar:
Ela - “Será que estou atrapalhando, Mark? Eu posso te ligar outra hora.”
Eu - “De maneira alguma, Denise. Aconteceu alguma coisa?”
Ela - “Não. É que eu queria te pedir desculpas por hoje à tarde. Posso ter te passado uma imagem errada naquele momento e tudo o que eu não quero é perder seu respeito e consideração. Gostei muito de conhecê-lo e gostaria mesmo de manter tua amizade.”
Eu - “Fica tranquila. Não aconteceu nada que te desabone.”
Ela - “Obrigada, então. E peça desculpas a sua esposa por eu estar tomando seu tempo.”
Eu - “Não estou em casa, Denise. Fui pego no meio do temporal e fiquei preso num engarrafamento, ilhado aqui em São Paulo. Daí vim para um hotel e vou embora só amanhã.”
Ela - “Você está aqui em São Paulo?”
Eu - “Sim, mas contra minha vontade.”
Estranhamente ela parou de teclar e imaginei que pudesse ser algum problema com a internet, afinal a chuva não dava trégua lá fora. Já tinha me aconchegado na cama novamente para voltar a assistir a televisão quando ouço meu telefone tocando e vejo que ela tentava agora fazer uma chamada de vídeo para mim. Atendi e se não estivesse deitado, teria caído de costas. Ela estava vestida apenas com uma camisola, com um batom suave em seus lábios e cabelos presos num rabo de cavalo. Aparentemente estava deitada na sua cama e se me apresentava com um lindo sorriso no rosto:
- Não resisti. - Ela disse.
- Como? - Perguntei, atônito.
- Eu não resisti em te ligar. Queria te ver mais uma vez.
- É!? Porque?
Ela ficou em silêncio por um momento, como que procurando as melhores palavras. Claramente estava ansiosa e sua ansiedade a fez criar uma inesperada coragem:
- Porque há muito tempo não me interessava por alguém como estou por você. - Disse, sem nenhum rodeio.
- Denise…
- Por favor, deixa eu falar antes que minha coragem acabe. - Me interrompeu: - Estou louca por você. Sei que você é casado, ama sua esposa, não quer abandonar sua família, mas se você me quiser, hoje eu serei todinha sua.
Fiquei sem reação e devia estar com cara de bobo. Eu até havia sentido um clima de paquera em nosso café da tarde, mas não imaginava que era para tanto. Ela me vendo ali, parado, tomou novamente a iniciativa:
- Se me quiser, basta vir ao meu apartamento agora. Ligo na portaria e já deixo sua entrada autorizada. - Disse.
Como eu continuava abobado com a abordagem, ela se levantou e colocou o celular em algum móvel de seu quarto. Então, se pôs a frente do aparelho e deixou as alças de sua camisola caírem de seu ombro, indo rapidamente ao chão, revelando seu corpo nu, pois já não usava calcinha alguma, revelando sua púbis totalmente depilada e lindos seios médios com auréolas rosadas:
- Denise…
- Mark… - Me interrompeu novamente: - Nunca fiz isso para ninguém! Nem para o Marcos… Eu quero você. Eu preciso de você. Eu preciso de um homem que me faça sentir mulher novamente e quero que esse homem seja você.
- Denise, me escuta. Estou lisonjeado em ter sido escolhido por você, mas eu nunca ficaria com você especificamente no dia de hoje. Por menor que tenha sido, você passou por um trauma, um rompimento na sua realidade com a homologação de seu divórcio hoje. Eu seria um crápula se fosse até você e te tomasse como mulher justamente na data de hoje. Me desculpa, mas eu não posso fazer isso com você.
Ela me lançou um olhar triste e se sentou à frente de seu aparelho celular, cobrindo seus seios com um braço. Meu pau, que estava duríssimo desde o início daquela exibição, começou a amolecer e me vi num dilema, porque também não queria que ela se sentisse rejeitada. Antes que eu pudesse pensar em dizer alguma coisa para tentar amenizar aquela rejeitada que lhe dei, ela falou:
- Você é mais do que eu esperava, Mark, e eu te agradeço por ser um homem de verdade comigo. Acho que nunca tive isso na minha vida e olha que sempre tive meu pai como um bom exemplo. Talvez não hoje, mas um dia ainda serei sua. Me perdoe se eu não desistir de você. - Me falou com um sorriso tímido nos lábios: - Agora vou deixar você descansar. Boa noite, meu amor.
- Boa noite, Denise.
Desligamos em seguida. Voltei a lamentar não ter um relacionamento ainda mais aberto com a Nanda, pois, se tivesse, com certeza eu já estaria a caminho do apartamento daquela deusa de cabelos dourados, mas não podia culpar minha rainha pelas ciladas que enfrentamos na vida. Quem sabe com o tempo, mas o tempo não era agora e eu não iria trair sua confiança.
Voltei a me deitar na cama e agora eu estava inquieto porque a imagem daquela mulher não me saía da cabeça. Assim que encostei a cabeça no travesseiro, ouvi o som de uma notificação e vi que uma nova mensagem da Denise havia chegado. Abri o aplicativo e vi que eram quatro imagens: uma de seus seios, outra de sua bunda, outra de corpo inteiro menos a cabeça e a última de frente para sua púbis com ênfase no seu clítoris, e no final uma mensagem “Para você dormir, sonhando comigo.”
- Essa mulher quer acabar comigo. - Lamentei em voz alta para mim mesmo.
Não aguentei e comecei a me masturbar lentamente com aquelas imagens. “Isso não é trair!”, me convenci. Nesse momento, Nanda me liga numa chamada de vídeo. “É hoje que eu não durmo!”, pensei. Atendi e dei de cara com seu rosto. Ao contrário da Denise, Nanda usava uma maquiagem sedutora, um batom vermelho marcante, havia prendido seu cabelo num coque à altura da nuca, como uma daquelas espanholas típicas. Usava ainda brincos e jóias para completar aquele devaneio:
- Nanda!? O que é isso? - Perguntei, surpreso.
- Shiiiiu!! O corno do meu marido ficou preso numa viagem de negócios. Então, estou liberada para brincar à vontade com você hoje. Pensei em aproveitarmos bem gostoso só nós dois. - Falou e passou a exibir a lingerie nova que havia comprado para aquela noite no vídeo: - Quer brincar comigo, quer? Quer vir me foder gostoso? Bem forte? Como uma putinha safada como eu merece?
- Do que você está falando, Nanda? - Perguntei, meio atordoado ainda.
- “O corno do meu marido ficou preso numa viagem de negócios.” - Frisou bastante, me deu uma piscadinha e continuou: - Você é meu amante, esqueceu??
- Ah, tá. - Falei e ri lembrando que ela é quem havia corrido o maior risco de ser “corna” naquela noite: - Bem… E o que você está com vontade de fazer exatamente?
- Faço tudo o que você quiser. Sou sua amante, mas anda logo porque o corno pode me ligar a qualquer momento. - Brincou, com o sorriso mais malicioso possível.
- É, safada!? E como poderíamos resolver isso? - Perguntei, dando asas à imaginação dela.
- Então, se você estivesse aqui, eu iria dar muito gostoso para você. Iria por uma galhada naquele corno do meu marido que ele nunca mais iria conseguir entrar na minha casa sem abaixar a cabeça. - Disse, passando a língua nos lábios de uma forma quase depravada, encarando a câmera do celular.
- Porque não liga para algum “amigo” ou um “ex” e faz um showzinho de verdade para mim? - A instiguei, brincando.
- Só se eu ligasse para aquele meu “ex” de quem você me roubou, tenho certeza de que ele viria correndo para se vingar de você em minha boceta, talvez até no cu. - Falou, sorrindo: - Na boca, com certeza! Mas infelizmente ele mora fora e não vai dar tempo dele chegar aqui.
- Poxa! Que pena. - Simulei: - E você está muito excitada?
- Muito.
- Louquinha de verdade?
- Pirada na batatinha, “Mor”, digo, comedor, meu macho comedor, meu amante arrombador. - Falou e deu uma gostosa gargalhada, se calando em seguida com a mão na boca: - Quase esqueci que as meninas estão dormindo no quarto ao lado…
Rimos e ela mudou o celular de posição e se deitou na cama. Antes dela fazer alguma coisa, me lembrei de nossas microcâmeras:
- Nanda, você sabe ligar as câmeras do quarto? - Perguntei.
- Não.
Então, expliquei todo o procedimento e ela as ativou. Abri o aplicativo e agora tinha várias belas possibilidades de visão de minha esposa. Falei para ela ficar à vontade que agora eu poderia curtir ela de vários ângulos. Ela sorriu e já pegou o “Cadú”, devidamente encapado e começou a lambê-lo, mamá-lo, sempre gemendo baixinho. A certa altura, ela o pegou e esfregou em seu clítoris, passando a lamber um outro consolo menor que também possui:
- Dois, sua putinha? - Perguntei.
Ela só sorriu para uma das câmeras e passou a fazer uma garganta profunda improvisada neste último, encaixando a cabeça do “Cadú” em sua vagina:
- Ai, “Cadú”, devagar que você é muito grande. Se você me arregaçar, meu corno pode notar e meu casamento acaba. - Falou, rindo, enquanto batia de leve o outro consolo no rosto: - E você, Dinho, para de me tratar como uma puta. Só porque o Mark me roubou de você, não quer dizer que pode me tratar assim.
Dinho ou Edson era o nome do seu antigo namorado, aquele que quase conseguiu abatê-la, mas de quem a roubei sem pestanejar. A safada da Nanda estava fantasiando com seu ex-namorado:
- “Dinho”, Nanda!? - Perguntei e a vi olhando preocupada para uma das câmeras, talvez temerosa por pensar ter extrapolado: - Vai me chifrar com seu ex, sua biscate gostosa?
Ela entendeu a mensagem e continuou sua fantasia:
- Para, gente! Vocês dois não podem fazer isso comigo. Sou uma mulher casada. Me soltem, por favor. Não, “Cadú”! Não faz isso. Ai! Não. Não. Não. - Disse, enquanto forçava o “Cadú” para dentro de sua boceta, para mudar logo depois: - Ai, “Cadú”, quer sabe de uma coisa? Me fode forte. Me faz de puta. Põe um baita chifre no meu maridinho, faz dele um corno, faz!?
Disse e, enquanto fazia aquele consolo entrar e sair de sua boceta, voltou a bater o outro consolo em seu rosto:
- Vem cá também, Dinho. Fode a minha boca. Goza bem no fundo da minha garganta que eu deixo. Quero que vocês dois me fodam forte e ponham uma galhada de respeito do corno do meu maridinho. - Disse e voltou a enfiá-lo todo na boca e movimentá-lo como se ele a estivesse fodendo.
Ficou se masturbando cada vez mais forte e rápido, e, é claro, eu também me masturbava forte assistindo a cena. Em certo momento, resolvi provocá-la:
- Esse Edson não é de nada mesmo! Se fosse eu no lugar dele, já teria enfiado meu pau no seu cú.
Ela parou de chupar o consolo e encarou novamente a câmera:
- O que, Dinho? Quer me foder o cú? Fazer uma DP? Será!? - Disse, colocando um dedo em sua boca, encarando a câmera: - Porque não?
Ela então se sentou de costas para a câmera e passou a rebolar com o “Cadú” enterrado na boceta. Vi que pegou um frasco, provavelmente lubrificante, e começou a passar no rego da bunda, certamente no cú. Depois de um tempo, besuntou o “Dinho” com lubrificante e se inclinou para a frente, dando-me uma privilegiada visão de sua boceta, preenchida pelo “Cadú” e passou a esfregar o “Dinho” no rego da bunda. Passou então a forçá-lo no cú e, com um certo esforço, a cabeça entrou, fazendo-a suspirar fundo. Ela então, ficou um tempo naquela posição, se acostumando e começou a forçá-lo pouco a pouco, mas continuamente para dentro de si. Quando conseguiu enfiá-lo todo, se sentou sobre os dois, pegou o celular e apontou para sua bunda, rebolando. Entendi a ideia e mudei para a chamada de vídeo, porque ela estava exibindo a penetração em “close” pelo celular.
Passou então a subir e descer cada vez mais rápido e fundo, rebolando sobre os dois consolos e assisti-la já estava se tornando um martírio. Ela logo começou a gemer mais, conforme aumentava a velocidade e vi que estava prestes a gozar. E isso era ótimo porque eu também já não estava aguentando mais. Em poucos minutos, ela começou a tremer e vi que estava gozando. Ela se jogou na cama e, não sei como, colocou o celular atrás de si, dando-me uma visão privilegiada daqueles dois consolos dentro dela. Também não aguentei mais e acabei gozando gostoso, sujando todo o meu peito.
Depois de um tempo, ela pegou seu celular novamente e me chamou:
- “Mor”?
- Tô aqui, Nanda, quase morto, mas aqui. - Respondi.
- Você gostou?
- Se gostei? Olha. - Mostrei minha barriga e peito sujos de minha própria porra.
- Hummm. Que delícia! Queria estar aí para te limpar com a língua. - Ela disse.
- Se você estivesse aqui, eu teria gozado dentro de você, bem no fundo. - Falei e a vi sorrindo.
Ficamos deitados, nos olhando pelo celular por um tempo e logo depois ela avisou que precisava tomar um banho, com o que concordei porque eu próprio precisava também. Nos despedimos então com beijos e juras de amor, e como não amar uma criatura dessas? “Denise que me desculpe, mas Nanda é fundamental!”, pensei enquanto me banhava. Dormi naquela noite como um anjo, sem qualquer peso na consciência por ter rejeitado aquela loira escultural.