Procurei esquecer a conversa que tive que Chloé, pois problemas eu já tinha demais em virtude daquela insanidade de transar com Karina no meio do casamento. Trabalhei normalmente na sexta e passei um fim de semana tranquilo. Não havia, claro, clima para cogitar trepar novamente com minha amante, pois ela e Eder ainda estavam em choque com tudo o que ocorrera. Pensei em sair para arrumar um sexo casual, mas a verdade é que eu ainda estava tenso com o que se passou.
Na segunda, após voltar de um almoço de negócios, minha secretária me avisou que havia uma pessoa em minha sala, estranhei, pois não permito que ninguém entre lá sem eu estar presente:
-Por que não mandou a pessoa esperar aqui na recepção como todos? – Indaguei
-Sim, eu pedi, mas a porta estava só encostada e ela já foi entrando dizendo que queria esperar lá dentro.
Fechei a cara, pois independente de ser alguém com quem faço negócios ou um amigo, tal liberdade era um pouco demais, porém quando entrei vi Chloé simplesmente sentada, pernas cruzadas, um braço no encosto do sofá apoiando a cabeça passando a mensagem não verbal de que estava entediada de esperar. Ela usava uma blusinha fina de cor vinho e novamente uma calça jeans, porém branca e apertada. A impressão que tinha quando a olhava é que ela parecia ter saltado de um filme francês do começo dos anos 70 daqueles que só vemos em cines culturais ou na plataforma de streaming Mubi (aliás recomendo aos que gostam de filmes que fujam do basicão hollywoodiano), pois independente da roupa que estivesse usando, seu porte demonstrava uma elegância inquestionável. Antes que eu esbravejasse, ela disse:
-Boa tarde! Já estava achando que esse almoço era, na verdade, outra coisa mais épicé (picante), pois francamente, duas e quarenta?
-Para alguém que preza tanto pela elegância e bons modos, entrar no escritório de alguém sem o consentimento e ainda querer cronometrar o tempo de almoço do mesmo, não seria isso uma falta de etiqueta?
Chloé deu se leve sorriso de canto, se é que dava para chamar aquilo de sorriso:
-Não se zangue, resolvi esperar aqui porque é mais confortável, apesar de très ennuyant (muito chato, entediante), você poderia redecorar isso aqui, móveis novos, uma ou duas obras de arte nas paredes...
-Olha aqui, Chloé, desculpe-me por ser direto, mas acho que não temos nenhum assunto para tratar, muito menos sobre decoração.
Ela se levantou e veio ao meu encontro, ficando a poucos centímetros, eu ainda estava em pé, tenho 1,82m e como Chloé tinha 1,78m e usava bota de salto, ficou com o rosto praticamente colocado ao meu. Com seu ar imponente e arrogante, disse :
-Gosto da sua praticidade, mas temos um assunto pendente sim. Pensou na minha proposta?
Confesso que fiquei intimidado pela proximidade, sentia seu suave perfume invadindo minhas narinas, um leve movimento com a cabeça para frente e encostaríamos os nossos lábios. Afastei-me, disfarçando meu constrangimento e fui me sentar em minha cadeira.
-Por favor, Chloé, novamente essa conversa, entende o quão absurdo isso parece e não falo só sobre o grave fato de você ser a esposa do Alexandre, meu amigo, mas também, que é muito estranho uma mulher linda vir falar que quer transar com um homem comum, quando poderia estalar os dedos na Avenida Paulista ou para ficar mais chique na Champs Élysées e ter qualquer deus grego que porventura estiver passando, se não for uma armação tua e do teu marido, você deve estar querendo fazer uma brincadeira comigo e quando eu cair, me ridicularizar.
-Não se desvalorize, mon chéri, você é um homem bonito, mas como disse outro dia, te achava meio sem sal, porém na pequena amostra visual que tive naquele sábado, percebi do que é capaz. Mas respondendo a sua pergunta, vocês brasileiros não percebem o quanto são contraditórios quando o assunto é a liberalidade de uma mulher, ao mesmo tempo que aqui cantoras e até jovenzinhas que mal entraram na puberdade aparecem a todo momento rebolando quase nuas no Tic Toc como se estivessem em um palco de uma maison de prostitution e vocês acham totalement normal; se escandalizam, se inibem quando uma mulher de verdade, olha nos olhos de vocês e diz: estou louca para você me possuir. Talvez a psicanálise ou a biologia explique isso, o macho quer sempre tomar a iniciativa, achar que é ele quem seduz a fêmea quase como se ela fosse um caça. O mon Dieu, já entramos em um novo século e em um novo milênio há algum tempo, que tal sermos mais objetivos e dizermos logo o que queremos sem rodeios. Pode ser que minha expectativa em relação a você no sexo, se frustre assim que começarmos, certa vez, estava em Montpellier e conheci um homem lindo, já era casada com o Alexandre, mas ele não me acompanhou nessa viagem. Fiquei três dias excite por aquele homem forte, de barba e lindos olhos azuis, um peu rustique (pouco rústico) para falar a verdade, soube depois que era jogador de rugby profissional. Fomos para a cama, eu certa de que seria devorada, mas o que vi foi uma performance de merde. Isso também pode ocorrer com você, de repente, mesmo com todo aquele ímpeto que vi, talvez entre nós, não dê a mesma liga, mas para isso, só experimentando, então chego ao ponto crucial, qual o problema em ser direta?
-Quer dizer que você já trai o Alexandre de longa data?
-Não com a frequência que deveria. Tive alguns encontros casuais, de uma vez apenas, mas não muitos. Fixo, se é que dá para chamar de fixo, só mesmo o Adrien, quando vou a Paris, três ou quatro vezes por ano, passamos bons momentos juntos, mas há algum tempo, as coisas ficaram mais complicadas, ele arrumou uma noiva, então o que você vê aqui na sua frente, é uma bela mulher que tem feito quase nada de sexo, primeiro porque Alexandre e eu estamos em crise e segundo porque sou três exigeant. Bem, acho que minha sessão de análise já está boa, que tal me falar se vai aceitar transar comigo logo ou fazer um pouco mais de charmant, bancando o bom moço?
Mesmo sem saber se o que estava ouvindo era de fato verdade, fiquei com vontade de fazer várias perguntas, por que não se separaram ainda? O motivo da crise? Com quanto tempo de relacionamento Chloé passou a ser infiel, mas era tudo tão absurdo que eu não me via no direito de bancar o jornalista. Vendo que eu fiquei sem resposta, ela decidiu atacar com mais filosofia e ironia que flertavam com seu típico pedantismo.
-Entendi qual é a sua, aliás a sua e a de quase todos os homens, se eu tivesse o procurado com uma carinha triste dizendo que meu casamento não estava bem, que o Alexandre não me amava mais e que me sentia muito sozinha, seria um código para dizer que estou querendo dar para você, mas de uma maneira sutil, você me emprestaria o seu ombro, fingiria me ouvir com atenção, mas já esperando o momento certo para se aproveitar da minha pseudo-fragilité e dar o bote, assim, o teu ego de homem sedutor ficaria plenamente saciado e eu mentiria a mim mesma que não estava pensando em me envolver com você, mas foi um momento de carência, sainte hypocrisie! Isso já devia ser comum há uns 60 anos, mas se for para te satisfazer, eu saio e volto fingindo estar arrasada e pedindo um ombro amigo, foi assim que a Karina fez você deixar o pudor de lado e fodê-la até público?
Apesar da empáfia, havia muita lógica no que Chloé estava dizendo, não sobre banalizar a traição, mas sobre como muita gente (não todos, claro) usa o papinho de reclamar do (a) parceiro (a) como uma isca para que a outra pessoa se faça de conselheira, mas acabe tentando uma aproximação com segundas intenções.
Eu não queria ser o canalha que o próprio Alexandre imaginava, mas pela primeira vez me peguei ali pensando em fazer uma “bobagem”, apesar de não ter nenhum clima de romance, ao contrário, algo bem direto e seco, a beleza de Chloé começava a mexer comigo, fiquei olhando para ela, com cara de paisagem e a mesma, reclamou:
-Quelle decéption! Se eu não tivesse visto o que vi, teria certeza que você é mais banana que o Alexandre e o Eder juntos, vai ver que é por isso que não se casou, porque sabe que seria um cocu (corno em francês) daqueles bem submissos que ligam para a esposa quando estão chegando na esquina para dar tempo do amante fugir e ela correr para fazer una douche.
Levantei-me irritado e fui em direção a ela que seguia em pé:
-Ei! Vai devagar com essas merdas! Você vem ao meu escritório, entra sem autorização, descamba a filosofar sobre modos e costumes e ainda se acha no direito de me ofender? Em meu local de trabalho? Faça-me o favor, miss blasé, vá visitar a Torre Eiffel e me mande um cartão de lá, ou melhor, não mande não. – Disse isso já me encaminhando para abrir a porta.
Com um leve sorriso vitorioso e debochado, Chloé disse:
-C’est vrai (isso mesmo)! Assim que eu quero! Brut!
Abri a porta e fiz com a mão para que ela se retirasse. Vendo minha determinação, ela balançou a cabeça sorrindo como quem diz “Está fingindo”, se virou e pegou sua bolsa que estava no sofá, porém a mesma caiu no chão e quando Chloé se agachou para pegá-la, vi seu bumbum arrebitado marcado por aquela calça branca e sua cinturinha fina, senti um tesão indescritível, não foi só pela visão, mas por todo contexto, a mulher linda e arrogante, as muitas coisas que disse, a frase que soltou ao meu ouvido dias antes na cafeteria, tudo aquilo, me fizeram perder a razão caminhei até ela e a surpreendi com um abraço arrojado por trás, fazendo –a levar um leve susto seguido de um “Ui!”. Senti o cheiro do seu perfume, rocei meu pau em sua bunda, depois a virei e lhe beijei, não houve joguinhos, aquela francesa petulante retribuiu meu beijo com vontade e até me apertou contra o seu corpo. Não pensei duas vezes e alisei seu bumbum, dando uma bela pegada. Após o longo beijo ela colocou seus braços finos e longos entre meu pescoço e me olhou sorrindo.
-Um bom début, mas hoje não podemos fazer nada, além disso. O Alexandre está em casa e quando é para fazer, gosto por horas, vamos marcar.
Comecei a voltar à realidade e a soltei, pensei que aquilo não era certo com o meu amigo, era uma tentação e agora não restava dúvidas que queria mesmo se envolver comigo. Sem querer cortar o barato, perguntei com jeito:
-Ok, você quer marcar um encontro, mas e depois, como ficamos? E o Alexandre?
-Pode ser só uma transa casual e depois cada um segue o seu rumo, se eu não gostar, certamente, será isso.
-Sim, mas e se gostar?
Chloé olhou com certo desdém, voltando ao seu estilo blasé e disse:
-Tem que ser três bien mesmo para me fazer querer ter um caso, me fazer chegar ao orgasmo não é tão difícil, mas me fazer ter O orgasmo, isso é para poucos, mon beau (meu lindo).
Deveria controlar minha língua, já que estava prestes a transar com aquela que seria a mulher mais linda que fiquei, mas não aguentei:
-Fala a verdade, por que você é tão arrogante? É natural ou você treina? Suas amigas não reclamam do seu jeito?
Chloé revirou os olhos como quem diz “De novo isso”:
-Sinceridade choca vocês, brasileiros, talvez porque se fossem sinceros demais se envergonhariam dos valores e ideias retrógradas que defendem, por isso procuram esconder tudo isso com um véu de falsa cortesia.
-Para uma pessoa que se acha culta, não acha que generalizar é perigoso?
-Sem dúvida, nem todos são assim, mas a maioria é, espero que você non, mas vamos deixar de “filosofar” como você mesmo me disse há pouco e vamos para o que interessa. Não me ligue em hipótese alguma, eu ligarei daqui a alguns dias, até lá corra para providenciar um local decente para nos encontrarmos, nem pense em motel, no seu apartamento é arriscado a Karina ver sem bem que ela deve gostar mais de fazer ao ar libre, mesmo assim, arrume outro canto, no último caso um hotel, mas de alto nível, s’il vous plait.
Já estava começando a me encher e quase a mandei as favas, mas Chloé soube virar o jogo sem querer, ao demonstrar que tinha gostado do meu beijo:
-Deixa eu ir, mas antes, me dê um pouco mais da tua boca. – E me beijou com muita vontade chegando a morder meu lábio inferior. Aproveitei e apalpei sua bundinha novamente. Namoramos ali por alguns minutos e a senti ofegante, sinal de que eu estava agradando-a.
-Você é bem chatinha, mas linda, cheirosa, perfeita...
-Serei a melhor, a pior ou talvez a melhor e a pior coisa da sua vida, pode anotar mais essa. – Disse apalpando levemente meu pau por cima da calça e me olhando de maneira desafiadora. Depois, se virou e realmente foi embora.
Parecia que eu tinha tomado uma garrafa de cachaça, estava grogue e com dificuldades para assimilar tanta coisa que ocorreu ali. Já descansando em meu apartamento e com a cabeça mais fria, comecei a refletir sobre me envolver ou não com Chloé. Além da canalhice com o amigo ou seria ex-amigo? Ainda havia grandes chances de eu me foder legal, pois Alexandre era do tipo que adorava andar armado e apesar do casamento deles estar em crise, segundo a esposa, iria querer arrumar confusão das grossas.
Como se já não bastasse, Karina me ligou e perguntou se poderia descer para falar comigo. Estranhei, mas disse que tudo bem, até porque eu estava com uma pulguinha atrás da orelha sobre ela ter falado alto que o Alexandre era um canalha.
Karina entrou e disse que o Eder tinha viajado, na hora pensei que ela estivesse querendo transar, mas antes eu queria tirar minha dúvida, ofereci-lhe uma bebida, mas minha amante disse que não.
-Karina, me perdoe por atropelá-la, mas no dia que contei sobre o que o Alexandre fez, a sua reação chamando-o de canalha me deixou intrigado, não quis explorar isso na frente do Eder, mas há algo oculto entre vocês?
Karina abaixou a cabeça visivelmente sem graça, mas não se furtou em dizer a verdade:
-Bem, esse não é o motivo para eu ter vindo aqui, mas acho justo contar, pois o Alexandre falou tudo aquilo e você segurou o rojão por mim e pelo Eder. Mas me prometa que não contará nada ao Eder.
-Sim, pode dizer.
-A minha história com o Alexandre vem de longa data. Quando meu filho tinha uns, sei lá, três, quatro anos, e vocês estavam terminando ou tinham acabado de terminar o curso da universidade, ele começou a dar em cima de mim, no início sutilmente, com elogios que passavam um pouco da conta, depois se tornou mais descarado e me cantou na cara dura. Mandou e-mails dizendo que era apaixonado por mim desde os tempos em que eu engravidei. Só parou quando ameacei mostrar tudo para o Eder. Só que após vários anos, ele já casado com aquela metida da Chloé, ele voltou a carga, novamente com gracejos, depois dizendo que poderíamos ter um caso, eu fiquei besta porque o homem tinha se casado há o quê? Uns dois anos com uma francesa linda e estava atrás de mim que sou uns quase dez anos mais velha que ela. O Alexandre teve a cara de pau de um dia me abordar numa festa meio alto e dizer que a Chloé era frígida e que nem beijar sabia direito, que só não largava dela porque não queria dividir os seus milhões com uma puta. Pode isso? Chamar a própria esposa de frígida e depois de puta? E ainda voltou a dizer que me amava que tinha um local discreto para nos encontrarmos. Foi por isso que me revoltei aquele dia que você contou que ele deu um show de moralismo e ameaçou mandar te bater, foi por inveja de nos ver e não por causa de qualquer sentimento de amizade pelo meu marido, coitado do Eder, ainda se sentiu feliz pelo amigo ter agido assim.
Ouvindo tudo aquilo, fiquei com uma raiva tão grande que cerrei meus punhos com vontade de esmurrar aquela cara safada dele.
-Mas que filho da puta! Me xingou de tudo o que é nome, quase me agrediu, ameaçou mandar uns caras me quebrarem e ainda fez eu crer que não era digno da amizade dele. E sem contar o mais grave, a canalhice que ele fez por anos, te assediando sem o Eder saber, esse cara tem que pagar e caro.
Levantei-me e passei a andar pela sala nervoso. Karina percebeu e ficou preocupada:
-Por favor, Geovani, não vá fazer nada, pois se o Eder descobrir, as coisas terminarão em tragédia, não quero que nem meu marido nem você sejam prejudicados. Não vá brigar com o Alexandre.
Karina tinha razão, mas minha sede de vingança contra o verdadeiro canalha teria que ser saciada.
-Pode deixar, ele vai pagar pelo que fez, mas não vou procura-lo para brigar, fique tranquila, mas se o safado voltar a te assediar, me avise, temos que parar esse cara e agora ele achando que você trai o Eder, pode querer fazer algo, tipo uma chantagem.
-Não tinha parado para pensar nisso e esse nem é o maior dos problemas.
-O quê? Tem algo mais grave ainda para falar?
-Foi por isso que quis vir falar com você...
-Pode dizer...
-Bem, naquela noite que discutimos sobre o que o Alexandre fez, você e o Eder perceberam quando eu disse que ele era um canalha, mas eu também disse algo que passou batido por vocês : “parece que os problemas mal começaram”.
-E o que você quis dizer?
-Ali, eu estava na dúvida, mas agora tenho certeza, após dois meses com a minha menstruação atrasada, descobri que aos quase 36 anos e com um filho já na universidade, estou grávida, e há enormes chances de você ser o pai...
Aos que estão acompanhando a trama e gostando, peço que deixem um comentário, pois sempre é motivador.