Ao receber a ligação vi que era de Mariana minha secretaria.
Trabalhava comigo já há 12 anos. Casada, mãe de 3 filhos, apaixonada pelo marido.
Era uma verdadeira fortaleza, além disso altamente confiável, alguém que sabia minhas senhas e tinha até chave de meus imóveis. Meu braço direito e esquerdo. Uma das pessoas que eu mais tinha confiança.
Ao atender pedi a ela o que ela queria e ela me disse:
- Pedro me ligou uma mulher aqui e me pediu de você.
Imediatamente pedi:
- Quem era?
E ela me respondeu na hora:
- Ela não quis se identificar, me pediu se você estava e se podia falar contigo. Pedi nome e ela não quis dizer.
Respondi na hora:
- Bom, ela deve retornar depois. Não deve ser nada demais.
Imediatamente ela me disse:
- Pedro, ela falou que era alguém do seu passado.
Na hora pensei em ser Mayara, que a qualquer momento faria isso, entretanto poderia não ser porque ela poderia muito bem pedir a Julia meu número particular e não ligar na empresa.
Nos últimos dias minha tia evitava de me dar informações dela, embora eu sempre tentava saber alguma coisa e lhe questionava a respeito. A ansiedade era elevada.
Seria Carla? Até passou pela minha cabeça essa hipótese, contudo quem iria me ligar era Mayara. Além disso agora? Depois de todo esse tempo?
Procurei desencanar isso da cabeça, sentei, liguei a televisão, achei um programa que eu gostava no Discovery turbo e procurei relaxar.
Minutos depois recebo uma nova chamada, dessa vez era código 048, região de Floripa. Atendi imediatamente e sim, era Mayara.
Imediatamente quando eu atendi ela falou quem era e me disse:
- Demorei demais?
Eu imediatamente lhe disse:
- O tempo necessário.
Ela me disse:
- Sério?
Respondi:
- Confesso que minha ansiedade estava em milhões, mas eu tinha que lhe dar esse tempo.
Ela me respondeu:
- Que bom Pedro. Eu não tinha o seu telefone e esses dias pedi a Julia via mensagem mas acho que ela não reparou ou não quis me passar. Agora pouco liguei a ela e me passou seu número.
Na hora pensei que de fato tinha sido Mayara que ligou na empresa, deve ter ficado com vergonha de pedir o telefone para minha secretária e ligou para Julia. Fiquei tão feliz com a ligação que nem pedi se era mesmo ela que havia ligado, fato que praticamente esqueci depois disso.
Confesso meus amigos que quando vi que era ela nessa ligação, minhas esperanças triplicaram!
Mas eu precisava tentar ocultar meu interesse, se é que fosse possível isso.
Mayara agradeceu:
- Pedro gostaria de agradecer a sua presença naquele dia. O seu abraço foi um ombro que me deu forças para encarar esse luto.
Falei para Mayara após ela agradecer a presença:
- Eu não podia te deixar nesse momento. Você sempre representou muito para mim, a ponto de ser uma pessoa muito importante e que jamais conseguiria esquecer.
Ela de forma curta e grossa, sempre decidida, disse:
- Hum, não esqueceu?
De imediato respondi:
- Se tivesse esquecido tudo o que vivemos, não teria aceitado o convite de Julia.
Após alguns segundos tentando absorver isso ela me pediu:
- Você ainda me ama?
Na hora quase desliguei o telefone de susto, mas não podia disfarçar, Armando viu, meu piloto viu, Julia viu, Mariana viu, a torcida do Flamengo viu e até a ruivinha deve ter percebido ontem o meu sentimento de amor. De pronto respondi:
- Você quer que eu te diga isso pelo telefone?
Ela me respondeu curta e grossa:
- Sim, quero!
Logo emendei:
- Se algum dia deixei de te amar, talvez eu não tenha sido o Pedro.
Imediatamente ela me pediu:
- Eu ainda não estou preparada para nada. Mas eu te peço que você tenha muita paciência.
Eu rebati:
- São quase 20 anos de paciência.
Ela em seguida respondeu:
- Lembra de quando você disse que o que era da gente voltaria para gente?
Eu imediatamente disse:
- Nunca me esqueço.
Ela imediatamente emendou:
- Me dá esse tempo. Sei que é um erro te pedir para esperar mais, sem dúvidas não tenho esse direito, só acho que somos jovens ainda. Podemos mudar tudo e reconstruir tudo o que vivemos.
Eu na hora respondi:
- Eu não quero mudar nada, fomos felizes, nunca brigamos, tínhamos amor, carinho, cumplicidade.
Continuei:
- Com relação a te esperar? Sim eu vou. Farei o que você está pedindo, já te deixei sair da minha vida uma vez e sinceramente não cometerei esse erro novamente!
De forma apaixonada nos despedimos e aquilo me encheu de vida e de esperança!
Abri o ap todo, deixei a luz entrar. Chamei o zelador do edifício e pedi que me mandasse alguma faxineira urgente.
Pedi a ela assim que chegou:
- Limpa esse ap todo, troca roupa de cama, tudo o que for necessário.
Sai dali e fui correr, algo que adorava.
Depois disso, aluguei uma bike e sai pedalar pela avenida Atlântica. Devo ter feito uns 40 km ali na ciclovia, até esqueci de acionar o “strava”.
Por fim cheguei em casa e chorei de alegria. Eu voltei! Era novamente o Pedro!
Não contei a ninguém a respeito. Julia passou o telefone, deve ter buscado as informações com a Mayara. De toda maneira ela já tinha feito muito por nós.
Esperei com a máxima paciência e tranquilidade possível. Na semana seguinte em um dia pela manhã ela ligou.
Atendi e logo falei:
- Oi meu amor!
Ela riu e me disse:
- Quando vamos nos ver?
Eu na hora respondi:
- Agora mesmo, onde?
Ela riu novamente, me pediu calma e disse:
- O meu filho saiu cedo e irá ficar 4 dias nos jogos colegiais em outra cidade.
Ela continuou:
- Te confesso que estava na dúvida se era ou não a hora. Aí pensei, quer saber, chega de fugir. Sei que tua agenda é cheia, mas se quiser estou a disposição.
Eu lhe respondi:
- Isso é bom, muito bom!
Ela emendou:
- Acabei de pedir licença no trabalho, creio que é o tempo que precisamos para desabafar e falar tudo o que precisamos dizer um ao outro.
Pedi a ela:
- Onde? Aí ou aqui?
O local, contudo, foi a indecisão do momento, na cidade dela ficaríamos expostos a família do falecido marido, em nossa cidade a família dela, até que falei:
- Vamos a Balneário, fica a uns 130 km de sua casa.
Continuei:
- É um “campo neutro”, ninguém da sua família e ninguém da minha estarão lá.
Ela na hora:
- Bom lugar Pedro, ganhou alguns pontinhos! Essa cidade é maravilhosa.
Eu lhe falei:
- Eu consigo ir de avião por volta de 14 ou 15 horas. Consegue ir hoje ainda?
Ela respondeu:
- Em minutos já estou com as malas prontas.
Eu logo comentei:
- Que decidida hein! Mas já vou te antecipar que esse caminho é sem volta!
Ela me respondeu:
- Já está querendo apenas uma noite?
Após rir continuou:
- Início da tarde vou para lá, me manda no whatsapp o endereço certinho onde posso lhe esperar.
Combinamos dessa forma e imediatamente avisei ao sindico para encaminha-la ao meu apartamento. Mandei deixar tudo limpo e organizado, desmarquei todas as minhas agendas e fui correndo até lá, ou melhor, voando!
Pousei o avião na cidade de Navegantes e peguei um táxi até Balneário. Fui direto ao meu apartamento, ela já estava lá me esperando, havia me enviado mensagem.
Quando abri a porta vi ela sentada no sofá, linda, exuberante! Como o tempo lhe fez bem. Ela se levantou e passamos a trocar olhares.
Em nossa troca de olhares não foi possível controlar as lágrimas que caiam de nossos olhos. A emoção era enorme.
Imediatamente, sem dizer nenhuma palavra, corremos um em direção ao outro e nos abraçamos.
A emoção do momento era tamanha que palavras foram desnecessárias. O que eu precisava naquele momento era só sentir ela junto a mim.
Aquele foi o dia mais feliz da minha vida.
Me lembrei das palavras do dr. Armando, dizendo que essa era a pessoa que eu amava.
Diferente do dia do velório, ali pude ver que realmente o corpo de Mayara estava perfeito. Ela tinha colocado silicone, dado aquela turbinadinha. Estava linda.
Com as suas mãos juntos as minhas, não consegui evitar e fui com minha boca de encontro a dela, para aquele beijo cinematográfico.
Creio que tenha pego ela de surpresa, que no primeiro momento até tentou desvencilhar e argumentar, mas eu não deixei, agarrei forte e logo senti os braços dela apertando minhas costas e aquele beijo não tinha hora para acabar.
Não acredito que ela esperava esse beijo tão rapidamente, possivelmente ela veio pensando em apenas conversar. Depois de 18 anos o que eu menos queria era papo! A verdade é que ambos precisávamos daquele beijo.
Entretanto, cabe considerar aqui que naquele instante ficamos apenas no beijo.
Tínhamos muito a conversar, a se declarar, debater e até beijar e abraçar. Eu estava com fome, já era quase final de tarde.
Após o beijo ela me olhou assustada e eu imediatamente pedi:
- O que foi? Desculpa se fui rápido demais.
Ela riu e na hora disse:
- Qual é Pedro, você rápido, eu lenta, eu estou aqui, eu vim aqui para isso, para conversarmos e tentarmos nos entender.
Continuando ela disse:
- Tentar recomeçar, não somente nosso relacionamento, eu recomeçar, você recomeçar. Vida Nova.
Pedi a ela:
- Está com fome?
Ela me respondeu:
- Comi um pão de queijo em uma padaria aqui perto. E você?
Na hora respondi:
- Estou só com o almoço no estômago!
Ela me disse:
- Eu não pretendo ficar trancafiada aqui dentro desse apartamento nessa cidade maravilhosa, vamos dar uma volta?
Após o convite fomos caminhar na orla da avenida atlântica.
Com fome parei em uma barraquinha e pedi um milho verde.
Caminhamos bastante, ela ficou surpresa com a altura dos edifícios, os maiores do Brasil. Ela como engenheira civil ficava encantada em ao ver os arranha-céus.
Após caminhar, de mãos dadas claro, conversando sobre assuntos banais, decidimos que era hora de jantar.
Concordamos ir em algum dos excelentes restaurantes ali existentes.
Atravessamos a rua e fomos jantar em meu restaurante predileto, na Avenida Atlântica.
Chegando lá o meu garçom preferido já veio e disse:
- Doutor, mesa para dois?
E eu de cara respondi:
- Sim, mesa grande de preferência.
Ele olhou para Mayara e notou que era algo diferente. Talvez não eram as garotas que eu levava lá, nem as que eu chamava nas mesas.
Mas ele super discreto em momento algum comentou algo.
Ela por sua vez me olhou e disse:
- Você é famoso aqui né?
Me pareceu até um pouco de ciúme em sua expressão. Na hora respondi:
- Você não imagina quanto...
Ela sacou na hora e disse:
- Já trouxe muita mulher aqui ne?
Continuando disse:
- Tia Julia me disse que você tinha virado um legitimo galinha.
Eu falei:
- Intriga da oposição.
Ela rindo me disse:
- Não vou te julgar, só espero que se você quiser mesmo ter algo comigo mude esse jeito.
Eu mais que depressa disse:
- Nunca amei outra mulher.
Ela espantada me respondeu:
- Nem Carla?
Após um silêncio ela continuou:
- Eu vi o escândalo no restaurante aquela vez, parecia que você a amava.
Eu respondi:
- Tem muita coisa que você não sabe... e também não quero falar disso agora.
Após um silêncio continuei:
- Mas respondendo a sua pergunta, falo agora sob a ótica do espiritismo, eu amei muito Carla, mas amei ela em outras vidas, aqui tive um tesão nela.
Ela me olhava surpresa. Eu continuei:
- Sofri quando ela me deixou, mas nunca deixei de amar você.
Ela após um silêncio disse:
- Fico sem palavras.
Eu falei:
- E a proposito lembra da briga? Era por sua causa!
Ela me olhou espantada e eu continuei:
- Eu não reagi bem ao te ver com seu falecido marido no restaurante. Carla notou e deu um piti de ciúmes.
De certa forma essas palavras acabaram emocionando ela. Naquele momento não precisávamos dizer mais nada.
A revelação estava feita e naquele momento cabia apenas falar de coisas banais. E foi assim, jantamos, conversamos e fomos para o apartamento.
Logo que entramos tiramos os sapatos, deixamos nossas coisas como bolsa, celular, carteira sobre a mesa, ela se sentou no sofá e eu fui preparar um uísque.
Sabia que ela gostava, Julia me disse que ela e o marido curtiam um bom rock´n roll e gostavam de Jack Daniels. Liguei aquele som e lhe servi o copo de uísque.
A música que tocava era Patience do Guns N’Roses. Música de nossa adolescência.
Ela no que pegou o copo me respondeu:
- Quer me embebedar?
Eu já devolvi:
- Eu preciso? Para que?
Enquanto isso a música tocava:
“Said: Woman, take it slow
And it'll work itself out fine
All we need is just a little patience
Said: Sugar, make it slow
And we'll come together fine
All we need is just a little patience
Patience”
Após um gole ela me disse:
- Me levar para cama talvez.
Continuando:
- Não era isso que você fazia com as meninas aqui?
Sem delongas olhei fundo nos seus olhos e disse:
- Eu vou transar contigo hoje você sã ou bêbada. Esse copo aí não vai fazer diferença.
Ela na hora disse:
- Será? Eu sou difícil.
Eu ri e ela continuou:
- Você demorou para a nossa primeira vez.
Eu logo emendei:
- Ganhei um pouco de agilidade após esses anos.
Ela imediatamente me respondeu:
- Tanto que lhe rendeu o apelido de caçador de uma noite!
Larguei o copo em cima do aparador da sala e avancei nela, dando aquele beijo maravilhoso, cheio de paixão, cheio de amor!
Continua...