Antes de tudo gostaria de agradecer ao Max, a Julia/Luka, a Fer e a Bia (que mesmo ausente nos últimos dias) sempre me ajudam e me orientam nessa trajetória. Em especial ao Max, meu grande mestre aqui nesse site e a minha amada esposa Joana, que inclusive fez a maior parte deste capítulo.
Continuando...
Pedro sabia que ao aceitar o convite de Julia estava novamente indo de encontro a um de seus traumas do passado. Ao mesmo tempo entendia também que este persistia. Seu psicólogo sempre lhe deixou claro: um problema só passa quando você tirar a limpo.
Durante todos esses anos ele nunca deixou de procurar Carla. Gastou milhões com detetives. Sempre surgiam informações, algumas desencontradas. De certa forma isso era inclusive parte do tratamento. Precisava exorcizar alguns “demônios” e para isso a morena precisaria aparecer, nem que fosse com outro ou que fosse até mesmo seu corpo.
Com relação a Mayara não tinha o que fazer, era casada, bem casada, aparentemente feliz. Se contentava com as informações trazidas pela tia.
Mesmo com vontade de dizer sim ele disse:
- Melhor não tia. Te confesso que não me sinto preparado para este encontro. Vivo um trauma pessoal nesses 18 anos e você sabe, reviver isso é voltar a algo que tento esquecer.
Sua tia o conhecia como ninguém, era a pessoa que mais tinha lhe apoiado nisso. Naquele momento Julia agarrou a sua mão e lhe disse:
- Pedro chega de fugir do passado, você busca esse trauma ao não enfrentar isso, a vida está lhe dando essa chance, cabe você aceitar ou ficar chorando o leite derramado, acorda meu filho, é a vida te chamando e te dando bom dia e você desejando boa noite?
Aquelas palavras mexeram com ele. Após derramar algumas lágrimas ele levantou, deu um abraço em Julia e disse:
- Tia vamos então, fugi durante 18 anos, chega de fugir.
Julia lhe disse:
- Essa é a decisão correta, chega de fugir da vida. Que um novo Pedro surja agora. Mayara está muito mal com isso tudo, com o acidente, internação, foram dias difíceis que tendem a só piorar. Sua presença pode trazer um conforto diferente do que os familiares podem lhe oferecer. É uma esperança que vai abrir em seu coração e no dela.
Mayara sempre contava a Julia sobre os momentos com Pedro, a paz que Pedro trazia ela, o amor que ele lhe dedicava. Foi seu primeiro namorado e seu primeiro homem, a pessoa com quem ela se apaixonara pela primeira vez.
Ela se apaixonou pelo seu marido, ele foi um bom amante e um ótimo marido, mas ela nunca amou ele como amou Pedro, se é que algum dia ela o amou de fato. Existe uma grande diferença entre uma paixão e um amor. Ele precisava entender isso para esquecer de vez Carla e virar a página ou fazer o mesmo com a loira.
Ela era a típica jovem de família, tanto a família do marido como a dela eram bem a favor do “conceito família”, pessoas conservadoras. Era natural que a família pressionasse que o casamento saísse logo.
Mayara sempre tentou postergar, todavia não conseguiu por muito tempo. Sentia algo especial pelo marido e optou em satisfazer as vontades da família. O casamento na igreja, vestido de branco, cerimônia e tudo o que ela tinha direito aconteceu.
Ainda durante a conversa ele disse a tia:
- Não vai ficar ruim eu ali? No meio de toda a família do falecido marido, em frente aos seus pais. Não causaria algum desconforto?
Julia respondeu:
- Não filho, eles nem sabem de você, nem lhe conhecem. Com relação a minha família lhe conhecer e saber da história lhe posso garantir que em momento algum eles ficaram bravos contigo. Acho até que para o pai dela foi uma troca ruim a sua pelo marido, ele gostava muito de você.
Sua tia foi a pessoa que mais lhe deu força quando Carla o abandonou. Nunca saiu do seu lado. Suas palavras nesse momento era a única verdade que ele precisava acreditar.
Depois da conversa acertaram que iriam de avião para o velório do marido de Mayara e ambos foram para casa fazer suas malas.
A viagem foi tranquila, o avião bimotor C90 pertencente a ele era muito bom e confortável. Ele até sabia pilotar, mas tinha um piloto particular, assim como tinha motorista também. Trabalhou duro, construiu um império, podia se dar esses luxos. Depois do sumiço de Carla, ele sentiu a necessidade de aproveitar a vida e assim fez, infeliz até certo ponto, mas uma vida daquelas para ter história para contar.
Além disso, ele passou a frequentar centro espírita... Carla era espírita e apresentou esse mundo para ele. Sempre foi sensitivo, aquele lugar lhe trazia muita paz.
Além das palavras de Julia, o centro trazia paz para Pedro, embora nunca mais se sentiu feliz depois do sumiço, mas pelo menos ele tinha a tranquilidade necessária para fazer sua vida seguir. Ele foi a prova viva de que dinheiro não necessariamente traz felicidade.
No Centro Espírita ele desenvolveu sua mediunidade e junto a outros médiuns se tornou uma referência nisso. Ele tinha dentro de si um forte desejo de vingança e quando isso aflorava nele, o centro espírita era o lugar para onde ele ia, ali ele conseguia encontrar a paz interior que tanto necessitava. Aprendeu a perdoar os outros, embora nunca se perdoou. Além de Dr. Armando, no local conheceu Luka, um médico espiritualista muito bem-conceituado.
Luka era o famoso coroa enxuto, bem-sucedido e com um coração enorme. Grande filantropo da região, ajudava a tudo e a todos. Nunca se casou, embora teve algumas namoradas. Dizia que somente quando encontrasse alguém disposta a ajudar os outros é que realmente ele iria engatar um relacionamento mais duradouro.
Antes de seguir viagem Pedro passou no centro para conversar com o Luka, haviam combinado isso antes ainda dele sair de Balneário.
O centro espírita era gigante, ele investiu muito no local, era um dos idealizadores. Existiam ali diversos trabalhos comunitários e a sociedade em geral reconhecia o trabalho feito por eles.
Luka disse a ele:
- A decisão de voltar ao passado ou encarar o futuro é sua. Voltar ao passado pode te trazer a felicidade que não teve. Pensar no futuro pode ajudar a superar esse trauma que lhe persegue.
Pedro lhe disse:
- E o que eu faço?
Luka na sequência respondeu:
- O que o seu coração mandar. Somos responsáveis pelas nossas escolhas Pedro. Nesse tempo todo em que nos conhecemos e conversamos senti que essa moça era algo que te fazia bem. Eu nunca fugi do que me faz bem.
O médium deixava bem claro que a escolha deveria ser dele, que somos responsáveis por nossas escolhas, entretanto que ficasse bem claro que era hora dele voltar às origens e que o encontro com Mayara iria trazer tudo o que viveu à tona. Mas tratou de aconselhar indiretamente o amigo que não fugisse disso.
Luka continuou dizendo:
- Você pode tentar seguir a sua vida sem voltar ao passado. Faz isso há 18 anos, deu certo? Cabe você avaliar isso também.
Ele absorveu bem aquelas palavras ditas por Luka e foi com Julia ao aeroporto.
O piloto de avião era seu amigo particular, era casado, tinha filhos, vivia pedindo férias. Pedro até certo ponto o explorava. Mas ele era um bom amigo, assim como ele tinha desenvolvido a mediunidade. Max era o nome do piloto, era alto e forte, tão alto que o primeiro avião ele teve que trocar porque o piloto batia a cabeça no teto do mesmo. Um homem com 35 anos, inteligente e era além de piloto, o confidente, o motorista, o segurança e uma espécie de terapeuta de Pedro.
Chegaram no aeroporto em Floripa e de lá foram de carro até a cidade do velório. O falecido engenheiro era de família rica, bem influente na cidade, por essa razão o local estava cheio.
Chegou a hora de falar com a voz de Pedro:
Quando cheguei no velório, sempre junto com a minha querida tia Julia, eu senti um clima pesado e uma energia muito negativa. Talvez este fosse o problema que Mayara estava tão abatida e desolada. Ao chegar no local eu era o Pedro, conhecia algumas pessoas, existiam clientes na região que estavam lá. Cumprimentei a todos e fui até próximo a família.
Iniciei me solidarizando com as irmãs do falecido e seus pais, uma delas era linda e confesso que me deu a impressão de já ter visto ela. Pior de tudo que se fosse quem eu pensava, conhecia até sem roupas. Ela mesma falou o nome Pedro. Será que ela sabia de tudo? Não era possível, tia tinha me dito que ninguém sabia de mim ali. Aí aumentou a impressão de eu já ter conhecido aquela moça.
Os pais e a outra irmã não me conheciam de fato, como eu estava com Julia fui muito bem tratado por eles, embora o clima fosse de muita comoção.
Em um primeiro momento não vi os pais de Mayara e nem seu filho, talvez teriam saído ou ido em outro ambiente para ter uma privacidade. O local era grande.
Chegou a esperada hora, de oferecer minha solidariedade a agora viúva, que estava ao lado do caixão do marido. Ao me aproximar meu coração bateu muito forte. Ao olhar ela, que há tempos não via pessoalmente, meu coração disparou. Não pude deixar de escorrer 1 lágrima do meu olho. Mayara estava com o rosto inchado de choro, mas não pude deixar de perceber que assim como fez para mim, o tempo fez muito bem para ela.
Estava linda, talvez devido a procedimentos estéticos, porem ela parecia a mesma menina que eu conheci e me apaixonei com 16 anos.
Claro que não prestei atenção em seu corpo, apenas aquele olhar rápido, mas notei que estava tudo em cima. Entretanto não era o momento de pensar nisso.
Fato que quando voltei a lhe ver meu coração voltou a se encher de paz, mesmo mediante ao cenário trágico que era.
Após minha tia lhe cumprimentar, chegou a minha vez, não pude negar-lhe um abraço apertado, do qual ela disse a mim:
- Você era a pessoa que eu mais precisava abraçar agora e a que eu menos esperava encontrar aqui, muito obrigado Pedro.
Imediatamente, tomado pela emoção que sentia, falei a Mayara:
- Mesmo que a distância, o meu carinho por ti jamais mudou. Estarei a sua disposição sempre que você precisar, independente do que acontecer.
Ela não riu, mas senti que talvez foi o melhor conforto que ela teve naquele momento.
Minha vontade era de gritar: EU TE AMO! Ninguém consegue ter a noção do que senti ao abraçar ela. Uma paz de espírito que jamais tinha sentido em toda minha vida. A verdade que ali naquele momento eu renasci.
Fiquei ao lado de minha tia até o sepultamento que ocorreu no final da tarde.
Logo em seguida levei tia Julia até a casa de Mayara, que ficaria por lá. Seus pais já estavam lá desde o dia do acidente.
Os sogros não estavam. Antes de sair me despedi de minha tia e dos pais dela, engatei uma conversa rápida com seu pai que estava em frente à casa, enquanto minha tia havia entrado na casa com sua mãe.
Não vi Mayara, não entrei na casa, deveria estar lá com o filho. Entretanto quando estava saindo ouvi um grito dizendo:
- ESPERA PEDRO!
Continua...