No restante do dia, tentei buscar mais informações sobre o assassinato de Alexandre. Na mídia, divulgavam, mas eram notícias curtas, o que deu para entender é que ele estava na calçada entre o seu carro e a praça, conversando com alguém quando levou uma facada certeira no fígado e ficou caído ali mesmo, sangrando até morrer. O crime teria ocorrido no final da noite de domingo e começo da madrugada de segunda.
Em seu velório, Karina, Eder e eu não comparecemos, pois após a confusão na festa, poderia gerar algum conflito com seus familiares, mas Chloé foi e acabou sendo hostilizada por eles, tanto que teve que se retirar.
Nos dias seguintes, a polícia começou a investigar e a briga na festa foi um prato cheio. Várias pessoas que lá estiveram foram chamadas para depor e logo Karina, Eder, Chloé e eu também tivemos que comparecer à delegacia como prováveis suspeitos.
Tratei de responder toda a verdade para não me complicar, não neguei que tinha sido amante de Chloé, que Alexandre assediava Karina e o que ocorreu na festa. Foi um interrogatório duro, com muita pressão e ironias do delegado. Num dado momento, ele chegou a jogar um par de algemas em cima da mesa, mas não tinha porque cair na dele e procurei me manter calmo. Coletaram minhas digitais e uma amostra de DNA e depois fui dispensado.
Após os quatro serem ouvidos, Eder me ligou e disse que precisava realizar uma reunião com a esposa, Chloé e eu. Fiquei preocupado que ele tivesse feito uma merda e fosse nos contar, por isso tratei de ir ao seu apartamento naquela noite. A francesa foi a última a chegar, estava com uma bata florida vermelha e uma calça preta apertada. Até evitei olhá-la, pois me dava um aperto no peito ver tanta beleza.
Sem delongas, Eder, que após a morte de Alexandre descobriu que o canalha assediava a sua esposa, começou:
-Estamos entre amigos aqui e um pode confiar no outro. Vamos ser sinceros, gente, um de nós quatro é o responsável pela morte do Alexandre e mesmo que não acreditem, eu não sou, mas é preciso que quem matou ou mandou matar possa contar com o apoio dos outros três.
Ao ouvirmos aquilo, exclamamos como que não acreditando que esse era o motivo da reunião. Eder continuou:
-Vou começar com a menos suspeita, Karina, meu amor, pode confessar, depois do pilantra do Alexandre te assediar por tantos anos e tentar me humilhar na festa, você decidiu dar um fim nele, não foi?
Karina fechou os olhos e balançou a cabeça como que diz “não acredito que estou ouvindo tamanha bobagem”:
-Sim, eu com esse barrigão aqui saí no meio da noite com uma faca da minha cozinha e matei o Alexandre. Tenha dó, Eder.
Com ar de detetive policial, Eder prosseguiu:
-Você pode ter arrumado alguém. Hoje em dia, não precisa contratar um matador profissional, se prometer dar qualquer trocado para um bandidinho, ele faz o serviço. Mas vamos ao segundo suspeito, depois voltamos a falar nessa hipótese.
-Alexandre, você veio com uma história de que foi para o Guarujá passar o domingo e a segunda para refrescar a cabeça por causa de uma certa pessoa que não falaremos o nome (piscou escandalosamente para mim, como se quisesse esconder que era a Chloé, mas sua palhaçada deixou ainda mais claro que era dela que ele falava) e até se envolveu com uma moça lá de 20, 21 anos. Quem garante que essa história é verdade? Você pode ter descido para a praia de carro, voltado de ônibus e feito o serviço.
Tentando ser paciente, respondi:
-Como eu disse ao delegado, é só pegar as câmeras de segurança do hotel em que fiquei, inclusive passei a noite lá com a moça.
Eder ficou sem resposta. Notei que Chloé se mexeu incomodada, poderia ser para se ajeitar melhor ou porque não gostou de ouvir que eu estava com outra, mas claro que a segunda hipótese era mais um desejo meu do que a porvável realidade.
Eder resolveu “interrogar” Chloé e tive certeza que a palhaçada iria aumentar.
-Bem, e você Grone? Antes de tudo, saiba que serei eternamente grato por preservar a reputação da minha esposa e a minha, mesmo que isso custasse você se expor daquele jeito. Mas Crone, desculpe a franqueza, você tem uma cara de que mataria uma pessoa com toda calma do mundo.
-Oh, mon Dieu. E ainda dizem que eu é que sou chata!
-Ah, entendi! Tá disfarçando para fugir da pergunta, pode falar, nós a ajudaremos, arrumaremos um álibi, conte com a gente, Boi.
Chloé se irritou:
-Você fala o meu nome errado assim só para ser plus irritant, não é? Um dia me chamou de Broa, agora de Boi, fora outras palavras enroladas que são mais difíceis do que se dissesse simplement Chloé. É lógico que eu não matei Alexandre, se fosse assim, o delegado teria me prendido.
Resolvi cortar o show de Eder e expliquei:
-Eder, entenda uma coisa, a polícia nos ouviu porque houve aquele papelão do Alexandre na festa e também porque descobriram que ele assediava a sua esposa. A Karina não iria sair para mata-lo e nem conhece alguém que faria isso, eu estava na praia pouco me fodendo para o Alexandre e essa outra aí, pode não ter coração, mas cérebro sim, seria uma burrice pedir o divórcio, confessar para todos que teve um amante e logo depois matar o marido. Já você, duvido que faria isso, pois tem medo até de tirar um peixe do anzol, me lembro bem do vexame que foi a pescaria no Mato Grosso. Sei que se fosse uma novela seria emocionante que um de nós fosse o assassino, mas estamos falando de uma coisa real, há muitas hipóteses, o próprio delegado disse isso à imprensa.
Eder ficou calado uns segundos e disse:
-Puxa vida! Mas se realmente não foi nenhum de nós, quem foi?
-Isso só a polícia. O Alexandre tinha os seus rolos, negócios sujos e pode ter sido uma coincidência de logo após a festa, o matarem- Completei.
-Mas se fosse gente profissional, teria sido na bala e não com faca. –Emendou Eder.
-Provavelmente, mas isso só esperando as investigações. Bem, se era só isso, vou descendo.
Karina e Eder insistiram para que eu ficasse para o jantar, mas a presença de Chloé me sufocava. Desde o nosso rompimento, a barra estava dura de segurar, muitas vezes, o único momento de paz era quando dormia, pois o resto do tempo era pensando nela. Jamais tinha passado por algo assim.
Alguns dias se passaram e a polícia revelou quem matou Alexandre, como já esperado, não era nenhum de nós quatro, mas também não era alguém ligado aos negócios sujos dele, mas sim, sua própria secretária que confessou que há mais de um ano eram amantes, porém ela engravidou e ele se tornou agressivo verbalmente e fisicamente, querendo que a mesma fizesse um aborto.
No dia fatídico, marcaram de conversar em uma praça perto da casa dele para tratar exatamente dela “tirar” o bebê, porém, a secretária foi com uma faca e após uma discussão em que o canalha novamente tentou lhe agredir, ela o atacou, foi uma única estocada, mas fatal. A polícia acabou chegando à secretária por causa de um fio de cabelo na camisa de Alexandre (tenho sérias dúvidas de que se Alexandre fosse um pobre, se iriam se preocupar em encontrar um fio de cabelo como prova).
O detalhe sórdido que a secretária contou é que Alexandre a fazia usar o mesmo corte de cabelo de Karina e até lhe comprava roupas iguais as que ele viu a esposa de Eder usando para que a amante usasse e durante o sexo, o canalha só a chamava de Karina.
Nas semanas seguintes, as coisas se acalmaram. Soube que Chloé ficou com uma bolada espetacular, pois além da empresa de importação e exportação e dos imóveis, Alexandre tinha milhões em diferentes contas, além disso, muito dinheiro ficou perdido em contas fantasmas que eram dele, porém com o que recebeu, daria para viver luxuosamente pelo resto da vida. Ela decidiu nomear um CEO e diretores para tomarem conta da empresa e estava analisando se iria ou não continuar no Brasil, pelo menos foi o que Karina me contou (elas se tornaram mais próximas após o que ocorreu na festa).
Em uma sexta-feira pela manhã, recebo um telefonema e era Chloé, fiquei muito surpreso, primeiro porque ela nunca era de ligar, gostava de chegar como uma entrona, literalmente, segundo porque não estávamos nos falando.
- Bonjour, Geovani, gostaria de falar com você, em personne, podemos marcar?
-Sobre o que seria o assunto?
-Se fosse rápido diria ao telefone, pode me receber em seu apartamento ou em um restaurant, hoje?
-Decidi me fazer de difícil, hoje não dá, tenho compromisso, se quiser amanhã, pode ser em meu apartamento.
-Très bien. Pode ser após às 14h?
-Sim.
Eu tinha quase certeza de que Chloé viria ainda mais esnobe, achando que iria jogar seu charme para cima de mim e ter mais uma transa antes dela ir para Paris, mas, mesmo doido para tê-la em meus braços, preparei-me para falar um monte de bobagens e enxotá-la. Tal atitude, não me faria esquecê-la, mas certamente faria Chloé sair com seu orgulho infinito levemente arranhado.
Ela chegou no horário, cabelos soltos e com luzes, um vestido sem alça branco na frente e atrás e com uma faixa preta nas laterais. Chloé me cumprimentou sem graça e pediu um copo d’água, parecia tensa, mas finalmente decidiu falar.
-Acredito que você esteja pensando que marquei essa conversa para termos um date très chaud (um encontro bem quente) como foram tantos que tivemos, não é?
-Vindo de você, não seria surpresa, talvez uma despedida antes de ir para a França e ir curtir com seu amante francês, esse sim, deve estar no mesmo andar que o teu.
-De quem você está falando?
-Do cara que você disse que ia sempre se encontrar em Paris. Você me falou isso faz tempo.
Chloé sorriu surpresa talvez por eu lembrar de algo que ela contou vagamente:
-O Adrien? Non, non, já tinha terminado com ele antes de começar com você. Adrien estava noivo e creio que se casou com uma inglesa.
-Isso não me interessa, o ponto aqui é saber se veio atrás de um última vez?
-Non, quero falar algo mais sério, porém seria très important que você se desarmasse dessa rage (raiva) que merecidamente sente por mim e ouvisse, depois irei embora.
-Vamos lá.
Chloé respirou fundo:
-Non pense que é fácil para alguém como eu que você chama como mesmo? Blasé! Dizer isso. Sei que o magoei demais com minhas atitudes, mas queria dar minha version sem drame ou me vitimizar. Já te contei por alto que tenho um problema de alteração do humor, quando mais nova fiz tratamentos aqui no Brasil e na França, mas a verdade é que minha situation não bate com a de nenhum quadro, não chego a ter depressão como é comum em casos assim, ou alterações de euforia e tristeza, por isso fica difícil explicar porque eu seja assim, grossa muitas vezes e sorria tão pouco. Talvez esse meu jeito também seja reflexo do modo atypique com que fui criada, mudando de Paris para São Paulo, de novo para Paris, São Paulo, Brasília non consegui ter amigas, era sempre a novata estranha da école (escola) que queriam fazer bullying por ser alta, magra e calada.
-Entendo que seu mau-humor possa ser incontrolável, mas as ofensas ao telefone, como me rebaixar, dizendo que eu precisaria me enxergar por querer ficar com você, isso não pode ser creditado só ao mau-humor.
-Vou chegar lá, tenha patience. Sabe por que não quero ter filhos? Muitos pensam que é porque não quero perder esse corpo, ficar com os seios caídos e murchos, barriga, mas a verdade é que gostaria de ser mãe, me imaginar com um barrigão como o de Karina e depois cuidando de um bebê, porém sei que meu mau-humor faria mal a criança, eu seria uma mãe horrível, que muda de jeito a cada momento e exatamente para preservar a pessoinha que serria certament a mais important da minha vida é que não quero ter. Acho que isso tem um pouco a ver com nós dois também.
-Como assim?
-Se lembra quando voltamos de Campos de Jordão e eu estava brava no caminho e ainda disse para você non se apaixonar? Era um aviso a você, mas também a mim, na noite anterior, nós dois juntos no sofá, senti algo complètement different do que já havia sentido, seja quando conheci o fils de pute do Alexandre, o Adrien ou qualquer outro. Aquilo me assustou, pois já era terrible chatear alguém que não me importo, imagine magoar alguém que amo e correr o risco da pessoa me dar um au revoir définitive? Juro, queria não te ver mais ali, porque seria brincar com fogo, estava me apaixonando, mas non resisti. Quando eu sumia por dias é porque estava lutando para non te ver, mas daí o desejo me dominava e ia atrás em seu escritório ou aqui.
-E por que você não disse isso naquela tarde aqui mesmo, onde me abri e disse que te amava?
-Porque como expliquei, meu jeito, minhas atitudes fariam você se magoar e se cansar de mim e me dar donner un coup (um chute) e temi qual seria a minha reação de estar apaixonada pela primeira vez e ser abandonada, tive muito medo.
-Não sei, não, e aquele monte de merda que você me falou ao telefone, se não queria me magoar, por que disse aquelas coisas?
-Para protegê-lo! Sei que parece estranho, mas se o fizesse ficar com raiva de mim, você pararia de ficar atrás de mim e quem sabe fosse mais fácil um se esquecer do outro. Acrredite ou non, eu sofri muito quando você parou de ligar, mas no momento em que te vi na festa, vi que o sentimento estava mais forte, senti raiva daquela pequena blond (loira) conversando com você cheio de sorrisos, minha vontade foi dar um... Como vocês dizem: capoeirra naquela tampinha, uma pernada minha era capaz de pegar no pescoço dela. Mas resumindo, queria que entendesse, eu amo você sim, mas assim como será impossível eu ter um filho e não magoá-lo será impossível a gente ficar junto e eu não te magoar ou você simplesmente se cansar do meu mau-humor e querer terminar, é isso que está me fazendo querer ir para a França em definitivo.
Fiquei calado por um tempo e depois disse:
-Essa é a maior besteira que já ouvi!
Chloé se espantou, pensando que eu não tinha acreditado no que ela falou:
-Se você realmente me ama e eu, com certeza, te amo, a gente tem que se acertar. Vamos em busca de terapias, uma, duas, cem, além disso, eu aprenderei a ser mais paciente com o seu mau-humor, se estiver certo que me ama, não me importarei com isso. Você já deu uma prova do seu caráter quando comprou uma briga que nada tinha a ver com você naquela história da Karina e do Eder, e eu sei pelos momentos que estamos juntos, que existe um Chloé que não é só quente na cama, mas carinhosa, boa ouvinte, companheira, inteligente...Temos que tetnar fazer dar certo
Chloé ainda se mostrou muito reticente, porém fui convencendo-a a tentarmos, até que ela cedeu e começamos a nos beijar no sofá. Nos abraçamos por um longo tempo.
-Que saudades do seu abraço, do calor –Disse Chloé
-E eu de você toda.
Seguimos nos beijando e o clima foi esquentando. O vestido dela tinha um zíper na parte detrás e comecei a abaixa-lo, mas seguimos nos curtindo ainda, ficando excitados, minha mão direita deslizava por seu joelho e coxa. De repente, a campainha toca umas três vezes, seguida de batidas forte na porta.
-Abre aí, Geovani, vamos falar do vexame do teu time! –Berrou Eder.
Soltei Chloé dos meus braços, revoltado e disse:
-Não, não, não, eu não tô acreditando nisso.
Chloé me perguntou:
-Posso dar uma broncona nele?
-Deve, mas antes deixa eu erguer o zíper.
Chloé se encaminhou até a porta e quando abriu, Eder já ia fazer alguma piadinha de futebol, quando a viu e ficou sem graça.
-Ô, Vroen, você aqui, é? O Geovani, cadê?
-O Geovani está ocupado pelo menos até segunda-feira, disparaître, disparaître. (desapareça).
-Disparar o quê?
-Vaza! Some!
-Ah, entendi! Querem privacidade, é justo.
Eder começou a caminhar até o elevador, quando Chloé, o chamou
-Eder?
-Sim!
-Vroen, Groen, Boi, Broa é o teu cul.
Ela bateu a porta com força e começou a rir olhando para mim.
Ainda ouvi Eder falando alto.
-A francesa tá uma arara, mas como eu ia saber que ela estava aí, deixa eu contar a nova para a Karina.
Depois disso, pudemos nos pegar como nos bons tempos, com direito a chupá-la muito e transarmos em diversas posições. Voltar a sentir o cheiro e o gosto de Chloé foi demais, mas saber que teríamos uma chance de ficar juntos, foi ainda melhor. Passamos o final de semana todo trancados e fazendo muito sexo pesado.
Passamos a ficar praticamente todos os dias juntos, ou no meu apartamento ou na casa dela. Além do sexo, a companhia de um ao outro estava ótima e seus momentos de mau-humor eram cada vez mais raros, ainda assim, Chloé buscou uma nova terapia.
Pouco tempo depois, Karina deu a luz a uma menina (Gislaine). Alguns meses depois, sem ninguém saber, ela fez um teste de DNA com um fio de cabelo de Eder para ver se havia compatibilidade, a surpresa é que contrariando todas as expectativas, a filha era dele e no dia de seu aniversário, a esposa lhe entregou o resultado do exame, o que o fez chorar muito e propiciar mais uma de suas cenas, bebendo e cantando até de madrugada.
Um ano depois do nascimento da filha de Karina e Eder, eles convidaram Chloé e eu para sermos os padrinhos. Nesse um ano, nós ficamos mais próximos e Karina e Chloé se tornaram grandes amigas.
Meu relacionamento com Chloé nesse um ano foi muito menos tenso do que eu esperava, ver aquele mulherão lindo e um furacão na cama, feliz ao meu lado também no dia a dia, parecia mais um sonho.
Certo dia, estávamos no apartamento de Karina e Eder, quando Gislaine com pouco mais de um aninho começou a apontar com o dedo para Chloé, e Karina perguntou:
-Quem é ela, filha?
E nenê sem hesitar:
-É a Toe...
Fim