AINDA DÁ TEMPO PARA AMAR - CAPÍTULO 11: CELEBRIDADE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 1960 palavras
Data: 16/07/2022 14:56:09

Fazer uma obra é muito difícil. Eu não tinha noção onde estava me metendo. A sorte é que a Lúcia é vivida e me ajudou em todas as etapas. O Henrique arrasou no quesito pintura. Em menos de uma semana, a parte externa da casa ficou pronta e deu uma nova vida ao local. Aproveitei para reerguer o jardim que a mamãe tanto gostava. Eu adorava ficar regando as plantas, principalmente, nos dias quentes.

O Henrique falou que eu preciso me cercar de lembranças felizes. Por isso, quis refazer o jardim. Acho que é algo importante para se ter em casa. As plantas, flores e o contato com a natureza.

Escolhi cores terrosas para a área externa da casa. Aquele branco dava um trabalho danado para manter. Já as grades foram pintadas de verde em um belo trabalho do Sr. Meu Namorado. Nós estamos naquela fase de lua de mel e transamos quase todos os dias. Nem sei como dou conta. Em alguns momentos, o Henry é fogoso demais.

Aproveitei algumas economias para comprar móveis "novos", na verdade, de segunda mão de um brechó e contei com a ajuda do meu namorado para carregar tudo para casa.

As mobílias deram uma cara diferente, principalmente, para a sala e cozinha. Quem gostou do resultado foi Lúcia, que mostrou várias referências que encontrou no Pinterest.

Depois de semanas de trabalho, o jardim ficou pronto. Resolvemos fazer uma festinha para celebrar o final das obras e da decoração. Preparamos alguns quitutes e compramos bebidas para relaxar.

O Henrique me deu de presente uma mesa que vinha com um guarda-chuva. Então, levamos as comidas para o jardim e ficamos conversando sobre vários assuntos, até que algo delicado foi jogado à mesa.

— E os sogrões, já conheceu? — perguntou Alessandra, que estava entregue a vodka.

— Ele não quer, Lê. — revelou Henry tomando um gole de margarita.

— Não é isso. Só não vi uma oportunidade. É simples. — me defendi, mas no fundo era verdade. Eu estava morrendo de medo e não queria conhecer os pais do Henrique.

— Padrinho, vocês estão namorando há meses. Não deveria ter medo. — aconselhou Alessandra se animando quando começou a tocar "Envolver", da Anitta. — Vem. — pegando na mão de Henry, que não se faz de rogado e a acompanha na coreografia.

— Esses jovens de hoje, né? — questionou Lúcia levantando os óculos escuros. — Vai, desembucha. — ela pede.

— Eu tenho 48 anos, porra. — reclamo. — Não sou mais aquele adolescente idiota.

— Primeiro, você nunca foi um adolescente idiota. Segundo, a idade é algo subjetivo, o Henrique te ama, idiota. — aconselhou Lúcia pegando um copo de margarita e tomando.

— E se eles proibirem?

— Jamais, galego. O pai do Henrique não tem uns 300 anos e namora uma ex-modelo? — pergunta Lúcia fazendo uma careta depois que chupou um limão.

— Obrigado pelo apoio moral, quenga. — implico, jogando uma pedra de gelo na direção dela.

As aulas seguiram da maneira mais tranquila possível. Durante uma explicação sobre Aristóteles e a Natureza. Os alunos prestavam atenção na explicação, pois ela faria parte do conteúdo avaliativo. Alguns anotavam em seus cadernos, outros gravavam o áudio. Bem-vindos ao século 21.

— Para Aristóteles, a noção de natureza implica particularidade e diferença...

A minha explicação é interrompida por uma confusão no corredor. Os alunos correm para as janelas que ficam na extremidade da sala. Eles parecem uma manada de mamutes, mas no quesito da fofoca.

Dois estudantes estão se engalfinhando no corredor. Quando eu noto que um deles é o Diogo, irmão de Henrique. Ele está com alguns hematomas no rosto, porém, não desiste da briga. O outro aluno se chama Lourenço, o capitão do time de futebol da escola.

Eu saio e as professoras não se metem na briga. Os dois parecem dois gatos em um embate mortal. O Fábio faz falta nesses momentos, eu não daria conta de apartar a confusão, então, volto para a minha mesa e pego a minha garrafa d'água.

— Ei, seus pirralhos! — eu grito e jogo água neles. — Podem parar de confusão.

Diogo e Lourenço param de brigar na hora. Eles voltam a atenção para mim e percebem que todos estão olhando para a confusão. Eu deixo a garrafa no chão e aponto para a direção da diretoria.

— Para a sala da direção, agora! — ordeno e olho para a minha turma. — Vocês, leiam a página 120. Façam um resumo sobre a ideia de natureza segundo Aristóteles. E agradeçam aos dois baderneiros. Por dois, pagam todos! — gritei de uma maneira dramática e desnecessária.

— Tá vendo, babaca. — reclamou Diogo, que caminhava ao lado de Lourenço.

— Você que é idiota, seu filho da...

— Ei, eu ainda estou aqui. — cortei o Lourenço para evitar mais confusão. — Andem.

— Eu te pedi desculpas, Diogo. — Lourenço soltou, enquanto andávamos na direção da diretoria.

— Obrigado, por acabar com o meu namoro.

— Ele estava te traindo. Te traindo. — Lourenço gesticulou com as mãos.

— Por acaso eu sou uma estátua? — questionei fazendo os dois ficarem calados.

A diretora Alice estava ocupada com uma demanda da prefeitura da cidade. Ela me pediu para lidar com a situação dos alunos. Ótimo. Era tudo o que eu precisava para completar o meu dia.

— Eu estava explicando a bela história do Aristóteles para os meus alunos. E agora preciso dar atenção para os problemas de dois adolescentes bobões que não sabem resolver as coisas sem brigar. — disse, olhando para os lados para ver se não havia outro adulto. — Sentem-se. A secretária está ligando para os pais de ambos. — revirei os olhos. — O que aconteceu?

Os dois começaram a falar juntos, então, tive que pedir ordem e me senti um juiz durante um julgamento. Resumo da ópera? Lourenço descobriu que o namorado de Diogo estava o traindo com um dos jogadores do time e bolou um plano para flagrar os dois. Só que o Diogo não gostou do plano e os dois brigaram.

— Vocês dois, — me levantei e comecei a andar pela sala de reunião. — atrapalharam a aula de todas as classes por causa de uma traição?

— Basicamente. — respondeu Diogo.

— Ele estava te traindo, caralho! — Lourenço gritou.

— A língua. — pedi.

— Tá, — sentei na frente dos dois, mas voltei a minha atenção para o Diogo. — eu sei que é complicado se relacionar, mas Diogo, talvez o Loureço tenha feito isso com boas intenções. — olhando para Loureço. — E você não acha que o Diogo merecia saber a verdade de outra maneira?

— Eu já pedi desculpa, professor. — garantiu Lourenço. — Eu só estava cansado de ver o Diogo ser tratado como um palhaço. Existem outros homens melhores e...

— Mesmo, Loureço, e quem seria, você? — questionou Diogo de braços cruzados. — Porque da última vez que eu te beijei, tú disse que não sentia atração por homens. — a revelação me fez revirar os olhos.

— Eu posso ter mudado de ideia, né? Eu gosto de ti, Diogo.

— Puta merda. — soltei, chamando a atenção dos dois. — Desculpa, digo, vocês tem certeza?

— Claro. — respondeu Lourenço, que levantou e tocou no rosto de Diogo. — Eu gosto de você. Desculpa, por perceber tão tarde.

— Com licença, — a secretária entrou na sala e os dois se afastaram. — os pais deles estão aqui.

— Obrigado, Jesus. — olhei para o céu e tirei um sorriso dos dois. — Vocês deveriam me agradecer, eu vou limpar muito a barra dos senhores.

— Obrigado, professor. O Henrique vai ficar sabendo disso. — garantiu Diogo piscando para mim e sorrindo.

— Eu preciso de mais férias. — murmurei e sai da sala para conversar com os pais.

O caminho para a sala de reunião não é tão distante da secretária. Eu penso em um bom discurso para ajudar os alunos. Desde quando eu virei um professor legal? Bem, seja como for, a sensação não é tão legal. Sou o tipo de pessoa que gosta de ver os alunos sofrerem e pagando pelos seus pecados. Afinal, eles perturbam a minha vida durante os semestres. Nada mais justo.

Ao abrir a porta, eu entro e fico em choque. O Jaime adolescente toma conta de mim. A atriz Julia Guerreiro está bem à minha frente. Você deve estar se perguntando quem é Julia Guerreiro, não é mesmo? Meu Deus. Ela é só a atriz mais premiada do Brasil. Eu não consigo acreditar que estou dividindo ar com a Julia.

— Professor, — o Diogo chama a minha atenção. — o senhor está bem? Quero te apresentar a minha mãe, a dona Julia.

— Claro. — eu minto, pois ainda estou em choque. — então, bom dia. — cumprimento a Julia e um outro pai.

— Podemos saber o que está acontecendo? — questiona Júlia, que usa uma roupa rosa e um óculos escuros.

— Verdade. Eu tenho uma reunião às 13h. — reclama o outro pai, mas eu estou me lixando para ele.

— Na verdade, os alunos se meteram em uma pequena confusão, mas nada para se preocupar. — pegando um documento e entregando para os pais. — Só precisam assinar essa notificação. Uma espécie de aviso.

Eu não posso surtar. Eu não posso surtar. Meu Deus, se a Lúcia estivesse aqui estaria surtando demais. Quantas noites nós não passamos assistindo aos VHS's da Julia? O meu filme favorito é 'A cidade dos sonhos', onde ela interpreta uma moça da roça indo para a cidade grande.

No fim da reunião, eu liberei os alunos e o pai do Lourenço. Na realidade, a Julia ficou enrolando em uma conversa no celular. Eu fiquei igual um idiota na frente dela. Porque eu sou assim?

***

Jaime:

Porque não me contou que a tua madrasta é a Julia Guerreiro?

Henrique:

Bem, eu pensei que você soubesse. Algum problema?

Jaime:

Não. Tá tudo bem.

***

— Então, você é o famoso Jaime? — questionou Julia, deixando o celular de lado e quase me fazendo ter um troço.

— Eu, o que tem eu?

— Você que arrebatou o coração do nosso Henrique? — Julia parecia interessada em mim. O que isso quer dizer?

— Bem, eu não sei se arrebatar é a palavra certa. A gente tá se vendo e...

— Precisamos combinar um jantar. Ele falou que você é fã de comida italiana. Eu sei fazer ótimas macarronadas. — Julia me pegou pelo ponto fraco, a comida.

— Claro. Vai ser uma honra jantar com você. — assegurei.

Eu vou jantar na casa da Julia Guerreiro. Eu sou fã dessa mulher desde os meus 20 anos. O que eu posso dizer dela? Seus cabelos são pretos e tão cheirosos. Ela deve estar perto dos seus 40, mas parece a mesma garota que eu acompanhava pela televisão.

Será que a Julia acha estranho a minha relação com o Henrique. Primeiro, que ele foi o meu aluno. Em seguida, vem a questão da idade. Eu passo o resto do dia me martirizando por decepcionar a minha artista favorita.

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi contar a novidade para a Lúcia. Nem preciso dizer que ela quase me bateu. O motivo? Não consegui um autógrafo da Julia. Consegui tirar uma foto escondido e mostrei para a Lúcia, que relembrou os bons tempos que a nossa única preocupação era assistir novelas e filmes.

— Eu vou jantar com vocês! — exclamou Lúcia, colocando mais tempero no strogonoff, que borbulhava no fogão.

— Mulher, eu não posso sair convidando todo mundo e...

— Boa noite. — Henrique nos cumprimentou ao entrar na cozinha.

— Eu vou jantar na sua casa. — ela anunciou para Henrique, que ficou sem entender. — Tá? — olhando confuso para Lúcia e sentando ao meu lado.

— A tua madrasta me chamou para jantar com vocês. Será que tem problema? — quis saber.

— Claro que não, bebê. E você está convidada. — olhando para a Lúcia que não escondeu a felicidade.

— Ok. Eu vou conhecer os seus pais. — disse, quase como me acalmando.

— Ei, — Henrique chamou a minha atenção e pegou em minha mão. — eles vão te adorar. O meu irmão já é o teu maior fã. Ah, inclusive, obrigado.

— A fruta não cai muito longe da árvore. — brinquei tirando um sorriso do Henrique.

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Comentários

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A maioria das pessoas pode não entender o quão difícil e namorar uma pessoa muito mais nova e precisar encarar os pais em uma apresentação...

A quantidade de questões que se passam em nossa cabeça até que o tão fadado encontro aconteça, o medo de se rejeitado por ser mais velho, a insegurança que nos envolve é tão grande que evitamos este encontro ao máximo.

Infelizmente ainda vivemos um tempo de grandes preconceitos.

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Acabei de maratonar "Felipe e Guilherme" e não consigo parar de chorar. Obrigado por me transportar para lugares e situações tão lindos. Suas narrativas amorosas me fazem viajar por um mundo maravilhoso. Eu amo o amor e sou um eterno sonhador. Muito obrigado. Pra ti desejo paz, saúde e sucesso. Deus te abençoe.

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