O trabalho como garçom de bufê era um bico, apenas para complementar a renda enquanto não finalizava a faculdade. Como era no fim de semana, não atrapalhava o ritmo frenético de estudo. Ainda assim, era um trabalho dispendioso, que com certeza custaria algum tempo de estudo no dia seguinte. Mas, o dinheiro a mais no final do mês compensava as horas de esforço de Gael.
A festa da noite era uma comemoração de uma empresa. Estranhou, já que, geralmente, empresas faziam festas de final de ano ou de celebração por algum ano de funcionamento. Enfim, não era função de Gael questionar os motivos para uma festa (até porque, nem toda festa precisa de um motivo). Ele era responsável por levar as bebidas num setor pré-determinado pelo Roberto, dono do negócio.
De longe, gostava de analisar os convidados e escolher a melhor mesa, baseado em parâmetros próprios que toda ao festa tem que ter; animação, momentos engraçados, pessoas bonitas e diferentes entre si, um certo clima de romance. Basicamente, qual das mesas ele gostaria de estar se tivesse na festa como um convidado.
Aquilo era um exercício mental que ele gostava de fazer para melhorar o próprio serviço. Não que deixaria de atender bem uma mesa que não fosse uma que cumprisse os parâmetros dele. Afinal, segundo as palavras de seu próprio chefe, era o jeito extrovertido e brincalhão de Gael que faziam dele um garçom excelente. Era, na verdade, uma questão de saber aonde ele seria melhor recebido, onde poderia ser um pouco mais expansivo, onde preferiam mais brincadeiras e por aí ia seus pensamentos.
A mesa 42 foi a eleita. Seis pessoas a ocupavam parcialmente; uma adolescente, no alto de seus 12 (no máximo 13) anos, claramente deslocada em meio aos adultos, a qual prestava atenção em tudo que acontecia ao seu redor, digitando em seu celular, disfarçando em sua expressão neutra as piadas que fazia. O casal de pais a pôs no meio deles, enquanto assistiam a festa tal qual a filha, fazendo comentários banais sobre a vida e o trabalho.
Um homem e duas mulheres completavam a mesa. O terno simples o tornava tão memorável como qualquer diretor calvo e grisalho de colégio, capaz de passar desapercebido por qualquer lugar. Mas, graças às duas outras mulheres, suas gargalhadas escandalosas pintavam o rosto do homem de vermelho. A cada risada, ele encostava a testa no ombro de uma das mulheres, como se fosse possível esconder-se. Ela, por sua vez, reagia com naturalidade àquilo.
A terceira mulher era quem chamava a atenção da mesa. O primeiro adjetivo que apareceu na cabeça de Gael quando a viu foi “elegante”. Em meio às gargalhadas escandalosas e as fofocas feitas, ela mantinha suas reações ao mínimo, embora participasse ativamente das conversas. Seu coque estava amarrado displicentemente no topo de cabeça, enquanto as duas franjas rebeldes escapuliam das orelhas, forçando-a recolocar no lugar apropriado sempre que a incomodavam. O vestido verde-menta possuía duas aberturas fatais, na altura das pernas, que prendiam os olhos habilidosos do garçom.
Gael demorava-se toda vez que entregava as bebidas até a mesa, ficando preso na conversas jocosas e brincadeiras da mesa. Havia aprendido o nome de todos, exceto a mulher do vestido verde. A música alta tornava quase impossível a missão. Por fim, quase como se tivesse desistido, ela gritou bem próximo do ouvido do garçom:
— Pode me chamar de Maria!
— Tá certo! Quer que eu busque alguma bebida?
— Sim, um Metropolitan!
Ele assentiu, memorizando os pedidos dos outros da mesa e o nome da moça.
Após auxiliar os colegas garçons na montagem da mesa, Gael permaneceu perto, braços cruzados às costas, sempre atento para qualquer necessidade que algum convidado precisasse, assistindo-os enquanto pegavam as comidas quentes expostas. Não demorou muito para Maria surgir, acompanhada de Ângelo e Giovana, envolvidos em algumas conversa. Ela se afastou rapidamente, dirigindo-se até ele, com uma expressão sorridente. — Gael, o que você me recomenda nessa mesa?
— Eu particularmente gosto muito do ravioli de carne seca ao molho branco. A massa é
feita a mão pelo chef.
— Muito obrigada! — Com sutileza, Maria tomou o braço dele pelo bíceps, aproximando-se do garçom para um cochicho. — Tem uma sala vazia no andar de baixo, segunda porta à direita depois que descer a escada. Pode me encontrar lá daqui a uma hora?
Ele limitou-se a assentir, surpreso com o convite. Assistiu-a retornar até os amigos com a mesma expressão sorridente, ocultando qualquer coisa que pudesse passar por sua cabeça.
Após contar uma hora, o garçom saiu de seu posto, falando para um colega perto dele que iria descansar um pouco. Gael a encontrou, como combinado, no cômodo vazio que ela havia encontrado pelo salão de festa. O beijo de Maria deu uma mostra do que aconteceria em seguida. Pelo cós da calça, ela o puxou para um beijo vigoroso e intenso. Ele respondeu, apertando firmemente os quadris dela, trazendo-a para si.
Salientes, atreviam-se pelas curvas de seus corpos, ao passo que os beijos já não pareciam ser suficientes. A mão suave de Maria, ao deslizar por dentro da braguilha aberta, arrancou um suspiro dele. Ela o tocou brevemente, antes de fazer o convite.
Derrubaram o fatal vestido verde no chão. Apressado, Gael a pôs contra a parede, embriagando-se com o perfume doce que exalava do pescoço de Maria. Ela abriu as pernas, afastando a calcinha, estimulando-se ao passo que o garçom, com as mãos firmes e recheadas, puxava-a para si repleto de necessidade, penetrando-a.
— Mete mais fundo! — Ele obedeceu, diminuindo a velocidade e focando-se em empurra-la em direção a parede. Então, ouviu o primeiro gemido dela, de tom grave, preso e sussurrado, acompanhado de um sorriso afetado, os lábios pintados de vermelhos mordidos delicadamente pelos dentes levemente amarelados.
Maria o conduziu até uma das cadeiras disponíveis para a festa. Gael sentou-se, enquanto ela se aninhava. Ela segurou-o pela base com firmeza, deslizando lentamente, até que suas coxas se encontrassem, enquanto sustentava o olhar afetado dele, reparando o prazer torcendo o rosto do garçom. Então, subiu, ao passo que ele trazia seu rosto para um beijo. — Você me avisa quando for gozar? — O sussurro de Maria saiu cortado pelo fôlego. Gael limitou-se a assentir com um aceno de cabeça, enquanto apreciava o quadril dela movendo-se em seu colo, alternando o rebolar com um sobe e desce.
Atenta ao primeiro sinal do calor tomando a parte superior de suas coxas, Gael avisou. Ele permaneceu imóvel, assistindo curioso aos movimentos de Maria. Ela sentou de lado em sua perna direita, levemente aberta. Um de seus braços passou em volta do pescoço dele. Com a mão direita enrolada pela calcinha levemente úmida, Maria começou a masturbá-lo habilmente, enquanto ele, desajeitado tanto pela posição quanto pelo prazer que sentia, tentava retribuir o movimento no interior de sua buceta.
O orgasmo de Gael foi reprimido por um beijo final, terno e controlado, enquanto ele lambuzava finalmente a mão revestida de algodão rendado de Maria. Ela levantou-se, desvencilhando-se facilmente do enlace, caminhou até o vestido caído no chão, sentindo o olhar do garçom apreciando o seu corpo. Voltou-se para ele, observando-o pela última vez; as coxas grossas e peludas abertas, Gael ainda recuperando-se do sexo voraz.
Atrevida, vestiu orgulhosa a calcinha, fazendo questão de repetir o gesto com o vestido, ignorando eventuais manchas. A expressão hipnotizada dele escondia a preocupação ao vê-la; sabia que o óbvio era ambos nunca mais se verem, mas honestamente, será que aquela seria a última visão que ele teria de Maria?
— Muito obrigada pela noite, Gael!
O cinismo de Maria deu o tom da resposta:
— Eu que agradeço. — “Todo trabalho bem feito tem sua recompensa.” Pensou, enquanto o corpo, exausto pelas horas servindo (sem mencionar aquelas que ainda seriam despendidas para organizar a casa de festa) os convidados e Maria gravava a sensação dela em si.