Para dar mais consistência à versão de que após o evento iríamos para o hotel fazenda, fiz uma pequena mala e fui buscar Raquel que me aguardava na casa de seus pais, ela também estava com uma mala e estranhou ao me ver tão bem arrumado:
-Nossa! De terno e gravata, para que tanta elegância?
-É que terei que falar com uns figurões lá no evento, mas detesto isso.
-Espero que não demore, não vou com a cara desse homem.
“Que cínica”. Pensei.
O evento, que contou com pouco mais de mil pessoas, começou com uma papagaiada religiosa. O grande bispo da igreja fez uma oração com outros pastores em volta e Ori ajoelhado ao centro. O picareta religioso dizia que aquele era o homem escolhido por Deus para administrar a maior cidade do Brasil e que precisava de proteção. Gritaram, pularam, falaram enrolado, fizeram de tudo. Procurei redobrar meus cuidados com a minha carteira, pois com tantos políticos e pastores de araque em um mesmo ambiente, qualquer vacilo e já era dinheiro, cartões etc.
Procurei Camila com os olhos por um bom tempo, cheguei a pensar que ela não apareceria, mas depois a vi quase que nas últimas fileiras, o que me deixou mais satisfeito, pois pegaria os três de uma vez só.
Em seguida, Ori começou o seu discurso dizendo que sempre foi um homem rico financeiramente, mas só quando foi batizado na igreja, realmente sentiu alegria e paz na vida, pois foi tocado por Deus. Ele chegou a simular que estava emocionado, colocando o polegar e o indicador entre o nariz e os olhos fingindo segurar as lágrimas. Vários gritos de Aleluia! Glória! Foram disparados pelo salão. Um dos pastores lhe deu uns tapinhas nas costas como que querendo consolá-lo pela forte emoção. O detalhe sórdido que soube depois é que Ori e esse pastor, na noite anterior, estavam em uma orgia com modelos e cocaína.
Assim que Ori fez seu discurso religioso e político, sendo muito aplaudido, passou a cumprimentar a todos efusivamente, começando pelo grande chefão da igreja e depois pelos demais pastores e caciques da política. Alguns minutos depois, olhei para Paula e acenei com a cabeça. Ela estava linda, com um vestido de gala, cuja cor parecia ora vermelho, ora vinho e que tinha duas faixas que faziam uma espécie de X em seu pescoço dando-lhe um toque ainda mais sensual. Seu pai estava começando a se misturar com os demais convidados no salão, apertando mãos e ganhando tapinhas nas costas. Nesse momento, sua filha se encaminhou para a mesa central de frente para a plateia, pegou o microfone e exibindo um enorme sorriso, chamou a atenção de todos os convidados. Nesse instante, sem dizer nada a Raquel, me afastei dela e comecei a caminhar em direção a Paula.
-Boa noite, gente! Para quem não me conhece, sou Paula Dalares, filha de Ori, futuro prefeito de São Paulo uhurruuuuu!!!
Todo mundo a aplaudiu, mas Ori olhou-a levemente desconfiado, tentando entender já que aquilo não fora planejado. Seu espanto foi ainda maior quando surgi e parei literalmente ao lado de Paula, o que fez o canalha arregalar os olhos e esticar o pescoço como que imaginando que algo muito sério estava por vir.
-Serei bem breve, fiquem tranquilos, mas tinha que compartilhar esse momento com todos vocês e fazer uma surpresa ao homem mais generoso que conheci, meu pai, que além de tudo ainda encontrou a sua fé agora. Por isso, em um dia tão importante a ele, quero lhe dar um grande presente e anunciar aqui, neste momento lindo e com tanta gente de bem presente, que acabo de ser pedida em casamento pelo homem da minha vida e iremos nos casar daqui a três meses!
Imediatamente, peguei a mão de Paula e coloquei uma aliança e ela repetiu o gesto comigo, depois trocamos um selinho. Durante essa cena, o salão quase veio abaixo com intermináveis palmas, assovios e gritos religiosos. Oh! Glória! Aleluia!!!
Peguei o microfone rapidamente e mandei uma mensagem enigmática olhando para Ori, em seguida para Raquel e depois para Camila:
-Dois mil e vinte será um ano de grandes surpresas e mudanças para muitos aqui, aguardem.
Fui aplaudido, mas tirando o trio de safados e a Paula, ninguém sabia o teor do recado que eu estava mandando.
A mãe de Paula foi a primeira a nos cumprimentar e vários outros figurões da política e da igreja foram se amontoando para fazer o mesmo. Ori simplesmente congelou com os olhos arregalados, sem mover um músculo. Sua cabeça deveria estar um trevo, pois além de perceber que sua tola, porém sádica patifaria para me destruir emocionalmente, não só não teria mais nenhum efeito, como ele ainda fora enganado por todos esses meses, pois pelos menos para ele e para as duas safadas, Paula e eu estávamos namorando ao mesmo tempo em que eu fingia estar dividido entre Raquel e Camila. O canalha tinha sido golpeado duramente já que seu sonho era ver a filha se casando com o filho de um banqueiro ou de um mega agricultor ou ainda de um empresáriobilionário, mas ao ver que eu, um fuinha (nunca soube por que ele me inventou esse apelido) e pé rapado, “roubei” sua joia mais preciosa embaixo do seu nariz e a apresentei justamente no dia que era para ser o de sua consagração política, ele sentiu a pancada.
Confesso que achei que Ori tinha tido um treco em pé, pois o canalha ficou parado com os olhos arregalados e fixos em nós. Avisado insistentemente pelo puxa-saco do Palhares para que fingisse alegria, pois os demais começavam a notar, ele passou a bater palmas como um brinquedo mal feito de corda, não havia entusiasmo algum, seus braços se abriam e se fechavam para que as mãos se tocassem de uma maneira estranha, parecia um robô. Mas o pior de tudo era mesmo sua expressão facial, os olhos negros seguiam nos encarando sem piscar e a total impossibilidade de mexer um músculo sequer da face me davam a certeza de que aquilo era coisa de um psicopata que tem seu plano descoberto, precisa disfarçar, mas congela sem saber que cara irá fazer.
Antes que mais pessoas notassem o congelamento de Ori, percebi que discretamente Palhares segurou em seu braço e o forçou a se encaminhar até onde Paula e eu recebíamos os cumprimentos. Seu assessor deve ter pedido que ele voltasse do transe e tentasse sorrir ou a festa para anunciar sua pré-candidatura se tornaria um fiasco monumental.
Raquel estava literalmente de boca aberta, não só pelo nó que lhe dei, mas talvez preocupada em saber se receberia a grana que Ori lhe prometeu em troca da sua prostituição não só física, mas de caráter. Eu sorri perversamente e demoradamente para ela e ainda fiz um sinal com os dedos dizendo que conversaríamos dali a pouco, eu queria esmagá-la e dizer que tinha planos ainda mais duros para ela. Já Camila, simplesmente desapareceu no meio dos convidados. Provavelmente percebeu que aquilo não estava cheirando bem e para não ser exposta junto com os outros dois, picou a mula covardemente.
Ori beijou a filha e lhe disse algo no ouvido que não consegui entender. Em seguida, olhou para a plateia e vendo que todos prestavam atenção nele, me abraçou e cochichou:
-Sempre admirei a coragem dos kamikazes japoneses que iam para uma missão suicida para matar os inimigos, mas o seu gesto, apesar de ousado, não me matou, mas você sim, cometeu suicídio hoje. Dou 24 horas para essa farsa ser desfeita e talvez eu mande apenas quebrar as suas pernas.
Respondi-lhe baixo.
-Calma, sogrão! Essa está longe de ser uma missão suicida, eu ainda nem saquei as armas, considere o que ocorreu hoje como um estalinho de salão, a munição pesada está guardada. Se o senhor não tivesse tentando me destruir apenas por um fetiche de merda e comprado aquelas duas putinhas, eu nem teria voltado a ficar com a Paula, mas agora não só quero que ela seja minha esposa, como ainda quero desfrutar da vida boa que o senhor me propiciará. Agora, se o senhor quiser falar de coisas chatas, posso lhe adiantar que existem provas bem guardadas de uma tal rota da coca para Madri que serão reveladas caso eu ou sua filha soframos um mísero arranhão. Vamos selar as pazes e nos tornarmos genro e sogrão ou prefere pagar para ver e receber a visita da polícia ou pior, do barão das drogas de Minas que está louco para saber quem estragou seu negócio?
Ori engoliu seco, perdeu a cor e arregalou ainda mais seus olhos negros como que não acreditando em como eu tinha conhecimento sobre isso. Ele deve feito menção de me agredir, mas notei que Palhares se postou entre nós e fingiu que nos abraçava também.
-Deixe esse merda para depois, doutor Ori, a porra da imprensa, os bispos, políticos estão todos aqui. Arrume um sorriso postiço e vá falar com eles, caralho!
-Ouça o que o seu lambe botas está falando, sogrão –Disse-lhe rindo debochadamente.
-Eu vou te pegar, seu malandro! Ah, se vou!
Assim que me afastei de Ori, fui atrás de Raquel que apesar do espanto ainda não tinha certeza absoluta se eu sabia do plano sádico do qual ela fazia parte. A cretina estava pálida e talvez para me testar, indagou com a voz trêmula:
-Você pode me explicar que loucura toda foi essa? Me convida para irmos para um hotel fazenda de luxo, dizendo que só precisava passar aqui para fazer um freela rápido, pegar umas declarações dos políticos e anuncia que está noivo da filha desse homem? Que circo é esse, Rodrigo? Então era com essa que você se encontrava quando ia fazer os teus freleas? – Apesar de tentar fingir espanto, Raquel tropeçava nas palavras, tremia e estava prestes a chorar.
-Fala baixo! Você sabe muito bem com que eu estava me encontrando, mas vamos para outro local, acabei de ficar noivo e não pega bem logo após o anúncio do noivado, ficar conversando com uma prostituta.
Raquel arregalou os olhos e eu terminei:
-Já sei de tudo! Do plano doentio montado por Ori com a participação sua e da sua irmã. Ela fugiu, mas se você não me contar como aceitou fazer algo tão baixo, prometo que seus pais, parentes, equipe do seu centro odontológico e amigos ficarão sabendo do quão baixo você e sua irmã chegaram. Não adianta negar, o canalha fez até vídeo de você dando a bunda para ele.
Raquel arregalou os olhos e abriu a boca, ficou tremendamente abalada e parecia não acreditar que Ori tinha feito um vídeo de sexo:
-Você tá maluco, Rodrigo?! Nunca faria um vídeo transando com ninguém, isso deve ser armação...
Ela olhou aflita para os lados, estava quase chorando notando que seu castelo de areia tinha sido destruído por uma onda inesperada. Raquel respirou fundo e disse:
-Tudo bem, há uma história minha, da minha irmã e do Ori e pelo visto não adianta mais esconder.
-Correto. Vamos para um local discreto, não no meu apartamento, porque lá nem você nem a sua clone pisarão. Tem um barzinho aqui perto. Espere um minuto, vou avisar à minha noiva e já volto. Caso tente fugir como a Camila fez, irei atrás e todo mundo saberá, não duvide disso.
A noite seria longa e as revelações também. Raquel e Camila pagariam caro por terem tentado ajudar o sádico no plano perverso. Eu não pouparia esforços para incomodá-las, mas como nem tudo é o que parece, mais mentiras e reviravoltas apareceriam, além de uma descoberta devastadora, uma carta inesperada na manga de Ori para me destruir.
Fim da 1ª temporada
Como adiantei no 1º capítulo dessa saga, talvez houvesse uma 2ª temporada e como fiz em alguns contos, a disponibilizarei aos que tiverem interesse em adquirir por R$ 12,00. São mais de 23 mil palavras divididas em 24 capítulos.
Meu e-mail para contato é: laelocara@gmail.com
Trechos da 2ª temporada
-Encerramos por aqui, safada de merda! Vagabundaaaaaaaa! Desce e pega um Uber, aproveita enquanto ainda tem dinheiro para pagar.
-Era essa a cara que eu queria ver! Era essa! Era Essa! Era Essa! Essa cara mesmo! Puta que pariu! Caralho! Que vontade de tirar o pau para fora e tocar uma aqui mesmo! Essa cara é muito mais chocante e excitante que a dos cornos que eu fiz todos esses anos!
-Pois agora eu quero saber, o que se passa pela cabeça de um homem que vê uma mulher casada e fica excitado, conte que coisas são essas que seria capaz de fazer comigo.
O cara mal acabou de falar isso e me desferiu um murro violentíssimo na boca do estômago que me fez me agachar sem forças para respirar direito.
-Você é a prova viva da minha tese. Veja só, que filha da puta, não? Todo mundo tem o seu preço. Deixou de ser um fuinha e se tornou um carcará safado!
Deixou o pudor de lado e no meio da minha sala começou a desabotoar sua camisa decidida a matar sua sede de sexo e a se tornar uma esposa infiel, os chifres eram mais que merecidos, ressalte-se. Em seguida foi a saia, que tinha um zíper atrás, em alguns segundos, ela estava só de calcinha e sutiã pretos”
“Sem muito rodeio, me disse que estava grávida de dois meses e que eu era o pai.”
“Levei as mãos à nuca não acreditando no que estava vendo. Era um cara moreno claro, baixinho, mas boa pinta. Os dois apareciam abraçados e de mãos dadas em algumas fotos”
“Coloquei-a na beirada da cama de pernas abertas e a chupei sentindo o cheiro maravilhoso da sua boceta que exalava o perfume intenso do primeiro orgasmo”,
“Comecei a rir debochadamente e notei que uma das empregadas, mesmo disfarçando também riu.”
“Mesmo querendo mentir para mim ali, fiquei muito feliz, como eu queria voltar àquele momento, puta que pariu, daria dez anos da minha vida para voltar.”
“-Você acabou de deixar escapar na cama que me ama, não sei por que isso agora.”
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Lista de capítulos
Capítulo I – A hora da verdade para Raquel
Capítulo II – Quando a adrenalina abaixou
Capítulo III – Confusão com os pais das safadas
Capítulo IV – O acordo
Capítulo V – Acertando os ponteiros com o futuro sogrão
Capítulo VI- Vida de bacana em Nova Iorque
Capítulo VII- A trama ainda mais diabólica de Ori
Capítulo VIII- A verdade era bem mais amarga
Capítulo IX- O reencontro
Capítulo X- A sobrinha religiosa de Seu Antônio
Capítulo XI- Luxúria à tarde
Capítulo XII- Frente a frente com Camila
Capítulo XIII- Solidão
Capítulo XIV- O candidato Ori
Capítulo XV- Matando as saudades
Capítulo XVI-A derrocada de Raquel
Capítulo XVII- A maior vingança veio sem querer
Capítulo XVIII- Ela já tem um novo amor
Capítulo XIX- Desejos de uma grávida
Capítulo XX- Karine
Capítulo XXI- O destino do canalha fazedor de cuckolds
Capítulo XXIII- Deixando o orgulho de lado
Capítulo XXIV- A decisão
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