-Vocês não vão acreditar no que eu descobri -disse Kate assim que entramos na delegacia.
-Aqui não - eu a interrompi - vamos para minha sala.
Não podíamos correr o risco de alguém nos ver investigando esse caso. Se a capitã soubesse que tínhamos alguma pista sobre o que possa ter acontecido com Rick provavelmente isso colocaria nossos cargos em risco.
Caminhamos até minha sala, e assim que entramos nela fiz questão de fechar todas as persianas, fazendo com que ninguém conseguisse ver o que conversávamos lá dentro.
-Eu comecei a investigar sobre alguns casos do seu pai -disse Kate para Daniel- e descobri uma coisa. Parece que ele tinha um caso grande.
-O que poderia ser?
-Eu não consegui encontrar nenhum dos casos antigos do seu pai, é como se tudo tivesse sido apagado. -disse ela super empolgada - mas, através de um contato meu da federal eu consegui descobrir que o seu pai já teve um caso contra a prefeitura de Nova York. Parece que eles descobriram que um parque ambiental ia ser destruído para virar um shopping.
-Mas o que isso tem de mais? -Daniel perguntou.
-O que tem de mais? - eu respondi a Daniel - você sabe o quanto isso movimenta na economia da cidade? A prefeitura recebe milhões de dólares.
-Você tá querendo dizer que o assassinato do meu pai pode ter alguma coisa a ver com a alguém do governo?
-É o mais provável - disse Kate - seu pai com certeza descobriu alguma coisa.
-Você achou alguém com quem possamos falar sobre isso? - perguntei.
-Então, é aí que a coisa começa a ficar estranha. - disse Kate - No começo eu pensei estar viajando nas ideias, então pensei em procurar algum colega de trabalho do pai de Daniel, mas todas as pessoas é como se todas as pessoas que trabalharam no consultório de advocacia dele não existissem. Os únicos nomes que eu encontrei já estão todos mortos ou então saíram do país.
-Onde estamos nos metendo? - falei em voz baixa.
-Daniel? -disse Kate - seu pai não tinha nenhum computador? Uma pasta que ele guardava os casos deles? Sei lá, nada que possa ajudar?
-Infelizmente não - ele respondeu - depois que meu pai morreu minha mãe vendeu o escritório dele para um dos seus amigos de trabalho e ele deu continuidade nos casos só meu pai.
-Como assim? -disse Kate pensativa - se alguém deu continuidade aos casos em que seu pai trabalhava, por que motivos eu não consigo encontrar nada sobre nenhum caso dele? Eu precisei de um contato na federal para conseguir um arquivo que ainda por cima é quase impossível de entender pois está faltando várias partes.
Você acha que consegue o nome desse cara que comprou o escritório? -perguntei a Daniel.
-Eu até consigo, só vai ser um pouco difícil tirar essa informação da minha mãe.
-Você acha que ela não te ajudaria no caso do seu pai? -perguntei.
-Eu acho que ela ajudaria, mas vai depender do estado que ela se encontra hoje.
-Desculpa, eu não entendi...
- Minha mãe está internada em uma clínica gente - disse ele evitando nós olhar - ela tem Alzheimer.
Caralho! Eu não podia acreditar mais nessa. Fiquei olhando para Daniel sem reação, eu não sabia como ele aguentava passar por tanta coisa assim sozinho.
-Se você não quiser fazer isso você não precisa - falei para Daniel.
-Relaxa, eu aguento.
-Tudo bem, mas eu vou com você - falei - não vou te deixar fazer isso sozinho.
A sensação de correr contra o tempo era insuportável, e parecia que nada colaborava para que alguma coisa desse certo. Como poderíamos encontrar Rick a tempo? A única pessoa que talvez pudesse nos dar uma pista provavelmente não se lembrava nem do próprio filho, quem dirá do marido.
Já estávamos a dias sem dormir direito investigando esse caso e ainda assim parecia que estávamos em um escuro total. Era como uma dança, e a casa passo que dávamos a frente, algo nos puxava de volta pra trás.
Daniel e eu saímos da delegacia e seguimos em direção ao meu carro em completo silêncio. Eu não fazia ideia do que dizer para ele naquele momento.
-Desculpa, eu não sabia... -comecei a falar mas logo fui interrompido.
-Você não tinha como saber - disse ele tocando a minha perna.
-Você quer me contar? - perguntei.
-É uma história breve - disse ele com lágrima nos olhos - Minha mãe meio que surtou depois da morte do meu pai, durante muito tempo foi apenas eu para cuidar dela e da minha irmã. No começo eu achava que era penas algum trauma pelo que aconteceu com meu pai, mas ao longo do tempo eu comecei a perceber que ela ia piorando cada dia mais, ela começou a sair na rua e esquecer o caminho de casa, começou a perguntar do meu pai a todo o momento e outras coisas. Foi aí que resolvi levá-la ao hospital.
-E sua irmã, onde está?
-Minha irmã mora em outro país, ela também é advogada.
-Você tem contato com ela?
-As vezes ela manda mensagem, pergunta sobre a mamãe. Mas faz muito tempo que não a vejo.
-E você sente falta?
-Muita -disse ele enxugando algumas lágrimas que escorriam em seu rosto - depois da morte do meu pai, eu meio que virei o pai dela, sabe? Eu batalhei muito por ela. Não podia deixar que a morte do meu pai a destruísse assim como fez com a minha mãe. Eu não podia deixar destruir minha família, mesmo que tenha destruído.
-Não verdade não destruiu - falei passando a mão na perna dela enquanto eu dirigia - ela te tornou esse cara que você é hoje. Forte admirável.
-Obrigado - disse ele em voz baixa.
-Mas me conta uma coisa -disse eu tentando mudar de assunto para fazê-lo sorrir - e os namoradinhos?
-Como assim? - ele perguntou com uma cara de confuso.
-Eu preciso saber se eu vou ter muita concorrência né.
-Ora, ora detetive Lucas. Nem parece aquele policial durão que eu conheci no meu primeiro dia.
-Tenho que manter a pose de malvado né? -disse rindo.
-Digamos que não existe ninguém na minha vida até o momento, tirando você.
Seguimos caminho a clínica onde a mãe dele estava internada conversando sobre coisas aleatórias. Eu acho que estava começando a gostar de Daniel.
Às vezes eu me pegava o encarando e pensando em como eu adoraria protegê-lo.
-Chegamos, é bem alí - disse Daniel apontando para uma casa azul.
A casa tinha um amplo jardim na parte da frente onde eu conseguia observar algumas pessoas caminhando, enquanto outras pintavam algumas telas em branco ou então estavam fazendo um trabalho de jardinagem.
-Você quer que eu entre com você? - perguntei a Daniel.
-Sim, por favor -disse ele encarando a casa fixamente - eu não sei como vou encontrá-la hoje. Tem dias que ela está totalmente sã, outros ela ainda acha que eu ainda sou um adolescente, outras vezes ela nem lembra quem sou eu. É bem estranho.
-Fica tranquilo - falei passando a mão em sua perna - estou aqui.
Estacionei meu carro e entramos na clínica onde fomos encaminhado por um dos seguranças até a parte interior.
O ambiente era totalmente agradável. Dentro da clínica eles optaram por uma decoração que me lembrava bastante um hospital, isso porque tudo era extremamente branco, com excessão de alguns quadros que tinham nas paredes, fazendo dar vida ao local.
Nós dirigimos até a recepção onde Daniel se identificou e após alguns minutos de espera um funcionário nos levou até uma área externa na parte de trás, onde havia alguns pacientes sentados conversando, outros jogando jogos de carta e um grupo assistindo duas senhoras jogando xadrez.
Em um canto, uma senhora estava plantando orquídeas no canteiro, e foi pra lá que Daniel se dirigiu.
-Mamãe - disse Daniel se aproximando dela.
-Oh meu filho! - disse a senhora dando um abraço nele - cadê sua irmã? Já chegou da escola?
Percebi que Daniel pensou em dizer a ela a verdade, mas acabou preferindo acreditar na verdade dela.
-Ainda não mamãe, daqui a pouco ela estará aqui. -disse ele - aliás, esse é meu amigo, Lucas.
-Um colega da escola? Quanto tempo você não traz alguém aqui! Ele vai ficar para o jantar? Seu pai chega de viagem hoje!
-Mamãe... - antes que Daniel pudesse dizer qualquer coisa eu o interrompi.
-Claro, eu adoraria. Prazer, me chamo Lucas. - disse estendendo a mão para ela.
-Oi Lucas, eu me chamo... -ela ficou me olhando pensativa - me chamo...
-Helena - disse Daniel.
-Sim, sim - disse ela coçando a cabeça - a minha memória as vezes falha. É a idade né?
-Claro, às vezes também me esqueço das coisas - respondi sorrindo.
-Mas e aí mãe, papai está viajando com o sócio dele? - Daniel perguntou.
-Sócio? Seu pai não tem sócio, ele ainda nem abri o consultório de advocacia dele meu filho!
Naquele momento percebi que seria uma viagem perdida, a mãe de Daniel estava em um loop da infância deles. Para ela Daniel ainda era uma criança, sua irmã ia chegar da escola e o pai dele estava em uma viagem.
-Quanto tempo você não vem vê-la Daniel? Me diz a verdade. - sussurrei no ouvido dele.
Neste momento pude ver uma lágrima escorrer do olho dele enquanto a observava mexer nas orquídeas.
-Desde que entrei na polícia de Nova Iorque. É difícil arrumar tempo quando...
-Não precisa se explicar - falei dando a mão a ele - esquece tudo, só aproveita esse momento.
-Me diz dona Helena, esse menino apronta muito? - perguntei a mãe dele.
-Ah meu filho! É coisa da idade né? Mas sei que ele é o melhor filho adolescente que eu poderia ter.
Ficamos um bom tempo conversando os três. Eu podia perceber que as vezes a mente da mãe de Daniel falhava muito, e durante muitas vezes ela repetia a mesma coisa a todo momento. Já havia passado cerca de 1h e o horário da visita estava acabando, teríamos que ir embora.
-Mãe, nós vamos ter que ir embora, mas eu te prometo que brevemente estarei de volta -disse Daniel a ela.
-Claro meu filho, claro! Você volta antes do jantar?
-Sim, nós voltamos.
Daniel deu um abraço bem apertado nela, um abraço tão forte que parecia que ele estava prevendo alguma coisa, como se nunca mais fosse a ver.
Quando estávamos indo embora a mãe de Daniel o chamou.
-Meu filho? - disse ela nos fazendo olhar para ela - só queria te dizer uma coisa - ela disse aproximando-se.
-Pode falar mãe.
-Se esse rapaz for algo mais que seu amigo, quero que saiba que eu e seu pai te apoiaremos em qualquer coisa que escolha, ok. - disse ela olhando nos olhos dele - você é o filho que eu sempre pedi em minhas orações.
Naquele momento eu já estava me segurando agora não chorar, eu queria tanto ter tido esse apoio da minha família.
Olhei para Daniel e pude ver as lágrimas escorrendo em seus olhos.
-Ok mãe - disse ele abracando-a.
-A senhora tem o melhor filho do mundo - falei - acredite nisso.
Após um longo abraço de Daniel em sua mãe seguimos em direção ao carro novamente. Estávamos quase chegando quando meu telefone começou a tocar de maneira insistente.
-Detetive Lucas - falei colocando-o no ouvido.
-Lucas, é Rick, eu não tenho muito tempo.
-Rick? Onde você está?
-Eles podem voltar a qualquer momento, eu não sei onde estou ainda, eu vim vendado em um carro mas eu tentei organizar as direções que vim.
-Me passa a coordenada - falei.
-Eu posso estar errado e ser um tiro no escuro, mas seria mais ou menos 2° 55' 44'' 44° 5...
-Rick? Rick?
A ligação caiu.