A turnê já estava chegando em seu terço final. Subimos o litoral até Guarapari e retornamos seguindo pelo interior do Espírito Santo e Minas Gerais. A turnê pelo interior já se mostrava não tão boa quanto a parte no litoral. Enquanto as cidades litorâneas estavam infestava de bicho-grilos e outras patotas que prestigiaram o som d'Os Alquimistas, o interior já havia muita gente simples, camponeses em sua maioria, conservadores em sua maioria, e que achavam toda aquela gente imunda e lelé-da-cuca demais.
Além disso, enfrentávamos um momento de desgaste, de todo o grupo como um todo. Já estávamos a mais de 20 dias na estrada, cansados e um pouco irritados, o cenário dos shows apenas piorava uma situação que já estava indo de mal a pior. Ainda assim, Betty Boop, Maria Fumaça e Jessy Jane, junto dos garotos, tentavam manter o astral em dia, mas havia algo na banda que não parecia certo.
Com o passar dos dias, aproveitei as longas horas na estrada para entrevistar a banda. A começar por Jeremias 'Dedos Ágeis'. Jeremias já tentava deslanchar sua carreira há mais de dez anos, a maior parte deles atuou como músico de apoio. Trabalhou com muita gente boa da Jovem Guarda, como os próprios Roberto e Erasmo, mas nunca teve o seu talento reconhecido.
Com a chegada do movimento psicodélico, Jeremias encontrou um novo jeito de fazer música que fez sua mente se expandir. Ele então fez uma banda com Zé Délio e 'Gato' Félix, chamada Mundo Novo, em homenagem a Aldous Huxley. Porém, a gravadora viu apenas em Jeremias o talento nato para ser músico. Com isso os apresentou a João e Manuela, que faziam uma dupla de músicas tropicálias. A combinação, apesar de parecer sem sentido, acabou funcionando perfeitamente. A gravação do primeiro álbum foi estupenda e as vendas foram boas o suficiente para financiar a turnê.
No entanto, apesar de tudo, sentia na forma como Jeremias falava que ele não se sentia acomodado com aquilo tudo, como se ele quisesse seguir o seu próprio caminho. Mas talvez o que o mais impedisse ele disse era o seu vício no álcool. Durante toda a entrevista, enquanto ele me contava sua história, Jeremias bebeu 3 garrafas de cerveja. Ele possuía um jeito bastante peculiar ao beber: girava a garrafa com os seus dedos, fazendo o líquido lá dentro rodar. Depois levava a garrafa por um segundo até o seu nariz para sentir a fragrância e depois finalmente dava um gole, como se fosse um Sommelier de cerveja, mas tudo parecia não passar de um TOC.
O segundo foi João dos Reis. João nasceu na Tijuca, um bairro bastante boêmio da cidade do Rio. Ele acompanhava o seu pai todas as noites, quando o mesmo ia tocar seu violão nos bares da cidade. Porém, do que ele gostava mesmo era do batuque do pandeiro, o som da cuia e a batida do atabaque. Ele começou como percussionista na Unidos da Tijuca, mas mudou quando descobriu a magia da bateria nas mãos de Elvin Jones e Art Blakey.
João conheceu Manuela em um bar na Lapa, enquanto ela cantava uma versão de Corcovado de Tom Jobim, como nada mais do que uma pequena harpa em sua mão. Aquilo o fez se encantar de vez por ela (até eu na minha imaginação já estava encantado). Ele tentou se aproximar dela, primeiro romanticamente, mas ela foi jogo duro até ele desistir. Mesmo assim, ele ficou ao seu lado e formaram juntos uma dupla para tocar Jazz e Bossa Nova juntos. Até então conhecerem a gravadora Banguela Records, que os apresentou ao rock distorcido e psicodélico de Jeremias 'Dedos Ágeis'.
– Sabe o que eu tava pensando? – Indagou ele, no meio da entrevista. – Acho que eu deveria mudar de nome. João dos Reis é muito simples, muito comum. Ninguém vai se lembrar de um cantor que se chama João dos Reis.
– Então como você gostaria de se chamar? – Perguntei a ele.
João levantou os braços no ar e olhando para cima ela os abriu, como se visualizasse o seu novo nome em algum outdoor de teatro.
– Joe King! Como os grandes músicos de Jazz. Eles não vão nem saber que eu sou brasileiro. Eu só vou tocar e o público vai ao delírio.
– Bem, se me permite dizer, eu gosto do seu nome. Acho que ele tem a simplicidade que é necessária para dar um respiro à extravagância d'Os Alquimistas.
João deu um trago no cigarro antes de sua próxima fala.
– Você é muito bom com as palavras, hein. Essa é realmente a sua primeira matéria? – João riu de canto de boca. – Bem, talvez eu não queria ser a simplicidade, ou o alívio da extravagância. Talvez eu queira ser a extravagância em si.
Por fim, faltava a entrevista de Manuela, mas eu ainda estava nervoso demais para fazê-la. No terço final da viagem, descobri que nutria um sentimento por ela durante todo esse tempo, e que agora explodia em meu coração. Só de olhar para ela já o fazia disparar. Ela era mais do que linda, ela era a garota mais interessante e talentosa que eu já conhecera na minha vida. Uma garota que não tinha medo de falar de assuntos complicados, como política internacional, astronomia ou maoísmo sem vergonha. Dona de uma das vozes mais lindas que eu já ouvi, e de um talento surreal. Em uma banda onde todos pareciam querer se destacar mais que os outros, ninguém era páreo para ela. Com sua simplicidade e genialidade, Manuela roubava a cena em todos os shows, mesmo que tocássemos para meras vinte pessoas, ela sempre dava o seu máximo, e isso me encantava, nesse seu profissionalismo pela música, sem perder a sua essência rebelde.
Mas não era capaz de expressar o que eu sentia. Sequer sabia se ela gostava de caras tão caretas como eu, embora o último mês tenha sido o menos careta de toda a minha vida. Sequer sabia se ela gostava de caras, a princípio. Tudo isso me deixava frustrado e ansioso, por não saber se poderia algum dia tê-la para mim.
Por este motivo, decidi me afastar um pouco, evitar me sentar ao seu lado, para não me machucar mais com os meus sentimentos. Mas as coisas pareciam estar estranhas nas últimas semanas, parecia que algo ruim estava para acontecer. E aconteceu.
Antes de um show, Arnaldo fez questão de reunir o pessoal, dizendo que havia uma novidade a todos. Em suas mãos, ele segurava uma caixa quadrada envolta em papel pardo.
– A gravadora entregou para a gente no hotel hoje de manhã. E eu quero apresentá-los em primeira mão a capa do nosso segundo álbum! – Anunciou Arnaldo, que rasgou o papel pardo do presente, revelando alguns LPs.
A surpresa animou as groupies, que logo já foram para cima de Arnaldo, pegando os LPs. Em seguida, Jeremias, João e Manuela foram ver mais de perto. Quando João pegou no LP, ele se afastou, e logo que o avistei, notei que havia algo de errado. Quando me aproximei, Manuela me entregou uma cópia para eu ver, e logo pude notar o que estava errado.
Na capa, o nome 'Os Alquimistas' aparecia no canto superior esquerdo, escrito na mesma fonte gorda e psicodélica do primeiro álbum. Porém, em vez de uma ilustração abstrata, havia uma foto de um ensaio fotográfico da banda.
Manuela estava na frente, vestindo um lindo vestido vermelho esvoaçante, com o seu cabelo penteado caindo pelos seus ombros e seios, enquanto ela olhava fixamente para frente com um olhar sério e penetrante.
Jeremias estava à sua esquerda, virado um pouco de lado para pegar o seu melhor ângulo. Usava uma jaqueta jeans combinando com a sua calça e o seu tradicional cabelão e bigode.
Já João, aparecia atrás dos dois. Usava a sua camisa amarela, mas mal dava para ver sua calça, já que o seu corpo estava coberto por Manuela e Jeremias. Mas o que causou todo o descontentamento em João, foi que além disso tudo, ele estava desfocado. Não muito, mas o suficiente para fazê-lo parecer estar em outro plano.
"Eu adorei! Ficou incrível!" Diziam as vozes das groupies ao empresário. Jeremias foi o primeiro a notar que João parecia estranho, quieto e sério demais.
– Ei, cara, o que foi? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou ele ao baterista.
– Eu estou desfocado. – Disse João, de forma fria.
– Como é?
– Eu estou desfocado. Você não tá vendo? Eu estou todo borrado. Eu odiei. A gente devia mandar trocar.
– Ou, calma aí, meu chapa, as fotos ficaram ótimas. Não tá nada desfocado. Você está exagerando!
– Exagerando né? É porque não é com você, que aparece aí do ladinho da Manuela, como se você fosse o fundador dessa banda e eu apenas um músico de apoio.
Jeremias deu uma leve risada. Todos ficaram em silêncio para ouvir, o clima ficou pesado de repente.
– Ah, qual é, você vai querer lavar a roupa suja agora mesmo? Olha, eu entendo e respeito o seu descontentamento. Mas a gente tem que ser comercial aqui. Todo mundo sabe que quem vende discos em uma banda de rock é o vocalista e o guitarrista.
– Ah é, então experimenta fazer os seus solinhos de merda sem a minha batida por trás, pra ver como vai ficar!
- Pessoal, fiquem calmos, a capa é só um teste... – Disse Arnaldo, tentando amenizar a situação.
– Só um teste é? Pois bem, aposto que você já até aprovou! Aposto que nem notou isso. Ou talvez tenha até notado. Talvez seja até proposital. É por eu ser negro, né? Você quer me deixar desfocado para as pessoas não me notarem!
O tom de voz de João subiu, seu olhar se tornou mais e mais sério. Ele deu dois passos à frente, em direção a Arnaldo, mas Jeremias o parou.
– Ei, João, fica calmo. – Disse Jeremias, colocando a mão no peito de João para pará-lo.
– Tira a mão de mim! – Gritou João, que deu um forte tapa para tirar a mão de Jeremias de seu peito.
– Ei, eu falei pra você se acalmar! Tudo para você tem que virar racismo, é? Você é um belo de um babaca, isso sim, que não aceita se colocar no seu lugar! – Disse Jeremias.
– Ah, eu sei me colocar no meu lugar sim. E agora, aonde é o meu lugar é bem no meio da sua fuça!
Então, João cerrou o punho e deu um belo cruzado no rosto de Jeremias. Que cambaleou para trás já com o nariz sangrando, deixando um risco escarlate pelo ar antes de cair no chão. Antes que Jeremias tivesse reação, João foi para cima dele, tentando dar mais golpes em seu rosto, mas Jeremias segurou suas mãos e o impediu. Logo em seguida, quase em uma reação instantânea ao que acontecera, Arnaldo segurou os braços de João, mas ele era forte demais para o corpo franzino de Arnaldo, que só conseguiu tirá-lo de cima de Jeremias com a ajuda de Carlos e Henrique.
Jeremias se levantou, pronto para revidar em João já imobilizado, mas 'Gato' Félix e Zé Délio o seguraram. A gritaria começou, o barraco já havia sido instaurado. Quando olhei para Manuela, ela estava alguns metros afastada, abraçando com força o álbum em suas mãos, olhando fixa com os olhos arregalados sem piscar para tudo aquilo, em total silêncio. Nunca tinha visto daquela forma, ela parecia em choque e ao mesmo tempo apavorada com tudo aquilo. A única vez que vi algo parecido assim foi quando ouvimos sobre o caso Tate-LaBianca.
Arnaldo acalmou os ânimos, porém não selou a paz. Já era hora deles subirem no palco. O show... Foi um verdadeiro fiasco, o primeiro de toda aquela turnê. João e Jeremias se enfrentavam em uma Guerra Fria em cima dos palcos. João esmurrava sua bateria nos solos de Jeremias, que tocava o mais alto possível, gerando uma total desarmonia musical e de espírito. Tudo isso se refletiu também na performance de Manuela, que no meio de toda aquela briga, viu a sua ser ofuscada pelos dois. A falta de confiança que lhe assolava fez ela desafinar em certos momentos. E no fim, uma mistura de aplausos com vaias foi ouvida da plateia.
A viagem após o show foi em total silêncio. Não havia clima para mais nada. Me sentei ao lado de Manuela e ofereci a minha companhia para confortá-la. Ela segurou em minha mão, entrelaçando os nossos dedos e ficou em total silêncio olhando para a estrada. Até que finalmente encostou seu rosto no meu ombro e eu pude ouvi-la chorar bem baixinho.
O jeito como ela absorvia tudo para si parecia tão autodestrutivo. Sintia que em algum momento toda aquela energia negativa a faria explodir. Manuela era como um barril de pólvora com o pavio em chamas. Eu só ainda não sabia o que poderia acontecer.
Ao longo dos dias seguintes, o clima se acalmou. Embora João e Jeremias não se falassem, os roadies e groupies fizeram o trabalho de levantar o astral do grupo, principalmente de Manuela. Apesar disso, os shows da reta final pareciam cada vez mais esvaziados, e a banda cada vez mais cansada. Mesmo que a Guerra Fria tenha parado e Manuela já não desafinou mais, a energia não era a mesma. Era perceptível no palco.
Alguns anos mais tarde, conheci uma banda punk ao qual virei muito fã, Os Ramones, e quando descobri que Joey e Johnny Ramone não se falavam durante quase 20 anos de banda, não pude acreditar. Se em apenas algumas semanas, esse clima hostil parecia tão nocivo, imagina duas décadas.
Já estávamos no fim da nossa viagem, na estrada indo em direção à Angra dos Reis, onde faríamos o último show da nossa turnê. A cidade celebraria um festival de música nacional, onde diversas bandas iriam tocar. A expectativa era de que esse fosse o maior público da turnê, tornando-o o maior show de toda a viagem.
Mas o clima não parecia de nenhuma celebração, a sensação era de que todos queriam que tudo finalmente acabasse. Durante esse tempo, me mantive ao lado de Manuela, mesmo que isso fosse quase uma tortura masoquista para mim. Ela se manteve calma e parecia um tanto feliz, mas logo tudo mudou quando ouvimos o radialista informar:
– Notícia de última hora: Morreu hoje em sua casa em Hanói o presidente do Vietnã do Norte Ho Chi Minn, vítima de uma insuficiência cardíaca. O líder da União Soviética, Leonid Brezhnev, lamentou a morte, afirmando que a morte do presidente vietnamita é uma grande lástima para o comunismo. O presidente americano, Richard Nixon, ainda não se pronunciou a respeito.
Ao ouvir a notícia, Manuela apertou forte o meu braço, a ponto de me furar com suas unhas. Sua respiração ficou ofegante. Perguntei se ela estava bem e tudo o que ela fez foi me empurrar para sair do seu assento e foi correndo até o início do ônibus, pedindo para que Zé Délio parasse o ônibus imediatamente. Corri atrás dela tentando dizer algo, mas ela não me deu ouvidos. Zé Délio encostou o veículo no acostamento da estrada e abriu a porta. Manuela então saiu correndo para o meio do mato, há cerca de 50 metros da estrada. Corri atrás dela enquanto o resto do pessoal ficou observando da beira da estrada. Até que Manuela parou, se ajoelhou no chão e gritou o mais alto que conseguia. Sua voz ressoou pelo campo, mais alto que o vento que uivava e o som dos carros cortando a estrada.
– Ei, Manu, fica calma. – Tentei confortá-la, mas logo ela me cortou.
– Eu não quero ficar calma! Eu estou cansada de ficar calma! Estou cansada de ter que ficar calma enquanto nada à minha volta está como deveria! – Vociferou Manuela, enquanto algumas tímidas lágrimas caíam de seus olhos. – Eu... Eu não aguento mais... Eu achei que a vida de artista iria ser o meu sonho. Ir na estrada, tocando as minhas próprias músicas com meus amigos. Mas nada é como eu achei que seria. E agora eu tenho que lidar com dois babuínos tentando disputar quem tem a bunda mais vermelha, todos esses canalhas fardados que estão tirando a nossa liberdade e agora isso...
Manuela pôs-se a chorar, e então eu fui tentar abraçá-la, mas ela me empurrou com bastante brutalidade.
– Sai de perto de mim! Quem é você pra me abraçar!? Você é só a merda do jornalista que veio fazer uma matéria sobre a gente. Aposto que esse meu chilique vai ficar ótimo na sua reportagem, né? Seu, seu... Ah!
Manuela tentou me acertar alguns socos sem jeito no meu peito, mas ela era fraca demais para atos tão violentos. Logo ela desistiu, limpou as lágrimas dos olhos e voltou a andar de volta ao ônibus. Os amigos perguntaram se estava tudo bem, mas ela não disse nada.
Quando chegamos à pousada, Manuela se trancou sozinha no quarto e não quis mais sair de lá, nem mesmo quando já estava na hora de ir para o show. Todo mundo se aglomerou em frente a porta do seu quarto, tentando convencê-la a sair.
– Manu, deixa disso, vamos logo para o show! – Dizia Arnaldo, enquanto batia na porta. – A gente não pode cancelar a apresentação. A gravadora ia ficar uma fera! Esquece que esse idiota comunista morreu e vamos logo!
Todos tentavam convencer, de um jeito ou de outro, mas tudo era em vão. Até que percebi que a varanda do meu quarto ficava ao lado da dela. Com isso, saltei até a sua varanda e entrei no quarto, enquanto todos estavam na porta.
Manuela não estava na cama, e sim deitada dentro da banheira, vazia e de roupa, escondida de todas. Quando ela me viu chegar, ficou indiferente.
– Olha, eu não ligo se você acha mesmo que eu sou só um repórter medíocre, porque talvez eu seja mesmo. – falei, me sentando ao vaso para conversar com ela. – Mas eu só quero te ajudar a sair daqui.
– Me deixa em paz, eu não vou para esse show idiota. – Disse Manuela. – Foda-se a gravadora.
– Oh, eu não vim aqui para te levar para o show. Eu disse que ia querer te tirar daqui, mas não para te levar com eles.
Ela me olhou, como se eu tivesse atraído a sua atenção por um instante.
– Quer me levar aonde, então?
– Pra qualquer lugar que você queira ir. Desde que seja bem longe deles. É isso que você quer, não?
Manuela se levantou, ficando sentada na banheira.
– E como a gente vai fazer isso?
– Confia em mim. – Respondi, estendendo a minha mão.
Manuela se segurou em mim e levantou da banheira. Nós pulamos a varanda de volta para o meu quarto, e conseguimos sair sem que eles nos notassem enquanto ainda batiam desesperadamente na porta. Roubamos uma bicicleta que estava encostada na entrada da pousada. E fomos pedalando sem rumo. Não sabíamos aonde ir, pois nunca havíamos estado em Angra, mas isso não importava. Só queríamos estar a sós por uma única noite.
Pedalamos noite adentro até encontrar um parque natural. Deixamos a bicicleta e começamos a caminhar entre as árvores. O humor de Manuela havia mudado drasticamente. O sorriso em seu rosto era sincero e belíssimo, como nunca havia visto antes. Ela saltitava entre as folhas secas no chão, fez questão de tirar os sapatos para sentir toda a natureza em seus dedos, como também fiz em seguida.
Até que finalmente encontramos um ótimo lugar, entre as árvores, mas com uma ótima iluminação lunar e nos sentamos. Do meu bolso, puxei um saco com um pouco de erva e folha de seda, que havia pego com Betty Boop há um tempo.
– Que isso? Achei que você era careta. – Disse Manuela, em tom sarcástico.
– Bem, essa viagem mudou todos nós. Eu jamais estaria aqui se não fosse por você, então acho que a gente pode relaxar um pouco. Mas você vai precisar enrolar, porque eu não sei fazer.
Manuela deu uma risada e pegou da minha mão. Ela enrolou um baseado perfeito e logo acendeu para fumarmos. Manu então deitou sua cabeça sobre o meu colo e ficou assim enquanto relaxávamos à medida que a erva entrava em nossos pulmões e mente.
– Sabe, eu acho que eu vou sair d'Os Alquimistas. Eu posso seguir carreira solo, não sei. Talvez eu vá com as meninas. – Disse Manuela.
– Achei que você não gostava de estrada.
– É verdade... Bem, talvez eu só não goste de ficar muito tempo perto de homem. Menos você, você pode vir com a gente. Aposto que as garotas iam amar.
– É, sobre isso... – Meu rosto corou um pouco enquanto falava. – ...Naquele dia na festa, eu não lembro de nada do que aconteceu, talvez eu não participaria de algo assim se tivesse sóbrio. E sobre ir com vocês, eu não posso, eu tenho meu trabalho. Eu tenho a minha faculdade. Você é um espírito livre, eu sou um um pássaro na gaiola.
– Bem, saia da sua gaiola então. Vem com a gente. – Manuela se levantou, segurando em minhas mãos e olhando nos meus olhos. – Sobre hoje de manhã, me desculpa por ter falado aquilo tudo de você. Eu estava... Claramente alterada.
– Tá tudo bem.
De repente, Manuela se aproximou de mim, segurando o meu rosto e então me deu um beijo. Eu não esperava por aquilo, não daquele jeito. Embora todo o cenário parece propício, eu já sequer pensava em fazer algo assim com Manuela. Quando ela terminou de me beijar eu falei.
– Pensei que você gostasse de garotas.
– Bem, eu gosto dos dois. Mais de garotas, na verdade, mas gosto de caras como você.
Só essa simples frase fez o meu coração explodir em fogos de artifícios dentro do meu ser. Era um sentimento indescritível o que senti ao ouvir aquilo, ao saber que o que eu sentia era, em certa parte, correspondido. Não tive reação a não ser beijá-la novamente.
Seus lábios eram macios, sedosos e doces, ela envolveu seus braços em meu pescoço e se deitou, puxando o meu corpo contra o dela. O clima estava esquentando mais e mais, quando me dei conta, já acariciava o seu seio por cima de sua roupa. Ela vestia nada mais que um vestido florido amarelo, sem nenhum sutiã por cima. Eu era capaz de sentir toda a maciez do seu seio e até o seu mamilo por cima da sua roupa. Até que meus dedos puxaram de leve a alca, revelando ali, no meio daquelas árvores, o seu seio nu.
Uma luz do luar refletiu em nós no momento que ele ficou à mostra. Era maravilhoso, grande e macio, com uma aureola grande e rosada e um bico bem pequeno. Minha boca se encheu de água e eu não tive outro desejo que não chupá-lo.
Eu chupei até ela começar a gemer. Até ouvir sua doce voz dizendo o quanto estava adorando, e queria mais. Ela puxou minha camisa, foi tirando a minha roupa. Em seguida, ela tirou sua calcinha e levantou o vestido para que eu pudesse ver o seu sexo.
Seus lábios eram rosados, carnudos e fechados, Manuela tinha poucos pelos loiros em sua virilha, fazendo todo o conjunto da obra ser a boceta mais linda que eu já havia visto. Com a minha rola já rígida, comecei a esfregar em sua boceta, sentindo meu pau roçar em seus pelos.
Depois de perder a minha virgindade sem nem ao menos lembrar. Não sabia como seria, mas isso não impediu que eu enfiasse dentro de Manuela com tudo. Ela gemeu quando sentiu tudo entrar e gemeu ainda mais quando comecei a socar.
Nos beijamos mais uma vez enquanto eu a fodia. Mesmo não sendo minha primeira vez, era tudo da forma como eu havia imaginado que seria minha primeira vez. Bem, talvez estar no meio do mato não estava nos meus sonhos, mas era maravilhoso fazer aquilo com uma mulher que eu de fato achava especial.
Não demorou muito para eu gozar. Por pouco não dei um jato dentro, gozando apenas por fora de seus lábios e em seus pelos. Mesmo após gozar, nosso tesão não acabou. Ela me beijou mais e mais, até eu já estar duro novamente.
Rolamos pela mata, nos sujando de terra, grama e folhas secas, mas sem nos importar. Só o que pensávamos era em nós dois. Durante um segundo, lembrei do restante do pessoal, e pensei como eles estavam. Mas logo minha atenção voltou para o sexo com Manuela. Foi uma noite perfeita, a mais perfeita noite de toda a viagem.
Quando tudo acabou, nos abraçamos e dormimos juntos. Quando acordamos, o Sol já raiava em nossos olhos. Pegamos nossas roupas, vestimos e voltamos para a pousada. Todo mundo nos esperava perto do ônibus, prontos para ir embora. Arnaldo estava com a cara mais furiosa que eu já vi. João e Jeremias pareciam igualmente descontentes, era engraçado como os dois pareciam estar pensando o mesmo, enquanto ainda não se falavam. O restante do pessoal parecia mais aliviado de que estávamos bem do que realmente furiosos.
Manuela entrou no ônibus na mais total naturalidade, sem falar com ninguém. Notei que todos me olhavam, mas logo entrei também. Enfim, voltamos ao Rio de Janeiro. Depois de 1 mês e 4 dias na estrada, pisar novamente na Cidade Maravilhosa parecia um alívio. Me despedi de todos e quando fui me despedir de Manuela, ela me deu um beijo na boca, sem ligar para o que os outros pensariam.
– Eu vou te ver novamente? – Perguntei à Manuela.
– Talvez. Um pássaro enjaulado não sai da sua gaiola. Eu não sei o que vai ser daqui pra frente. Mas obrigado por tudo. Inclusive por ontem. Principalmente ontem, na verdade.
Depois de ter voltado para casa, depois de ter abraçado a minha mãe depois de tanto tempo fora. Me olhei no espelho, e por um momento lembrei de como eu me vi no mesmo espelho antes de sair. Certamente já não era mais a mesma pessoa, emocionalmente e fisicamente. Meu cabelo havia crescido, e eu achei ele mais bonito dessa forma. Eu havia experimentado coisas que jamais imaginaria experimentar. Fiz coisas que sempre sonhei, e coisas que gostaria de nunca ter feito. Mas de uma coisa era certo, eu nunca mais fui o mesmo após aquela viagem.
Durante o final de semana, juntei todas as minhas anotações, todas as minhas entrevistas, tudo o que eu tinha de viagem comigo e escrevi a matéria, pronto para entregá-lo na segunda-feira de manhã. Mas quando cheguei ao escritório, fui recebido com a notícia de que tudo aquilo havia sido em vão.
– A gravadora cancelou o contrato d'Os Alquimistas. Disseram que a banda vai acabar, e que eles perderam o último show, que era o mais importante. Então, a matéria patrocinada não vai acontecer. – Disse Sr. Alberto. – Desculpa, filho, mas às vezes isso acontece.
– Tudo bem. Mesmo assim, se quiser, pode ficar com a minha matéria. Quem sabe você goste de ler e me dê outra oportunidade.
O Sr. Alberto pegou a minha matéria, mas ela nunca foi publicada. Nunca mais ouvi falar d'Os Alquimistas desde então, eles se tornaram uma banda esquecida do tempo. Também nunca mais ouvi falar de Manuela. Até que um dia, dez anos depois, encontrei com Betty Boop, trabalhando em um Salão de Beleza no Grajaú. Para a minha surpresa, ela me disse que Manuela havia morrido em 71 em um acidente de carro. Meu coração se partiu novamente. Manuela foi a única pessoa que eu amei antes de encontrar minha esposa, e saber que sua vida se encerrou tão cedo foi bem pesado para mim, que ainda sonhava em encontrar com ela de novo. Do resto de todos os outros eu não tive nenhum outro paradeiro.
E assim foi a história da viagem que mudou a minha vida, e a história sobre a melhor banda que eu já ouvi, mas que nunca fizeram o sucesso que mereciam.
Fim.