UM VENEZUELANO NA MINHA VIDA - 1: VIVÊNCIAS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 4053 palavras
Data: 20/08/2022 23:03:48

OI, GENTE! COMEÇO AGORA A MINHA NOVA HISTÓRIA 'UM VENEZUELANO EM MINHA VIDA'. É UM ROMANCE FOFINHO, ENTÃO, NÃO ESPERE CENAS DE SEXO EXPLÍCITO. SEGUE A SINOPOSE E O PRIMEIRO CAPÍTULO:

O que você faz para ser feliz? Às vezes, a felicidade pode estar mais perto do que você imaginou. Veja como exemplo, o jovem Enzo Gabriel, que acabou de completar 25 anos. Ele é finalista do curso de programação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e junto ao seus amigos decidiu abrir uma empresa de tecnologia, a Tech Land.

A vida dele deveria ser feliz, né? Afinal, quem não deseja todo esse amadurecimento profissional. Bem, lá no fundo, Enzo se sente frustrado por nunca ter encontrado o amor ou não ter tempo para encontrar uma pessoa que faça o seu coração bater mais forte.

Já para o venezuelano, Noslen Fuertes a felicidade está nas pequenas coisas, mesmo ele não lembrando do seu passado, pois é sobrevivente de um acidente automobilístico. Vivendo com pouco, Noslen passou a dar valor à vida e sonha em reencontrar a família.

Será que os nossos protagonistas vão encontrar a tão sonhada felicidade?

"Um Venezuelano na minha vida" é um prato cheio para aqueles que gostaram de "Amor de Peso" e "Entre Todas as Chances". Inclusive, personagens dessas histórias darão a cara e ajudarão Enzo e Noslen nesta difícil missão que é se apaixonar.

MÉRIDA, VENEZUELA

A crise na Venezuela não é de agora, porém, as pessoas tentavam conviver da melhor forma possível, apesar das dificuldades. Infelizmente, a situação piorou e o desespero se instaurou no país. Tudo ficou mais difícil em 2014, quando os preços começaram a subir e a economia local sofreu recessão.

Fome, violência e desespero tomaram conta das cidades venezuelanas, algumas pessoas, por exemplo, não esperaram muito para fugir pela fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Apesar dos protestos, nada aconteceu e, a cada dia, a sociedade ficava sem esperança.

A família Fuertes vivia na província de Mérida. Carlos Fuertes, era venezuelano, um grande empresário que perdeu todo o dinheiro que possuía. Sua esposa, Ingrid Fuertes, conseguiu um emprego como médica em Caracas, mas, apesar de tudo, a situação financeira deles só piorava. Em uma madrugada, eles acordaram o filho, Noslen, de 19 anos, que estava cansado, pois passou as últimas horas trabalhando em um centro comercial.

— Coração, acorde. — pede Ingrid, com sua voz doce e cansada. — Precisamos nos arrumar.

— O que aconteceu? — pergunta Noslen ainda sonolento, mas em sinal de alerta.

— Papai, ele conseguiu uma carona para o Brasil. Precisamos nos arrumar. — avisa a mãe do jovem, que não lhe dá outra opção.

— Sim, mamãe, claro. – ele diz levantando, ainda sem saber o que fazer.

Longa e cansativa. A viagem entre Caracas até Pacaraima, em Roraima, leva 20 horas. Então, quanto mais cedo sair, mais cedo se chega ao destino. A família Fuertes arrumou seus poucos pertences e partiram em direção ao Brasil.

Pela janela do carro, Noslen, se despedia de tudo aquilo que era conhecido. A estrada se tornou uma companheira silenciosa. Seus pais, tentavam passar o mínimo de coragem, porém, era perceptível o medo em seus olhares.

Viajar para o Brasil era motivo de festa para Noslen, porque sua mãe morou durante muito tempo em São Paulo. Só que daquela vez tudo era diferente. Na estrada, o jovem observava o mundo em movimento, só que o seu coração sofria. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. O motivo? Medo, medo do desconhecido.

Além da família Fuertes, o grupo que seguia para o Brasil contava com dois irmãos, Felipa e Augustin, eles também queriam sair daquele pesadelo e construir uma nova vida. O céu anunciava uma tempestade e não demorou muito para começar a chover.

Com cuidado, Augustin, seguia a estrada em direção ao posto da fronteira. Aquilo deixava o clima ainda mais tenso. Depois de alguns minutos, eles enxergaram uma grande movimentação. Aquilo era sinal que a fronteira estava próxima, mas algo não parecia normal.

Preocupado, Carlos, desceu e perguntou para algumas pessoas o motivo da desordem. Segundo os populares, um juiz do Brasil havia fechado a fronteira entre os países, uma vez que o fluxo de venezuelanos atravessando havia triplicado.

— O que vamos fazer? — perguntou Augustin, apertando firme o volante do carro.

— Algumas pessoas estão pegando um atalho. É ruim, mas deve servir para atravessar. — explicou Carlos pegando um mapa de papel e mostrando a rota para Augustin.

— E se for perigoso? — quis saber Ingrid, temendo pela segurança de sua família.

— A minha irmã... ela... precisa de tratamento médico. Precisamos atravessar essa fronteira. — afirmou Augustin, enquanto olhava para o carro.

— Você sempre me ajudou. — disse Carlos, pegando no ombro do amigo e topando a rota alternativa. — Nós vamos com você.

O grupo seguiu viagem por uma estrada acidentada, quase impossível de passar. Noslen tremia de frio e fome, porém, não reclamou em nenhum momento. Augustin estava cansado, ele não dormia bem há dias, mas, não desistiu de ajudar sua irmã que cochilava ao seu lado.

Ingrid, gentilmente, pega nas mãos de seu filho e as beija. "Meu príncipe, a mamãe te...". Por causa da estrada escorregadia, Augustín perdeu o controle do carro, que caiu em uma colina. O automóvel capotou. A porta se abre e, de forma violenta, Noslen é lançado para fora.

O carro explodiu quando chegou perto de um rio. A fumaça chamou a atenção de um grupo do exército do Brasil que encontrou Noslen machucado e inconsciente no chão.

MANAUS, AMAZONAS – SEIS ANOS DEPOIS

Enzo Gabriel de Souza é um jovem universitário que é o oposto do seu irmão, Erick, um Policial Militar linha dura, entretanto, com um coração de ouro.

Desde cedo, ele se dedicou aos estudos e sempre se interessou por tecnologia. Com alguns amigos da faculdade, Enzo criou uma startup que desenvolve aplicativos para supermercados. O negócio era novo, mas, graças à inteligência dele, crescia consideravelmente.

Mas, como diz o ditado, "sorte no jogo, azar no amor". Enzo namorou duas vezes em toda sua vida, na verdade, nunca teve interesse em manter um relacionamento, sempre priorizou o aprendizado. Ainda mais quando seus pais, Daniela e Benício, faleceram em um incêndio. Graças a Erick, que criou e cuidou dele, o jovem pode ter um futuro.

— Erick, hoje eu tenho um encontro. — anunciou Enzo sentando no sofá, visivelmente nervoso com o fato de encontrar alguém.

— Mentira. Sério? Tem homem maluco para tudo, né? — brincou Erick, antes de sentar ao lado de Enzo para colocar um par da meia.

— Estou falando sério. Quero que você me ligue às 22h. — pediu Enzo, já prevendo o fracasso do encontro.

— Pra quê? — questionou Erick calçando a meia esquerda.

— Caso ele seja um assassino. — explicou Enzo de uma maneira dramática.

Erick riu alto, mas sabia que ligaria, afinal, Enzo era a única família que ele tinha e, sendo policial, conhecia os riscos de encontros por aplicativos. Após se arrumarem, os dois tomaram café e seguiram para seus respectivos trabalhos.

Enzo chegou na universidade e encontrou seus melhores amigos, André e Kleber, além de Popi, uma de suas funcionárias. Eles seguiram para o laboratório de informática da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde aconteceria uma palestra ministrada por Enzo.

— Você nasceu pronto para isso, Enzo. — incentivou Kleber pegando no ombro do amigo.

— Vai lá. Vende nossa marca. — André pediu fazendo sinal de positivo com o dedão.

Claro, que na nossa vida, nem tudo e todos cooperam para o sucesso, na vida de Enzo, por exemplo, existia o seu sócio, Ian Dávila. O tipo de pessoa com o tom baixo, mas que não pensa duas vezes antes de jogar alguém na frente de um trem.

Na verdade, Ian cuidava da imagem da pequena startup nas mídias sociais e jornais, porém, aos poucos, acabou participando de eventos sociais representando a marca. Para Ian, o crescimento da empresa era primordial, ele tinha um plano, o de iniciar a própria dinastia, ou seja, ninguém ficaria em seu caminho.

Até suas entradas eram coreografadas, naquele dia, por exemplo, a porta do auditório não suportou a pressão de uma forte ventania e abriu chamando a atenção de todos. E quem aproveitou o momento para entrar? Ele mesmo, com toda sua elegância e ironia.

Além de seu charme usual, Ian, contava com outra arma importante, a sua beleza. Homens e mulheres ficavam caidinhos pelo empresário. Para o evento daquele dia, o marqueteiro apostou em um terno azul marinho que realçava o seu cabelo preto azulado.

— Bom dia, queridos. — desejou Ian ao entrar na sala, parecendo um concorrente ao cargo de Mister Amazonas. — Olha só, todos aqui. — ele se aproximou de Enzo e começou a arrumar suas roupas. — André, adorei o penteado, representa bem seus antepassados. Oi, Kleber, tá parecendo mais alto, parabéns. E Popi? Menina, você emagreceu? — enquanto arrumava os cabelos de Enzo.

— O que você está fazendo? — questiona Enzo irritado, se afastando de Ian.

— Nada pode dar errado, precisamos mostrar que somos pequenos, mas temos potencial. — Ian afirmou com um sorriso nos lábios.

— Tudo pronto. — falou Diana, a secretária pessoal de Ian.

Uma reunião importante. Um auditório lotado de empresários. O que poderia dar errado? Bem, Enzo não seria Enzo se algo engraçado não acontecesse. De longe, Kleber e André tentaram prever alguma coisa diferente, porém, ninguém prestou atenção no cadarço do tênis de Enzo.

Antes de chegar ao palco, o jovem empreendedor cai no chão como uma manga madura, algumas pessoas riram da situação e, em um ato rápido, ele levanta e pega os óculos no chão.

Depois do mico, outro contratempo, o pen drive, mostrou várias fotos de Enzo, Kleber e André com fantasias ridículas. Mais uma rodada de risos, cortesia de Enzo Gabriel. Várias pessoas aproveitaram para registrar o momento em seus celulares.

— Bem! — exclamou Ian chamando a atenção de todos, subindo ao pequeno púlpito e desligando o computador. – Infelizmente, Enzo, o nosso ilustríssimo CEO, teve um pequeno acidente com o pen drive, mas, podemos prosseguir. Diana? Onde está a Diana? — perguntou Ian de forma dissimulada.

— Aqui, senhor. — respondeu Diana, levantando as mãos e dando pequenos pulos.

— Entregue para os convidados às cortesias, por favor. — pediu Ian, sorrindo, olhando para Enzo e levantando a sobrancelha esquerda, sua marca registrada. — Esse é um vale-brinde dos nossos serviços, senhores. Agora que vocês ganharam esses mimos, vou falar agora sobre as propostas da Tech Land.

— Vixi. — soltou André olhando para Kleber e Popi.

— Essa não. — comentou Enzo com as mãos na cabeça.

Enquanto Enzo pagava o maior mico de sua vida, Noslen, acordava para mais um dia de trabalho. Ele morava no bairro Presidente Vargas, também conhecido como Matinha, o lugar parecia uma favela, porém, era aquilo que o seu dinheiro podia pagar.

Ele dividia um quarto com mais cinco venezuelanos, todos vendiam bombons pelas ruas da cidade. Noslen sentia um vazio, pois não conhecia sua história de origem. A única coisa que sabia é que havia sido encontrado boiando próximo a um riacho, em Pacaraima (Roraima).

E como ele sabe o próprio nome? Bem, o que possibilitou a identificação do jovem foi um bordado em sua jaqueta, que já estava quase toda rasgada, entretanto, Noslen mantinha guardado a peça de roupa entre seus poucos pertences.

— Quem é você? — questionou Noslen a si mesmo, olhando fixamente para a jaqueta em suas mãos.

— Vamos, cabra. Precisamos trabalhar, o aluguel precisa ser pago hoje. — alertou Nico, um dos companheiros de Noslen.

— Claro. — Noslen respondeu, olhando para o espelho uma última vez, antes de guardar a carta em sua mochila.

A rotina de Noslen era massacrante, ele dava um jeito de entrar no Terminal de Integração 1, conhecido popularmente como T1. O local ficava praticamente ao lado de sua casa. Dentro do T1, Noslen começava a 'viajar' por Manaus. Ele conhecia praticamente todos os bairros da cidade.

O venezuelano vendia balas, chocolate e amendoim. O dinheiro mal dava para pagar o aluguel, só que era necessário ter um teto. Próximo ao meio-dia, ele retornava ao T1 para almoçar, na verdade, o jovem comprava uma coxinha e um suco por R$1, então, aquilo era um negócio dos deuses.

— Noslen, conseguiu vender muito? — perguntou Nico, colocando a caixa de bombons no chão e contando algumas moedas.

— Nada, ainda faltam R$ 40 reais para a minha parte do aluguel. — Noslen disse, ficando preocupado de não conseguir o dinheiro do aluguel.

— Precisamos arrumar outra forma de ganhar dinheiro. Tem um amigo meu que...

— Nico. Não podemos. — cortado o colega, pois sabia que a próxima frase era uma besteira. — Primeiro, eu não lembro nem quem sou, não tenho documentos, e você, cara, a sua família, eles precisam da sua ajuda, não pode decepcioná-los.

— Não precisava pegar tão pesado. Bem, se não posso ganhar dinheiro, posso roubar uns corações. — olhando para uma moça que passava, usando toda a sedução venezuelana que corria em suas veias.

— Seu palhaço, pervertido. — chutando Nico e rindo.

— Sabe o que falta para ti? Uma mulher, uma manauara bem gostosa. — Nico comentou, antes de pegar sua caixa no chão e correr atrás de um ônibus. — Até a próxima!!!

Desastre! Assim podemos definir a palestra de Enzo. Graças a ajuda de Ian, ele conseguiu aumentar a network de sua empresa e, de sobra, ainda bombou nas redes sociais por causa de suas fotos. O grupo da empresa decidiu almoçar para "comemorar". Ian declinou o convite falando que havia marcado outros compromissos.

Como dizem, após o susto, até os piores momentos se tornam motivo de piadas. No caminho para o restaurante, André, Kleber e Popi, começaram um debate para saber qual era a melhor fantasia de Enzo. Para não remoer o mico, Enzo resolveu entrar na brincadeira.

— Sério, Enzo. Você deveria editar suas fotos. — falou Kleber tendo um acesso de riso no banco de trás do carro.

— Pelo menos, Kleber, eu estava de roupa, né? — questionou Enzo desarmando o amigo que ficou vermelho.

— Como assim? — Popi quis saber, pois, ainda não estudava com eles no dia em que jogaram um nude de Kleber na tela de um noivado.

— Ah, Popi. Você não sabe. No início do primeiro semestre, o Kleber foi exposto, ou seja, teve um nude vazado. E, menina, que pepinão! — explicou Enzo, deixando Kleber chateado.

— Mentira! Foi o Santino? — perguntou Popi, arrumando os cabelos e olhando para Kleber, que se encolhia no banco.

— Não. Um ex surtado. Depois, o maluco tentou me matar. Enfim, o assunto é o Enzo. O ENZO!!!! — gritou Kleber, tentando mudar o foco da conversa e ficando vermelho.

Após o almoço, Enzo, se reuniu com os funcionários em sua empresa. Ele e seus colegas desenvolviam aplicativos para mercados de Manaus. Era um trabalho até que delicado e que exigia muito deles.

Uma pane em um dos computadores fez com que quase todos os servidores da empresa fossem desligados. Enzo, Kleber e Popi criaram uma gambiarra para que os clientes não fossem prejudicados.

Um detalhe sobre Enzo? Ele é virginiano, ou seja, pessimista por natureza.

— Caramba, vamos falir. — reclamou Enzo, andando de um lado para o outro, mais desesperado do que deveria estar de fato. — Eu vou morar debaixo da ponte, começar a vender drogas e o Erick vai ser obrigado a me prender, meu Deus, eu não posso deixar isso acontecer.

— Calma, moleque. — pediu Kleber mexendo em um dos computadores do servidor e arrumando parte do problema.

— Os servidores voltaram e os clientes nem perceberam. – disse André, observando a sessão de reclamações no site da empresa.

— Sério? – perguntou Enzo, limpando o suor da testa e sentando no chão. — Pensei que a minha vida havia acabado.

— Dramático. — cantarolou Popi com uma voz irritante e sentando ao lado de Enzo. — Tudo certo, o pessoal assegurou que nada de errado aconteceu enquanto o servidor estava offline. — lendo a mensagem que acabará de receber para o alívio de Enzo.

Em Manaus, o Terminal de Integração 1 passou por uma reforma. Para os vendedores ambulantes, a decisão rendeu muitos problemas como, por exemplo, o local que trabalharam durante a vida toda. A mudança também dificultou a entrada de Noslen no T1, já que a fiscalização ficou maior.

Como forma de protesto, alguns vendedores montaram suas barracas nas redondezas. Antes de partir em mais uma sessão de trabalho, Noslen visitou Dona Aurora, uma idosa que vendia alimentos para os passageiros. Ela funcionava como uma espécie de avó para o venezuelano, porque era preocupada e cheia de cuidados com o jovem.

Para retribuir a ajuda, Noslen, limpava a loja de Aurora. Naquele dia, a idosa presenteou o venezuelano com algumas roupas usadas. Feliz da vida, ele pegou a sacola e deu um forte abraço na sua avó do coração.

— Tú é um bom menino, Noslen. Queria eu que meus bacurizinhos fossem iguais a tú. — ela garantiu, fazendo uma referência aos seus netos de verdade.

— Obrigado, de verdade. — agradeceu Noslen abraçando mais uma vez a senhora. — Agora eu preciso ir, ainda tenho que ganhar o resto do dinheiro para pagar o aluguel.

— Eu não entendi nada, mas vai lá, filho. Deus te proteja. — respondeu Aurora confusa, mas fazendo o sinal da cruz na direção de Noslen.

A rotina do venezuelano era maçante. Pela janela de um ônibus, Noslen observava a vida correndo, pessoas felizes e com suas memórias intactas, porém, dentro dele uma peça fazia falta. "Quem é a minha família?", "Será que eles têm saudades de mim?", eram alguns dos questionamentos do venezuelano.

Por causa da rotina de trabalho, Enzo virou adepto de chá de camomila. Às 17h, momento em que o sol está mais ameno, ele pegou o chá e subiu para o último andar do prédio onde funcionava sua startup. Para escapar dos problemas, Enzo gostava de tirar um momento à sós.

Do alto, Enzo, imaginava um mundo ideal, onde ele poderia voar e olhar a vida do alto. A brisa da tarde o acalmava, em algumas situações, Enzo passava horas ali, apenas contemplando e esquecendo da urgência da vida adulta.

A contemplação foi atrapalhada com uma mensagem do Erick, que lembrava o horário do encontro do irmão. "Credo, o Erick está mais preocupado que eu. Será que ele quer que eu desencalhe?", pensou.

Uma passada no banheiro foi suficiente para que o jovem percebesse o estado deplorável que se encontrava. Afinal, passar o dia se embrenhando dentro de uma sala cheia de fios antigos não era tão indicado para quem teria um encontro.

Enzo tirou a camisa, limpou a axila com lenço umedecido, molhou os cabelos e tirou toda a sujeira do rosto, pronto, um novo homem. Ele tirou roupas limpas de uma mochila e se trocou. Antes de sair, Enzo, olhou no espelho e desejou boa sorte para si mesmo.

Ao chegar no estacionamento, Enzo, deu a partida no carro e ouviu um barulho diferente, em vez de parar, ele apenas seguiu viagem. No sistema de som, uma das músicas preferidas dele tocou: Flotando, da cantora chilena Francisca Valenzuela.

Aquele som fez Enzo viajar nas ideias, em um tal ponto, que ele não percebeu a fumaça que saia do capô do carro. Ele freou desesperado, quase causou um acidente e saiu do automóvel.

— Merda. Merda. — ele reclamou, enquanto abria o capô recebendo uma baforada de fumaça no rosto.

Uma nuvem de fumaça cobriu Enzo, ele tossiu muito e pegou sua bombinha para asma, sim, além de pessimista, Enzo era asmático. Algumas pessoas viram sua situação e decidiram ajudar. Eles empurram o carro para a calçada, então, o jovem ligou para o guincho.

Aquele não era o dia de Enzo, seus planos para sexta-feira foram por água abaixo. Ele pegou suas coisas, colocou na mochila e trancou o carro.

Enquanto isso, na empresa, o último a sair foi André, quer dizer, ele achava isso, entretanto, em sua sala, Ian abriu um champanhe e comemorava sua primeira vitória. Afinal, ele conseguiu desestabilizar Enzo e muitos acionistas foram alcançados através de seu plano.

— A diretoria da Enzo Tech vai comer na minha mão. Aos poucos, eles vão perceber que o Enzo não tem o pulso forte. Quem diria. — falou Ian, olhando para o pen drive e o beijando. — Obrigado. Essa belezinha me ajudou bastante.

Para comemorar, Ian contou com a participação de sua assistente, Diana. Uma moça baixinha, sem qualquer referência de moda e com o rosto cheio de espinhas. Ninguém conseguia entender o motivo de Ian contratá-la, afinal, ele sempre comentava sobre a aparência de outras pessoas.

— Foi uma tacada de mestre, Ian. — reforçou Diana, arrumando seus óculos e sentando perto do chefe.

— Infelizmente, meus irmãos não perceberam a minha genialidade para continuar nos negócios da família, mas vou mostrar do que sou capaz. Primeiro vai ser essa diretoria. No futuro vou comprar a empresa de papai. — rindo e se assustando com um trovão.

— Desculpa. — pediu Diana baixando o volume da TV. — Está no canal da meteorologia.

— Não faça mais isso. — se arrumando. — Bem, agora vamos ver o que tem dentro desse pen drive. Quem sabe um futuro projeto da empresa não vaza na internet. — sorrindo maliciosamente e conectando o pen drive no notebook.

Sim, a praga de Ian transformou a noite de Enzo. Pela primeira vez, depois de muito tempo, Enzo pegaria um ônibus. Ele mandou mensagem para André: "Qual ônibus eu pego para o Centro? Estou aqui na Djalma Batista". Não demorou muito e o jovem obteve sua resposta: "Pode ser o 200, 203, 227, 222 - são vários, não vai se perder". Ainda confuso com tudo que havia acontecido, Enzo entrou no primeiro coletivo que passou.

— Boa noite. — desejou Enzo passando pelo motorista e indo para a catraca do ônibus. — Com licença, cobradora, esse ônibus vai para o Centro?

— Boa noite, docinho, o 200 vai para qualquer lugar que você quiser. — soltou a cobradora que se apaixonou por Enzo.

— Quanto tá a passagem? — perguntou Enzo se segurando, sem qualquer jeito para andar de ônibus.

— R$ 3,80. O limite do troco é R$ 20. Pena que não posso fazer um desconto para um rapaz tão bonito. — explicou a cobradora piscando para o jovem.

Agoniado para sair desta situação, Enzo, olhou na carteira e, por sorte, encontrou uma nota de R$ 10. Ele entregou o dinheiro para a cobradora e esperou pelo troco. Em seguida, ele passou pela catraca e ficou surpreso com o estado do ônibus. As janelas pareciam que iam quebrar por causa do movimento.

Já as cadeiras sujas e paredes pichadas, também, não eram tão atrativas. Depois de um tempo, o jovem decidiu sentar próximo à janela, então, colocou os fones e selecionou uma música.

***

Como foi que eu te encontrei?

Algo nos une, algo nos une

É disso que se trata no final?

Eu nunca soube, nunca soube

Eu digo para você, eu digo para mim

Nós podemos sentir isso

Isso é de verdade

***

Não muito longe dali, em frente ao Shopping Millenium, Noslen também esperava uma carona. Ele viu o coletivo número 200 e não se fez de rogado, correu e fez sinal de parada. Para entrar pela porta traseira do coletivo, o venezuelano mostrou algumas balas e bombons. Por pouco, o motorista não passou direto, porém, ficou tocado e parou.

— Gracias! — agradeceu o jovem venezuelano ao entrar no ônibus.

— De nada, filho! — gritou o motorista que seguiu viagem.

— Boa noite, senhoras e senhores, me chamo Noslen e sou da Venezuela, estou aqui em Manaus para realizar meus sonhos, por isso, quero oferecer meus produtos. — mostrando algumas balas com a mão direita. — Tenho uma bala de goma, chocolates e amendoim. Se você quiser, levante a mão e vou até você. — disse Noslen, repetindo a fala pela 100ª vez, apenas neste dia.

Sem qualquer animação para um encontro, Enzo mandou uma mensagem e cancelou o jantar. De repente, o ônibus passou em cima de um buraco, com o solavanco, ele derrubou o celular no chão e o fone soltou do aparelho, ou seja, a música tocou em alto e bom som.

O jovem empresário olhou diretamente para os olhos de Noslen. Os dois ficaram se encarando por um bom tempo. Eles sentiram uma energia diferente. Uma conexão especial que fez o coração de ambos bater mais forte.

***

E eu vou correndo rápido

Não sei aonde estou indo

Sinto algo e minha mente

Foge por toda parte

Essa é a sensação

Que as pessoas tanto falam

É como sentir tudo e estar sonhando

E pelos meus olhos, eu vejo

Embora estejam fechados

E sem nos dizer nada

Você me pega em seus braços

Me faça descansar, me dê um abraço

E então, finalmente, finalmente estarei flutuando

Flutuando, flutuando

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Comentários

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Fã incondicional adorando mais esse início de conto. Parabéns e obrigado por mais uma história para sonhar e nos distrair.

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Bem interessante este início!!!

Enzo parece ser um inteligente trapalhão mas precisa ficar mais atento...

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