Rio de Janeiro, 1964
Lúcia amava o seu marido com todas as forças, mesmo ele sendo um tremendo banana. Os dois viviam a mais perfeita história de amor: se conheceram no colégio, foram a primeira vez de cada um, se casaram cedo e também tiveram filhos cedo. Já com quase 20 anos de casados, Maria Lúcia amava Arnaldo da mesma forma que o amava no dia em que se casaram. Um tremendo ortodontista, Arnaldo deu a Lúcia uma vida confortável, um filho estudioso e uma casa grande e aconchegante no bairro de Copacabana. Ela não podia desejar algo melhor.
No entanto, Lúcia guardava um segredo durante todos esses anos, que sequer ousava cogitar em contar a seu marido. Durante às terça-feiras, quando seu filho, Afonso, estava na faculdade de direito, e seu marido no consultório, Lúcia recebia a visita de Heloísa.
Ela era uma jovem manicure, de pele morena e bem cuidada, com um corpo tão belo que muitos diriam ser obsceno. O que os seus vizinhos poderiam pensar que era apenas uma mera sessão de beleza feminina, era muito mais que isso.
Há cerca de um ano, as visitas de Heloísa ficaram mais longas. Seu dever já não era apenas cuidar dos pés de Lúcia, mas de todo o seu corpo. Ambas se deitavam na cama onde até mesmo o pequeno Afonso fora concebido, e alí elas se amavam. Lúcia adorava o aroma natural que exalava de Heloísa, pensava ser um afrodisíaco eficacíssimo quando as pernas dela estavam em seus ombros e ela lhe chupava com tesão.
Heloísa não foi a primeira amante de Lúcia. Do pecado do adultério, Heloísa cometia desde quando ainda era moça. Nos primeiros anos, sentiu medo que seu marido a descobrisse. Mas como já dito, o sujeito era um banana. Não notaria nem o próprio chifre se sua mulher chupasse a boceta de outra na sua frente.
Ela não fazia por mal, fazia por necessidade. Seu marido era bom moço, como sempre foi. Mas na cama nunca lhe satisfaz. Apenas o suave toque de uma mulher fazia Lúcia gozar.
Heloísa não foi a primeira, mas foi diferente de todas as outras. Era uma garota meiga, que os seus meros 18 anos lhe davam uma ingenuidade apaixonante. Era fã de Beatles e Elvis, músicos que tentou apresentar a Lúcia, com alguns discos de vinis que ela trazia para tocar na vitrola da casa, mas que Lúcia nunca gostou direito do seu som tão agitado. Tão linda que dava inveja, Lúcia se questionava como que uma garota daquelas tinha acabado como manicure, e não como uma modelo.
Todas essas qualidades e tantas outras causaram em Lúcia algo que nenhuma outra amante lhe causara: amor. Lúcia estava apaixonada por Heloísa. Ela sabia disso, já havia aceitado isso. Contava os minutos para elas se encontrarem na terça-feira, e sempre pedia para ficar um pouco mais, mesmo que já fosse quase na hora de seu marido chegar.
Heloísa também estava amando Lúcia. Lúcia não sabia, mas desconfiava. Mas o que esse sentimento causou em Lúcia não foi nada agradável. Pela primeira vez em muito tempo, Lúcia se sentia culpada pelos chifres que colocava em Arnaldo. Todas as anteriores foram uma merda paixão carnal, mas com Heloísa rolava sentimento. Pior do que isso, não sabia se era capaz de amar duas pessoas ao mesmo tempo. Teria que escolher. E em sua escolha, não teve dúvidas que ficaria com Arnaldo até o fim da sua vida.
Lúcia então, uma terça-feira qualquer, disse a Heloísa que nunca mais queria vê-la. Disse que a jovem estava acabando com o seu casamento e todas as dramaticidades que os infiéis contam a suas amantes. Heloísa ficou arrasada, de coração partido, mas fez o que Lúcia falou.
Quando seu coração sarou, Lúcia já estava feliz novamente com o seu casamento mundano. Mesmo que Arnaldo não a satisfizesse na cama, ela aprendeu a se amar sozinha, e assim explorou o seu corpo nas tardes vazias que se tornaram sua vida monótona de dona de casa.
Até que um dia, seu filho Afonso, contou a seus pais que estava namorando uma garota que conhecera na faculdade. Arnaldo ficou mais feliz que pinto no lixo, ele sonhava que seu filho tivesse uma história linda de amor como a sua, e não pensou duas vezes em dizer que o rapaz podia convidá-la para um jantar, para conhecerem a dita-cuja.
Lúcia ficou tão empolgada quanto seu marido, e também não mediu esforços para fazer a janta mais perfeita para a ocasião: frango assado com batatas coradas, salada de alface e arroz com feijão.
Mas quando viu a namorada de Afonso entrar pela porta, não acreditou. Era Heloísa, tão linda quanto o dia em que ela a viu pela última vez. Já não usava o seu tradicional uniforme branco de manicure. Em vez disso, vestia um vestido florido, com um belo decote que valorizava os seus seios. Aquele belo par de seios que Lúcia tanto chupou em tempos recentes.
Seu coração disparou, ficou estática, segurou a bandeja com o frango assado por tanto tempo que só saiu do transe quando reparou que suas mãos queimavam.
Afonso apresentou Heloísa a seu pai, e logo em seguida a sua mãe. Heloísa agiu como se não a conhecesse, deu-lhe um abraço apertado, pressionando seus seios contra os de Lúcia e disse o quanto estava feliz em conhecer os seus futuros sogros.
Lúcia a cumprimentou ainda um pouco catatônica, nervosa com o que acontecia. Não importa o que acontecesse, esse seria um longo jantar para ela.