Heloísa já sabia do que gostava desde seus tempos de garota. Sua primeira paixão sáfica foi ninguém menos que Marilyn Monroe, quando assistiu ao filme ‘O Pecado Mora Ao Lado’. Na época, não entendeu direito os seus sentimentos, confundindo desejo com admiração. Admirava, de fato, a atriz, mas a desejava. Deitava em sua cama e sonhava em um dia se encontrar com ela.
Ela só foi entender melhor os seus sentimentos anos mais tarde, quando assistiu ao irreverente ‘Quanto Mais Quente Melhor’ nos cinemas. Ver seu amor platônico beijando outra mulher (ainda que fosse apenas o Tony Curtis disfarçado) despertou nela um sentimento que nunca havia imaginado. Depois daquilo, não demorou muito tempo para finalmente se assumir.
Com isso, vieram as namoradinhas, com quem ela tinha relações às escondidas. Afinal, à época, isso era visto como um grande tabu para a hipócrita sociedade puritana brasileira. Quando descobriu que sua primeira paixão havia morrido no verão de 62, Heloísa ficou de luto tal qual se fica ao perder um parente próximo.
Porém, pouco tempo depois, conhecera Lúcia, uma mulher fina ao qual prestava o serviço de manicure. A princípio, Heloísa ficou surpresa ao notar as semelhanças dela com Marilyn. Lúcia possuía os cabelos loiros e o corpo de violão, tal qual sua paixão. Até mesmo a pinta perto da boca Lúcia possuía. Heloísa pensava que se Marilyn tivesse vivido mais uns dez anos, seria idêntica a Lúcia, e tão bela quanto.
Não demorou muito para que o sentimento de desejo se apossasse de Heloísa. Achava Lúcia bastante charmosa e uma ótima cliente, com quem conversavam aos montes. Até que um certo dia, enquanto cuidava das delicadas unhas de sua cliente, Lúcia se aproximou e lhe roubou um beijo. Heloísa ficou surpresa, pois mesmo que a admirasse, jamais pensara que ela também a desejava. Lúcia se desculpou, mas não foi preciso. Heloísa a beijou novamente e então deram início àquela relação.
Lúcia a levou para cama e a despiu, beijando o seu corpo com desejo. Depois foi a vez de Heloísa fazer o mesmo, a deitou na cama, abriu sua pernas e alí ela a acariciou, beijou e chupou tudo o que ela tinha direito naquele corpo. Foi intenso e prazeroso para ambas. E desde então continuaram a fazer aquilo, sem nenhum remorso ou culpa.
As visitas à casa de Lúcia tornaram-se sua hora semanal de prazer. Depois se tornaram duas horas e até três, em um dia em que Heloísa perdeu a noção do tempo e foi embora correndo da casa de Lúcia ao perceber que já era quase na hora do seu marido chegar.
Heloísa tornou-se obcecada por Lúcia, de um jeito que extrapolava o mero sentimento de paixão, pois via nela mais do que a dona de casa recatada que ela cuidava de suas unhas. Via nela a própria Marilyn, seu sonho de consumo desde que se descobrira uma tremenda sapatão. Quando a beijava, beijava Marilyn em sua cabeça. Quando lhe chupava, eram os lábios de Marilyn que tocavam a sua boca.
Porém, tal qual o dia em que descobrira que sua paixão havia falecido, ela se sentiu desolada quando Lúcia terminou o relacionamento. Heloísa não conseguia compreender o porquê daquilo acontecer. Nunca tiveram uma única discussão sequer, só o que faziam era dar prazer uma para outra. Quando saiu da casa de Lúcia naquele dia, pôs-se a chorar durante todo o trajeto até sua casa em Honório Gurgel.
Heloísa pensou diversas vezes em voltar lá, tentar conversar com ela e entender melhor. Queria reatar o seu relacionamento. Mas tinha medo de tocar sua campainha. Passava em frente a sua casa às vezes, quando ia atender outras madames naquela região. Mesmo que não fosse caminho, ela sempre passava em sua rua se estivesse por perto, sempre na esperança de bater em sua porta, mas acovardava-se toda vez que passava em frente.
Em um desses dias, viu alguém sair da casa no momento em que passava. Era um jovem alto e bem apessoado, o filho de Lúcia, Afonso. Decidiu, então, seguir o garoto, por mera curiosidade. Pegou o trem no mesmo vagão que ele, o observando de longe, até a estação do Maracanã, onde ele saltou e foi até a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, para sua aula de direito tributário.
Heloísa então esperou do lado de fora da sala de aula, esperando que a aula acabasse, e quando Afonso saiu, caminhou em sua direção, esbarrando com o ombro no de Afonso e fazendo seus livros caírem no chão. Assim, como em um clichê barato de comédia romântica, os dois se conheceram.
Trocaram meia dúzia de palavras naquele dia. E depois, quase sempre no mesmo horário, Heloísa o procurava pelos corredores da universidade. Fingia ser uma universitária, mesmo que não tivesse sequer o ginásio completo, só para então aceitar quando Afonso a convidou para um encontro.
Não perdeu tempo, foi para a cama com Afonso já no primeiro encontro. Queria que o paspalho se apaixonasse o mais rápido possível por ela. Por isso, fez de tudo para tê-lo em suas mãos. Lhe chupou por horas a fio, deixou que lhe gozasse na boca e engoliu tudo (embora o sabor amargo quase a tivesse feito vomitar), até lhe comer por trás ela deixou que ele fizesse. Tornou-se a mulher perfeita para um jovem rapaz, pudica e recatada por fora, mas uma predadora voraz entre quatro paredes.
Quatro meses depois de namoro, seu plano finalmente chegou ao estágio final, quando Afonso a convidou para conhecer os seus pais, depois de muita insistência da própria. No dia, colocou o seu vestido mais lindo, florido e justo, valorizando suas curvas. Queria mais do que causar surpresa em Lúcia quando a visse, queria acender novamente a paixão dela.
Assim que chegaram na casa dos pais de Afonso, Heloísa fitou com os seus olhos à procura de Lúcia, e a encontrou na cozinha, segurando uma bandeja com um frango assado suculento. Heloísa notou o estado de surpresa que Lúcia se encontrara, tudo estava dando certo até ali. A abraçou como se não a conhecesse e notou mais de perto o estado catatônico que a havia deixado.
Seria um longo jantar, e com certeza Heloísa queria aproveitar cada segundo.
(Continua...)