Já entrou em um lugar e se sentiu em casa? Noslen, sim. Ele olhou em volta e aprovou a decoração do apartamento de Enzo. O local era uma mistura das personalidades dos irmãos. A sala conta com um sofá, TV gigante e um sistema de som da última geração. Nas paredes, as fotos mostram um pouco da história da família e o venezuelano sentiu um quente no coração.
— Nossa. É 10 vezes maior que o meu barraco. Muito obrigado por me deixar ficar aqui. — agradeceu Noslen, que ficou em pé ao lado do sofá, ainda com vergonha de Enzo.
— Olha só. Vocês já chegaram? — questionou Erick, entrando só de toalha e deixando Noslen nervoso.
— Não, ainda estamos no hospital. — respondeu Enzo, brincando e deixando os pertences de Noslen na mesa da sala e andando até o quarto.
— Já preparei o quartinho do seu herói. — avisou Erick parando na frente de Noslen e fazendo uma careta. — Yo, rá preparei su quarto! — ele disse olhando para Noslen, falando um espanhol péssimo e gritando.
— Obrigado. — o venezuelano respondeu segurando o riso.
— Deixa eu ir me arrumar, até depois, princesas. — indo em direção ao seu quarto.
— Pensei que vocês tivessem morado próximo a fronteira da Colômbia. — comentou Noslen, parado no mesmo lugar, esperando Enzo falar o próximo passo.
— E moramos, meu irmão que é uma porta. Só é músculo, mas tem bom coração. — colocando várias roupas no sofá. — Olha, aqui em algumas roupas, acho que as roupas do Erick vão caber em você.
— Enzo. Quero muito agradecer sua ajuda, você é um bom amigo. — ele disse abraçando Enzo e se emocionando.
— Noslen, eu... eu é que te agradeço, afinal, você salvou a minha vida. — abraçando Noslen forte.
— Bem, eu preciso tomar banho. — avisou Noslen, sem graça de estar sujo para abraçar Enzo.
— Segunda porta no final do corredor. — falou Enzo indicando o caminho e entregando uma toalha para o venezuelano.
— Com licença. — indo em direção ao banheiro e fechando a porta.
— Não gosta de abraços, né? — Erick brincou ao passar por Enzo.
— Cala boca. — esbravejou Enzo jogando um travesseiro no rosto do irmão.
Uma noite mal dormida para os irmãos Souza. Para não criar expectativas no venezuelano que dormia no quarto ao seu lado, Enzo fez uma série de flexões e espantou os pensamentos maliciosos. Já o policial, via fotos de Celina em uma rede social, os dois continuavam conversando, mas ele não teve coragem de revelar que havia matado José.
Já Noslen, pela primeira vez em muito tempo, dormia em uma cama confortável. O venezuelano teve um pesadelo. Ele viu uma mulher acariciando seu rosto, em seguida, tudo começou a gritar. O barulho chamou a atenção de Erick e Enzo.
— Não! — ele gritou antes de acordar. — O que foi isso? Quem era aquela mulher?
— O que foi isso? — quis saber Erick com uma arma em mãos.
— Erick. — Enzo gritou ao ver o irmão armado. — Larga essa porcaria.
— Tá tudo certo? — Erick continuou apontando a arma para Noslen.
— Estou, Erick. — assegurou o venezuelano.
— Ok. Vão dormir. Está ficando tarde. — saindo do quarto.
— Noslen, tá tudo bem? — perguntou Enzo entrando no quarto.
— Eu, eu não lembro. — respondeu Noslen, ofegante e emocionado.
— Do quê? — quis saber Enzo sentando ao lado de Noslen.
— Eu fui encontrado muito ferido em Roraima. Fiquei em coma por semanas, acordei quando me transferiram para Manaus. Eu não lembro quem eu sou, de onde eu realmente vim. — ele explicou chorando, deixando Enzo tocado.
— Ei, tá tudo bem. — pegando na mão de Noslen. — Você não está sozinho. Eu estou aqui. — falou se arrumando na cama, abraçando o venezuelano. – Vamos dar um jeito.
— É que não consigo lembrar mesmo. — lamentou Noslen, decepcionado com a falta de memória.
— Posso dormir aqui com você? — perguntou Enzo ficando vermelho e tímido por se convidar dessa maneira.
— Claro, pode sim. — concordou Noslen levantando às cobertas e abrindo espaço para Enzo.
Os dois dormiram juntos. Enzo acordou primeiro e levantou para preparar o café da manhã, só que tinha um problema, ele não sabia cozinhar nada. A fumaça tomou conta da cozinha e o detector de incêndio começou a disparar.
Noslen acordou com o braço dolorido, levantou e, meio zonzo, não reconheceu o lugar onde estava. O venezuelano saiu do quarto e ficou assustado com o cheiro de queimado. Ele encontrou Enzo reclamando sozinho, a vontade dele de rir foi grande, mas a dor era demais.
— Senta, vejo que está mais dolorido, né? — Enzo percebeu, ajudando Noslen.
— Sim, mas eu preciso me recuperar logo. O aluguel não se paga sozinho. — ele desabafou ao sentar.
— Ei, eu já te falei. O aluguel de vocês está garantido, não se preocupe. A sua única tarefa é se recuperar. — garantiu Enzo, tentando deixar o amigo mais tranquilo.
— Obrigado, Enzo, nunca vou esquecer disso.
— Relaxa. — pediu Enzo ao colocar um prato de ovos queimado sob a mesa.
Noslen riu, mas pegou um pouco do ovo e colocou no pão. Gosto de carvão, era esse o sabor que o venezuelano sentiu. Ao provar, Enzo quase vomitou. Ele agradeceu ao esforço do amigo, pegou os ovos e jogou no lixo. Eles riram da situação, então, Noslen, mesmo com o braço enfaixado, fez duas deliciosas omeletes, nem precisa dizer, que Enzo ficou feliz.
Em Manaus, Noslen aprendeu a fazer vários trabalhos diferentes, em uma época, o jovem trabalhou em três lanchonetes ao mesmo tempo, por isso, conseguiu absorver bastante no quesito gastronomia.
Fazer tapioca era uma das especialidades de Noslen, porém, ele preferiu deixar esse talento escondido. Enzo ficou satisfeito, depois de conversarem bastante, os dois fizeram um pequeno tour pelo apartamento.
Naquela manhã, Ian, se sentiu o 'rei da cocada preta', afinal, Enzo ficaria uns dias de folga, e em um email, o CEO da startup, nomeou seu sócio como "chefe adjunto". Em sua sala, Ian, pediu para Diana descobrir tudo sobre o motivo que fez Enzo tirar essa pequena folga, principalmente, em um período onde várias empresas entravam na network deles.
— Ian, com licença. — pediu Kleber, na porta da sala.
— Pode entrar, querido.
— Eu trouxe os documentos da compra do novo nobreak. — colocando os papéis na mesa de Ian.
— Claro, vou olhar com cuidado. Kleber, sente um pouco. — pediu Ian apontando para o acento em sua frente.
— Ah, sim. Aconteceu alguma coisa? — perguntou Kleber sentando e estranhando o pedido de Ian.
— Estou ótimo. Inclusive, como vai o Saturno, quer dizer, o Santino. Eu lamentava tanto os bullyings que o seu namorado sofria por causa do peso. Ele podia usar essas zoações para emagrecer, né? — Ian comentou de forma maldosa, deixando Kleber chateado.
— O meu namorado é perfeito, Ian. Não precisa mudar o seu jeito para ninguém. — respondeu Kleber de forma seca e direta.
— Claro, eu sou super à favor dos ursões! Uipii! — Ian falou, levantando as mãos para cima e balançando. — Enfim, o assunto, realmente, não é esse. Querido, estou preocupado com o Enzo.
— Olha, Ian. — Kleber respirou fundo para não falar um palavrão. — O Enzo passou por poucas e boas com aquela situação do sequestro.
— Eu sei, nossa! — exclamou Ian, com uma atuação péssima. — Meu coração quase se quebrou. O Enzo, sabe, Kleber, é um amigo querido. Apenas não quero que ele sofra, entende?
— Sei. Bem, eu preciso ir agora. — avisou Kleber ao se levantar.
— Tudo bem. Ah, e Kleber, adorei a sua boina, ficou muito interessante.
— Obrigado, a minha mãe me deu. Com licença. — saindo da sala. — E eu pensei que o Sérgio fosse a maçã podre da escola do Santino. — pensando.
— Claro, só podia ser presente de pobre. — rindo sozinho e mandando uma mensagem para Diana. "DESCUBRA O QUE ACONTECEU COM O ENZO. URGENTE. E, POR FAVOR, PENTEIA ESSE CABELO".
A cabeça de Erick não estava bem, o PM se sentiu zonzo em vários momentos do dia. O Tenente Jurandir o chamou para saber como Enzo ficou após o sequestro. Erick disse tudo, ainda contou sobre Noslen, o jovem venezuelano que eles acolheram. Jurandir era um segundo pai para os irmãos, desde a morte dos seus pais. Um homem linha dura, mas que, na verdade, sabia ser atencioso e acolhedor.
— Tomem cuidado, por favor.
— Sim, chefe. O moleque é gente boa, sabe que eu não deixaria um trombadinha entrar na nossa casa. — respondeu Erick, respirando fundo e apoiando a cabeça no assento da cadeira.
— E você? — ele perguntou pegando no ombro de Erick.
— O que em eu?
— Ora, Erick, eu sei de tudo que acontece nesta cidade. Quatro marginais, hein? O que você estava fazendo no velório do bandido? — quis saber o Tenente Jurandir, que sentou de frente para o policial.
— O senhor já matou alguém? — questionou Erick.
— Se eu falar que não, estaria mentindo. Infelizmente, esse trabalho traz um ônus. Na rua, filho, são eles, ou nós.
— Eu passei a noite tentando ver o que eu poderia ter feito de diferente, e....
— Se torturar só vai complicar sua vida, vai por mim. Se precisar de uns dias de folga. — sugeriu o Tenente preocupado com a saúde mental do protegido.
— Estou bem, Tenente. Obrigado pela conversa. — agradeceu Erick se levantando e saindo da sala.
Como melhorar o humor? Compras. Aparentemente, Enzo aprendeu com Ian e levou Noslen para comprar algumas peças de roupas. A cada minuto que passava, a ligação entre os dois aumentava. Ao lado de Enzo, Noslen não se sentia perdido, mas temia a reação de seus amigos.
Já Enzo, tentava ir devagar para não se machucar, afinal, ele não sabia as intenções do venezuelano, sempre a razão passando por cima do coração.
— Chega de compras. — pediu Noslen sentando e tendo cuidado para não machucar o ombro.
— Como diria o Ian, o meu sócio, a moda dói. — disse Enzo, sentando ao lado do amigo.
— Enzo, posso te pedir um favor? — perguntou Noslen olhando para o amigo.
— Claro, o que você quiser. — respondeu Enzo, completamente, entregue ao venezuelano.
***
Espante o nevoeiro
E deixar o céu ficar claro
Vamos ficar na luz
A sombra está cheia de medo
Você não pode simplesmente se esconder para sempre
Você vai quebrar
Você não é tão inteligente
Apenas tente uma vez
Não reter o seu amor
Quando lá no fundo
Sua alma está chorando
Venha compartilhar comigo
Todos os seus segredos mais profundos
Juntos, você e eu
Fazendo amor tão simples
Quando o vento sopra todos os seus medos
O amor faz as flores crescerem
Vermelho e verde e ouro, como os raios de sol
Me dê sua alma
Eu não vou deixar ir (x2)
****
Você gostaria de voltar ao passado? Essa pergunta martelava na cabeça de Erick que pensava em mil coisas ao mesmo tempo. Ele se arrumou, escreveu um bilhete para o irmão e partiu pelas ruas de Manaus. O policial seguiu para um lugar que não deveria.
Erick estacionou a moto e ficou esperando alguém. Não demorou muito até que Celina apareceu, ela saiu de uma loja e ficou surpresa quando encontrou Erick.
— Você de novo? — perguntou Celina surpresa ao ver o policial.
— Desculpa ser chato, mas eu precisava encontrar alguém. — revelou Erick com as mãos tremendo.
— Você está me seguindo? — perguntou a moça, na defensiva com medo de Erick.
— Não, eu não faço essas coisas. É que você...
— Você está tremendo. Veio de moto? — questionou Celina ao ver o capacete na mão de Erick.
— Sim.
— Vem. — pegando o capacete e subindo na moto de Erick. — Você não está bem para dirigir.
— Eu posso...
— Ah, para com essa de macho-alfa. Sobe logo, aposto que dirijo essa beleza bem melhor que você. — ela disse ligando a moto e colocando o capacete.
— Tá bom. — Erick concordou, colocando o capacete reserva e subindo na moto.
****
Então venha compartilhar comigo
Todos os seus segredos mais profundos
Juntos, você e eu
Fazendo amor tão diferente
Quando o vento sopra todos os seus medos
O amor faz as flores crescerem
Vermelho e verde e ouro, como os raios de sol
Me dê sua alma
Eu não vou desistir
Você sabe que eu nunca irei
***
Meio contrariado, Enzo entrou no Terminal de Integração 1, que fica na Avenida Constantino Nery, uma das principais de Manaus. Noslen cumprimentou várias pessoas, porém, queria ver uma em particular, a sua mãe do coração, Dona Aurora.
A senhora ficou feliz e emocionada ao ver o jovem venezuelano bem. Enzo se surpreendeu, com todo o amor e carinho que havia entre eles. Os dois sentaram em bancos pequenos, Enzo ficou parecendo um gigante, Noslen riu, entretanto, não disse nada.
— Meu filho, quando Nico falou fiquei tão preocupada, inclusive, a gente foi ao hospital, mas você já tinha saído. É tão ruim ficar sem notícias. — afirmou a idosa, olhando para Noslen dos pés à cabeça.
— Desculpa, Mama Aurora. Não queria deixar a senhora preocupada.
— E quem é seu amigo bonitão? — perguntou a senhora para Noslen ao ver Enzo.
— Ele se chama Enzo. — Noslen ficou vermelho e apresentou o amigo.
— O Noslen é um herói, Dona Aurora, ele me salvou de um tiro. Por isso, me ofereci para cuidar dele até a ferida melhorar. — explicou Enzo, se assustando ao ver um rato.
— Passa! — gritou Aurora. — Não se preocupe, eles são inofensivos.
— Tudo bem.
— Mama. Agora precisamos ir. Está quase na hora de trocar o curativo. — Noslen avisou para a mãe de coração.
— Vá em paz meu filho, que Deus te proteja.
Diana fazia todas as vontades de Ian, na verdade, ela sempre aprendia muitas coisas com ele, principalmente, a arte de dissimular. Discreta, a estagiária aproveitou o momento para vasculhar informações na sala de Enzo. Para melhorar o dia do chefe, a jovem levou várias planilhas com contatos variados.
Ao ver o material, Ian, ficou com os olhos brilhando. Mais um passo em seu maligno plano estava sendo alcançado. O empresário fez uma ligação que lhe seria útil naquele momento.
— Alô? Benjamin, boa noite? Sim, eu tenho aqui um documento que vai te ser muito útil. Claro, eu sei onde fica. Pode deixar. Até mais tarde. — desligando, sorrindo e batendo os dedos em ritmo na mesa de vidro.
— O senhor vai dar esses documentos para Benjamin Azevedo? Isso não pode afundar a nossa empresa? — perguntou Diana receosa, pois haviam vários projetos da Tech Land nos documentos.
— Diana. Você acha mesmo que vou entregar esse documento? Temos duas horas até encontrá-lo. Vamos trabalhar e modificar algumas coisas. Semana passada, o Enzo encontrou com o Benjamin. Essa empresa vai ser minha. — respondeu Ian dando uma risada maligna.
***
VALEU, GALERA! SÓ PASSANDO AQUI PARA AGRADECER AOS COMENTÁRIOS E ENGAJAMENTO. FICO MUITO FELIZ. TENHAM UM ÓTIMO FIM DE SEMANA!