NARRAÇÃO: ZEDU
***
A família do Yuri tem um costume bem peculiar. Quando alguém está triste, os outros costumam fazer uma dança. Algo que sempre envolve uma música dos anos 70 e 80. Essa vai ser a minha inspiração para a surpresa do casamento. Só que eu não estou tendo sucesso em colocar emoção nos meus passos.
Bem, foi o que falou a minha professora, a Giovanna. Ela conseguiu treinar o Carlos, então, julguei que seria uma boa instrutora para mim. Eu quero morrer! Estou suado, ofegante, meu joelho está doendo e a Giovanna só faz críticas.
— Zedu, que passos preguiçosos são esses? Tú não dançava?
— Sim, dançava. Antes de um jacaré morder o meu pé. — reclamei, sentando no chão.
— Ah, não. Querido, você acha que o Lin Manuel Miranda reclamava quando fazia as coreografias de "In The Heights"? Por favor, isso é mamão com açúcar. — ela afirmou, andando de um lado para o outro da sala. — Você tem uma semana para aperfeiçoar os seus passos. Eu não aceito menos que a perfeição! — ela gritou me assustando.
— Sim. — fiquei em pé. — Vamos do início?
— Esse é meu garoto. — ela comentou, apertando o play e soltando o som. — Eu só quero ver quando os outros chegarem. — lamentou a minha cunhada.
A preparação para um casamento é exaustiva. Tudo tem que estar perfeito para a grande noite. Eu não queria ser um desleixado, por isso, sempre ajuda o Yuri nos momentos de crise. A simulação do Salão de festas ficou incrível. O espaço era ideal para receber todos os convidados.
Aproveitei uma folga no trabalho para pesquisar a Lua de Mel. Pegaria duas semanas de folga para curtir ao lado do meu amor. Estados Unidos? Não. Europa? Não. Queria um lugar significativo para nós. Por exemplo, para os nossos amigos Kleber e Santino, o Estado ideal é o Ceará, porque foi lá que os pombinhos se conheceram.
A Celinne sugeriu o México. Eu arranhava um pouco de Espanhol, então, seria capaz de guiar o meu namorado para todos os lados. Liguei para o Yuri e propus uma viagem ao México. O Yuri adorou a sugestão e pediu duas semanas de folga para o seu chefe.
— Nem acredito. — cantarolou Camille, se debruçando sobre a mesa. — O meu chefinho perfeito vai para Cancun. Bem que os funcionários poderiam ganhar uma viagem, né?
— Claro. Pro Rio. — falei sério, olhando uns documentos.
— Sério?
— Rio Preto da Eva (cidade do Amazonas ). — brinquei, dando uma risada, mas sem tirar os olhos do documento.
— Estraga prazeres. — murmurou a Camille. — E os ensaios?
— Cara, — deixando o documento na mesa. — horrível! A Giovanna é uma ditadora maligna. As minhas pernas estão acabadas. — reclamei.
— Eita, eu vou para o ensaio desta quinta. Devo me preocupar? — perguntou Camille com uma feição de medo no rosto.
***
NARRAÇÃO: YURI
***
Resolvemos ensaiar em um estúdio próximo ao meu trabalho. O meu cunhado conseguiu adaptar a canção "Beauty and the Best", da banda coreana The Rose. A escutei em um dorama e amei a letra. De uma maneira surpreendente, o Sérgio captou toda a beleza da versão original.
— Yuri. Acho que está tudo pronto. Só vamos ensaiar um dia antes do casamento. — avisou Sérgio, colocando o violão no case. — Quer carona?
— Ah, não. Vou encontrar o Santino. — disse, pegando a minha mochila.
— Cara, ele tá surtando com o negócio dos quadrinhos. O Santino quer tudo perfeito. — explicou Sérgio, antes de se despedir de mim.
Andei até o estacionamento e avistei o carro do Santino. Ele é um cara muito tímido. Às vezes, enrolava muito para chegar no ponto. Fomos para um restaurante de comida japonesa, escolhemos uma mesa distante para conversarmos melhor. Animado, o Santino mostrou o primeiro exemplar de "Amor de Peso".
Eu comecei a folhear as páginas. Gente, fiquei surpreso com a minha história sendo contada de uma maneira tão visual. O aeroporto, a casa acabada, a bolada no rosto e a primeira vez que encontrei o Zedu. De repente, um turbilhão de emoções invadiu o meu coração. Lágrimas começaram e escorrer pelo meu rosto.
— Yu... Yu... Yuri. — gaguejou Santino preocupado. — Você está bem?
— Estou sem palavras. Você colocou tudo o que escrevemos. Cara, tá perfeito. — levantei, dei uma corridinha na direção de Santino e o abracei. — Obrigado.
— De nada. — Santino se deixou ser abraçado. — Eu estou na terceira edição.
— Vão ser quantas capítulos? — perguntei me afastando e voltando para a minha cadeira.
— Pensei em 10. Até o final do ano consegui finalizar a metade. É um trabalho árduo, ainda mais sendo independente. — explicou Santino.
Caramba. Eu ainda estava em choque. Levei o exemplar de presente. Cheguei em casa e o Zedu estava "desmaiado" na cama. Ele chegou ao limite do cansaço. A Giovanna conseguia ser chata, ainda mais envolvendo dança e performance ao vivo. O meu noivo usava uma camiseta dos Power Ranger e uma samba canção azul.
Tomei um banho, escovei os dentes e voltei para o quarto. O Zedu continuava dormindo. Deitei na cama e me aninhei ao seu lado. O perfume do Zedu era doce e contagiante. Eu me perdi nos pensamentos e dormi. De madrugada, acordei com um choro. Abri os olhos e encontrei o Zedu lendo o exemplar do quadrinho.
— Eu também chorei. — falei o assustando.
— Yuri. — limpando os olhos.
— Gostou?
— O Santino pegou pesado, viu. Está tudo tão perfeito. A nossa história é perfeita. — ele garantiu.
***
NARRAÇÃO: ZEDU
***
Eu amei o Yuri desde o primeiro momento. Fui um babaca na maior parte do tempo, porém, o meu amor foi muito mais forte e venceu. Os traços do Santino me emocionaram. Eu pude relembrar cada detalhe da nossa história. Sabe que mais gostou? A Giovanna.
— Nem acredito que sou uma personagem de um quadrinho! — exclamou Giovanna com o quadrinho em mãos. — Chupa, mulher-maravilha.
— Eu era tão franzino assim? — questionou Richard, "roubando" o quadrinho das mãos de Giovanna. — E nem coloquei fogo no banheiro. — ele reclamou.
— Colocou. — todos responderam juntos.
Muitas lembranças. Um sentimento de nostalgia nos invadiu. Começamos a relembrar histórias das nossas infâncias e adolescências. O Yuri ficou reflexivo na parte dos bullyings e armações que sofremos. Não escondemos nada do Santino. A verdade seria fundamental para a narrativa de "Amor de Peso".
Infelizmente, nem toda história é feita de amor. O Yuri e eu, enfrentamos muitos problemas. Externos e pessoais. Na época, eu tinha namorada. Já o Yuri estava se descobrindo e ficou com dois caras. Ou seja, se apaixonar na adolescência pode ser o caos, entretanto, no fim deu tudo certo.
A emoção durou pouco tempo. Tivemos mais um ensaio com a ditadora, ops, a Giovanna. Todo mundo já estava pegando a coreografia, só que a minha cunhada queria a perfeição. Depois de duas horas de ensaio, nós decidimos dar uma parada e convocamos o Sérgio para domar a fera.
— Eu nunca mais danço no casamento de ninguém. — afirmou o Santino, deitando no chão.
— E no nosso? — questionou Kleber, deixando ao lado do noivo.
— Eu canto, mas não danço. — disse Santino, fazendo todo mundo rir.
— Ok. Então, eu faço a parte da dança.
— Pode fazer a dancinha com a roupa do Caio! — gritou Sérgio, deixando o Kleber puto.
— Vou dançar junto com o teu pai. Seu desgraçado. — rebateu Kleber, batendo em um ponto delicado do Sérgio.
— Eu tô adorando. — soltou Ramona, batendo nas costas de Brutos, que revirou os olhos.
— Deixa de ser fofoqueira, mulher. — repreendeu Luciana, que estava mais atenta que tudo.
— Gente, eu preciso ir para casa. Uma diva necessita do sono de beleza. — anunciou Hélder de uma maneira dramática e nos fez rir.
Para fechar os ensaios, passamos a coreografia mais uma vez. Será que eu vou pagar muito mico? Porque os meus amigos vão me acompanhar, mas como a Giovanna salientou: "Eu vou ser a estrela da noite". Ainda bem que mantive o meu molejo da adolescência. A apresentação seria engraçada e sexy. Espero que isso desperte o Yuri safadinho. Eu preciso de muita ação na lua de mel.
Os dias passaram correndo. Sério, recebemos diversas demandas na empresa e não pude acompanhar os preparativos do casamento. Queria entregar todos os projetos para curtir a minha folga ao lado do meu bebezão. No grande dia, a Giovanna me acordou cedo, nem tive tempo de tomar banho.
De acordo com a minha cunhada, eu passaria o dia com meus irmãos e o Brutus. Afinal, eu só poderia ver o Yuri no momento do casamento. Encontrei o Fred no estacionamento. No banco traseiro havia uma mala e algumas caixas.
— Está preparado para o casório? — questionou Fred, dando a partida no carro, mas parando alguns metros depois.
— Eu...
De repente, alguém cobriu os meus olhos. Tentei lutar, mas foi impossível. O Fred conseguiu amarrar as minhas mãos. Eu tentei gritar, porém, a minha boca foi tapada com um pano. O que está acontecendo? Eu vou morrer. Eu vou morrer.
— Não se preocupa, maninho. Vai ser divertido. — Fred ameaçou, antes de acelerar o carro.
***
GENTE, SÓ RESPONDENDO ALGUNS COMENTÁRIOS DOS PRIMEIROS CAPÍTULOS:
ORIGINALMENTE, O PERSONAGEM J.L MORREU NO SEGUNDO LIVRO DE 'AMOR DE PESO', PORÉM, NA ÉPOCA EU NÃO TINHA PRETENÇÃO DE CRIAR UM TERCEIRO LIVRO. POR ISSO, POR MOTIVOS DE ROTEIRO EU ACHEI MELHOR MUDAR O FINAL DE J.L E O MANTIVE PRESO.