Era uma Vez nas Américas – Edição BNWO
- Katherine, o roteiro foi aprovado! As equipes da Paramount Pictures já estão prontas para a viagem.
Radiante eu tomo o meu champagne Monnet no meu loft em New York. O diretor e o roteirista do meu atual job eram grandes e renomados nomes da indústria cinematográfica e eu sabia que essa seria a minha catapulta para o estrelato máximo e meu primeiro Oscar de atriz.
Passagens compradas na Eastern Airlines e nossa equipe embarca. Ela era composta dos figurinistas Jerry Blossom, Margot Baptist e Ivys Grand; a maquiadora Cherry Lynn; o cenografista Anthony Salvador; e por vários ‘’camera man’’ e muitos outros além (obviamente) dos atores e atrizes do filme. E o nosso diretor e roteirista de enorme prestígio e que estavam alavancando essa obra.
Com tantas pessoas assim, o avião 767 era quase nosso.
Um voo para o nosso sítio de gravação, pra nossa locação.
As Américas.
Mais especificamente.
O Brasil.
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- Que inveja das estrelas...
Os atores, atrizes e o resto da staff principal estavam na parte executiva do voo. E enquanto isso a ralé como nós íamos na classe econômica.
- Pois é, Leo. Vida de cinegrafista é assim mesmo. Mas é melhor nem reclamar. Com o desemprego crescendo trabalho ruim é melhor que nenhum trabalho, não é mesmo? – Um colega meu me interpela desse jeito maroto.
Ainda bem que pelo menos não levaríamos muitas horas para que chegássemos na Capital do país de terceiro mundo no qual gravaríamos nosso filme original.
- Os ‘tourbus’ já estão locados, gentlemen and ladies. Meus homens cuidarão de vossas seguranças.
Um comboio de militares em jipes nos escoltam então para a cidade cenográfica, na qual nos encontraríamos com a parte local terceirizada para este fim de cuidar de cenário, prédios e figurantes.
- O governo é militar? Parece que estamos em algum país africano em guerra civil. – Eu digo, tendo toda a certeza de que eu não estava sendo preconceituoso não, pois aprendi na minha Chicago High School que a África era cheia de guerrilhas, ditaduras e era avessa à cultura, e que o meu país (USA) era o responsável por tentar mudar isso e trazer comida, água, remédios e principalmente a democracia pra essas pobres e isoladas partes do mundo.
(Isso seria também eles trazendo a democracia pro próprio país? Vai saber...)
Estávamos em 1969. Era de Richard M. Nixon, que tinha acabado de suceder à Lyndon B. Johnson.
Mas no Brasil esse contexto era completamente diferente.
- Em 1964 os militares tomaram o poder dos civis. Coisas de países de terceiro mundo. Mas não se preocupe, nosso filme não é político.
Eu tinha lido o roteiro em parte e realmente não era essa a pegada dele.
O nosso filme era tudo, menos político.
Chegamos na cidade cenográfica e desembarcamos as nossas coisas e vamos para a única construção real ali, que era uma pousada com galpões, cantina, bar, depósito, dormitórios e tudo o mais. Até membros do sindicato já estavam lá.
E o único objeto que eu sempre cuidava e minha carreira dependia dele estava comigo: A minha Kate.
(Olá, meu amor. Sentiu a minha falta?)
E ela não tinha esse nome atoa.
Eu era um fã fanático da Katherine Bush.
E finalmente eu estava trabalhando com ela.
(Ela é perfeita...)
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Meu filme se passaria no Brasil, narrando a história de Joyce Biers, uma viúva de um militar morto na Guerra do Vietnã e que depois da perda de seu homem foge e tenta uma nova vida nas Américas, no Brasil, onde o seu amor por uma mulher local, a Maria Joaquina, surge.
- Não. O seu nome é Maria. – Eu faço a minha orientação de direção. – Não Mary. E não precisa puxar o R assim. Eles não são mexicanos e você não fala espanhol.
- Tudo bem, diretor Tommy.
A atriz que contracenaria com a Katherine seria a Emilly Brown, uma atris em ascensão de 18 anos só. Ela era uma musa morena e um pouco mais escura que a Kate e faria o papel portanto da jovem nativa americana nesse novo e revolucionário par romântico lésbico.
(Emilly Bob Brown é bonita sim, porém essa sua beleza tem uma vulgaridade que não existe na Katherine Bush; que permanece pura em sua perfeição indisputável e sem paralelos humanos, na minha humilde opinião)
As cenas são gravadas e meus montadores eram bons, então eu podia confiar nos cinegrafistas para capturarem todos takes, cenas e cortes possíveis para depois sequenciar tudo na pós-produção.
Como as minhas atrizes ainda eram novas, eu não tinha ainda tanta confiança nelas, no caso e contexto único de suas atuações.
Hehe...
Mas essa juventude delas me seria útil depois.
Principalmente no caso da Katherine...
- Corta! Por hoje está bom. Amanhã nos dedicaremos exclusivamente a nossa grande cena do plano sequência. Estejam preparados e descansados.
Eu abro o meu cantil Santley para tomar o meu scotch Long Jhon destilado e vou para o meu trailer exclusivo de diretor.
A Katherine era a única que também tinha outra, já que o roteirista nosso e renomado cronista de filmes de terror continuou em New York e decidiu ficar fora das gravações.
Será que até o final do filme eu consigo comê-la? Minha mente faminta e sem rodeios já parte pra isso.
Adoraria lançá-la aos céus como uma das minhas estrelas, como uma de minhas beldades que só conseguiram brilhar graças a mim.
E que por isso devem me retribuir gostoso.
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Esse primeiro dia foi exaustivo demais.
- Wow. Eu ainda preciso melhorar muito como atriz. Até a tal da Brown precisou regravar menos cenas que as minhas.
Eu sento na frente da minha cabine privativa e VIP sob quatro rodas e fumo um cigarro Winston, enquanto contemplava os árvores, o vento, os grilos cantando e até a noite estrelada. A paisagem daquele lugar erra bucolicamente barroca e destoante do urbanismo desenfreado ao qual eu já estava acostumada. O Brasil não estava nos anos 60, quem sabe nos 40 ou no século passado, eu penso.
- Em Nova York é impossível se ver o céu assim. Aqui deve ser ótimo para se desafiar os dogmas religiosos sem grandes mágoas e quem sabe até se conhecer os mistérios de Deus. – Eu digo meio filosófica e estoicamente.
E então um pequeno menino muito retinto surge na minha frente e eu levo um baita de um susto.
- Hi! Você está perdido?
Pro meu espanto ele não tem reação nenhuma e só me olha curioso.
E tudo que ele faz foi estender a sua pequenina mão pra mim.
E quando eu a pego, ele me puxa carinhosamente pra longe do trailer.
- Beauty girl, vem comigo. Vem. I am lost. Vem comigo. Acho que minha casa é pra lá, mas tenho medo de seguir sozinho de noite.
Eu olho pra trás, pro meu camarim e penso até em abandoná-lo à míngua.
Mas era só uma criança, o que me custaria deixá-lo em casa e voltar logo?
- Tudo bem. Mas não me demorarei.
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Eu tomo coragem e vou falar com a Kate, pois tinha a visto depois da gravação no set voltando pro seu espaço único. Era tão exclusivo que tinha até uma cerca pequena com seu nome e foto e dizendo que apenas pessoas permitidas pela atriz podiam entrar.
E é claro que eu não era um desses privilegiados.
Porém ao chegar lá não havia mais ninguém.
- Katherine? Hello there? Há alguém aqui?
As luzes internas ainda estavam acessas e a porta semi aberta e destrancada.
Eu respiro fundo durante um tempo e tomo coragem de subir pelas escadas e adentrar a privacidade dela, só depois de me certificar que eu estava fazendo isso por preocupação com ela e com a sua saúde, e não por um sentimento comezinho de luxúria imprópria e socialmente reprovável.
Mas não havia ninguém ali e também existiam sinais de que alguém tinha invadido e revirado as coisas, porque os pertences delas (ou a ausência deles, quem sabe?) estavam espalhados e objetos jogados por todo o chão.
Eu saio de lá (com a minha camera de tripé nos ombros ainda) e acho ali na terra um indelével rastro de sapato alto pela noite se afastando da pousada e do trailer de Katherine.
- Senhorita Bush! Já estou indo!
Eu sabia que ele poderia estar em perigo e eu precisava fazer alguma coisa por ela.
E assim eu já estava quase correndo.
Quando então eu a vejo na minha frente e vindo no sentido contrário e voltando na minha direção. Foi tão inesperado que eu tropeço e caio pateticamente na frente dela na fofa semi grama selvagem na noite.
- O que você pensa que está fazendo?
Sem ter o que responder eu só fico estatelado.
- Perdão, senhorita Bush. Eu estou apenas estudando pra um filme sobre tatus nas Américas que farei depois desse filme...
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No outro dia de gravação eu tento gravar o plano sequência, mas o cinegrafista Leonardo me tirou tanto do sério que eu não conseguia retornar ao papel e à minha personagem.
- Holly shit! Corta! Cut! Não está bom. Vamos continuar com outra cena. Eu não imitarei o Kubrick e não gravarei em ordem cronológica. Esse aqui não é o 2001: Um Odisseia no Espaço. Leitura parcial de roteiro da cena do primeiro beijo lésbico e depois gravaremos.
Eu não estava conseguindo me concentrar depois que aquele enxerido me seguiu de noite.
- Perdão. Eu só estou preocupado contigo, Katherine. – Ele tinha se desculpado assim pra mim ontem de noite.
- Uma criança local se perdeu e eu fui ajudá-la. Há uma cidade de verdade há menos de uma milha daqui e eu fui deixá-lo em casa. Nada disso concerne à sua pessoa.
E depois disso, até a cena do beijo foi prejudicada e eu não conseguia contracenar com o meu par corretamente.
- Eu não consigo fazer... Sorry...
- Chega. Katherine, fica de molho e descanse. Faremos as cenas que não precisamos imediatamente de você. Qualquer coisa mais tarde eu conversarei com você e te darei algumas orientações pra te auxiliar e destravar a sua performance, okay?
Eu sou dispensada e estava com raiva do Leonardo. Era tanta que quase que eu peço e demissão dele, confiando em minha superioridade no empreendimento pra efetuar o pedido e sem justa causa pro mesmo.
E foi exatamente aquele chato que eu encontro na frente do meu trailer.
- Katherine Bush, me perdoe.
- Você disse isso e já pediu as suas desculpas. Quero atitudes e não palavras. Consegue voltar no tempo e evitar o desperdício de tempo que causou no filme? Só vai embora agora e me deixe em paz.
E eu o deixo ali sozinho e tranco a porta.
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Eu não podia ter esse tempo livre ou ser dispensado como a estrela podia. Eu era pago por hora e era um mero cinegrafista e só isso.
Ela era uma galáxia que brilhava muito, como diria o douto professor Carl Sagan.
Já eu era uma lua feia e apagada qualquer. Possível de se repor e se esquecer no negrume estrelado do céu infinito.
Então eu faço o meu trabalho e o tempo todo enquanto gravava, parte da minha mente estava focada em rever a Katherine pra ver se ela estava bem mesmo.
A última cena era sobre o passado da Emilly Brown nas Américas e como que ela sofreu preconceito por ser quase negra.
- Ela é branca e quase translúcida... A ambientação está perdida e era pra ser o forte desse filme. – Eu sussurro pra mim mesmo, quase fingindo que meu cargo era algo mais relevante do que realmente o era.
Quando os trabalhos se encerram (depois das cenas noturnas também) eu corro para o camarim dela.
Porém o diretor em pessoa estava lá, o Grande Tommy Blaze. Ele já subia as escadas dobráveis e batia na porta.
E diferente de mim, com ele a Katherine surge e exibe um belo e radiante rosto com bobs Wigs no cabelo pra cena do dia seguinte e o convida educadamente pra dentro.
Tarde demais.
E eu fico ali a ver navios.
Eu finco então a câmera no chão e sento embaixo dela e escuto um pouco de Suzanne do Leonard Cohen.
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- Oi, minha estrela. Hoje você estava indisposta ou doente? Nunca lhe vi tão distraída. Ainda mais uma jovem tão talentosa como ti.
Tommy era um homem pançudo nos seus 50-60ish anos e que tinha uma personalidade expansiva igual à uma geleia gordurosa e que te engloba por todos os lados e balança e ondula perto de ti. Tudo isso alimentado com sódio de carne Spam e cevada de Budweiser.
- Não. Eu estou bem, Tom. É só que eu estou me sentindo muito sobrecarregada pelo trabalho e a responsabilidade do papel.
E então do nada eu sinto a mão rechonchuda do diretor massageando o meu pescoço, o ato dele foi tão repentino que me deixa deveras impressionada e igualmente sem reação.
- Calma, minha Kate. Eu estou aqui para tirar esse peso dos seus delicados e lindos ombros. Saiba que pode sempre contar comigo, tá bom?
Eu estava sendo assediada pelo meu diretor?! Esse gordo nojento!
E eu não podia praticamente fazer nada se eu quisesse manter o meu emprego. Estávamos no final dos anos 60 e já era raro uma mulher ter um trabalho e não ser uma dona de casa, quanto mais uma solteira como eu.
(Eu nunca teria um futuro próspero como uma escrava de marido. Escravidão não combina com uma mulher forte como eu.)
- C-Claro, senhor Tommy. – E assim eu sucumbo pela inação de minha palavras.
Suas mãos passeiam pelas minhas costas e aqueles dedos gordos e nojentos borram o meu batom ao final, quase como se ele estivesse simulando nos meus lábios o que gostaria que o seu pênis fizesse comigo, mas ainda estivesse esperando e me preparando pra um abuso final.
- Não fique assustada. Estou saindo. Mas nunca esqueça que sempre que precisar de um amigo, estarei aqui pra você. Fique do meu lado e você ganhará todas as premiações desse ano. Academy Awards. Hugo Awards. O Laurel e muito mais. E no final o seu trabalho será coroado e celebrado com a indicação e quem sabe a vitória de melhor atris no Oscar. Até breve, minha Katherine Bush.
E ele sai.
E eu desabo em lágrimas solitárias e começo a chorar sozinha.
(Que solidão e desespero voraz que me assola a alma agora...)
- Nisso estou sim igual uma mulher casada dessa década. – Eu pondero na calada do meu trailer. - Chorando sozinha no meu canto. E que velho estuprador e nojento é esse! E eu não posso fazer nada! Esse filme nem tem uma trama boa de verdade e ele quer ganhar as premiações da crítica pelo seu conteúdo revolucionário com romance lésbico e interracial, tudo isso embrulhado com narrações pretensiosas em terceira pessoa e críticas sociais num país pobre da América do Sul. E pro papel da mulata ele traz uma branca como gelo pro papel. Que raiva de tudo!
E então uma pedra bate na minha janela e me tira da minha crise de ódio e eu saio para ver quem era.
Era aquele pequeno menino negro de antes.
- Oi, minha mamãe quer te ver pra agradecer por ter me salvo. Venha comigo mais uma vez, por favor.
E ele sai correndo.
- Hey!
E eu o sigo, descabelada, confusa e ainda irritada como o Tommy Blaze.
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Quando a movimentação se degringola e volta, como no clássico ‘’James Bond contra o Doutor No’’, eu sigo escondido a Kate, que por sua vez seguia também uma menininho negrito que devia ter uns 10 anos de idade apenas.
Por mais de uma milha eles seguem até uma espécie de comunidade bucólica de casas coloridas rosas e verdes descascando a tinta. Era uma cidade pequena e claramente pobre, e que eu duvidava muito que conhecia as maravilhas das novelas como Days of Our Lives; e quem sabe até a eletricidade fosse algo inexistente ali.
Ela entra então numa casa com um coqueiro na frente e eu me escoro no muro por fora.
- Senhorita Kate, eu só tava brincando e te vi chorando. Como você me salvou eu também queria te salvar. Minha mamãe pode fazer isso por ti. Fale com ela e veja como poderemos te ajudar, moça branca Bush.
Com muita coragem, eu subo os olhos por cima do frame de madeira da janela e vejo a Katherine chorando e se abrindo no colo de uma bela negra de cabelos cafuzos e revoltosos e com grandes lábios carnudos. Ela devia ter a mesma idade da Kate, uns 20 anos.
- Meu diretor é um nojento! Ele me abusou! E eu não posso denunciá-lo senão perderei o emprego e vou para a sarjeta! Posso dormir aqui? Tenho medo de que ele retorne. Amanhã cedo eu prometo que irei embora e agradeço-lhe pela hospitalidade e refúgio oferecido. E o seu filho é um amor e é adorável demais.
Como se essa troca elogiosa não fosse o bastante, a troca evolui não obstante pra algo mais tátil e carnal.
E a preta beija a Katherine na boca do nada e diz.
- Claro, minha amada Kate.
(Essa cena está muito melhor do que a do filme... Espere... O que eu estou falando? Estou ficando louco?!)
Eu me escondo e de fininho em passos lentos nos meus sapatos Brent, eu fujo dali.
Mas afinal.
O que está acontecendo nos bastidores desse filme???
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Eu fiquei surpresa com o beijo, mas a Isaura me disse que isso era uma tradição local.
- Mulheres se beijam na boca assim. É normal e comum aqui. Imagino que isso esteja nesse filme de vocês.
‘’Era uma Vez nas Américas’’ agora soava cada vez mais como um enlatado hollywoodiano dos anos 60 superficial e sem conteúdo intrinsecamente original.
Como que o Tommy Blaze, renomado como era, queria ambientar o seu filme de forma mais fidedigna sem mergulhar na cultura local desse país chamado Brasil? Essa preta mesmo era tão linda e inteligente. Nada relacionado com a visão que os Estados Unidos tinha de um país tropical, inculto e selvagem.
- S-Sim. Está no filme. – Eu minto. -Tanto que nele eu tenho um par romântico feminino, sabe? De certa forma o que você fez mais cedo me beijando foi ótimo. Me ajudou a quebrar esse gelo e vergonha que tenho. Eu não sou uma atriz vinda diretamente do teatro.
Antes de me deixar sair, Isaura me serve uma refeição completa. Café, biscoitinhos, fatias de manga, leite entre muitas outras coisas.
- Coma. Mas não permitirei que coma leita com manga. Pessoas brancas passam mal e podem morrer com essa combinação. Mas bem, saiba que sou viúva. Meu marido morreu de febre amarela anos atrás, doença ainda não erradicada por essas terras. E meu filho é tudo que tenho nesse mundo. Eu sou eternamente grata a você por o ter trago ileso e seguro pra casa.
Ao final ela me beija na boca de novo e eu prendo a respiração. Ela era incrivelmente bela e o toque de sua boca me excitava muito.
Terminando o beijo (com o filho dela ali e olhando maravilhado a cena), eu me despeço finalmente.
- Bye, Isaura.
- Até breve. Volte sempre que se sentir cansada das atuações e do seu filme. Trabalhar demais pode ser bem exaustivo.
Eu volto ao meu camarim e pra minha surpresa quando o vejo o meu direto em pessoa já estava lá dentro.
- Está fuçando agora as minhas coisas? Que absurdo é esse?
- Eu estava só te procurando. Você está atrasada para a gravação. Vamos lá.
E eu saio (ainda bem que não ficaria entre 4 paredes com ele).
Todavia Tommy dá um tapa na minha bunda na descida.
Meu sangue sobe pra cabeça e eu ia dar um tapa nele, mas eu lembro da linda e simpática Isaura e mordo os meus lábios e refreio os meus sentimentos tormentosos.
- Sim, Tom. Já estou indo.
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Tudo meio que voltou a uma nova normalidade.
Com a exceção de que agora o diretor Tommy passava boa arte das noites no camarim da Katherine e depois ela saía mais tarde ainda da madrugada chorar numa casa local e caía em beijos e amores pela preta Isaura, todo o resto estava igual.
Nesse mesmo tempo eu assustadoramente me via animado e gravando com a minha camera Super 8 essas aventuras já. Era difícil pois eu precisava ficar estático e não tinha uma equipe. Era o meu filme secundário de guerrilha quase.
- Mas porque eu sinto que esse é o filme que importa?
Responder essa pergunta a contento eu ainda não sabia.
Além do enredo de ‘’Era uma Vez nas Américas’’, tinha esse outro filme que falava de um chefe abusador e uma atriz tentando o estrelato e se apaixonando por uma mulher negra brasileira para apaziguar o seu coração confuso e remexido por várias emoções conflitantes.
- Ele encostou em você?
- Sim, Isaura. Eu tive que fazer sexo oral naquele porco branco nojento. Eu queria me limpar disso. Porém não sei como fazê-lo.
A preta Isaura a beija apaixonadamente e enfia a sua língua na boca da Katherine Bush com tanto afinco que meu pau enrijece e eu fico todo animado, quase como se eu estivesse vendo Bra-Busters na televisão preto e branco da casa dos meus pais do lado de fora como um menino travesso.
- A melhor maneira de limpar isso de ti é ter uma experiência sobreposta acima dela e com homens de verdade. A real man, como vocês gringos falam. Feche os olhos.
Kate obedece.
E então do nada um negão entra no quarto da Isaura e começa a beijar a atriz e estrela do nosso filme por trás e começa a tirar a sua roupa.
- O q-que é isso? Who is he??
- Meu irmão. Não se preocupe. É natural na nossa cultura quando conhecemos ou iniciamos um novo namoro com alguém de fora, os irmãos e irmãs participam e tira o seu quinhão de prazer do relacionamento iniciado. Só relaxe, Katherine. Relax, alright?
E em pouco tempo o homenzão retinto a deixa toda peladinha e passar a dar uma fungada longa e gostosa nas costas dela e subindo.
- Oh, yes! Que gostoso! Tudo bem! Eu precisava extravasar mesmo. Wait. Wait! Not in my butt. Na minha bunda não! No!!
E aquele negão alinha o lançamento de seu foguete Apolo 11 e o decola bem no meio do bumbum de Katherine Bush com força.
(Houston, não temos um problema)
Eu estava gravando tudo e continuo. Eu chego a focar bem na cena com um close detalhe e acompanho aquele enorme membro africano entrando e saindo sem parar.
- Se isso é um filme ainda, já é um dos tipos sensuais e eróticos. Porque então eu não paro de gravar?
Minha pergunta quase silenciosa e retórica pra mim não muda nada, pois eu não conseguia parar. Eu estava hipnotizado e a minha câmera Kate capturava a verdadeira Kate sendo enrabada por aquele preto vigoroso. Ela gemia alto sem medo de que alguém a escutasse.
- Nigga!! Oh!! Fuck me!!! Fuck!!! Destroy me, nigga!!!
Eles não deviam entender o que ela estava falando ao urrar de prazeres e embevecida em tesão e gozos delirantes, porém o jeito que eles a tratavam como uma vagabunda era quase como se entendessem e estivessem se vingando dela pelos termos usados e empregados.
- Amanhã você virá aqui de novo. Descarregue sempre as suas mágoas e frustrações do filme aqui, conosco. Liberte-se de suas correntes e seja uma bela mulher livre no Brasil.
Marretando e pregando no cú dela como um rebite sendo instalado por um trabalhador negro construindo prédios nos anos 60, eu sentia os impactos potentes como uma britadeira até ele gozar fundo nela, na Kate Bush, atriz principal do Era uma Vez nas Américas (lançamento em breve).
E depois o homem retinto sai.
Já eu ajeito e guardo as minhas coisas e saio antes que fosse notado e me escutassem, o voyeur cinegrafista e fã dela.
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No dia seguinte era a cena de sexo com a atriz Emilly Brown.
- 3, 2, 1 and Action!
Tínhamos que apenas nos beijar inocentemente de calcinha embaixo de lençóis e recitar as nossas falas. O foco sexual do filme era apenas num soft porn para toda a família tradicional americana e balançar a sociedade, algo no nível de alguns filmes dessa nossa década, só que melhor e maior. Nos anos 60 isso já seria subversivo o suficiente.
Depois das gravações eu já imaginava que o Tommy iria me abordar.
Mas então eu o vejo é levar a Emilly Brown para o camarim dele.
- Que pervertido, não é? Aparentemente todos nos bastidores sabem que ele é um abusador escroto e nada fazem, com medo de perder os seus empregos. Do que adianta o sindicato aqui?
Era o camera man de antes, falando perto de mim.
- Qual o seu nome mesmo?
- Leonardo. Mas você pode me chamar só de Leo, se quiser, lady Kate.
Ele era educado e prestativo de uma forma esquisita, como um fã grudento e fanático.
- Que seja. Eu estou saindo pra ir à-
- Àquela cidade? Eu sei. Eu te vi antes. E não se preocupe. Não contarei nada do que vi.
Eu fico em choque. Será que ele viu o sexo anal que fiz com o irmão de Isaura?
- O que você quer? – Eu já considero previamente aquilo como uma chantagem explícita e pergunto. – O que você quer pelo silêncio?
Ele cora todo e faz uma cara de desentendido.
- Perdão se me fiz entender errado. Eu não quero causar má impressão. Eu quero apenas acompanhá-la. Isso é interessante demais e eu sinto como se estivesse produzindo e gravando o maior documentário de todos. ‘’A História Secreta de Katherine Bush’’, a grande estrela do filme Era uma Vez nas Américas, o que você acha?
Não estávamos nem na pós-produção e esse cinegrafista já tinha tanta certeza do sucesso?
- Pode me acompanhar. Mas não te dou autorização pra gravar e guardar nada. E se for fazer um documentário que seja pra expor o Tommy, algumas semanas após o lançamento do filme. Quero queimá-lo pra Academia e ganhar a simpatia deles. Com o sucesso imagino que finalmente eles fiquem do lado da mulher e considerem as minhas denúncias reais e válidas. Agora se quiser, venha comigo.
(Pro National Enquirer, capas assim eram comuns)
Mesmo com essas condicionantes, o membro da staff que era meu fã me segue todo acanhado e tímido atrás de mim.
- S-Sim! É pra já, madame Bush.
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Katherine segue para a casa da Isaura.
- Entre também, Leonardo. Essa é a Isaura.
Eu a cumprimento e ela faz uma cara de nojo e seus olhos ferviam de asco por mim e a minha presença em seu lar.
- P-Prazer, senhorita Isaura. – Eu falo, claramente intimidado e com medo dela.
Mas então aquela mulher retinta fica olhando detidamente para a minha camera de tripé e abre um sorriso.
- O prazer é meu, Leo. Espere na sala.
Sem rodeios aquela pretinha agarra a Kate Bush e fica a beijá-la na minha frente.
E eu fico sentado sentindo o meu amigo debaixo endurecendo-se, enquanto o calor daquele momento crescia. Eu me sentia uma espécie de corno amansado dela e casado com a Katherine, o que era ótimo (ser casado, no caso).
Depois de detidos, longos e apaixonados beijos de língua, aquela tal de Isaura subitamente gira o corpo da senhorita Bush e a empurra para um quarto no interior da casa.
- Entre logo. – Ela fala como se fosse uma ordem para a Kate. – Meu irmão virá aqui novamente para aliviar as suas dores e frustações.
A Katherine, ao invés de achar um abuso, sorri e diz.
- Claro, meu amor.
E ela entra.
E poucos segundos depois um negão grande e musculoso adentra nosso recinto domiciliar
- Oh shit. Você não é o mesmo daquele dia.
Ele totalmente me ignora e vai para o quarto.
Katherine começa então a gemer alto, igual e homologamente ao dia em que a vi por cima da janela e saí correndo em tal ocasião.
Todavia outro homem (no sentido inverso de um douto e magro caucasiano) desses retintos e belos em sua negritude selvagem também entra.
- Oh! Isaura! Fuck! Quantos irmãos você tem?! Eu quero mais!! I WANT MORE BLACK GODS!!!
Incapaz de segurar a minha ansiedade e não presenciar aquela cena, eu ajeito e monto rapidamente o tripé da ‘Super Kate’ (a versão inanimada dela) em seu suporte, coloco as lentes, flashs e focos laterais e corro para a porta do quarto e fico a gravar.
E quando o terceiro irmão de Isaura entra, ele tem a gentileza de deixar a porta totalmente aberta pra mim.
Quase que eu o agradeço até.
E a cena do espetáculo era um gangbang interracial que se descortinava totalmente pra mim. Numa glória e impacto tão grande que mentes pudicas e conservadoras em 1969 não estariam acostumadas.
- Meus irmãos, vadia Kate, são todos os que vivem aqui. Esse dia será o primeiro de uma nova vida da qual você jamais poderá esquecer. E também jamais poderá escapar.
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Algumas cenas na cidade cenográfica e na real são gravadas. E dois filmes distintos são produzidos nos quais Katherine era a artista principal.
Ciente apenas do ‘’Era uma Vez nas Américas’’, o filme sai e por fim é um sucesso e ganha diversas premiações. Como o Academy Awards, por exemplo.
E em sua etapa finalíssima concorreu e ganhou o Óscar de melhor roteiro adaptado, melhor filme, melhor diretor.
E melhor atriz coadjuvante para Katherine Bush.
Mas como uma estrela em supernova que brilha muito para depois desaparecer, Kate expos o seu diretor Tommy Black e o denunciou por assédio moral e sexual nos maiores jornais. New York Times, Toronto Daily Star, The Sun, The Washington Post entre outros.
E com todos os holofotes públicos apontados pra si, um outro filme é lançado em locadoras caseiras e piratas. Versões piratas em rádios também, causando também susto como os de O Dia em Que a Terra Parou em 1938, só que de uma origem mais pornográfica. E assim milhares de pessoas clandestinamente veem a atriz Kate em orgias homéricas e interraciais intensas, quase como um filme secreto e que todos queriam ver.
‘’Era uma Vez nas Américas – BNWO Edition.’’
A exposição foi tamanha que a pobre Kate largou outros projetos e abandonou a carreira de atriz em ascensão; fez terapia; tornou-se alcoólatra e os tabloides sensacionalistas que só queriam furos de matéria dela e depoimentos comprometedores daquela que caiu do paraíso em tempo recorde e alcançou o mais profundo dos infernos, e agora passava vexame em festas de gala Lavish da alta sociedade americana.
Até que um dia.
Ela desaparece completamente.
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- Mãe, você acha mesmo que ela vem?
Desde que enviei o meu filho e inventei toda aquela história dele ter se perdido, eu sabia que aquela Katherine seria ideal pra nós.
- Ela vem. Aquele Leonardo criou sem querer ao gravar tudo os meios para que ela tivesse as pontes destruídas e ficasse sem escolha a não ser vir morar aqui. Nas Américas ela terá liberdade que o seu corpo almeja e o esquecimento que a sua inutilmente e suposta ‘douta’ mente clama. Espere e verá. Duvido que nos Estados Unidos ela terá tal regalia.
Dito e feito.
Alguém bate em minha porta e era a Katherine Bush.
- Olá, Isaura. Me perdoe invadir a sua casa. Eu vendi tudo o que tinha e comprei uma passagem só de ida e vim pra cá. Eu não quero viver como uma dona de casa e enfrentar os anos 70, 80, 90 e afins abandonada e sozinha. Eu te amo.
(Eu jamais conseguiria me adaptar a esse tipo de vida agora...)
- Então quer escapar de lavar roupa no tanque? Você terá que fazer isso aqui. Além de dar leite as nossos filhos; arar nossas terras como animal de tração e muito mais.
Ela balança veemente sua cabeça.
- Não. Eu entendi. É que eu quero te servir aqui. E aos seus irmãos. Eu soube que aqui já foi uma colônia portuguesa. Nesse tempo todo de reabilitação de drogas como áalcool, maconha e LSD, minha mente se expandiu. Eu entendi que eu devo e preciso reparar os erros históricos dos meus antepassados brancos, sabe? Assim como o meu país perdeu no Vietnã, eu também quero perder pra vocês, africanos e africanas.
Claro, minha escrava Kate.
Que o verdadeiro filme de sua vida comece.
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