Eu não lembrava como era a sensação de perder o controle de algo já fazia bastante tempo.
E naquele momento eu estava ali, sentado naquela sala de espera de um hospital esperando notícias.
-Lucas? - disse Daniel passando seu braço em volta de mim - eu sei que vai dar tudo certo.
Eu não sabia o que dizer. Só sabia chorar. Por mais que eu não tivesse mais nada com Rick, durante alguns anos ele foi meu parceiro. Meu melhor amigo. Fiquei alguns minutos encarando a porta a minha frente que dava para ala cirúrgica até que um médico saiu de lá e veio andando em minha direção.
-Detetive Lucas? - disse ele.
-Por favor - disse chorando - não me venha com frases prontas de seriados. Não diz que tentaram de tudo, diz que vão conseguir salvar ele por favor.
-Detetive... - pude sentir o olhar de pena do médico enquanto ele me olhava - nós ainda estamos tentando de tudo, mas a situação dele é grave. Não sei se o senhor possui alguma religião mas nesse momento, se você consegue tirar forças de qualquer lugar, seria ótimo. A situação é realmente muito complicada.
-Você quer dizer que só um milagre o salvaria não é mesmo? - falei chorando.
-Infelizmente... - respondeu o médico.
Sentei novamente em um dos bancos da sala de espera e voltei a chorar. Eu não tinha mais forças para seguir. Cada vez que eu fechava meus olhos eu lembrava da cena.
A cena de Rick deitado no chão com uma bala no peito voltava em minha cabeça a todo instante. E se eu tivesse matado aquele filho de uma puta do sequestrador antes?
-A culpa é minha - falei em voz baixa.
-Lucas... - disse Kate que até então estava encostada no canto da sala.
-A culpa é minha - falei mais alto - a culpa é minha! A culpa é minha! A culpa é minha!
Pude sentir os braços de Daniel me prendendo por de trás do meu corpo e me abraçando.
-A culpa não é sua - disse Daniel - você foi o melhor que você pode. Rick precisa que você seja forte agora.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a sala de espera foi invadida por uns 6 homens vestidos com a roupa da FBI.
-Detetives Lucas, Daniel e Kate? - disse um deles se aproximando.
-Sim? - disse Kate.
-Vocês estão presos por obstrução a investigação.
Imediatamente os outros agentes se aproximaram de cada um de nós e assim, nós viraram de costas para nós algemar.
-Vocês tem o direito de permanecerem calados, tudo que vocês disserem pode e será usado contra vocês no tribunal. - o homem continuou.
-Não tem a necessidade de algemar - falei em tom ríspido - nós vamos caminhando com vocês até o carro.
Fomos andando até o carro deles que estava parado em frente ao hospital e assim nos encaminharam para um prédio da FBI no centro da cidade.
Ficamos os 3 sentados em uma sala aguardando alguém chegar para falar conosco sem saber o que fazer.
-Agente Konnor - disse uma mulher entrando na sala.
Ela era alta, negra, com os cabelos grandes e cacheados. A mulher deveria ter cerca de 1.68m de altura, possuía os olhos castanhos e era completamente linda. Era possível perceber que a sua aparência com toda certeza deveria chamar atenção em qualquer lugar que ela passasse.
-Boa tarde, sou o detetive Lucas, esse são Daniel e Kate - respondi.
-Sim - disse ela de forma ríspida - eu li suas fichas. Será que acharam que eram melhor que nós para investigar esse caso por conta própria?
-Na verdade tenho certeza que somos melhores, vocês não foram capazes nem de encontrar o paradeiro dele - respondi olhando no fundos dos olhos dela.
-O senhor é bastante insolente né?
-Sou realista - respondi - se vocês fossem os fodoes ele não estaria no hospital a essa hora e vocês não teriam perdido dois agentes treinados.
-Escuta aqui seu... - antes que lá pudesse completar eu acabei estourando com ela.
-Escuta aqui você - disse eu me levantando e batendo na mesa - o cara que eu tive os melhores momentos da minha vida está em um hospital entre a vida e a morte e vocês não tiveram nem a competência de protegê-lo, então eu não tenho tempo para ficar preso nessa merda de agência esperando vocês resolverem alguma coisa, entendeu?
Nesse momento a porta da sala se abriu e uma mulher loira com corte de cabelo Chanel entrou na sala. Ela era bastante elegante e deixava um ar de poder a medida que ia entrando na sala e se dirigindo até nós.
-Senhorita Konnor? Me chamo Maya Hunt.- disse a mulher entrando na sala e estendendo um papel para ela - temo que seu tempo com meus clientes já tenha acabado.
-Sempre salvando a pátria não é mesmo perfeitinha? - disse Daniel olhando pra ela.
-Claro maninho, alguém tem que ser a irmã sensata não é mesmo?
...
Já era noite e estávamos Daniel, eu e Maya em meu apartamento. Daniel estava sentado ao meu lado no sofá enquanto Maya estava em uma poltrona de frente para nós dois.
Agora que a adrenalina tinha caído um pouco eu pude perceber o quanto Maya e Daniel eram parecidos. Ela tinha o rosto muito parecido com o dele. Ela era muito linda e elegante, parecia uma modelo não apenas por sua beleza, mas com sua maneira de se portar em um ambiente.
-Você não desiste não é mesmo? - disse Maya encarando Daniel.
-Na verdade a culpa foi minha - respondi colocando a mão na perna de Dan - eu que comecei a investigar por conta própria, ele não teve nada com isso.
-E você é? - perguntou ela.
-Ele é meu... An... - Daniel engasgou e percebi que ele não sabia o que responder.
-Amigo. -falei
-Sim, amigo - disse Daniel com um pesar em sua fala.
-Enfim, será que os melhores amigos podem me explicar tudo o que aconteceu? - disse Maya.
Contamos tudo para Maya sobre a investigação e sobre todas as pistas que descobrimos até chegar naquele ponto. Como já eram cerca de 2h da manhã quando acabamos de conversar insisti que ela dormisse lá em casa e preparei o quarto de hóspedes para ela.
-Caso não tenho nenhum lugar pra ficar ainda, sinta-se a vontade para ficar o tempo que quiser - disse para Maya antes de sair do quarto e dar privacidade para ela.
Me dirigi até a sala novamente e Daniel estava sentando encarando a TV desligada.
-Você sabia que tem um controle que faz com que a TV ligue e você ainda pode escolher o que quer assistir? -perguntei me aproximando dele e me sentando ao eu lado.
-Eu tô preocupado - disse ele desviando seu olhar da tv e agora me encarando.
-Eu também estou - respondi triste.
-Olha tudo o que aconteceu. Não quero que mais ninguém corra riscos por minha causa.
-Essa é a nossa profissão - respondi - mesmo que você não queira, nós já corremos risco 24 horas.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, e eu fiquei pensando em tudo que estava acontecendo. Eu estava gostando do caminho que minha relação estava seguindo com Daniel, mas o fato de quase perder o Rick trouxe algum sentimento em mim. Eu só não sabia que sentimento era esse.
-Você pode dormir comigo? -perguntei encostando minha cabeça nos ombros de Daniel.
-Claro, amigos também dormem juntos né?
-Dan, sobre aquilo, eu só não...
-Relaxa - disse ele me cortando - não precisamos ter essa conversa agora. Eu entendo tudo que você está passando, vamos só nos deitar.
Me dirigi até meu quarto para tomar um banho e Daniel foi em direção ao banheiro social tomar o banho dele. Quando sai do banheiro Daniel já estava no quarto apenas vestido com uma cueca preta e de camiseta deitado na cama.
Me deitei ao seu lado e fechei meus olhos, era bom finalmente conseguir me desligar do mundo por alguns minutos. Senti os braços de Daniel me envolver em um abraço e senti o beijo que ele deu em minha cabeça.
-Boa noite Luc - ele falou - estou aqui para te proteger.