PARTE I
Respirei fundo ao posicionar meu carro na vaga a mim destinada no condomínio formado por um único prédio de quinze andares com apenas dois apartamentos por andar, dos quais eu ocupava o que recebia a luz do nascer do sol e ao mesmo tempo com visão da rua e do parque arborizado que ficava diante dele, do décimo segundo andar, em uma das áreas mais valorizadas se São Paulo.
Meu alívio vinha de vários fatores. O primeiro é que havia ultrapassado o limite do consumo de álcool na festa ao qual havia comparecido e agora agradecia a todos os santos por não ter sido surpreendida em uma blitz, sem considerar que o fato pelo qual deveria estar agradecida era o de ter conseguido dirigir até minha casa sem me envolver em nenhum acidente de carro. A bebida não era o pior, pois, se o fato de beber e dirigir já era condenável, o que dizer então o fato de que, nos últimos seis meses, o exagero no consumo de bebida estava cobrando seu preço e meu organismo não estava mais reagindo bem. O consumo de bebida não era o único responsável disso e eu tinha o conhecimento de que, nos últimos meses, dependendo do tipo de alimento que eu ingeria, o efeito era o mesmo. E naquela noite eu tinha dúvida se meu organismo estava reagindo mal pela bebida ou em virtude da grande quantidade de porra que havia engolido.
Sem me dar conta do vestido amarrotado e com manchas denunciando que a noitada não havia sido nada comportada e que eu nem sabia mais em quanto estávamos na orgia e quantas vezes gozei nas mãos daqueles homens e mulheres que participaram da orgia.
Cambaleei com destino ao elevador e, quando finalmente o avistei, vi que o mesmo estava parado no andar e um homem entrava nele, fazendo com que eu gritasse pedindo para que ele esperasse por mim. Sem nenhuma resposta, ele estendeu a mão para impedir que a porta do elevador se fechasse e aguardou sem nenhuma expressão no rosto.
Entrei no elevador me desviando do homem cujo rosto sequer olhei, pois ficava bem acima dos meus um metro e cinquenta e cinco e para mim era um esforço sobe humano levantar o olhar diante o meu estado. Em seguida, me lembro da sucessão de acontecimentos que ocorreram em uma sequencia metódica, como se tudo estivesse programado. A porta do elevador fechou-se silenciosamente, o homem se virou para mim com a mão próxima ao painel de botões do elevador e me perguntou para qual o meu andar, da luz do botão número nove acesa indicando que esse devia ser o andar para o qual ele iria e a névoa que foi toldando o ambiente claro do interior do elevador e em seguida tudo começar a ficar escuro. O último ato foi as mãos do homem se estendendo para mim na clara intenção de amparar minha queda. Em seguida, apaguei completamente.
Meu corpo, finalmente, entrava em colapso diante da vida extravagante que estava vivendo nos últimos dezoito meses.
Acordei e, como de costume, mantive os olhos fechados procurando manter o estado letárgico que me dominava como fazia todos os dias. Para mim era como um jogo em que, despertar fosse um exercício que deveria ser jogado e que acumulava pontos na medida em que eu demorava em ficar pronta para qualquer ação e, quando digo ação, quero dizer qualquer ato mesmo. Até o ato de abrir os olhos fazia parte desse jogo solitário que me acostumara a jogar todas as manhãs.
Todas as manhãs porque, não importava onde e com que estivesse o que fizesse, eu sempre dormia sozinha. Podia me esbaldar na cama de um amante conquistado em uma balada qualquer, ou em uma orgia para o qual houvesse sido convidada ou até mesmo tivesse sido algo de última hora por incentivo meu ou no quarto de dormir de um casal que eu seduzira. Nada disso impedia que, após gozar com os parceiros daquele dia, me despedisse e fosse para o meu apartamento onde existia hora para acordar. Diante da vida que estavas vivendo, isso poderia ocorrer a qualquer hora.
Mas havia algo diferente naquele despertar. Algo não, tudo estava diferente conforme fui me dando conta enquanto despertava. A primeira coisa que notei é que aquela cama não era a minha. Depois o tecido áspero da roupa que usava começou a me incomodar, principalmente porque, em virtude do estado que eu normalmente chegava em casa, o normal era me atirar na cama e dormir do jeito que eu estava e, em algum momento durante o sono, tirava toda a roupa e ficava nua. Então veio a pior constatação que foi a de, quando movimentei meu braço esquerdo, senti uma dor no dorso da mão e tive dificuldade em movê-la, o que fez com que eu abrisse os olhos e me desse em conta que não estava em meu quarto, mas sim em um hospital.
Ao meu lado, uma mulher aparentando ser um pouco mais velha do que eu se inclinou sobre mim e disse em uma voz gentil:
– Finalmente você acordou.
Como estava atarantada com minha descoberta, não prestei muita atenção no que ela fazia, porém, não foi difícil descobrir logo depois que ela apertara um botão ao lado da cama e não demorou um minuto para que uma enfermeira uniformizada, com aparência de uma senhora idosa entrou no quarto e começou a me examinar como que conferindo meus sinais vitais.
Sem dizer uma palavra, ela saiu do quarto e regressou logo depois na companhia de um homem que, tanto pela postura quanto pela ação, só podia ser médico e logo isso ficou claro, pois ele passou a fornecer informações sobre o meu estado de saúde:
– Bom dia senhorita Letícia. – Tentei sorrir em virtude do tratamento respeitoso, porém, uma dor de cabeça lancinante me impediu de fazê-lo e me advertiu que devia prestar atenção no que o médico estava dizendo: – Você teve um ataque em virtude de sua diabetes e foi trazida em um estado crítico para nós que, com muito custo conseguimos estabelecer seus sinais vitais depois de uma parada cardíaca.
Aquilo me assustou muito. Mesmo sem entender naquele momento que havia tido uma experiência de quase morte, não pude deixar de perceber a gravidade do meu estado de saúde.
Demorou cerca de trinta minutos para o médico me encher de perguntas que tentei responder da forma mais honesta que meu atordoamento permitia e no final ele deu seu diagnóstico:
– Então é isso. A senhorita é diabética e essa doença é grave. Mas ela só tem essa gravidade toda se o paciente não se cuidar, pois se todos os cuidados com a saúde forem tomados, a senhorita terá uma vida normal, como qualquer outra pessoa. Portanto, é necessário que se informe. Procure saber tudo o que é necessário sobre essa doença e entenda que, somente estando bem informada poderá ter uma boa qualidade de vida. A senhorita tem alguma dúvida?
– Quando vou poder ir para casa? – Foi a única coisa que me ocorreu perguntar.
– Muito em breve. – Olhei para ele sem conseguir esconder minha contrariedade com sua resposta e ele, percebendo isso, continuou: – Não se preocupe, é necessário um período de observação e a coordenadora do controle de diabetes da Secretaria da Saúde vai passar aqui para te dar algumas instruções e também deixar algum material para que você possa se informar melhor.
Sem esperar por resposta, o médico se virou e saiu do quarto com meu olhar de revolta fuzilando suas costas, até que a mulher que estava no quarto quando acordei e que não havia arredado o pé dali, disse:
– Não se preocupe com isso, você ouviu o que o médico disse. Basta tomar cuidado e terá uma vida normal.
Olhei para aquela estranha e redirecionei a raiva provocada por minha frustração de estar em um leito do hospital para ela, dizendo de forma ríspida:
– E você é quem mesmo?
Como resposta a minha irritação e em meio a um dos sorrisos mais lindos que já havia visto, ela respondeu?
– Ah! Puxa vida, me desculpe! Esqueci que ainda não fomos apresentadas. Sou a Elaine e moro no nono andar do seu prédio. Foi o meu marido que estava no elevador com você e que fez um verdadeiro escândalo. – Nessa hora seu sorriso se intensificou e ela explicou: – Desculpe por isso também, o Tobias é muito assustado. Então, ele não conseguiu sequer parar o elevador e deixou que ele subisse até o nono andar, quando então me chamou. Como sou enfermeira, embora não esteja praticando a profissão, pude perceber que você estava realmente mal e mandei que ele chamasse uma ambulância.
– E por que eu vim para esse hospital? Por que estou em um quarto particular?
Pude notar que Elaine enrubesceu ao explicar em tom de desculpa:
– É que... Olha, me desculpe, não quis ser bisbilhoteira, mas tive que olhar em sua bolsa para saber quem você era e encontrei o cartão do seu convênio médico. Então me informei sobre seu plano de saúde e descobri que tipo de atendimento você tinha direito. É por isso que você está aqui.
– Foi aqui que tive a parada cardíaca?
– Não. Antes de vir para cá você foi atendida no Pronto Socorro do nosso bairro.
– Ah sim. – Ela ficou me olhando e sua expressão era de curiosidade, então desviei o olhar e continuei a interrogar: – Então foi no pronto socorro que tive a parada cardíaca?
– Não. Isso aconteceu antes da ambulância chegar e você estava em casa.
– Ah sim! E isso quer dizer que foi você que fez os procedimentos para me trazer de volta?
– Foi sim.
Mesmo com minha saúde debilitada, não pude deixar de imaginar aqueles lábios carnudos encostados aos meus enquanto seu hálito era forçado para dentro dos meus pulmões. Achando que não queria mais conversas, a mulher se afastou da cama e se sentou na poltrona que havia no quarto.
Durante o resto daquela tarde ainda trocamos algumas palavras e Elaine respondeu a todas as minhas perguntas de forma educada. Assim descobri que ela estava para completar trinta e nove anos, apesar de aparentar menos, que seu marido se chamava Tobias, que eram casados a vinte e um anos e tinham duas filhas, uma com dezenove que vivia em outra cidade cursando a faculdade e outra de dezesseis anos, ainda no ensino médio e morando com elas. Até mesmo a altura do marido ela me informou quando comentei que me senti uma criança ao ficar ao lado dele no elevador, e ela informou que a estatura dele era de um metro e noventa e quatro centímetros, o que para ela não chegava a ser exagerado, pois a dela era de um metro e setenta e oito centímetros. Das filhas, a mais velha tinha a mesma estatura que ela enquanto a mais nova já as ultrapassara e já estava perto de ter um metro e oitenta e cinco e era atleta, inclusive, fazendo parte da seleção nacional de vôlei na categoria sub vinte. Depois fiquei sabendo que ela era realmente uma promessa, pois apesar de contar apenas com dezesseis anos, já atuava em uma categoria acima da sua e fazia parte do elenco de uma equipe que disputava campeonatos na categoria profissional.
Quando passou das dezessete horas Elaine disse que necessitava ir para sua casa demonstrando um pesar muito grande em me deixar sozinha no hospital, o que me obrigou a insistir que estava bem e me sentindo muito agradecida pela bondade demonstrada por ela. Com muito custo, ela concordou em ir embora, não sem antes me obrigar a deixar seu contato registrado na agenda de meu celular e me fazer prometer que, diante de qualquer problema, ligaria para ela.
Passar a noite inteira em um hospital costuma ser menos penoso quando se está sendo medicado e os remédios induzem o sono. Não sei explicar o motivo, mas naquela noite eu não conseguia dormir e o motivo, muito embora eu não pudesse escolher um apenas, era que tudo o que estava acontecendo comigo estava me abalando de uma forma diferente.
Assim, tive a noite inteira para pensar. Nesse exercício de rever a vida, me perguntava como cheguei ao estágio que me encontrava atualmente e o que transformação aconteceu comigo para me mudar daquela garota tímida e recatada, adorada pelos pais, motivo de raiva das amigas quando era citada pelos pais delas como um exemplo a ser seguido, para a mulher depravada e insaciável que se tornava inquieta quando, por qualquer motivo, não estivesse envolvida em relações sexuais. Essa insanidade me levava a exigir cada vez mais de mim mesmo e a me atirar cegamente em aventuras insanas. E nem havia se passado tanto tempo assim. Fiquei emocionada ao me dar conta que, apenas sete anos haviam se passado desde que tudo aquilo começara.
E quando foi que começou? Qual exatamente foi o evento que iniciou aquela jornada de busca pelo prazer? Teria sido o episódio vivido com aquele professor que terminou da pior forma possível? Que dizer, da pior forma para ele, lógico?
Estava com dezessete anos recém-completados e também no final do último ano do ensino médio. O fato de estar no último bimestre não era motivo de nenhuma preocupação, pois minhas notas indicavam que seria aprovada sem nenhum problema e o destaque que atingi diante da minha dedicação aos estudos me credenciava a ser a oradora da turma na cerimônia de formatura.
Filha única de um casal incomum, pois ambos já estavam perto de completarem sessenta anos. A diferença abissal de idade entre meus pais e eu, que tinham idade para serem meus avós, se explicava pelo fato de que ambos eram divorciados e estavam no segundo casamento. Nenhum dos dois teve filhos no primeiro casamento que, por coincidência, pouco duraram. Apaixonaram-se e minha mãe engravidou e deu a luz quando já contava com quarenta e um anos de idade e meu pai com quarenta e dois. Aconselhada pelos médicos, meu pai fez a cirurgia de vasectomia uma vez que uma segunda gravidez para minha mãe seria de alto risco e, sabendo que teriam apenas a mim, todos seus esforços e atenções foram destinadas a me dar uma vida feliz.
Além disso, tive a sorte de, já sendo idosos, eles não eram tão encucados e com isso nossa relação sempre foi mais aberta, onde a exibição do corpo não causava nenhum constrangimento e as conversas sobre sexo aconteciam normalmente o que fez que a perda da virgindade com o primeiro namoradinho não causasse nenhum trauma. Também gostei muito dessa experiência e, mesmo meu parceiro não tendo nenhuma experiência, consegui gozar intensamente com ele e depois, com alguma orientação de minha mãe, tornei-me mais ativa na relação e fui conduzindo a ele para experiências novas e eu adorava isso. O namoro acabou, vieram outros namorados e eu me satisfazia com eles de uma forma normal e sadia.
Essa liberdade com meus pais ficavam nesse patamar. Jamais eles invadiram minha privacidade e nem eu a deles. Com isso quero dizer que não era daquelas garotas que ficam ouvindo os pais transarem se tocando ou que, quando aparecia com roupas íntimas diante deles havia olhares de manifestação de desejos com relação a mim. Nossa relação, embora bastante liberal, jamais atravessou nenhuma linha que pudesse fazer eu me sentir envergonhada. Quando digo que éramos liberais, quero dizer que essa liberdade rolava apenas no que diz respeito ao diálogo e à exibição do corpo, nunca passando disso.
Essa era a minha vida. Mimada com relação a bens materiais, pois a alegria dos meus pais eram me ver feliz e qualquer desejo que eu me manifestasse logo se realizava, pois eles não tinham problemas financeiros, invejada pelas colegas de escola, mesmo aquelas que se enfureciam quando os pais, ao chamarem a atenção delas, me citavam como exemplo e admirada pelos professores e demais funcionários da escola. A fila de pretendentes a namorados também era intensa, pois o fato de ser bastante aberta com relação a sexo, como não poderia deixar de ser, logo era do conhecimento de todos os garotos e com isso estava sempre trocando de namorados. Hoje posso dizer, sem medo de errar, que nenhum deles recebeu de mim mais que afeto e prazer. O que quero dizer com isso é que, com nenhum deles, tenha havido algo mais sério ou que algum deles tenha conquistado meu amor.
Diante de tanta normalidade, houve um fato que deveria ter me alertado de que alguma coisa muito errada estava para acontecer. Aconteceu que, a nota que recebi na última prova de matemática estava abaixo de qualquer perspectiva e isso me deixou furiosa. Muito embora, essa não tenha sido minha disciplina preferida, também não era para ser tão ruim, pois eu compensava a falta de interesse em dominar regras, fórmulas e conceitos com muita dedicação. Para piorar, quando o professor devolveu a prova com as notas para a classe, a minha não apareceu e eu fui procurá-lo após a aula, pois desejava verificar onde havia ido tão mal.
A resposta que ele me deu me deixou um pouco preocupada, pois ele disse que eu deveria falar com ele no dia seguinte que seria na terça-feira. Como eu sabia que esse era o único dia que ele não comparecia no colégio, pois conseguira um horário para ficar livre nesse dia, comentei isso com ele que, demonstrando nenhum interesse especial no caso, disse apenas que estaria em sua casa e que, por ser próxima da minha, eu poderia passar por lá quando deixasse o colégio.
O nome do meu professor de matemática era Antonio, mas ele exigia que o tratassem pelo seu sobrenome que era Dourado se bem que, na ausência dele, o nome que os alunos preferiam se referir a ele era o de Ranhoso.
Aquilo era muito errado, mas eu estava ansiosa para resolver logo aquilo, pois a nota que havia sido a mim atribuída fatalmente me deixaria em recuperação e tudo o que eu queria naquele momento de minha vida era saber que estava aprovada e que deveria me concentrar apenas na formatura e depois, férias. Por esse motivo, mesmo não tendo confirmado com ele de que faria o que foi pedido, no outro dia saí do colégio sabendo que iria até a casa dele tirar isso a limpo. Porém, por problemas de transporte, pois usava diariamente o transporte que meus pais controlavam e que me deixava em frente a minha casa todos os dias, fui direto para lá. Almocei normalmente e, quando era quatorze horas, dei uma desculpa para a empregada, pois minha mãe havia saído para algum compromisso, e saí no intuito de ir até a casa do professor. Como realmente não era distante, resolvi ir caminhando.
Logo estava sendo introduzida no apartamento dele que, e a princípio senti náuseas diante da bagunça em que vi a minha frente. Livros esparramados em todos os lugares, roupas sujas atiradas sobre o sofá e os móveis cobertos com uma película de poeira daquelas que torna possível até mesmo escrever algo com os dedos. O cheiro também era muito desagradável e para mim explicava bem o motivo dele ter recebido o apelido de Ranhoso.
O meu professor de matemática era alvo de comentários maldosos com relação ao fato de ser descuidado com sua aparência, sendo que alguns alunos reclamavam até mesmo do mau cheiro que ele exalava. Fumante inveterado, a ponto de muitas vezes abandonar os alunos executando algum exercício para se retirar da sala de aula e para fumar, o que deixava seus dedos e até o bigode irregular amarelados.
Ele abriu a porta quando toquei a campainha e a primeira coisa que notei é que ele usava uma camiseta polo apresentando manchas de gordura e de outras coisas. Como ele tinha uma barriga grande, a impressão que dava é que sua barriga servia de aparador para tudo o que ele deixava cair enquanto se alimentava. Ao me ver, ele mostrou um brilho estranho no olhar e, pedindo para que eu aguardasse, sumiu por uma porta que eu deduzi ser a do quarto dele.
Passaram-se mais de dez minutos até que ele voltasse. Quando ele entrou na sala, minha primeira reação foi a de dar uma sonora gargalhada, o que tive que conter com um esforço tremendo. Seus cabelos ralos estavam penteado e, ao que tudo indica, com uma quantidade enorme de gel para mantê-los no lugar e trajava uma roupa que, embora com aparência de limpa, também deixava transparecer a existência de várias manchas em sua barriga grande, o que era facilitado pelo fato de que o tamanho da camiseta devia ser menor do que deveria em pelo menos dois números.
Pior de tudo era o odor. Apesar de tudo indicar que ele havia tomado um banho, seu cheiro deveria estar grudado nele tornando essa providência inútil e, para piorar, o uso de um perfume barato e de mau gosto e em quantidade exagerada piorava tudo.
A primeira coisa que ele fez foi perguntar por que eu estava ali e, quando expliquei a respeito do desaparecimento da minha prova, ele se levantou e remexeu em uma pilha de papel em cima da mesa arrebatada de papéis e retornou com uma folha de sulfite que colocou em minhas mãos.
Não acreditei quando olhei para aquilo. O nome no cabeçalho da prova era meu, porém, a letra não era. Aliás, isso nem era o importante, pois uma análise naquela folha de papel toda amassada, com sinais claros de rasura, deixava claro que era um documento criado há vários anos, em virtude do tom amarelado que apresentava. Olhei para ele sem conseguir dizer nada, esperando por uma explicação. Então ele disse:
– Aí está a sua prova. Pode verificar que você foi muito mal. Acho até que a nota dois que lhe foi atribuída está acima do seu merecimento.
Aquilo me deixou furiosa. Que tipo de brincadeira era aquela? Ninguém jamais acreditaria que aquela prova era minha e não tive outra reação a não ser dizer:
– Cê está brincando, né?
– Não. Não estou brincando. – Nessa hora o encarei e pude perceber que ele falava sério e fiquei até tonta diante do absurdo da situação, porém, ele continuou falando e o que veio foi pior ainda: – Mas a gente pode dar um jeito nisso. Eu te dou a nota que você precisa e você vai ser boazinha comigo?
– Boazinha? Como assim? – Minha mente não estava conseguindo assimilar aquilo.
– Ah! Não se faça de santa. Você sabe o que eu quero dizer. Boazinha igual você é para seus namoradinhos.
– O que? Cê tá maluco? Só pode? Cai fora meu. Vê se se enxerga.
Falando isso, me levantei e fui andando em direção à porta sem conseguir alcançá-la, pois antes que desse três passos fui agarrada e atirada no sofá e imediatamente senti o peso do corpo dele sobre o meu. Imediatamente, minha ficha caiu. Aquela armação da prova antiga não era o seu plano, Na verdade, o que ele pretendia mesmo já tinha conseguido. Ele queria me ter em sua casa, sem a presença de mais ninguém. Tinha que pensar em alguma coisa, mas estava muito difícil conseguir raciocinar com aquele cheiro horrível e aquela boca asquerosa beijando meu pescoço enquanto sua mão fedida tentava virar meu rosto para que assim ele pudesse alcançar minha boca com a sua, o que eu tentava evitar a todo custo, pois sabia que vomitaria se ele conseguisse.
De repente, do nada, ele parou de forçar e saiu de cima de mim. Comecei a sentir um alívio que foi logo extinto com o que ele me dizia:
– Você já veio até aqui vadia, agora você vai dar essa bucetinha de patricinha fodida pra mim. Vai dar e vai gostar. E nem tenta fugir, pois a porta está trancada e você só sai daqui se se atirar pela janela, mas eu devo te lembrar de que estamos no quarto andar.
Era verdade. Eu precisava fazer alguma coisa e ganhar algum tempo. Então eu passei por várias fases na hora seguinte. Primeiro chorei e pedi para que ele não fizesse isso comigo e ele sequer se deu a luxo de responder, ficando apenas me olhando. Depois usei o argumento de que poderia ser expulsa da escola e ficar falada para o resto da vida, ao que ele disse que ninguém saberia disso se eu não contasse, pois ele jamais contaria a ninguém.
Depois de muito choro, de implorar e até adular um pouco ao Ranhoso, tentei a última cartada, dizendo que aceitaria fazer tudo o que ele quisesse se ele tomasse um banho e usaria o tempo que ele gastasse nisso para encontrar a chave da porta e fugir dali. Ele aceitou, porém, vi meu plano ir por água a baixo quando ele, segurando em minha mão, me arrastou com para o banheiro.
Primeiro ele me obrigou a tirar a roupa e depois se despiu. Se fosse outra situação, teria sido acometida de uma crise de riso. O corpo do homem era ridículo. Ele era magro, das pernas e braços finos e com os ossos parecendo eu iam furar a pele a qualquer momento, entretanto, tinha uma barriga enorme e, debaixo dela, um pequeno apêndice que ele devia pensar ser um pênis. Sim, pois o máximo que aquilo podia atingir na classificação de órgão genital era pênis, pois jamais poderia se referir àquilo como um pau ou um cacete.
Fiquei encostada na pia enquanto ele tomava seu segundo banho em menos de meia hora e me instruía como deveria agir. As ordens eram estranhas e se referiam em como eu deveria agir, e notei que todas eram para que eu pedisse as coisas como se estivesse querendo muito aquilo. Dessa forma, teria que pedir para que me fodesse, pedir para chupar seu pau e para que ele gozasse na minha boca. Também tinha que convencê-lo de que estava gozando muito e gostando demais da transa. Para completar as instruções das regras, o filho da puta disse que nós começaríamos com ele me atribuindo uma nota bimestral de seis e que, dependendo da minha atuação, a nota iria subindo.
Nessa hora a raiva me dominou e o sentimento de revolta fez com que eu resolvesse que controlaria o asco em estar com aquele protótipo de gente e daria a ele a foda de sua vida. Minha vingança seria fazer com que ele ficasse desejando mais e depois pudesse negar e ainda zombar dele.
Então, pelas duas horas seguintes, atuei como se fosse uma atriz pornô em que, mesmo sem nada sentir, exceto nojo claro, demonstrava estar tendo a melhor foda da minha vida, indo além das instruções recebidas, indo além de suas instruções e pedindo para que ele fodesse meu cuzinho, o que não era nenhum grande desafio, pois aquela piroquinha ficava longe da dos poucos rapazes que já tinham tido o privilégio de, me pegando em um dia em que me sentia tesuda, entregara meu cuzinho para eles.
Saí dali com a informação de que minha nota seria nove e, apesar de muita raiva, ansiosa em ter uma oportunidade de escarnecer dele quando viesse tentar transar comigo outra vez. Eu tinha certeza de que, com o prazer que havia lhe dado, ele me procuraria novamente e aí eu poderia dizer na cara dele tudo o que sentia em relação a tudo o que tinha acontecido.
Porém, eu era uma garota com apenas dezessete anos e não era páreo para um filho da puta aproveitador que assediava as alunas. Hoje sei que deveria ter contado tudo para os meus pais, o que não fiz pensando em deixá-los à margem dessa situação sórdida. Consegui preservar meus pais, mas entrei em uma fria.
Descobri isso quando, dois dias depois, ele me deu um pen drive salientando que deveria assistir quando estivesse sozinha. Fiz isso quando estava em casa apenas com a empregada e sabia que ela não entraria no meu quarto.
Fiquei apavorada quando vi que ele havia filmado tudo e só então me dei conta que aquela conversa aquela suas instruções eram muito mais do que um fetiche do meu professor. Na verdade, aquilo fazia parte do seu plano que, editando o filme, deixou claro para quem o assistisse, que era eu a safada daquela situação, dando a entender até mesmo que eu criara uma situação para obriga-lo a fazer sexo comigo ou que, num julgamento mais extremo, teria sido eu a abusar dele. E o propósito dele em me entregar aquele pen drive não deixava dúvidas, ele ia me chantagear. Chorei ao me dar conta que estava na mão daquele canalha.
Já no dia seguinte ele pediu para que eu aguardasse depois da aula e já foi falando:
– E então. Gostou do filminho?
– Você é mesmo um filho da puta. – Quase gritei diante da raiva que me sufocava desde o dia anterior.
– Sou? Pois é. Mas quem ver aquele filme vai acreditar que tem alguém aqui nessa escola que abre as perninhas em troca de nota.
– Se você pensa que vai conseguir alguma coisa com isso, está doido.
– Eu não penso. Eu tenho certeza. – E antes que eu pudesse falar qualquer coisa, completou: – Te espero lá em casa às duas horas. Não se atrase tá bom?
Filho de uma puta! Eu estava realmente fodida e agora então é que não podia contar nada aos meus pais. Sem saída, fui até seu apartamento e isso se repetiu por mais duas vezes na semana seguinte. Então me dei conta de que tinha que fazer alguma coisa para fazer com que aquilo tivesse um fim.
Passei dois dias com a mente fervilhando em busca de uma ideia que me desse a chance de colocar um final naquela história. Estava ficando louca quando me ocorreu que eu deveria agir com mais inteligência. Então, me lembrei de um teste ao qual tinha sido submetida alguns anos antes que consistia em ligar nove pontos que formavam um quadrado sem retirar o lápis do papel. Não consegui resolver e a professora que aplicava o teste resolveu de uma forma muito simples, traçando os riscos até um ponto fora do quadrado e resolvendo o teste e, depois de resolver, explicou que o fato de eu ter fracassado na solução foi o de que fiquei centrada dentro do quadrado e que eu deveria olhar para todo o papel, pois em momento algum ela estabeleceu limites. Usando esse princípio, comecei a analisar s situação de um prisma diferente. Em vez de ficar centrada na situação em que me via presa, passei a observar todas as possibilidades.
A estratégia deu certo, pois a primeira coisa que me ocorreu foi: será que eu era a única? Se ele tinha feito isso comigo, será que não teria feito com outra garota da minha escola? Com essa ideia em mente, comecei a repassar todos os fatos ocorridos em nossa turma e não demorou nada para que me lembrasse de dois episódios ocorridos anteriormente.
O primeiro havia acontecido no primeiro semestre e era bem parecido com o meu. Uma garota reclamara que sua prova de matemática havia sumido e que a nota atribuída a ela estava bem abaixo de suas expectativas. Tratava-se de Mirna, uma mulata linda e com um corpo exuberante com quem eu tinha um relacionamento bastante frio, pois ela me via como sua concorrente como líder da turma e não hesitava em tentar me desmerecer perante os colegas. A outra era com a garota mais tímida da classe. Celina, uma loirinha miúda, que não devia ter um metro e meio de estatura, porém com o corpinho tem distribuído e dona de um rosto lindo, estava sendo ameaçada de ser expulsa do colégio por ter sido surpreendida colando na prova de... adivinhem. Acertaram. Na prova de Matemática.
Como seria difícil me aproximar de Mirna, fui atrás de Celina e não fiz rodeios, falando diretamente. Perguntei se aquela história de ter sido surpreendida colando era realmente verdade ou se era algum tipo de armação. Sem entender onde eu pretendia chegar, ela recebeu a pergunta muito mal e fui ofendida de várias formas com ela se afastando de mim e passando a me evitar. Como não tinha mais a quem recorrer, esperei uma oportunidade e consegui encurralar Celina no banheiro das meninas, dessa vez abrindo mão de qualquer cuidado e abrindo o jogo com ela e contando o que havia acontecido comigo.
Dessa vez deu resultado, Celina, com as lágrimas escorrendo em seu rostinho perfeito, contou que havia caído em uma armadilha, pois foi o próprio professor que colocou um gabarito da prova sob seu caderno e depois revelou a existência dele, porém, não fez muito escândalo com isso o que deu margem para que ele assediasse Celina e conseguisse seu intento.
Quando disse a Celina que minha intenção de me vingar ela demonstrou muitas dúvidas de que isso seria possível. Mesmo assim, o fato de termos algo em comum o fato de termos sido adiadas e abusadas pela mesma pessoa, fez com que ela aceitasse minha companhia e nos dias que se seguiram, estávamos sempre juntas. Em nossas conversas, fantasiamos vinganças extremas a ponto de que, em muitas delas, ríamos de nossa imaginação, pois se tratavam de coisas impossíveis de realizar em que, no final, o Ranhoso sempre morria de uma forma horrível.
Estávamos nisso há duas semanas e nenhuma ideia aceitável, ou possível, nos ocorreu. Estava desiludida com esse fato, quando Celina sugeriu:
– Olha Letícia. Eu acredito que tem mais duas garotas que tiveram problemas com o Ranhoso. Uma é a Mirna, da nossa classe. Sei disso porque achei muito estranho aquela história da prova dela sumir e depois a nota dela ter subido. – Fiquei tensa ao ouvir essa explicação dela e estava certa, pois logo ela continuou dizendo: – Isso quer dizer que já desconfiava que o mesmo tivesse acontecido com você, já que existiu um padrão. A outra é a Sula, de outra turma. Parece que a ouvi reclamando sobre a mesma coisa no banheiro num dia desses.
– O que? A Sula? Você tem certeza disso?
Celina apenas levantou os ombros em uma confirmação de que não tinha certeza, mas que também não custava nada tentar. Expliquei para ela o problema que teria em me aproximar de Mirna, e a convenci a atrair a morna para o nosso grupo. Ela aceitou, desde que eu fizesse o mesmo com Sula.
Sula era a aluna que todos classificam como a porra louca da turma. Alguns afirmavam até mesmo que ela era lésbica. Eu tinha minhas dúvidas, pois um namoradinho me contou que já havia transado com ela e depois explicou que seus pais tiveram que leva-lo a um psicólogo diante do trauma que ele adquiriu depois do fora que levou da transloucada. Na época fiquei pasma em descobrir que um cara que eu achava normal tivesse se apaixonado pela pessoa mais maluca do colégio.
Era um desafio e tanto, mas pensei muito e vi que, para uma situação como aquela, ter Sula como aliada seria ótimo. Ela era o tipo de pessoa que, se motivada, poderia muito bem provocar um incêndio até dentro de uma caixa d’água. A Sula era louca de pedra.
Celina e eu traçamos nosso plano e ela começou a se aproximar de Mirna. O problema com ela é que teria que contar o problema que tivera com o Ranhoso, pois assim que tocasse no assunto a outra ficaria sabendo que ela também fora vítima. Enquanto isso, fui me aproximando de Sula que, a princípio, agiu com muita desconfiança e rechaçava todas as tentativas que fazia nesse sentido. Já estava pensando em desistir de colocar aquela menina em nosso plano quando, por sorte, ouvi um comentário entre duas alunas da turma dela que se referia a ela. Uma fofocava para a outra que a Sula corria o problema de ser reprovada em virtude de não conseguir entregar um trabalho. Como o trabalho era de uma matéria que eu dominava bem, resolvi usar essa informação. Meu plano era me aproximar dela oferecendo ajuda. Estava até mesmo decidida a fazer o trabalho para ela se isso fosse necessário.
O trabalho era sobre o Calendário Gregoriano e iniciei uma pesquisa sobre o assunto, ficando surpresa com as informações que ia descobrindo, como por exemplo, o fato de que no ano de 1582, o mundo adormeceu no dia 05 de outubro e, quando acordou, estava no dia 15 do mesmo mês. Não, ninguém dormiu dez dias seguidos. O que aconteceu foi que o ano bissexto foi criado nessa ocasião e dez dias foram suprimidos para que o ano ficasse de acordo com o movimento da terra em volta do sol. Tive outras descobertas fascinantes e, quando me senti pronta a falar com Sula, estava bem preparada.
Mais uma vez tive que usar Celina que conseguiu o número do celular da maluca. Cruzando os dedos para não provocar uma reação contrária ao que eu pretendia, mandei uma mensagem sem me identificar e dizendo que poderia lhe ajudar com seu problema em apresentar o seu trabalho. Ela respondeu com um: “Quem é você?” e “O que você quer comigo?”. Desanimada, respondi em tom de desafio:
“Então. Quer ou não quer? Se quiser, me encontre na quadra de esportes depois do treino de vôlei de hoje a tarde. Estarei te esperando na arquibancada ao lado da saída sul.”
Fiquei ansiosa quando chegou a hora do encontro, pois sabia que naquele encontro tudo podia acontecer. As possibilidades iam de eu ganhar uma forte aliada até levar uma tremenda surra, passando por me transformar na idiota da escola, pois Sula seria bem capaz de, depois de saber o que se passou comigo, divulgar isso para todos. Fui me postar no local informado e, quinze minutos depois da última pessoa ter deixado o local vazio e já pensando em desistir, vejo a Sula entrando no recinto e me procurando com os olhos. Deu até para ouvir o estalo que ela deu com a língua para demonstrar sua decepção ao ver que era eu que estava aguardando por ela, indicando que ela tinha esperança em não me ver ali.
Sabia que tinha que estar prevenida. Assim, havia levado comigo meu notebook e pude mostrar a ela o material que tinha preparado. Quando finalmente acabei de explicar, ela disse que ainda não tinha entendido direito e eu disse a ela que aquilo já era esperado e que, caso ela aceitasse, marcaríamos um dia para que eu desse mais instruções a ela. Foi quando ela disse:
– Tudo bem então. Mas o pagamento por isso vai ser apenas hoje, o outro dia vai ser só para estudar. – Olhei para ela estranhando, pois em momento algum havia dito o que esperava dela e, mais ainda, quando ela completou: – E tem mais, eu chupo sua bucetinha só se você chupar a minha.
– Você é doida menina? Eu não estou querendo isso não. Gosto é de homem.
Mas já era tarde demais. Sem nenhum aviso prévio ela me puxou para si e, enlaçando minha cintura, buscou minha boca com a dela. Tentei evitar e ela mudou de tática, passando a segurar meu rosto. Sendo mais forte que eu, não teve como evitar e senti sua língua forçando passagem entre meus lábios. Confusa, principalmente por sentir minha buceta ficar molhada, não ofereci resistência e senti a exploração de minha boca por aquela língua áspera e um sensação estranha tomou conta de meu corpo. Só não caí no chão por que ela me aparou e me fez sentar na arquibancada, sentando ao meu lado e passando a mão nas minhas pernas que estavam expostas em virtude do curto short jeans que eu usava.
Entre assustada e excitada, senti a pressão da mão dela em minha buceta e não tive nenhuma reação contrária. Não a abracei e nem correspondi ao beijo, mas também não fiz nada para evitar. Minha mente repudiava aquele ato contrário a minha opção sexual, enquanto meu corpo andava na direção contrária e não escondia o desejo de ser tocada e tomada por aquela linda mulher.
– Nossa! Eu não sabia que você era assim tão macia e gostosa. Se soubesse, já tinha te dado atenção antes.
E novamente me vi sendo beijada, porém, dessa vez uma das mãos de Sula passeava por minhas costas até encontrar o final da camiseta e forçou sua entrada por baixo do tecido, voltando para cima, dessa vez em contato com minha pele que se arrepiava ao toque sensual dela. Ainda não satisfeita, a mão escorregou pela lateral do meu corpo e finalmente atingiu minha barriga, continuando a subir até atingir meu seio esquerdo. Não tive nenhuma reação quando a mão forçou o bojo do sutiã para baixo e tocou meus mamilos que, nessa hora, latejavam dando a impressão que explodiriam a qualquer momento. Sem resistir, me entreguei àquele beijo e passei a usar minha língua para brigar com a língua invasora de Sula que, entendendo meu desejo, recuou e permitiu que também explorasse sua boca macia. Sem nenhum controle, meu corpo começou a tremer, meu quadril fazia movimentos circulares como se minha xoxota tivesse vida própria e procurasse por alguma coisa que a invadisse e, sem poder controlar os gemidos altos, gozei com os carinhos daquela loira linda e com um corpo exuberante.
Quando finalmente me livre do abraço e carinhos, consegui apenas dizer:
– Que isso. Você está doida?
– Antes não estava, achava que era só uma amolação e tentava encontrar uma forma de evitar você, mas agora, depois desse beijo, acho que estou sim. E quero mais.
Falando isso ela já foi se aproximando, mas usei toda força que tinha e consegui evitar e falei:
– O que você está pensando? Eu não sou lésbica não, sua doida.
– Eu também não sou. Mas gozar é muito bom de qualquer jeito e, quando uma mulher é gostosa e macia como você fica muito, mas muito melhor mesmo.
– Eu nunca fiz isso. Eu gosto é de homem.
– Você gosta é de gozar e, por falar nisso, que gozo em querida! Nossa, fazia tempo que não via uma mulher fazer assim. Olha que pensei que você ia decolar e entrar em órbita.
– Você quer fazer o favor de parar? Eu quero algo em troca do trabalho sim, mas não é isso.
Finalmente consegui despertar a atenção de Sula, porém, do jeito que ela me olhava, sabia que tinha que ser direta e rápida. Dessa forma, já fui contando o que se passou comigo e o professor de matemática e qual era o meu plano. Para minha surpresa, mal acabei de falar Sula começou a rir a ponto de soltar uma sonora gargalhada e, mesmo comigo reclamando e dizendo que não via motivo para rir disso, ela não conseguia se controlar. Finalmente, depois de muito tempo, ela conseguiu explicar:
– Que doideira isso amiga. Você acha mesmo que aquele babaca daquele professor ia conseguir me enganar desse jeito?
– Quer dizer que você não...
– Errada de novo. Eu fui sim para a cama com ele. Mas tudo não passou de uma brincadeira. Foi uma aposta que fiz com um ficante que conseguia fazer qualquer homem se interessar por mim. – Ela olhou em volta como se estivesse analisando se devia ou não confiar em mim e por fim continuou: – Olha que foi fácil. Aquele homem é um tarado, pena que fode muito mal. Com aquele pintinho e aquela pressa dele nem conseguir gozar. E no final, foi uma foda bem sem graça.
O fato de conhecer o segredo de Sula me deu confiança para ir adiante e dar mais detalhes, inclusive, falando das outras duas garotas e do que poderíamos fazer com ele, se bem que, não tínhamos ainda um plano definido. Depois de ouvir, ela perguntou:
– E você quer minha ajuda?
– Eu queria. Mas achei que você também tinha sido vítima dele. Me desculpe tá. Você pode esquecer isso?
Olhando bem em meus olhos, Sula falou?
– Olha querida. A transa foi tão ruim que dá para me classificar como vítima sim. Vítima de ser mal fodida. Só pra você ter uma ideia, um beijo com você me deu mais prazer do que uma hora de sexo com ele. – Ela parou de repente e ficou me olhando com um sorriso estranho nos lábios e depois disse: – Taí. De repente isso pode ser proveitoso para todos. Que tal uma proposta.
– Tá bom. Faça a proposta. Afinal, sempre vou poder dizer que não.
– Eu ajudo vocês a se vingarem dele, mas aí eu vou querer algo em troca.
– Mais trabalho? Tudo bem. Eu posso te ajudar em algumas matérias.
– Que trabalho sua boba! Até lá o ano já acabou. Olha, eu te ajudo e acho que a gente pode achar um jeito para que ele nunca mais olhe para outra aluna, mas vocês, em troca, vão ter que passar uma tarde comigo.
– De jeito nenhum. Já disse que não sou lésbica.
– E eu já disse que sei que você não é. Mas sei também que você gosta de sexo, e como sei. Olha aqui, se com apenas um beijo você já se comportou desse jeito, subindo nas paredes, imagine seu te pegar com calma, tempo e jeito. Você vai gozar como nunca gozou em sua vida. – Abri a boca para dizer para ela parar, mas ela não deu chance e continuou: – E quanto as suas amigas, a Celina eu não sei, mas posso ensinar ela a gostar, agora, com relação à Mirna, sei que ela vai adorar repetir o que já fizemos muitas vezes.
– O que? Você e a Mirna? Você está contando vantagem já.
– Sabe de nada a inocente. – Disse Sula e depois riu, deixando-me estarrecida com aquela conversa.
No íntimo, estava repudiando aquela ideia, porém, acabei aceitando. No fundo, eu alimentava a esperança de que Mirna pagaria o preço pela ajuda de Sula que, ao meu lado, parecia muito amizade e falava sem parar:
– Nossa, vai ser um arraso. Imagine só. Uma mulata gostosa que tem pose de mulher realizada e bem sucedida que é a Mirna. A loirinha Celina com sua cara de menininha inocente que precisa ser conduzida, você, morena com esses cabelos lisos e curtos, esse rostinho lindo, olhos azuis e tipo mignon e eu, loira, exuberante e gostosa, todas juntas se dando prazer. Nossa! Eu mataria por uma oportunidade assim.
Ouvindo aquilo, me senti confusa com os meus sentimentos contraditórios, pois enquanto ela falava eu consegui imaginar a cena e não podia confessar a ela que aquela imaginação me excitava. Ela estava certa quanto às descrições. Mirna, uma mulata de cabelos ondulados que cascateavam por sua costa, com seu rosto lindo, lábios carnudos e um caminhar ondulante que os meninos diziam ser um convite ao sexo, Celina, uma loirinha minúscula, mas com o corpo todo proporcional parecendo uma boneca, com seus cabelos cacheados e compridos como o de Mirna, diferenciando apenas na cor, Sula, também loira, mas do tipo mulherão, sendo a mais alta de todas com seu um metro e oitenta, corpo proporcional, pernas longas e roliças e totalmente safada e louca e eu que ela descrevera tão bem, com um metro e cinquenta e seis, tipo falsa magra que não chamava muito atenção quando vestida, mas que, quando me despia, deixava os meu namoradinhos eufóricos.
Mas antes de qualquer pensar nessa possibilidade, tínhamos que pensar em outra coisa. Agora, que eu deixara outras três garotas saber o que tinha acontecido comigo, não tinha mais retorno. Tinha que seguir em frente no meu plano de tirar o Ranhoso da minha cola. Sabia do perigo de que, para ter êxito nessa empreitada, poderia muito bem prejudicar ele, o que ficaria parecendo mais um ato de vingança. Depois, pensando bem no assunto, percebi que a vingança também seria muito bem vinda.
Voltei ao presente quando ouvi a voz suave da enfermeira perguntando se eu não estava conseguindo dormir. Estava tão absorta em minhas memórias que nem a tinha visto entrar no quarto. Aflita, me perguntei qual seria o motivo de ter sido assaltada por essas lembranças. Lembranças de um passado que há muito tempo fazia de tudo para esquecer.