O Recluso: Reminiscências

Um conto erótico de O Bem Amado
Categoria: Gay
Contém 1382 palavras
Data: 07/09/2022 01:02:59
Assuntos: Gay, Sexo oral, sedução

No bairro onde cresci diversas eram as lendas urbanas de uma cidade que mesmo em crescimento ainda guardava um aspecto provinciano; algumas eram bem conhecidas e outras nem tanto; foi durante minha adolescência já florescida que tive contato com uma dessas lendas; dizia respeito ao sobrado solitário. Tratava-se de uma construção por demais aprimorada para os padrões da época que mantinha uma comunhão entre o vanguardista e o sofisticado. Suas amplas janelas sempre estavam cerradas e a frondosa varanda era ornada com móveis de madeira maciça com tons rústicos, mas ainda assim bem cuidados.

Destacavam-se também o jardim frontal onde se viam roseiras variadas rodeadas por jacintos brancos e miosótis salpicados por suculentas cuja florada era algo belíssimo tanto aos olhos como para a alma e ainda o muro baixo construído com pedras entrecortas de perfeito encaixe compondo uma obra digna de elogios. Quanto ao seu morador pouco se sabia, além de ser um homem que vivia em sua reclusa solidão; diziam que ele já fora uma personagem proeminente de família tradicional que contraíra núpcias com uma linda jovem filha de fazendeiros abastados do interior que falecera de modo trágico ainda na flor da juventude.

A perda da amada transformara o sujeito em um homem as vezes entristecido e magoado e em outras uma pessoa soturna e ar amedrontador que para evitar comentários indesejados tomara a decisão de viver em sua reclusão. Periodicamente, um motorista comparecia trazendo compras variadas como alimentos, roupas limpas e outros itens necessários à sobrevivência do enigmático morador do sobrado. Tínhamos instruções específicas para que nos mantivéssemos afastados do sobrado e que jamais ousássemos manter algum tipo de contato com seu morador, pois pairavam suspeitas de que ele pudesse ser uma espécie maníaco cujo desequilíbrio poderia ser uma ameaça à nossa integridade.

É claro que tais alertas de nada serviam para um bando de adolescentes transbordando hormônios cuja curiosidade somente era menor que a excitação do desconhecido; certo dia eu estava passando em frente ao sobrado retornando do colégio quando vi um homem saindo de seu interior; com a claridade meridiana do sol quase a pino pude observá-lo com certa atenção; vestindo uma calça de sarja marrom e camisa branca de algodão, tinha um ar sóbrio e olhar sério; alto e encorpado as mangas curtas da camisa revelavam uma pele levemente bronzeada e os cabelos em desalinho lhe concediam uma aura despojada; mesmo sem saber a razão eu estanquei minha caminhada para observá-lo.

Tendo nas mãos um pequeno balde com algumas ferramentas, ele se pôs de joelhos em meio ao jardim cuidando das roseiras; estava tão entretido com seu afazer que sequer percebeu que eu o espiava da calçada. Repentinamente, ele se levantou e veio em minha direção exibindo a mesma expressão sóbria e destituída de sorrisos; ao vê-lo se aproximando de mim, meu ímpeto de fugir foi congelado pela letargia que tomara conta do meu corpo como uma força além de minha vontade que me impedia de esboçar qualquer reação. “Ora vejam só! Rapazote, você é o primeiro que não grita e saí correndo ante a minha aproximação! …, me diga …, não tem medo de mim?”, disse ele com tom pausado e uma pontinha de ironia.

-Porque eu teria medo? – questionei mal sabendo como minha voz era articulada – Não acredito que o senhor queira me fazer mal …

-E realmente não quero! – interrompeu ele emendando a seguir – Me diga …, gosta de flores?

-Sim …, gosto muito! – respondi ainda com tom hesitante – principalmente rosas como as que o senhor tem aí.

-Então tome – disse ele estendendo um pequeno alicate de poda e abrindo o portão de ferro emoldurado – entre e escolha aquelas que mais lhe cative …, corte-as e leve consigo …

-Se o senhor assim o diz, farei isso! – respondi fingindo uma coragem inexistente tomando o alicate nas mãos e avançando jardim adentro.

Procurei escolher com cuidado e acabei por cortar três no total: uma vermelha, uma rosa e uma branca; assim que terminei lhe devolvi o alicate e fiquei diante dele sem saber o que estava esperando. “Hum, interessante …, és um rapaz apaixonado pela vida, admirador da beleza que o cerca e ainda guarda a inocência pura e sincera dos jovens!”, disse ele apontando para as flores que eu tinha nas mãos. Antes que eu perguntasse como ele sabia de tudo isso ao meu respeito, explicou-me que as cores que eu escolhera diziam muito sobre mim.

Em seguida, pediu que eu esperasse um instante enquanto ele retornava ao interior do sobrado; ao retornar tinha nas mãos um livro que ele me entregou. “O Apanhador no Campo de Centeio”, era o título que ocupava a parte superior da capa dura em caixa alta e baixo relevo; eu fitei o livro e logo depois o encarei exibindo minha curiosidade em saber a razão do livro.

-É um presente …, jamais fiz isso a alguém – disse ele com uma entonação suave e amigável, antecipando-se ao meus possíveis questionamentos – mas de acordo com sua escolha das flores, creio que será uma leitura fértil e edificante …, se quiser conversar sobre ele, estarei a sua disposição …, isto é, se seus pais permitirem que mantenha contato com um recluso tido como maníaco.

E sem esperar por minhas palavras, ele deu de costas voltando para dentro do sobrado e fechando a porta atrás de si. A bem da verdade devorei o livro em alguns dias, mas dada a complexidade de seu conteúdo permaneci dias ruminando e relendo querendo compreender mais sobre o recluso através do livro que ele me dera. Procurei guardar segredo de meu encontro com o recluso que eu sequer sabia o nome, mas infelizmente caí na tentação juvenil de confidenciar o acontecido com Eufrásio que tinha como meu melhor amigo.

Após ouvir tudo atentamente, inclusive meu pedido para que mantivesse meu segredo, ele exibiu um sorrisinho maroto que me deixou preocupado. “Se quiseres meu silêncio, tem que pagar um preço!”, alertou ele em tom ameaçador; desesperado ante a possibilidade de que ele revelasse tudo aos meus pais, acabei por aquiescer com sua exigência.

-Me espere amanhã, depois das aulas e resolvemos isso! – respondeu ele com um laconismo preocupante, quando lhe perguntei qual era o preço de seu silêncio.

No dia seguinte, Eufrásio me levou para a oficina mecânica de seu pai; entramos pelos fundos onde havia um velho portão de madeira e depois seguimos até o galpão onde guardavam peças usadas e outros tipos de sucata; ao chegarmos no fundo da instalação, ele se voltou para mim e baixou a calça exibindo seu membro rijo que ele passou a segurar pela base sacudindo-o de um lado para o outro. “Chupa minha piroca até eu encher tua boca de porra! É isso ou conto pra todo mundo o que você me disse!”, exigiu ele com tom amedrontador e olhar lascivo.

Por um momento, pensei em reagir me negando a cumprir sua exigência, mas não tive coragem tanto porque Eufrásio era bem maior e mais forte que eu, como também pelo fato de que olhando seu membro grande e grosso senti algo estranho dentro de mim; era como um comichão que me instigasse a atender aos desejos sórdidos do rapaz que não escondia sua ansiedade em ver seu amigo chantageado chupando seu membro, impondo-lhe uma rendição incondicional. Sem pensar nas consequências pus-me de joelhos e cingi o membro sentindo seu calibre e também sua pulsação.

Comecei hesitante, lambendo a glande e apertando-a contra minha língua ouvindo Eufrásio grunhir como um animal dominado pelo instinto. “Vai, porra! Chupa logo meu pau, viadinho!”, esbravejou ele em tom impaciente; abri minha boca e avancei sentindo o apêndice preencher seu interior até roçar minha glote; ainda segurando a ferramenta pela base dei início a movimentos engolindo e cuspindo com certa lentidão que deixava Eufrásio ainda mais excitado. Ele bem que tentou segurar minha nuca para que ele próprio pudesse golpear, mas eu o impedi e percebi que ele rendeu-se ao meu domínio. Naquele momento lembrei-me do protagonista do livro que o recluso me presenteara e tive a nítida impressão de que eu era o tal Holden Caulfield, mas não com suas dúvidas existenciais e sua eterna hesitação no que deveria fazer a seguir; eu ali de joelhos diante de Eufrásio não era submetido; pelo contrário, era a mim que ele se submetia, a mim o inseguro, mas que o tinha em minha boca!

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Comentários

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Bem filosófico mas confesso que esperava bem mais do vizinho recluso do que desse "amigo". Obrigado.

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Entendo amigo, mas estamos apenas no começo da narrativa

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