Nos fundos da oficina do pai de Eufrásio lá estava eu chupando seu membro e me deliciando com a sensação de dominar através do prazer; sempre que olhava para cima via o rosto transtornado do sujeito que mal conseguia se controlar tal era o seu estado de excitação; nas poucas vezes em que ameacei interromper o assédio oral, ele me fitava com uma expressão misto de ira com súplica; sim, realmente eu me sentia o tal Holden só que uma maneira diferente; eu não tinha a intenção de salvar alguém, muito menos de me salvar …, o que eu queria naquele momento era me descobrir; e tudo teria ido mais longe não fosse a repentina explosão de sêmen jorrando em minha boca pouco depois de Eufrásio soltar um grunhido rouco e longo com o corpo tomado por espasmos.
Por conta de minha inexperiência fui obrigado a cuspir o membro já que a massa gosmenta de sabor agridoce quase causou-me um engasgo sufocante; ele por sua vez recuou quase cambaleando com seu membro ainda soltando pequenos esguichos de sêmen que despencavam no piso de cimento rústico até que ele conseguisse retomar o controle de suas ações vendo-se obrigado a sentar-se em um engradado de madeira. “Olha que você é mesmo um viadinho guloso, hein? …, de agora em diante vou querer sempre!”, balbuciou ele com o corpo ainda tomado por espasmos. Naquele momento fui tomado por uma ira desmedida e já de pé avancei contra ele socando seu rosto com tanta fúria que senti uma dor aguda que ficou por dias.
-Seu desaforado! Tínhamos um acordo – rosnei com Eufrásio ainda caído tentando entender o que havia lhe atingido – Você trata de fazer a sua parte, pois já fiz a minha!
E sem esperar por uma resposta fui embora me sentindo diferente; de alguma forma o livro que me fora presenteado fez com que visse o mundo ao meu redor de outra forma com outras nuances que no futuro próximo me ajudariam a me compreender melhor; alguns dias depois, retornando do colégio me vi parado em frente ao sobrado como se esperasse alguma coisa; percebi que alguém me observava pela ampla janela lateral e poucos minutos depois o recluso veio até a varanda acenando para mim; acenei de volta, mas permaneci onde estava sem me mover.
-Olá! Você pode passar o resto da tarde onde está se é isso que quer – disse ele assim que se aproximou do portão – Mas algo mês diz que você tem várias perguntas que precisam ser respondidas, não é?
-Ahnnn! Sim …, tenho! – respondi com voz titubeante incapaz de me mover – Na verdade tenho muitas perguntas …
-Sim, eu sei que tem! – interrompeu ele com um sorriso amigável e tom afável – Mas as primeiras devem ser sobre a leitura …, tenho certeza que leu o livro que lhe dei e agora está repleto de questionamentos e também de escolhas …
-Li sim! Duas vezes! – antecipei-me com tom ansioso – Foi muito interessante e …
-Escute rapaz …, podemos ficar aqui ou nos acomodarmos ali na varanda – atravessou ele abrindo o portão – A não ser que você prefira acreditar nas histórias que ouviu sobre mim …, Vê? Sua primeira escolha na vida!
Mais uma vez sem esperar resposta ele deu de costas e voltou para a varanda, entrando no sobrado; pouco tempo depois retornou com uma jarra e copo sobre uma bandeja que depositou sobre a mesa de madeira com tampo de vidro, sentando-se na cadeira de vime e olhando para mim; sabendo que aquela não fora minha primeira escolha eu relembrar o acontecido com Eufrásio, respirei fundo e segui em frente sentando-me na cadeira do outro lado da mesa; o recluso me ofereceu suco de tamarindo que eu sequer sabia o que era, mas aceitei achando-o delicioso. “Aquele livro que lhe dei tinha a finalidade de abrir sua mente para o que o cerca …, você me pareceu um rapaz curioso, porém que precisa de ajuda para entender seu lugar no mundo …, tem medo de escolhas, mas sabe que precisa delas para sobreviver …, precisa se aceitar, mas ainda não se compreende …, acertei?”, disse ele me fitando nos olhos. Eu não pude esconder minha expressão embasbacada por ele ter acertado na mosca!
O recluso permaneceu em silêncio com uma expressão de que ele já sabia a resposta; mais uma vez antes que eu abrisse a boca ele retomou a fala.
-Acho que antes de mais nada precisamos nos conhecer – começou ele em tom afável – Meu nome é Conrado, sou viúvo …, perdi minha jovem esposa precocemente de uma doença incurável …, sofri e sofro até hoje pela perda …, depois disso apaixonei-me perdidamente por um outro homem …, mas ele era casado e por isso tive que sufocar essa paixão …
-E o que o senhor faz para viver? – cortei eu perguntando com tom ansioso e cheio de curiosidade.
-Fui professor universitário – respondeu ele com docilidade e um sorriso discreto – mas depois de tantas perdas e desilusões na vida decidi que precisava entender melhor e vida que não vem com manual de instruções e enveredei pelo mundo do esoterismo …, como venho de uma família abastada tenho o suficiente para viver dignamente …, pronto! É isso! …, agora fale-me de você.
Um tanto atabalhoado fiz minha apresentação pessoal arrematando no final que eu me sentia muito parecido com o tal Holden do livro. Conrado me fitou por alguns minutos e sem dizer uma palavra levantou-se e entrou no sobrado; ao retornar trazia outro livro nas mãos cujo título era: “Nada de Novo no Front”.
-Tome este e leia …, para que jamais parta para uma guerra sem saber de suas consequências – disse ele com tom professoral – E o voltar não volte em pedaços, mas se acontecer aprenda a se reconstruir.
Nos despedimos com a promessa de outros encontros e fui para casa meditando sobre o que ele me dissera; varei a madrugada devorando aquele livro e ao final apaixonei-me de uma forma inexplicável não pelo livro ou pelo autor, mas sim pelo meu intrigante mecenas. Na manhã seguinte senti uma enorme vontade de dizer isso a ele, mas não tive coragem; aliás, por alguns dias eu não o procurei até que uma tarde depois de cumprir algumas tarefas domésticas a pedido de minha mãe, respirei fundo, criei coragem e fui até o sobrado. Encontrei-o sentado na varanda lendo alguma coisa.
-Eu nunca fui completo …, nunca me senti assim! – disse eu assim que me aproximei dele com voz embargada e tomado por uma tremedeira descontrolada – Eu sou o Paul Baumer voltando da desolação!
-Não, você não é! – ele respondeu com tom enfático! – Você é quem você deseja ser! …, não antes, nem depois da desolação …, apenas vivendo as agruras da adolescência …
-Mas …, acho que …, estou apaixonado! – eu interrompi com tom esbaforido – apaixonado por você!
Conrado levantou-se abruptamente e pediu que eu fosse embora dando-me as costas entrando no sobrado e fechando a porta atrás de si; fiquei ali estático e emudecido sem saber o que pensar; destroçado em meu âmago voltei para casa sentindo-me como o tal Paul Baumer alquebrado e decepcionado. Por dias eu evitei passar em frente ao sobrado, desviando meu caminho mesmo que significasse uma distância maior com maior perda de tempo. E nesses desvios acabei passando em frente da oficina do seu Nicanor, o pai do Eufrásio.
Assim que me viu, Eufrásio gritou e correu em minha direção; sabendo de suas intenções vingativas disparei tentando fugir dele; infelizmente tropecei em alguma coisa e dei de cara no chão. Quando tentei me levantar, senti a bota dele pressionando dolorosamente minhas costas. “Pensou que escapava de mim, né, seu viadinho!”, exclamou ele com tom vitorioso me levantando pela gola da camisa. Eufrásio levou-me para dentro da oficina e me atirou no chão; voltei-me para ele que estava a tirar suas roupas.
-Agora você vai ter o que merece, seu viadinho! – rosnou ele já ostentando uma ereção ameaçadora – Vou fuder esse rabo! Te fazer minha putinha pra você aprender quem manda. Eu não tinha escolha e me lembrei de Paul Baumer precisando transformar minha decepção em esperança; não perdi tempo em ficar de pé e partir para cima do meu oponente.
Apanhei mais do que bati, porém ao final dei um golpe baixo no agressor e fugi correndo como um louco; minha boca sangrava, meu corpo doía, e eu sabia que não podia voltar para casa daquele jeito; seguindo um instinto que eu desconhecia terminei minha fuga na porta do sobrado, batendo em desespero; ao abrir r me ver daquele jeito, os olhos de Conrado encheram-se de piedade e ele me levou para dentro. Cuidadosamente ele tirou minhas roupas e ajudou-me a tomar um banho; depois me deu uma espécie de roupão para vestir e cuidou de minhas feridas que na maioria eram superficiais.
-Paul Baumer sentiria inveja de você se o visse agora! – disse ele em tom brincalhão enquanto nos sentávamos no sofá da sala que além de sóbria estava abarrotada de livros por todos os lados.
-Pode ser …, mas ele não está apaixonado como eu! - respondi seguindo meus instintos.
Após um breve silêncio, Conrado se levantou e segurou minha nuca e puxando meu rosto para próximo dele até que nossos lábios se colassem encerrando um longo, profundo e tórrido beijo; senti todo o meu ser vibrar de uma forma inexplicável com se cada centímetro da minha pele fizesse parte daquele beijo. “Vou te dar algo que valha a pena se apaixonar!”, disse ele antes do próximo beijo.
Assim que Conrado me abraçou apertando-me contra ele sem que deixássemos de nos beijar, aquela vibração tornou-se mais intensa num crescente que me dominava e também me submetia a ele; quando dei por mim estávamos nus deitados sobre o sofá abraçados como amantes desfrutando de mais beijos e carícias exploratórias pelas quais descobríamos nossos detalhes e nuances que ampliavam ainda mais a excitação. Conrado segurou meu membro cuja rigidez era deliciosamente alarmante e começou uma masturbação que me fez suspirar enquanto eu cingia sua vara surpreendendo-me com suas dimensões alucinantes. Foi naquele clima que fiz meu primeiro “Sessenta a nove”, usufruindo do sabor do membro volumoso de Conrado enchendo minha boca ao mesmo tempo em que ele fazia insanas estripulias com o meu provocando uma onda interminável de gemidos e suspiros que denunciavam o prazer que experimentávamos.
Embora que desejasse que aquele momento se eternizasse, nossa fisiologia somada ao nosso delirante desejo acabou por eclodir em um jorro profuso inundando nossas bocas com sêmen quente e viscoso; recebi uma carga tão volumosa que para não engasgar vi-me obrigado e deixar boa parte vazar me lambuzando por completo ao passo que meu parceiro não apenas reteve minha carga em sua boca como a engoliu. Permanecemos na mesma posição por algum tempo aguardando o retorno da cadência respiratória e sentindo o suor escorrer por nossas peles.
Conrado levou-me até a cozinha onde lanchamos em silêncio. “Você sabe que o acontecimento de hoje não tem volta …, não tem arrependimento …, não sabe?” perguntou ele após sorver um longo gole de café sorrindo para mim. Eu mirei seu rosto e balancei a cabeça em afirmação. Não dissemos mais nada após isso e um pouco mais tarde eu me vesti pensando em que desculpa daria em casa para a demora em voltar e também para os ferimentos e as roupas rasgadas. Antes de sair, me voltei para ele e levei meus lábios até os dele cerrando um último beijo.
-Você acabou de tomar o primeiro gole do veneno da sedução – disse ele em seu tom professoral estendendo-me a obra “Hamlet” – A pergunta é: voltará para tomar o restante da taça? …, não responda, espere até tudo ganhar corpo em sua mente e em seu espírito …, eu estarei aqui …
-Acho que não quero mais ir embora – eu disse envolvendo-o com meus braços – quero ficar aqui …, aqui, com você …
-Não, você não quer ficar – ele disse com tom amável – Você apenas pensa que quer …, influenciado pelo momento que desfrutamos …, agora vá …
Naquela noite li o livro em um só fôlego e depois fiquei pensando se o protagonista estava certo em sua amplidão sempre hesitante e duvidosa. Adormeci com uma frase ecoando em minha mente: “- Quando é que as pessoas vão parar de me dizer o que deve ser dito para me dizer o que as coisas realmente são?” Supus que naquela tarde eu descobrira tudo como realmente deveria ser.