De acordo com Sigmund Freud, um famoso psiquiatra, os sonhos são produzidos na busca pela realização de um desejo reprimido. Alguns sonham em restabelecer as memórias perdidas, enquanto, outros querem o poder absoluto, seja através de seu esforço ou derrubando pessoas.
Ainda segundo a psicanálise, os sonhos vêm em duas fases. Na primeira, conhecida como sono de ondas lentas, o cérebro forma apenas pensamentos, uma espécie de tela escura. Porém, na segunda, chamada de 'movimentação rápida dos olhos', ou REM, é onde os sonhos acontecem.
Recentemente, Noslen, começou a sonhar entre as duas fases do sono, pois, ouvia vozes, mas não conseguia recordar dos rostos. É como se cada pessoa tivesse um borrão no lugar da face.
— Noslen, filho, acorde. — pediu uma mulher, tocando no rosto do jovem.
— Mamãe? — questionou Noslen ainda sonolento, mas levantando. — Onde você está?
— Filho, eu sinto muito. — lamentou a mulher chorando. — Eu não consegui.
— O que você não conseguiu? - perguntou o jovem venezuelano pegando nas mãos da mulher que chorava.
Sim, os sonhos eram recorrentes na vida de Noslen, ele sonhava com sua mãe, mas não lembrava do nome e nem do rosto. Naquela manhã, Noslen, acordou cedo e começou a fazer o café para Enzo e Erick. Cozinhar, realmente, era o ponto forte do venezuelano e, de certa maneira, trazia alegria para ele.
Sonhando com rosquinhas voadoras e assassinas, Enzo despertou assustado e ficou deitado na cama, logo cedo, abriu o notebook e ficou impressionado com as demandas de Ian.
— Esse cara não dá uma folga? — se assustando com o celular que começa a tocar. — Alô? Ian, não cara, pedi uma licença de 30 dias. Sim, fiquei sabendo do elevador e já comuniquei a equipe técnica.
— Com licença. — falou Noslen entrando no quarto. — O café está pronto.
— Olha, Ian, eu juro que falo com você na terça-feira. Tchau. — desligando o celular e levantando da cama.
Quem não estava feliz naquela manhã de sexta-feira era Ian D'ávila. Ele ainda pensava em André e em toda a situação do elevador. Quem pagava o papo? A coitada de Diana. A estagiária de Ian fazia de tudo para agradá-lo, até mesmo, passar por cima de seus princípios.
Ela chegou cedo com o café do chefe, um croissant, aquele copo de café reforçado e frutas frescas. Ian não demorou para entrar na sala, por sorte, Diana conseguiu fazer uma bela mesa de café.
— Bom dia, Ian. — desejou Diana.
— Aquele nerd do inferno! — gritou Ian sentando e passando a mão na cabeça. — Ele não demitiu o Nestor.
— O que tem o seu Nestor? — questiona Diana, servindo o café para o chefe.
— Por culpa dele, eu tive que ficar no elevador com o André. Porteiro maldito. — Ian esbravejou, respirando fundo e cantando um mantra chinês.
— Mas ele não tem culpa, né? — perguntou Diana, de forma inocente, mas lembrou dos acessos matutinos de raiva do chefe.
— Diana, querida e boba, Diana da pele oleosa. Você está do meu lado. Vou dar um jeito de demitir esse homem ou não me chamo Ian D'ávila.
— E o Seu Benjamim, ele, ele recebeu o documento? — quis saber Diana querendo mudar de assunto.
— Sim, e acha que os lucros da empresa são instáveis. Só que vamos quebrar a perninha dele na reunião das associações. — rindo e tomando o café. — Olha, parabéns, do jeito que eu gosto, puro e forte. Só falta arrumar esse teu rosto. Menina! — exclamou Ian, dando uma risada irônica. — Liguei para o Enzo mais cedo e havia outra pessoa com ele. Preciso saber de tudo, Diana. DE TUDO!
— Pode deixar, senhor. — Diana anotou na agenda: "DESCOBRIR AMANTE DO SR. ENZO".
Depois da merda, vem a sofrência. Erick não conseguia falar com Celina, o seu comportamento afastou a moça, que passou a evitá-lo de todas as maneiras.
Desanimado, ele sentou à mesa e assustou Erick com o seu cheiro forte. Noslen também sentiu, mas ficou calado, afinal, ele era apenas uma visita naquela casa.
Os cabelos e barba de Erick estavam desgrenhados. As suas roupas sujas e seu rosto sem qualquer tipo de expressão indicavam algum problema. Enzo tentou puxar assunto, mas o policial não interagiu. Erick serviu o café e começou a suspirar, de forma constante e suave.
— Qual é o problema, irmão? - questionou Enzo, realmente, preocupado com Erick.
— O meu coração. — respondeu o policial cortando o pão.
— É aquela menina, a Celine? — quis saber Enzo, enquanto passava manteiga na torrada.
— Celina. E sim, fui um idiota perto dela. — comentou Erick, querendo apagar o que fez na noite do encontro.
— Você? Irmão, tenho certeza de que foi um mal-entendido. Essa cunhatã (menina) deve ter entendido errado.
— Você já tentou conversar com ela? — perguntou Noslen tomando café.
— O quê?! — exclamou Erick que não entendeu a pergunta de Noslen.
— Você falou com a Celine? — interveio, Enzo.
— C-E-L-I-N-A! — falou Erick fazendo Enzo revirar os olhos. — Já irmão, enfim, o amor não é para mim. Com licença, meninos, eu vou dormir. Aproveite esse amor juvenil de vocês. — levantando e, praticamente, se arrastando até o quarto.
Enzo e Noslen não entenderam a atitude de Erick que sempre é tão agitado. Para tentar ajudar o irmão, Enzo, decidiu se intrometer. Apesar dos conselhos de Noslen, o jovem empreendedor não conseguia ficar parado.
Ele esperou Erick pegar no sono, entrou no quarto nas pontas dos pés e, sorrateiramente, pegou o celular do irmão. Noslen ficou esperando na sala, ainda reprovando a atitude de Enzo. A senha de Erick foi motivo de piada. "1, 2, 3, 4, 5 e 6. Putz, irmão", comentou ele.
Contatos. Mensagens. O celular de Erick era até organizado. Não demorou muito e o jovem encontrou o número de Celina. Depois de devolver o celular de Erick, Enzo enviou uma mensagem para a crush do irmão. Ele aproveitou que iria ao Centro de Manaus para resolver uns problemas de documentação de Noslen e marcou um encontro.
— E se essa mulher for perigosa? — perguntou Noslen, preocupado com a segurança do amigo.
— Qual é. Ela é tão fofinha. — disse Enzo mostrando a foto para Noslen.
— Eu não sei. Fico preocupado com você. — Noslen falou sem pensar e ficou vermelho de vergonha.
— Ei, hoje à noite, sabe, a gente pode ir jantar fora. O que acha? — questionou Enzo colocando o celular no bolso.
— Pode ser. Eu gosto muito da sua companhia.
Na empresa, Diana seguiu à risca uma lista de Ian. Eram os contatos de alguns clientes importantes e, claro, mais uma vez, Ian, tentaria passar a perna em Enzo. O jovem chegou cedo em um jantar com alguns empresários. O local escolhido foi um badalado restaurante de Manaus.
— Como vocês podem ver, os lucros da nossa startup cresceram 39% em apenas cinco meses, ou seja, as pessoas estão em busca de novas soluções para suas empresas. — explicou Ian mostrando uma planilha digital.
— Bem, Ian. E o que o vocês podem nos oferecer? - questionou um dos empresários.
— Estabilidade dos servidores. Já vocês vão oferecer um serviço de primeira, dessa forma, todos saem ganhando. — bebendo um drink e pensando. — No caso, euzinho.
Por ironia do destino, Enzo e Noslen foram jantar no mesmo restaurante. Ao ver o seu "chefe", Ian, quase tem um troço, porém, soube disfarçar da melhor maneira possível. A última coisa que Enzo queria, pelo menos, naquele momento, era chamar a atenção, só que nada é como desejamos.
— Ei, aquele não é o Enzo? — questionou um dos investidores da empresa.
— Merda. — falaram Ian e Enzo, juntos.
— Oi, gente. Boa noite. — cumprimentou os colegas na mesa.
— Chefe, querido. Que surpresa. Gente, o Enzo, nossa, passou por uma situação horrível. Virou refém em um ônibus. — fingindo uma preocupação fora do normal. — Graças a Deus, minhas orações foram ouvidas e o nosso Enzo se encontra são e salvo.
Ian contou com detalhes a história de Enzo, que ficou impaciente, mas nada pôde fazer. Em seguida, o convidaram para sentar, mas Enzo acabou não aceitando, para alegria de Ian, afinal, ele já tinha planejado tudo e a presença do seu chefe ia colocar tudo a perder.
Enzo ficou aliviado quando saiu de perto de Ian. Sua atenção voltou toda para Noslen, que riu da reação de Enzo ao ver todos os empresários. Durante o jantar, os dois conversaram bastante, como as coisas fluíam entre eles. Noslen até esquecia dos problemas, uma conexão especial que crescia a cada momento.
— Acho seu sotaque tão bonitinho. — ressaltou Noslen, quando Enzo falou a palavra "Abacate".
— Eu tenho sotaque? — questionou Enzo ficando vermelho.
— Sim. Um bem fofinho.
— Bem, eu não reparei. Na real, nem sei diferenciar os sotaques em espanhol. — assumiu Enzo, levantando as mãos para o céu. — Culpado.
Enquanto Enzo e Noslen tentavam curtir uma noite agradável, Celina pensava em Erick, mas lembrou do ataque de fúria do policial. Em casa, ela encontrou a mãe abatida, lamentando, ainda, a morte do filho. Celina preparou um chá de erva cidreira, o preferido de sua mãe.
— Hoje vi que a polícia matou mais três jovens. — ressaltou dona Maria com um tom agressivo.
— Mãe, a senhora não pode ficar assistindo essas coisas. — repreendeu Celina pegando o controle e desligando a TV.
— Os policiais fazem o que querem, filha. Sem se importar com a dor de uma mãe.
— Mãe, a senhora não pode falar uma coisa dessas. Infelizmente, o Zé escolheu o caminho errado. Ele colocou a vida de outras pessoas em risco. — interveio a jovem, reconhecendo a parcela de culpa do irmão.
— Meu filho está morto, Celina. Eles poderiam ter prendido o Zé, mas não. São assassinos. Assassinos! — esbravejou a mulher aos prantos.
Uma forte chuva caiu em Manaus naquela manhã de quarta-feira, mas Enzo acordou cedo e enfrentou a água para se encontrar com Celina. O jovem empresário estava decidido a ajudar o irmão mais velho. Eles marcaram em um café, Noslen, acompanhou o amigo, porém, sentou em uma mesa diferente.
Não demorou muito e Celine chegou, toda molhada, afinal, o mundo estava, literalmente, se acabando em água. Sem graça, Enzo falou sobre quase tudo, menos a respeito de Erick. Logo, ele percebeu que Celina realmente era maravilhosa, uma vez que viraram melhores amigos.
— Não sabia que você era tão legal. — comentou Enzo tomando uma xícara de café.
— Eu tenho meus encantos. — respondeu Celine, sentindo uma energia boa vindo de Enzo.
Quem não gostou nada do entrosamento foi Noslen, apesar de não entender quase nada, o venezuelano percebeu a química entre Enzo e Celina. Então, ele imaginou perder o irmão de Erick para sempre. A todo momento, Noslen, tentava fazer contato visual com Enzo, mas ele não parava de falar.
— Agora, Celina, desculpe, cheguei e comecei a falar um monte, mas o meu irmão, o Erick, está sentindo sua falta.
— Enzo, cara, tipo, eu e ele, somos de realidades diferentes. — revelou Celine, no intuito de lutar contra os seus sentimentos.
— Não, não. Está na cara que vocês se gostam. Às vezes, nossas diferenças se tornam um ponto em comum. — ressaltou Enzo pegando na mão de Celine.
— O quê? — perguntou Noslen ficando vermelho de raiva ao ver a cena.
— Eu sei, Enzo, mas tenho medo. Eu gosto muito do Erick. Só que o conheço a pouco tempo.
— Eu sei. Eu convivo com o idiota há anos, porém, uma coisa posso garantir, o meu irmão é o cara mais legal do mundo. Celina, eu sou gay. Meus pais sempre condenaram os meus sentimentos. Sabe quem sempre esteve ao meu lado?
— O Erick. — respondeu Celina, se emocionando.
— Apenas dá uma chance. Eu já vi meu irmão sofrendo muito, e com você, percebi que ele mudou. Fora que eu me dei bem com você, nem lembro a última vez que gostei de uma pretendente dele. — explicou Enzo apertando as mãos de Celina.
— Olá. — se meteu Noslen atrapalhando a conversa entre os dois.
— Estamos sem dinheiro, moço. — soltou Celina.
— Ah, não, não. Celina esse é Noslen. Ele é meu amigo. — contou Enzo apresentando os dois.
Depois de um mini ataque de ciúmes por parte de Noslen, Enzo deu uma carona para Celina, uma vez que a chuva continuava a castigar Manaus. Eles passaram quase uma hora no trânsito.
Nesse meio tempo, Enzo contou a história do venezuelano para Celina, que ficou impressionada com a perseverança de Noslen.
Quem não curtiu nada do clima daquele dia foi Ian. Ele tinha feito vários planos, todos arruinados. E para completar o SPA havia cancelado sua massagem de 10h. Sem ter muito o que fazer, ele ficou passeando pela casa e encontrou um dos irmãos, o Iago, na cozinha. Eles não conversavam muito, mas sempre soltavam farpas.
Ian lembrava de um aniversário, o de 10 anos, para ser mais exato. O tema era Digimon, e em uma das brincadeiras, o aniversariante precisava estourar o balão surpresa. Animado, o pequeno Ian pegou um alfinete e foi erguido pelo seu pai. Os convidados ficaram na expectativa, afinal, naquele momento as crianças piravam.
Com muita vontade, Ian, furou o balão, mas em vez de doces e balas, uma gosma vermelha melou todos os convidados. Os irmãos de Ian, riam e debochavam, de longe, claro. Eles haviam mudado os bombons por mel e corante vermelho.
De repente, um trovão trouxe Ian para o presente. Iago serviu suco e pegou alguns pães que estavam servidos em uma bandeja. Outra irmã de Ian, a Iara, entrou na cozinha, um pouco zonza, pois chegou de uma rave. A roupa suja de barro e o cheiro de vodca denunciaram a moça.
— Bom dia, perdedores. — desejou Iara pegando uma xícara e colocando café.
— Você está falando comigo, querida? — pergunta Ian com um sorriso amarelo no rosto.
— Só vejo um perdedor aqui, então, deve ser. — soltou Iago, mordendo o pão e falando de boca cheia. — Bom dia para vocês desocupados, vou para a empresa do papai. — ele avisou, saindo em seguida.
— Desocupados. — bufou Ian, imaginando mil formas de torturar Iago. — Pelo menos, eu não consegui um emprego por ser o garotinho do papai. — jogando a xícara longe, sem assustar Iara, que estava acostumada com os acessos de raiva de Ian.
— Nossa, mau humor matinal? — questionou a moça. — Pensei que você fosse melhor que tudo isso, Ian.
De todos os seus irmãos, a única que ele não conseguia ficar bravo era Iara. Eles sempre foram próximos, e apesar, da família tóxica, Ian, nutria um carinho por ela. De sua bolsa, o jovem tirou uma cartela de aspirinas e entregou para Iara, que olhou com uma ternura que desarma Ian D'ávila.
— Ainda dizem que você não tem coração, né? — pergunta Iara pegando o remédio e tomando com café.
— Só você tem esse poder sobre mim. — se aproximando do ouvido de Iara e sussurrando. — Não vai contar pra ninguém. — saindo.
— Eu prometo! — gritou Iara, assustando uma das empregadas que entrava na cozinha.
Noslen havia sido convidado para o aniversário de Dália, a filha de Dona Aurora. Para completar, o jovem venezuelano havia sido escolhido como o príncipe dela. Ele e Enzo seguiram para uma loja, eles decidiram alugar as roupas. Já o irmão de Erick deu o vestido para Dália de presente.
Após a tempestade vem o calor. O sol secava às ruas de Manaus, logo, o clima ficou abafado, porém, graças a invenção do ar-condicionado, eles não passaram calor na loja de roupas.
Dona Aurora ficou toda orgulhosa ao ver os vestidos da filha, desde sempre, ela sonhou em dar uma festa de debutante para Dália. Já Enzo, se emocionou ao fazer parte daquele momento.
Depois de experimentar 10 ternos, Noslen, se cansou. O braço também não ajudava, pois ele havia tirado a tipoia para provar os looks.
Ao vestir, um smoking preto, Noslen, teve um lapso de memória e quase desmaiou. De joelhos no provador, Noslen tentava juntar os fragmentos de memória que lhe restava, mas nada.
Já Enzo sabia exatamente o terno que queria. Um azul escuro que lhe valorizava a bunda. Ao sair do provador, e encontrar Noslen conversando com Dona Aurora e Dália, Enzo ficou boquiaberto. Os cabelos do venezuelano estavam molhados, penteados para trás, ele calçava um sapato social de bico fino, um colete por baixo do terno e uma calça preta.
— Uau. — soltou Enzo, hipnotizado pela beleza de Noslen. — Você está... lindo.
— Ah, obrigado. — o venezuelano respondeu sem graça e contou uma ótima novidade para Enzo. — demorou um pouco para escolher, mas encontrei a roupa certa. E adivinha? Ela me trouxe até uma memória perdida. — revelou. — Você está muito bonito também.
— Meus dois meninos! — celebrou Dona Aurora. — Estão gatos. — abraçando Noslen e Enzo.
— Meninos, vocês estão arrasando. — concordou Dália, que usava um vestido roxo com detalhes em pérolas.
— Nossa, Dália, o seu vestido está incrível. — soltou Noslen querendo ser gentil com a irmã postiça.
— Obrigada. — ela respondeu dando uma volta e movimentando a saia.
Os últimos sonhos de Erick eram uma mistura de filme de terror com comédia romântica. Ele acordou ao som de seu celular e quase caiu da cama quando tentou pegar o aparelho. No visor, o nome de Celina apareceu para a surpresa do policial.
Eles marcaram um encontro naquela noite. Em tempo recorde, o irmão de Enzo tomou banho, fez a barba e escovou os dentes. Ao sair de casa, Erick, deu uma olhada no espelho e piscou para si mesmo.
No caminho, Erick, parou em uma floricultura e comprou rosas vermelhas para Celina, pois leu em algum lugar que mulheres adoravam gestos românticos. No trajeto, o jovem policial vai decorando um discurso de arrependimento.
Na verdade, ele era péssimo em se desculpar. Uma vez, ele quebrou um dos brinquedos favoritos de Enzo, apesar de ficar mal, Erick mentiu para o irmão, explicou que o Megazord dos Power Ranger's havia caído da estante.
Celina marcou o encontro às 20h, na frente do Teatro Amazonas, um dos principais pontos turísticos de Manaus. Ela usava um vestido rosa com flores, o que lhe ressaltava o tom de pele. Erick estacionou a motocicleta e seguiu para o lugar combinado.
Milhares de pessoas tirando fotos em frente ao Teatro, dificultou o encontro dos dois. Demorou uns 10 minutos, para Erick encontrar Celina. Ela ficou surpresa quando recebeu o buquê de rosas. Eles seguiram para a Praça de São Sebastião, que fica ao lado do Teatro Amazonas.
À noite manauara pegou leve com os pombinhos, os termômetros marcavam 27º graus. Os dois sentaram em silêncio, mas o tempo foi o suficiente para Erick admirar a beleza de Celina. Ele pega na mão da moça, enquanto repassa mais uma vez o pedido de desculpas em sua cabeça. Celine ri do nervosismo do rapaz.
— Ei, não precisa se preocupar. — avisou Celina apertando a mão de Erick que é maior que a sua.
— Celina, eu fui um idiota. Eu sei que tenho muita coisa para mudar, mas eu gosto de você, genuinamente. Eu sou um cara do bem, sem vícios, faço todas as coisas certas, a única coisa errada que fiz foi ser um babaca na sua frente. Por isso, eu peço perdão. — desabafou Erick, ainda apreensivo com a resposta de Celina.
— Puta merda. — puxando a cabeça de Erick e lhe beijando. — Isso responde a sua pergunta? — questionou a moça.
— 100%. — rebateu Erick a beijando novamente.
O grande dia de Dália chegou, a Dona Aurora parecia animada, pois realizaria o sonho da filha caçula. Foram anos poupando e, naquele dia, cada centavo guardado valeria a pena. Ela chegou cedo no local da festa, ajudou no que pode. O espaço era simples, mas a decoração de Dona Aurora fez toda a diferença.
A festa aconteceria na quadra de futebol de uma igreja evangélica. Apesar de o terreno ser irregular, as mesas foram postas e escondiam qualquer defeito. Dona Aurora colocou em cima de cada uma, as lembrancinhas cor-de-rosa. O dia tinha tudo para ser lindo, mas como o clima no Amazonas é imprevisível, uma forte ventania destruiu o trabalho impecável produzido até então.
Noslen e Enzo chegaram carregando várias caixas, e foram pegos de surpresa pelo forte vento. Eles viram de perto o desespero de Dona Aurora, que corria de um lado para o outro a fim de tentar salvar alguma coisa. O trabalho é inútil, porque não demora muito e uma forte chuva torrencial cai na região.
— Não! — gritou Dona Aurora desesperada, procurando abrigo por causa da chuva.
— Mama Aurora, calma. — pediu Noslen, segurando a idosa e a levando para uma área protegida.
São poucos minutos de chuva, porém, Enzo, não conseguiu calcular o estrago feito no aniversário de Dália. A decoração da festa ficou completamente destruída. As mesas estavam viradas, a decoração principal tombou. Sorte que Dona Aurora não colocou o bolo, nem os docinhos e salgados.
Ao ver toda a confusão, Dália, não conteve as lágrimas. Um sonho arrasado em minutos. Noslen abraçava forte a Dona Aurora e Enzo ainda segurava as caixas, que naquele momento estavam encharcadas por causa da chuva.
— Essa não. — soltou Enzo olhando para Noslen.
Será que os sonhos são ferramentas que procuram um meio de compensação? Toda vez que fechamos os olhos temos a oportunidade de explorar esse universo tão vasto, seja para lembrar do passado ou realizar desejos. Mas, o que acontece quando os sonhos se tornam pesadelos? E o pior, quando esse pesadelo você o vive acordado.
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