O Recluso: Sonhos de uma noite de verão

Um conto erótico de O Bem Amado
Categoria: Gay
Contém 2192 palavras
Data: 12/09/2022 00:43:01

Depois daquele dia eu não conseguia tirar Conrado de minha mente e de minha alma; era como se ele fosse um bruxo que tivesse me enfeitiçado submetendo-me ao desejo incontrolável de estar com ele; mesmo sabendo que havia um enorme abismo que nos separava, eu o desejava mais que tudo; todavia, não tive coragem de procurá-lo mais uma vez; o que ele dissera ao final de nosso último encontro foi de uma rudeza torpe que ainda me machucava por dentro. Lutei comigo mesmo para desviar meu caminho do sobrado e pensava nele como o recluso enigmático envolto em histórias lúgubres e desviantes.

O verão chegou trazendo um calor infernal daqueles que nos torna excitados e também irritados;; eu dormia nu e por vezes me masturbei pensando em Conrado; durante as aulas evitava olhar para Eufrásio que persistia em me assediar com expressões irônicas de duplo sentido, escondendo seu ímpeto de me submeter aos seus devaneios libidinosos me usando como objeto para sua satisfação carnal. E foi nesse clima tenso que eu fui surpreendido com a apresentação de Conrado como palestrante em nossa semana de estudos sociais. O Diretor fez questão de passar de sala em sala anunciando a palestra que coroaria de êxito a semana de estudos.

Na sexta-feira o auditório estava apinhado de alunos e também de alguns curiosos que ali estavam apenas para conhecer o personagem exótico que vivia no sobrado malfadado. Metido em um terno elegante, Conrado subiu ao palco assim que foi anunciado pelo Diretor colocando-se atrás do púlpito abrindo a pasta que tinha nas mãos. Pacientemente ele esperou até que se fizesse silêncio no ambiente cujos burburinhos além de inadequados chegavam ao ponto de serem proferidos em voz alta.

-Fui convidado para falar com vocês jovens estudantes – começou ele com tom solene – Em princípio supus que não teria nada de interessante para transmitir a rapazes e moças repletos de hormônios em ebulição para quem o mundo se apresenta cheio de desafios a serem superados por suas almas indômitas e cheias de coragem …, tolice! Logo todos vocês perceberão que o mundo e a vida é feita de arrependimentos e decepções; cada vez que vocês tentarem, falharão fragorosamente! E ainda assim achar-se-ão vitoriosos …, quando aquilo que mais amam lhes for furtado sem prévio aviso, quando alguém mais jovem e mais ávido afirmar que vocês são o passado …, nesse momento vocês compreenderão que a vida não é apenas feita de escolhas, mas também das consequências dessas escolhas …, e caberá a cada um de vocês assumirem essas consequências, mesmo que isso signifique mais dor que amor …, mais tristeza que alegria …, mais frustração que orgulho …, quando se perde aquilo que se ama ardorosamente a vida passa a ter um significado ínfimo e a torpeza do escárnio que o destino lhes reservará será o que restará para ser vivido com amargor …, querem uma mensagem positiva? Um adágio motivador? Vasculhem dentro de vocês e não acreditem no que vem de fora! Desfrutem a vida sabendo que ela é dolorosa, finita e continuamente repleta de sofrimentos …, e ainda assim merece ser desfrutada!

Após um minuto de absoluto silêncio Conrado foi ovacionado de pé por toda a plateia cuja euforia retratava sua capacidade de envolver as pessoas com seu discurso sempre melancólico, mas também sempre instigante. Houve um momento que achei que ele olhava para mim e me senti grato por isso. Em seguida ele explicou a origem de sua digressão referindo-se à chamada geração perdida que foi a geração de um grupo de celebridades literárias americanas que viveram em Paris e em outras partes da Europa no período de tempo em que se viu o fim da Primeira Guerra Mundial e começo da Grande Depressão. Essa geração abordava temas como o niilismo, a desilusão e a desesperança com o futuro, assuntos que também tocavam a todos nós jovens de outra geração, mas com os mesmos receios e anseios.

No final de tudo que quis ir até ele, mas o olhar ameaçador de Eufrásio me alertava para que não fizesse isso, pois alertar a fúria do meu ex-amigo era colocar Conrado em perigo desnecessariamente; algo me dizia que Eufrásio sabia, ou pelo menos desconfiava do meu envolvimento com o palestrante e isso poderia ser muito ruim em todos os sentidos. Mas para minha surpresa foi Conrado que veio até mim deixando-me ainda mais preocupado com a possibilidade do meu ex-amigo valer-se daquele encontro para vingar-se de mim.

-Então, gostou do que ouviu? – perguntou ele assim que se aproximou de mim – pelo que vi há alguém aqui que não gostou muito …, e muito menos ainda por estarmos nos falando!

-Sim …, ele é perigoso – respondi com tom receoso – Nós já nos desentendemos e ele sabe que eu gosto de você …

-Gosta de mim? O quanto você gosta de mim? – interrompeu Conrado perguntando com tom curioso.

-Ouça, aqui não é o melhor lugar para conversarmos – respondi em tom sussurrante – Como eu te disse, aquele rapaz não gosta de mim e pode acabar usando você para me ferir e eu não quero isso!

-Ninguém me usa para nada! Mas, eu te entendo – devolveu Conrado com tom enfático – Apenas me diga uma coisa: você sente algo por ele?

-Por ele? Claro que não! – respondi com firmeza – E se você me perguntar se eu sinto algo por você …, acho que você sabe a resposta!

Conrado abriu um enorme sorriso de satisfação e depois de uma piscada de olho ele deu as costas e partiu; com aquela imagem na mente fui embora …, e nos dias seguintes ainda preferi manter distância do sobrado e do que ele significava para mim; os dias tornaram-se entediantes e a vontade de estar com Conrado aumentava cada vez mais. Até que sofri um revés surpreendente; eu retornava das aulas quando fui abordado por Eufrásio que fez questão de me confrontar alegando que eu lhe pertencia. “Ou você faz o que eu quero …, ou toco fogo naquele sobrado com aquele metido dentro! E eu não estou brincando!”, exigiu ele com tom ameaçador e olhar duro. Temendo muito mais pela vida de Conrado do que pela minha me rendi e então ele me pegou pelo braço levando-me para o mesmo galpão situado nos fundos da oficina de seu pai.

Logo depois que mandou eu tirar a roupa, Eufrásio pôs seu mastro pra fora e ordenou que eu lhe desse uma mamada, dizendo que se eu não fizesse “gostoso” me arrependeria; deixando a humilhação de lado e pensando apenas no bem-estar de que eu queria ajoelhei-me e abocanhei a vara rija mamando com afinco mesmo que isso não representasse algo para mim; a certa altura, Eufrásio tornou-se agressivo e me segurando pela nuca começou a estocar seu caralho contra a minha boca de uma maneira rápida e profunda.

Não havia prazer naquilo para mim, restando uma dor e uma sensação de pouca valia como se eu fosse para ele apenas um objeto; as socadas tornavam-se mais intensas a medida em que o tempo avançava e eu já não conseguia me livrar daquele martírio sem fim; em dado momento, Eufrásio afastou-se sacando seu membro babado de minha boca e despindo-se com gestos descontrolados. Logo, ele se aproximou de mim me segurando com violência atirando-se de bruços sobre um estrado de madeira. “Se prepara, viadinho! Vou arrombar esse seu cu de merda!”, rosnou ele enquanto avançava sobre mim.

Ante a degradação inevitável eu fechei os olhos cerrando os dentes e esperando pelo pior; mas de uma forma inexplicável nada aconteceu e eu ouvi ruídos do que parecia ser uma luta; ao me levantar vi uma cena impressionante e também cativante; Eufrásio jazia no solo sangrando pelo nariz e pela boca e de pé ao lado dele estava Conrado; ele me fitou com ar piedoso e depois veio até mim trazendo minhas roupas. “Vista-se e vamos embora daqui, agora!”, alertou ele em tom firme; instintivamente segui suas ordens e saímos dali indo para o sobrado. E mal havíamos entrado eu o abracei apertando seu corpo contra o meu; demorou alguns minutos para que ele retribuísse o gesto envolvendo-me com seus braços.

Nos entregamos entre beijos e carícias e nada foi dito porque era desnecessário; nos despimos e ele me levou para o seu quarto onde me deitei sobre sua cama; Conrado veio sobre mim e inclinou-se até que pudesse abocanhar meu membro premiando-me com sua boca desfrutando do meu membro e me fazendo imensamente feliz; depois de algum tempo partimos para um meia nove onde eu também pude saborear o membro suculento de meu parceiro; em dado instante, Conrado deitou-se sobre a cama pedindo que eu viesse sobre ele.

Fiz o que ele pediu e logo pude sentir seu mastro roçando minhas nádegas; em me inclinei um pouco e dei algumas cuspidas na palma da mão e esfreguei no rego metendo o dedo em meu rabinho. “Pronto, meu amor! Ele é todinho teu!”, sussurrei fitando o rosto de Conrado cuja expressão era de êxtase; ele próprio se incumbiu de pincelar a cabeçona no meu rego e apontar na direção do coroado pedindo para que eu sentasse bem devagar. Fiz o que ele pediu e fui descendo aos poucos até sentir o rombudo cutucando meu selo; creio que naquele momento ele pensou que eu poderia negar fogo e disse que eu podia ir devagar; apoiei minhas mãos sobre seu peito largo e rijo, inclinei-me um pouco e comecei a contragolpear aquele mastro até senti-lo romper meu anel.

Foi um tanto doloroso, mas meu desejo por ele falava mais alto e eu não arredei pé seguindo em ter o mastro do meu homem dentro de mim; pouco depois e sentia meu buraquinho laceado acomodando o bruto em seu interior; e a dor apenas se elevava de um modo avassalador, porém eu não queria e também não podia recuar; em minha mente e em meu corpo não havia espaço para hesitações pois aquele momento fora há muito ansiado. Dei início a movimentos fazendo meu traseiro subir e descer, enfiando e sacando o mastro de meu orifício alargado fitando o rosto de Conrado que guardava uma expressão dócil e sensual.

Insisti nos movimentos e decorrido algum tempo a dor não desaparecera, mas digladiava com o prazer que inundava meus sentidos até que este último sagrou-se vencedor proporcionando uma deliciosa sensação de absoluto êxtase nascido no pertencimento; Conrado sorria e vez por outra erguia seu dorso para que trocássemos mais beijos e ele pudesse sugar meus mamilos ampliando ainda mais o prazer que percorria meu ser por completo. A entrega era completa e nossa cumplicidade tornava-se tão intensa que eu não queria outra coisa em minha vida que não fosse compartilhá-la com ele. Nossos movimentos tornavam-se insanos e tão céleres que exponenciavam o prazer que estávamos a desfrutar e no momento em que o gozo de Conrado sobreveio experimentei um arroubo alvoroçado enchendo meu ser com o sêmen do meu homem correspondendo com meu gozo jorrando sobre o ventre dele. A partir dali nosso destino estava selado para além da nossa própria compreensão.

Desfaleci sobre ele que acarinhava meus cabelos e beijava meu rosto; permanecemos naquela posição onde eu podia sentir seu coração batendo no mesmo ritmo que o meu; e pelo longo da tarde eu me entreguei ainda mais a ele; tomamos banho juntos e eu saboreei seu membro que enrijeceu dentro da minha boca e mamei com tanto afinco que após minha dedicação ele não resistiu atingindo seu ápice e enchendo minha boca com seu esperma quente e volumoso.

-Tu sabes que nossas vidas nunca mais serão as mesmas, não sabe? – questionou ele a certa altura quando estávamos deitados sobre a cama descansando após um novo e delicioso embate – Estás pronto para enfrentar o que virá pela frente?

-Mesmo que eu não soubesse …, ainda assim permaneceria ao teu lado! – respondi sem titubear – Ao teu lado estou sempre pronto!

Conrado sorriu um sorriso franco que me encheu de certeza e também de segurança; não havia razão em minha vida sem que ele estivesse nela. Naquele dia ele me presenteou com um livro de Shakespeare, chamado “Sonho de Uma Noite de Verão”, e nele havia uma frase que encerrava tudo que eu sentia por aquele homem: “Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado”.

Hoje, algum tempo depois que Conrado foi levado de mim após uma trágica e dolorosa doença eu olho para trás e de nada me arrependo. Como ele próprio dizia, não podemos ir contra nossa natureza sob pena de vivermos infelizes para sempre …, ou ainda pior, com a carga de termos que reencarnar apenas para realizar nossa missão. Voltei para minhas origens e atualmente sou o recluso do sobrado, porém com a diferença de ter desfrutado o melhor da vida ao lado de alguém que me completava e que me encheu de felicidade e realização. Se surgirá alguém para tirar-me desse ostracismo que não me aprisiona eu não sei …, e também não me importa!

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Comentários

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Como é bom ter boas lembranças da vida e momentos felizes para recordar. O amanhã e uma folha em branco que poderá ser colorida ou não. Mas creio ser muito bom ter a recordação de um grande amor. Obrigado pelo conto.

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