NARRAÇÃO: YURI
A Tia Olívia foi até o quarto e tivemos uma conversa franca. Ela mais chorou que outra coisa, mas eu a agradeci por todas as dores de cabeça e problemas que eu causei. A gente se abraçou e choramos juntos. Os meus irmãos também entraram no quarto e tivemos um momento em família. Como era no início, nós quatro contra o mundo.
— Ei, Giovanna, agora que o Yuri desencalhou, a próxima é tú. Tem que arrumar um velho da lancha. Afinal, os padrões estão subindo. — afirmou Richard, que usava um terno bege e uma gravata rosa.
— Richard, por favor. — soltou a Giovanna fingindo jogar os cabelos na direção de Richard, já que ela estava com as madeixas amarradas em um belo coque. — Eu quero é ser rica. Eu quero ser o velho da lancha.
— Ei, vocês dois. Hoje é o dia do Yuri. É tudo sobre ele. — interveio a tia Olívia, que estava deslumbrante com um vestido vermelho. — Amor, precisamos ir. — anunciou titia pegando na minha mão.
— Pessoal, mais uma coisa. — peguei o celular e dei play na canção "Atura ou surta", da Francinne.
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Faço o que eu quiser
Não vou me explicar
Você sabe bem
E vai ter que me aguentar
Eu te avisei, atura ou surta
Ou surta
Eu te avisei, atura ou surta
***
Cada um dançou de um jeito e, no final, demos um abraço coletivo. Eu amava a minha família e não me arrependia de nada. Não me arrependo das horas acordadas quando o Richard ficava doente ou das vezes que controlei as birras da Giovanna. Na realidade, eu sentia falta desses momentos. Os dois crescerem. Não precisavam mais de mim. Poderiam trilhar os seus próprios caminhos.
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NARRAÇÃO: ZEDU
Eu amo a minha família. Tivemos vários problemas, mas decidi dar o perdão e salvar o meu relacionamento com eles, principalmente, o JL. Ele estava tentando se tornar uma pessoa melhor, eu podia ver isso em suas ações. Já o Fred sempre foi maravilhoso comigo. Me apoiou e acreditou em mim, mesmo quando eu não fazia.
— Eu sei que não é o casamento que vocês esperavam e...
— Não. — soltou JL, que colocou o dedo indicador nos meus lábios. — Esse é o casamento que você sonhou e estamos felizes por compartilhar este momento ao lado de vocês. Zedu, eu nunca vou me cansar de me desculpar. Vou levar esse peso para sempre. — me abraçando. — Eu te amo, irmão.
— Vocês vão me fazer chorar? Eu sou o mais velho. Eu não posso mais passar por situações estressantes. — brincou JL nos abraçando.
— O... obrigado. — eu pedi, chorando igual uma criança.
— Não, cara. A tua maquiagem. — disse JL, tentando me tranquilizar.
— É à prova d'água. — expliquei, limpando às lágrmas. — Eu amo muito vocês dois.
— Isso não é uma despedida, Zedu. A nossa família só vai crescer. O nosso amor só vai multiplicar. — afirmou Fred, quase tocando no meu cabelo, mas mudando a direção da mão para o ombro. — Vamos. Está na hora!
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NARRAÇÃO: GIOVANNA
E aí, vadias. Sou eu!!! Sim, eu decidi assumir essa parte, porque o Yuri e o Zedu não lembram de nada. Graças aos bons genes, a minha memória é uma maravilha. E, claro, eu também ajudei a organizar este casamento. Já posso abrir o meu próprio cerimonial, não é?
Enfim, enquanto os meninos morriam de chorar. Eu corri para o palco, afinal, eles precisavam de uma estrela para cantar na entrada. Depois de muito lugar com o Sérgio, literalmente, nós lutamos pela música perfeita, nós escolhemos a canção "If You Love Her", do Forest Black. Tivemos que fazer pequenas modificações, porém, ficou perfeita. E com a minha voz de colibri, modéstia à parte, ficou maravilhosa!
O espaço estava perfeito. O clima agradável. Os convidados só aguardando a entrada dos noivos. Do palco, vi vários rostos conhecidos. Fiquei grata, pois cada pessoa naquela sala torcia pelo amor do Yuri e Zedu. A cerimonialista deu sinal e a banda, liderada pelo Sérgio, começou a tocar.
Jesus Cristo. Eu não podia chorar. Eu não choro. Eu sou uma rocha. Ainda bem que a maquiagem é à prova d'água. Eu comecei a cantar e os padrinhos foram entrando. O Santino acenou para mim, quando foi sua vez de passar no corredor. Eu amo esse garoto, com todo o respeito ao Sr. Kleber, nada de ciúme. O Santino é mais meu que seu, você que lute.
O plot twist da noite? Os meninos não entraram pelo corredor, mas pelas laterais. Quando se viram, os dois não conseguiram se controlar. Yuri levou um lenço consigo, afinal, ele não herdou a minha habilidade de chorar bonito. O Zedu nem parecia acreditar que estava casando com o homem mais lindo do universo.
***
Pegue
Se ela te der o coração dela, não o quebre
Deixe seus braços serem um lugar onde ela se sinta segura
Ela é a melhor coisa que você terá
Ela vai te amar se você a amar
Nos dias em que
Parece que o mundo inteiro pode desabar
Fiquem lado a lado e vocês vão conseguir
Ela é a melhor coisa que você terá
Ela vai te amar se você a amar assim
***
Eles chegaram no centro e ficaram se olhando. Eu me aproximei e cantei de frente para os dois. Eu queria que aquela canção entrasse na cabeça do Zedu, porque o Yuri é um dos meus bens mais preciosos e precisa ser amado da maneira correta. Cheguei mais perto do meu cunhado, afastei o microfone e o aconselhei: "Se tú partir o coração do meu irmão, eu quero as tuas pernas. Recado do Richard". Ao ver a felicidade dos dois, naquele momento tão puro, chorei lindamente.
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NARRAÇÃO: RICHARD
A Giovanna chora feio pra caralho. Parece que está tendo uma convulsão. Eu garanti um vídeo. Se ela foi uma carrasca com o ensaio do casamento do Yuri e Zedu, imagina no casamento dela? Cê é louco.
Mas, ela é uma boa irmã. Julgando pela feição do Zedu, olhando assustado para mim, a Giovanna passou o recado. Eu devolvi com uma piscada. Agora, que faço medicina, sei o jeito certo de quebrar o joelho de alguém. Não que eu vá fazer uma coisa dessas. Longe de mim, quem me conhece sabe, essas coisas.
A juíza de paz fez um discurso eterno sobre o amor. Amor é amor. Blá, blá, blá. Que seja eterno. Blá, blá, blá. Eu só queria comer. Bem que o Ned pediu para passar em uma lanchonete. Droga, agora estou preso no meio de um casamento e faminto.
Será que faz mal comer a flor da lapela? Eu acho que deve ser comestível. De repente, a minha atenção se volta para o casamento. Chegou o momento dos votos. Eu saquei o meu celular, vai que rende uma videocassetada. Estou precisando trocar o escapamento da minha moto.
O Yuri parecia um pimentão. Ele foi na frente dos votos. Eu amo esse cara, sério. Ele é tudo para mim. Eu queria ser mais sentimental para expressar as coisas que sinto, mas isso fica com o Yuri. Sou um cara muito sortudo, eu lembro poucas coisas dos meus pais, talvez, essa seja a razão do meu comportamento.
Entretanto, se tem uma coisa que eu lembro é do Yuri sendo meu pai, minha mãe e meu irmãozão. Ele nunca desistiu de mim. Cuidou dos meus machucados, dormiu comigo quando eu tinha febre e fazia comida diferenciada por causa da minha intolerância à lactose. Eu amo esse cara. Ele é tudo para mim. Tudo.
— Boa noite. — desejou Yuri, tremendo por ter que segurar um microfone. — Bem, eu tinha preparado todo um discurso para o Zedu, mas percebi que nada na nossa vida é usual. — fazendo os convidados rirem. — Eu cheguei em Manaus aos 16 anos, com a minha pequena, mas maravilhosa família. Eu era um garoto obeso e com problemas internos. O combo perfeito, né? Só que nesta cidade, eu descobri o verdadeiro significado de amizade e amor. O Zedu começou sendo um amigo, porém, o sentimento evoluiu e começamos a namorar. Só que não foi fácil. Nós tivemos que lutar contra muitos obstáculos, externos e internos. Estudamos, trabalhamos e conseguimos comprar uma casa. Ou seja, a minha família que antes era pequena está crescendo. Obrigado, Zedu por aceitar fazer parte da minha pequena, mas maravilhosa família. Ah, e antes que eu me esqueça, eu sou muito grato a todos vocês. Se estão aqui é porque acompanharam a nossa história de alguma forma. Obrigado.
Sinto alguma coisa molhar o meu rosto. Olho para cima e não tem nada caindo do céu. A noite está perfeita. Outra gota escorre, mas, dessa vez, pela minha bochecha esquerda. Então, eu percebo que estou chorando.
O Yuri tem razão, a nossa família é pequena e não é perfeita, mas é linda. É maravilhosa. Enxugo às lágrimas, antes que alguém perceba, mas foi tarde demais, a Giovanna fez um vídeo.
— Yuri. Eu sempre soube que existia algo diferente em mim. Só que tudo mudou com a sua chegada em Manaus. Eu me apaixonei sem saber. Queria estar perto. Sentia ciúmes. Aos poucos, percebi que eu te amava. Realmente, eu não fui fácil e obrigado por nunca desistir de nós. Você segurou a barra em momentos que eu queria chutar o balde. Você é a rocha e o coração dessa relação. Eu nunca vou poder agradecer as coisas maravilhosas que você me deu. — respirando fundo e pegando na mão do Yuri. — Perto de ti, ainda sou aquele menino bobalhão e inseguro. Eu só tenho a agradecer. Eu te amo, meu urso lindo.
Porra, eu não segurei às lágrimas. Chorava igual uma criança catarrenta. A sorte foi que o Ned me deu um lenço. O motivo do choro? Eu acompanhei a história deles. Eu acompanhei a luta do Zedu para se assumir. Acompanhei a autoestima do Yuri vacilando. Eu era uma criança, mas entendia muita coisa. Eu estou chorando de felicidade. Porque no caso deles, o amor venceu e continuará vencendo.
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NARRAÇÃO: YURI
Eu não lembro da cerimônia. Fiquei tão emocionado que só recordo da gente indo para o salão de festa, que não ficava muito distante. No caminho, tivemos que tirar fotos. Milhares de fotos. As minhas bochechas estavam doloridas de tanto sorrir. Fotos com os padrinhos. Fotos com as madrinhas. Fotos com os padrinhos e madrinhas. Fotos com os familiares. Fotos com os amigos.
Juro que não consegui conversar com o Zedu. Acabamos de passar por um dos momentos mais incríveis das nossas vidas, mas não conseguimos conversar. A cerimonialista continua nos arrastando para todos os lados. Ainda bem que convidamos poucas pessoas, imagina ter que tirar fotos com 500 convidados? Deus me livre e guarde.
Depois de quase uma hora em pé, finalmente, pude sentar. O salão de festa estava tão bonito, quanto a área da cerimônia. A equipe de decoração arrasou demais. Sinto a mão do Zedu na minha. Por um segundo, esqueci que o Zedu estava ao meu lado. Começou bem, Yuri.
— Oi, Senhor Alves Cervatti. — ele brincou me beijando. — Podemos começar a lua de mel? — ele questinou no meu ouvido, mas acabou sendo puxado pela Giovanna, que assumiu o manto de cerimonialista para o desespero da equipe do cerimonial.
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NARRAÇÃO: ZEDU
Essa noite parecia um delírio coletivo. A Giovana me arrastou para o meio do salão. Quando alguém anuncia que um dos noivos mostraria todo o seu gingado. Olho para trás e todos os meus amigos estão posicionados, até o JL, que já estava melhor e poderia dançar conosco.
O meu coração parecia que ia sair pela boca. Fizemos um pot-pourri de todas as músicas antigas que o Yuri já me obrigou a dançar na casa dele. Começamos com "ABC", do Michael Jackson; em seguida foi a vez da Madonna com "Like a Virgin"; a próxima música foi "Last Dance", da Donna Summer; todo mundo dançava desajeitado, adivinha quem dançou com tudo? A Giovanna.
O Yuri estava incrédulo com todos dançando. Ele batia palma e ria. Acho que a dança cumpriu o seu papel, o de deixar o meu urso feliz. Na vez de "Atura ou Surta", a única música que não é tão antiga, eu tirei o paletó, joguei para a Giovanna e andei na direção do Yuri. Fiz uma dança sensual para o meu marido na frente dos meus parentes. Já podia encerrar à noite?
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NARRAÇÃO: YURI
Todo mundo arrasou. O Zedu dançando só de colete me causou uma ereção. Ele finalizou sua apresentação me dando um beijo cinematográfico. Todos aplaudiram a performance dos meus amigos e esposo.
A Giovanna veio toda descabelada na minha direção e me puxou para o meio do salão. A banda já estava organizada e um microfone sustentado por um pedestal no centro. Olhei para trás em busca do Sérgio. De uma maneira bizarra e inconsciente, eu ficava mais seguro quando cantava com ele no violão.
— Boa noite. Fizemos uma adaptação de uma música coreana chamada "Bela e a Fera", da banda "The Rose", que fala sobre um amor que é mal visto aos olhos da sociedade, mas o casal nunca desiste de ser feliz.
Comecei a cantar e pus todo o meu amor naquela canção. Para arrematar a surpresa, o telão foi ligado e vários desenhos nossos apareceram. O Santino conseguiu fazer montagens com as artes de "Amor de Peso", o quadrinho que foi inspirado em nós.
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Você é
A voz que está em meu coração
Reúne a beleza das estações
É um lindo amor, um lindo amor
É lindo
Mesmo se a flor não florescer
O nosso amor não vai desaparecer
É um lindo amor, um lindo amor
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Me aproximei do Zedu, que estava em pé curtindo a canção e o beijei. Deixei o Sérgio cantando o resto da música e quis aproveitar o meu marido. É tão estranho chamar o Zedu de marido, mas é o que somos agora: marido e marido.
O resto da noite é história. Bebemos, nos divertimos, confraternizamos e fomos felizes. Aproveitamos a lua de mel ao máximo, porque quando voltamos tivemos que continuar com a rotina de trabalho. O que mudou? Tudo. Agora, eu tenho a minha própria família e o plano é aumentar no próximo ano.
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OBRIGADO PESSOAL. É COM MUITO ORGULHO QUE ANUNCIOU QUE O PRÓXIMO CAPÍTULO SERÁ O ÚLTIMO. MUITO OBRIGADO AOS COMENTÁRIOS, CURTIDAS E PACIÊNCIA.
