O que fazer depois de perder aquilo que você lutou para ter? Enzo estava trabalhando como diretor de criação da Tech Land. Ele não queria encontrar com Ian, pois temia uma reação violenta, apesar de não se considerar uma pessoa explosiva, mas o seu coração remoía o rebaixamento 24 horas por dia.
A semana passou e nenhum dos seus advogados deu retorno sobre uma solução do problema. Ele usou toda a frustração para criar novos projetos de tecnologia. A sua sala estava uma bagunça. Papéis e mais papéis espalhados por todos os lados. Noslen pediu licença e entrou para organizar o local.
No trabalho, os dois buscavam manter uma distância para evitar falatórios, afinal, a cabeça de Enzo já estava a prêmio. Ele temia que qualquer vacilo pudesse lhe tirar da empresa. A vida é irônica, né? O lugar que você criou e sonhou não o pertencia mais.
— Ah, você terminou os desenhos? — perguntou Enzo, sem tirar os olhos do computador.
— Sim. Eu consegui fazer três. O Santino aprovou todos. — contou Noslen, colocando um novo saco plástico na lixeira.
— Esse é o meu garoto! — exclamou Enzo, que tirou um sorriso tímido de Noslen.
— Estou nervoso e animado. Isso é bom, não é?
— Com certeza. — tirando os óculos e deixando em cima da mesa. — Tenho certeza que você vai arrasar. Vamos direto para casa?
— Preciso deixar o dinheiro do aluguel para o Nico. Acho que vou lá. Você não precisa se preocupar, Enzo. Te encontro em casa. — falou o venezuelano, pegando os seus materiais de limpeza e saindo.
Entre idas e vindas, Celina decidiu conversar com Erick. Durante o encontro, o irmão de Enzo mostrou documentos importantes para a conclusão do caso. A moça viu que o irmão agiu de maneira violenta e colocou em perigo a vida de muitas pessoas.
Só que Celina não queria começar um relacionamento sustentado em mentiras e marcou um encontro entre Erick e Dona Maria. De início, o policial pensou em reclinar o convite, mas acreditava que Celina valia a pena.
A casa da família de Celina era simples e estava localizada em uma área perigosa da cidade. Erick esperou Dona Maria no sofá e pensou em diversos discursos para fazer, só que as palavras lhe escapavam da mente.
A matriarca entrou na sala e cumprimentou o policial. Celina começou a explicar para mãe tudo o que aconteceu. A forma como o irmão agiu durante o assalto e a vida que ele colocou em risco. Ainda sem entender, Dona Maria questionou a participação de Erick no caso.
Palavras podem ser difíceis de digerir. Erick contou toda a verdade e contou com o apoio de Celina. Eles não queriam esconder nada. Ao relembrar da noite, Erick visualizou o terror nos olhos do irmão caçula e garantiu que não agiria de maneira diferente.
— Era o meu irmão, Dona Maria. — Erick deixou uma lágrima escapar. — Era o meu irmão.
A idosa respirou fundo e andou na direção de Erick. Ele fechou os olhos, porque imaginou receber um tapa no rosto. Como demorou o impacto, ele abriu os olhos e sentiu um forte abraço.
— Eu te perdoo, meu filho. — garantiu a idosa. — Eu sou evangélica. Jesus pediu para a gente perdoar até setenta vezes sete. Quem sou eu para julgar os seus atos? — olhando para Celina. — Era por isso que você estava tão jururu?
— Eu estava com medo da sua reação, mamãe. — admitiu Celina, que limpou as lágrimas.
— Ele te faz feliz?
— Sim. Ele me faz a mulher mais feliz do mundo. — garantiu a moça, que abraçou Erick.
— Isso é o que importa. — Dona Maria pegou no rosto da filha e beijou.
— Celina, agora que temos a benção da sua mãe, você aceita namorar comigo? — Erick perguntou.
— Claro. Claro que aceito. — dando um beijo no rosto de Erick.
— Eu vou passar um café para a gente comemorar. — saindo da sala e deixando o casal curtir o recém namoro.
A vida de Noslen estava mudando para melhor. Porém, o seu melhor amigo, Nico, se sentiu deixado para trás e, assim como Erick e Celina, não escondeu os seus sentimentos. Para o venezuelano, o dinheiro era bem-vindo, mas não significava tudo. Afinal, Noslen era o seu irmão e fazia falta durante o dia a dia.
— Estou ficando com o Enzo. Digo, nós estamos meio que juntos. — anunciou Noslen, que aguardou a reação do melhor amigo.
— Sério? Eu estou chocado. — Nico soltou de maneira falsa. — Se você não me contasse, eu nunca descobriria.
— Eu sou tão óbvio assim?
— Noslen, te conheço há cinco anos. Você nunca teve uma namorada. — Nico se justificou. — Quem você leva para a cama não me interessa. O Enzo te trata bem?
— Até por demais. Eu tenho vergonha do tanto que ele me ajudou. — garantiu Enzo, que ficou vermelho.
— Você apaixonado é um saco, Noslen. — Nico brincou revirando os olhos. — Ei, não some. Eu sinto falta do meu irmão.
— Não se preocupe. Inclusive, eu vim para te fazer um convite. Amanhã vou ter uns desenhos expostos na Galeria do Largo, no Centro, às 20h. Sem atrasos, Nico. — pediu Noslen, que recebeu um forte abraço do seu melhor amigo.
Se tinha uma pessoa que estava no céu era Ian D'ávila. Ele e Diana foram celebrar em um dos restaurantes mais conhecidos de Manaus. As palavras de André ainda martelavam na cabeça de Ian. Só que ele prometeu a si mesmo que nada atrapalharia a sua felicidade.
Entre um prato e outro, Ian e Diana planejavam os seus próximos passos dentro da empresa. Só que eles não contavam com um detalhe: Benjamim. Ele sabia de todos os planos de Ian e queria sua parte nos ganhos do empresário.
***
Benjamim (ridículo):
Eu quero a minha parte no trato.
Ian:
Que parte?
Benjamim (ridículo):
Qual é Ian. Eu preparei um documento especial para você.
(enviando documento)
Eu espero que você seja generoso. Eu adoro pessoas generosas.
***
— O que foi Ian? — Diana perguntou com um tom de voz diferenciado.
— Ele está. Ele está. Ele está me...
— Te ameaçando? — questionou Diana, tirando os óculos e sorrindo. — Eu sei. Finalmente, eu posso tirar essa máscara de menina boba.
— Diana? — questionou Ian, levantando uma das sobrancelhas e analisando a secretária.
— Que é seu idiota? Achou mesmo que eu ia ser a tua serviçal para sempre? — rindo e chamando a atenção de alguns dos clientes do restaurante. — Enfim, eu tenho uma pessoa que me enxergou de verdade, Ian. Eu sou parceira do Benjamim agora. E vou analisar de perto tudo o que ele pode ganhar da Tech Land.
— Sua safada! — rebateu Ian, quase emocionado por ter treinado a Diana. — Você tem certeza que vai se virar contra mim?
— Chega de ser humilhada, seu patife. — disse Diana.
— Ótimo. — pegando o celular e enviando o dinheiro para Benjamin. — Pede pro Benjamim te levar no dentista. Esse dinheiro vai ser útil. — revirando os olhos. — Com licença, estou cheio. — saindo.
Como a felicidade pode acabar em segundos? Dentro do carro, Ian deu um grito alto e frustrado. Ele não previa o baque e não tinha para quem recorrer. Ele dirigiu por um bom tempo, então, ligou para uma pessoa que não esperava, o André.
Eles se encontraram em um parque famoso de Manaus. Porém, não houve muita conversa. A pegação rolou solta dentro do veículo. André achava que o Ian era a sua kriptonita. Ele não tinha aceitado que o ficante havia feito com o seu melhor amigo. A vida de adulto é um saco, não é?
— Você vai devolver a empresa para o Enzo? — questionou André, enquanto colocava a camisa.
— Não. O Enzo é culpado por abandonar a empresa. — soltou Ian, sabendo que aquilo não era verdade.
— Cara, o Enzo criou a Tech Land. Ele te colocou na empresa. Isso é o maior tipo de traição e...
— Você quer falar de traição. Quem tá comendo o cara que "traiu" o teu melhor amigo?
— Acabou. — saindo do carro. — Nunca mais me procure. Você não vale a pena.
Mais uma vez, Ian gritou dentro do carro. Será que isso vai virar uma rotina na vida do empresário? Enquanto uns lamentavam, outros se preparavam para o evento da sua vida. Noslen usou roupas de Enzo para participar da exposição. Eles se arrumaram e partiram para o Centro de Manaus.
— Você está feliz? — perguntou Enzo, enquanto fazia o nó na gravata de Noslen.
— Sim. Eu não descobri um talento e consegui desvendar o rosto da minha mãe. — afirmou Noslen, fazendo carinho no rosto de Enzo. — E tudo graças a você.
— Vamos? — Enzo pegou as chaves e balançou na frente do crush. — O que pode dar errado?
