“Sabem por que o Brasil venceu em 58 e 62?”, perguntou meu avô, Genivaldo. Geni, para os (poucos) íntimos.
Eu e minha irmã, que dividíamos a mesa com ele, nos entreolhamos. Estávamos ali não por vontade própria, para vigiá-lo. Ele havia desenvolvido o pouco saudável hábito de engolir moedas, e nossa mãe estava ocupada fazendo a janta. Desse modo, recaíra sobre nós a responsabilidade de vigilância.
“Sim.”, respondi. “Pelé e Garrincha.”
“Errado!” Ele deu um sonoro tapa na mesa, fazendo a travessa de amendoins saltar uns bons 3 centímetros. “Fui EU que fiz o Brasil ganhar.”, disse, apontando efusivamente para si.
Minha irmã coçou o nariz e eu dei uma olhadela pra televisão, que exibia o amistoso do Brasil contra a Irlanda (o ‘Eire’), o último jogo antes do mundial da Espanha.
“Você? Como?”, perguntei, finalmente vencido pela curiosidade mórbida.
Meu avô deu uma olhadela por sobre os ombros, para certificar-se de que minha mãe (sua filha caçula) não estava perto o suficiente para ouvir o que ele ia dizer. Virou-se, então, novamente, para nós.
“Transando.”, disse ele, um sorriso esquisito nos lábios.
“Tran—” comecei a dizer, mas vi que estava falando num volume que minha mãe provavelmente ouviria. “—sando?”, completei, agora quase num sussurro.
Ele balançou a cabeça. “Sim, sim.”
Olhei pra minha irmã, Luísa. Queria ver se ela também estava curiosa. Estava.
“E como foi isso?”
Vô Geni ergueu as mãos espalmadas e fixou o olhar para o espaço entre elas. Era como se vislumbrasse ali uma pequenina tela de cinema onde estava revendo os acontecimentos que estava prestes a relatar.
“Tudo começou em 6 de junho de 1958. Era a antevéspera da estreia da seleção no mundial. Naquela noite, eu tive uma revelação, uma epifania. Para a seleção ser campeã, eu teria que transar com uma mulher de cada país das seleções adversárias.”
Ouvi Luísa abafando uma risada. “Que maluquice.”
“Hah! Ah, se eu ganhasse numa moeda cada vez que me falassem isso…”
“Você engoliria todas, seu velho doido!”, Luísa retrucou.
Ele deu de ombros. “Enfim, nada isso muda o fato de que deu certo.”
Minha irmã parecia estar puxando algo na memória.
“Em 1958, nós empatamos com a Inglaterra. Não—”
Vô Geni ergueu as mãos, interrompendo a pergunta. Já sabia o que viria e se adiantou:
“Eu conheci uma inglesa no cais do porto. Fiquei três dias cortejando ela. Quando finalmente chegamos às vias de fato, descobri que era homem. Um transformista! Esses ingleses…”
“Onde você achou uma galesa?”, Luísa perguntou, mostrando possuir um conhecimento sobre copas do mundo que eu nem imaginava que ela tivesse.
“Na embaixada do Reino Unido, onde mais?”
“É, faz sentido.”, admitiu ela, dando de ombros.
“Ela era magrela, vesga e tinha uma senhora verruga no queixo do tamanho de um brigadeiro. Transamos num banheiro tão pequeno que a marca da torneira ficou na minhas costas por dias. Mas cumpri meu dever assim mesmo. Tudo pelo meu país.”, ele disse, levando a mão ao peito, solene.
Luísa sorriu amarelo, balançou a cabeça como que dizendo ‘já ouvi demais’ e voltou ao livro.
No amistoso, os gols começaram a sair - foram 6 em apenas pouco mais de vinte minutos.
Conforme os gols iam saindo, eu e Luísa prestávamos mais e mais atenção na partida. Quando demos por nós, estávamos ambos sentados na frente da televisão.
Quando percebemos que o vô estava sem supervisão, olhamos ao mesmo tempo pra trás, em direção da mesa.
Ainda tivemos tempo de ver nosso avô colocando uma moeda, que mais parecia um dobrão pirata de tão grande, na boca e engolindo-a com uma bela golada no suco de maracujá.
Após terminar, ele nos deu a piscadela mais cínica do mundo e se levantou para ir pro quarto.
“Hã… Não falo nada pra mãe se você não falar.”, Luísa disse.
Acabei esquecendo daquela história, ou assim pensava. Ela, na verdade, havia ficado no meu subconsciente. Quando dei por mim, já fantasiava cenários em minha cabeça. Seria possível fazer uma coisa dessas, fazer a seleção ser campeã transando? Conseguiria eu fazer isso?
“Você conhece alguma russa?”, perguntei para minha irmã.
“Martina Navratilova?”, ela disse, dando de ombros.
“Ela é checa, se não me engano. Ou iugoslava? De qualquer forma, preciso de alguém que viva perto. Não conseguiria transar com uma tenista superstar.”
“Transar?”, Luísa perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Minha vez de dar de ombros.
“Não me diga que você acreditou naquela baboseira que o vô falou…”
“Ah… Não… Só achei curioso.”
Ela me lançou um olhar que dizia ‘sei, sei.’
“Tem um salão de cabeleireiro aqui perto. Acho uma das cabeleireiras é russa.”, ela disse.
“Acha? Por quê?”
“Bom, ela é alta, loira, olhos azuis, nome estranho e um sotaque esquisito.”
”Até aí, pode ser, sei lá, sueca.”, ponderei.
“Pode ser.”, retrucou ela, desinteressada.
Fui até o espelho.
“Hm, olha só.”, eu disse.
“O quê?”
“Acho que estou precisando cortar o cabelo.”
Luísa revirou os olhos e balançou a cabeça.
No dia seguinte, em vez de ir até a barbearia onde geralmente cortava meu cabelo, fui até o tal salão.
Assim que passei pela porta, fui recebido por uma loira alta, tal como minha irmã falara.
“Boa tarde, me chamo Danica.”, ela disse, num sotaque forte mas perfeitamente compreensível. “Mas pode me chamar de Dani.”
“Boa tarde. Eu sou Bruno.”
“Quer uma cortada de cabelo?”, ela disse, em um português de quem ainda está aprendendo o idioma.
“Hã… Sim, sim.”
Eu me sentei na cadeira. Ela me deu uma revista Veja. Reportagem de capa era sobre a morte da Elis Regina.
“Como quer?”
“Ah… Só apare as pontas.”
Ela me deu um sorriso e começou o serviço.
“Então… Você é russa?”, eu disse, após ler algumas páginas da revista enquanto criava coragem.
Ela parou o que estava fazendo e me olhou pelo espelho.
“Eu não sou comunista.”
“Ah, não, não… Perguntei por causa do seu sotaque. É muito bonito.”
Ela abriu um sorriso. “Sim, sou de lá.”
“Há quanto tempo está no Brasil?”
“Quase dois anos.”
“O que está achando?”
“Quente!”, disse, de pronto, rindo. “E os homens são bem bonitos.”
Rapaz, isso foi uma cantada? Olhei pra ela, pelo espelho, e vi um sorrisinho em seu rosto. É, fora.
Conversamos mais um pouco e fiquei sabendo que ela era solteira e não estava de rolo com ninguém. A essa altura, meu nervosismo já tinha ido embora, e flertávamos abertamente. Fui embora trazendo no bolso um cartão do salão com o número residencial de Danica anotado no verso.
Quando cheguei em casa, foi como se eu acordasse de um sonho. Balancei a cabeça em descrença com o que tinha feito.
Então, chegou o dia 14 de junho. Estreia da seleção contra a União Soviética. Tinha ido ver o jogo na casa de um amigo, na mesma rua, a uns dois quarteirões da minha. Era uma tradição que seguíamos desde a copa anterior, assistir a um jogo na casa de cada um. Toda a minha galera estava lá: Jair (o anfitrião), Arthur, Ricardo, os irmãos Fernando e Ana, e Luísa. Roberta, minha ex, também estava presente. Ela tinha se convidado e ninguém teve coragem de mandá-la embora.
Era aquela coisa: mesmo os que não estavam usando a camisa da seleção vestiam verde e amarelo. Eu estava usando uma camisa da seleção comprada de véspera. Além de falsificada, ela era defasada, pois não tinha o infame raminho de café dentro dentro do escudo. Pra falar a verdade, o falsificador conseguiu errar até no CBF, grafando 'CFB'. Mas que se dane, o importante era a intenção.
O clima era de muita alegria e descontração. E por que não seria? A seleção era considerada a franca favorita para vencer a copa. Se nas eliminatórias não houve muita empolgação, a excursão europeia realizada em maio do ano anterior nos encheu de confiança. Nela, o Brasil venceu a Inglaterra em Wembley (pela primeira vez), a boa França de Platini e a temida (e também favorita ao título) Alemanha Ocidental.
Mas, claro, copa do mundo não se ganha antes de jogar.
“Rola a bola. Começa o jogo. Começa a bater mais forte o coração de todos nós.”, resume bem o narrador Luciano do Valle, que então era narrador da Globo.
Jogo nervoso, como sempre são as estreias. Alguns jogadores brasileiros estavam visivelmente tensos, errando jogadas bobas. Conforme o tempo foi passando, o time foi se acalmando. Nosso ataque se encaixou e passou a armar boas tramas, mas a defesa seguia uma pilha de nervos: Luisinho cometeu pênalti claro num camarada soviético que o juizão só não marcou porque não quis. Pra piorar, quando o jogo já se encaminhava pro intervalo com a promessa de um zero a zero, um tal de Bal, que nem no álbum de figurinhas estava, resolveu que aquele devia ser seu dia de sorte chutou de qualquer jeito da intermediária. Chute fraco, mascado. A bola quicou e o goleiro Waldir Peres engoliu um dos maiores frangos da história das copas, peruzaço mesmo.
“Olha só! Olha só isso!”, esbravejou Arthur. “Esse Telê bunda mole! Era pra ser o Carlos no gol! Tira esse careca daí!”, disse ele, pontuando sua fúria com socos no ar.
Daí até o fim do primeiro tempo, a seleção seguiu em cima, mas esbarrava na falta de pontaria do seu ataque. Serginho, em especial, não estava em uma tarde muito inspirada.
“Que falta o Reinaldo faz…”, Fernando lamentou.
“Nem precisava ser Reinaldo. Podia ser o Dinamite. Ou o Nunes. Até o Sócrates improvisado eu aceitaria. Serginho é que não dá.”, ponderou Jair.
Quando o juiz ergueu os braços e encerrou o primeiro tempo, eu corri pro telefone. Liguei para Danica disposto a fazer qualquer coisa pra me encontrar com ela. O telefone da casa dela tocou, tocou, tocou… E nada. Comecei a ficar nervoso. E se ela tivesse saído? Não tinha tempo para arrumar uma outra russa. O Brasil ia perder e a culpa seria minha. Tive a ideia de ligar pro salão. Sim, era dia de jogo de copa, mas ela nunca tinha passado por essa experiência aqui no Brasil. Não devia saber que é praticamente feriado. Disquei o número e ela atendeu ao primeiro toque. Pra minha surpresa, ela aceitou logo de cara. ‘O movimento hoje foi bem fraco.’, ela disse. Óbvio. Estavam todos em casa assistindo ao jogo. Dei uma desculpa qualquer pros meus amigos e saí, prometendo voltar logo. Como estava (camisa - falsificada - da seleção, short verde e chinelos azuis), fui correndo até a rua e tomei o primeiro táxi que apareceu. Como as ruas estavam desertas, a viajem levou menos de cinco minutos. Quando cheguei, Danica estava sentada numa das cadeiras de barbeiro, folheando desinteressadamente uma revista. Sobre o balcão, um televisor Sharp, no mudo, passava os melhores momentos do jogo.
“Oi, Bruno—” Foi o que ela teve tempo de dizer antes que eu lhe tascasse um beijo. Como não havia tempo a perder, decidi por uma abordagem mais direta. Ela devolveu o beijo, e logo nos engalfinhávamos num emaranhado de beijos, apalpamentos e bolinações.
“Nossa… Que tesão 'estamos'!”, ela disse.
Quando estava nervosa ou excitada, seu português escorregava e seu sotaque ficava mais pronunciado.
“Não tem um lugar onde possamos… Sabe como é…”
“Trepar?”
“Transar, isso.”
“Bem, tem esse.”, ela respondeu, me empurrando numa das cadeiras de barbeiro.”
“Hã… Aqui?”
“Qual o problema?” Ela olhou em volta. “Ninguém está olhando.”
Ela soltou o cabelo, até então preso em rabo de cavalo. Ficava bem mais bonita desse modo. Caiu de joelhos na minha frente, puxou meu short pra baixo e já foi logo pegando meu pau.
“Gosta assim, hm?”, perguntou, entre uma chupada e outra.
“Hm… Muito…” Meus olhos foram pra TV. As seleções já haviam voltado do intervalo.
A língua dela serpenteava pela cabeça do meu pau, arrancando suspiros de prazer. Meus dedos afagavam seus cabelos.
Não vou negar, era um senhor boquete. Mas eu precisava apressar as coisas. Não havia tempo a perder.
“Vem, vem.”, falei, puxando-a pelas mãos.
“Hm, safadinho.”
Ela abriu o botão do short jeans e deixou que caísse no chão. Abaixou a calcinha. Estava depiladíssima. Ajudei-a a subir em mim. Ela abriu a blusa. Estava sem sutiã. Seus seios eram de tamanho médio, firmes e lindos.
Não resisti e fui lambê-los.
Ela riu. “Mamãe eu quero mamar.”, disse, ainda rindo.
Sem muita cerimônia, pegou meu pau e foi sentando nele devagar.
“Ai, ai.”, ela gemia.
Logo, já quicava com força e fúria, fazendo a cadeira produzir um som de ‘nheco-nheco’. Isso não fez com que ela diminuísse a intensidade. Pelo contrário. Ela passou os braços por trás de meu pescoço e colocou a cabeça em meu ombro.
Conforme a coisa foi ficando mais e mais quente, ela passou a falar em seu idioma natal. Aquilo me excitava. Eu me sentia num filme pornô.
“Vou gozar!”, anunciou.
Eu a agarrei firme e a beijei.
Ela gozou, gemendo alto. Desmontou de mim e deitou no chão.
“Vem.”, me chamou. “Sua vez.”
Eu, claro, fui. Antes de me deitar sobre ela dei uma rápida bisbilhotada na TV e vi que a bola já estava rolando.
Deitei sobre Danica e comecei a bombar com força. Ela gemia, gritava em português desconexo, em sua língua natal, revirava os olhos. Parecia em transe.
Ela gozou novamente, e logo depois foi minha vez. Exausto, caí pro lado e assim ficamos, deitados no chão, olhos fitando o teto e resfolegados.
“Uau. Isso foi bom sexo.”, Danica disse.
Concordei, rindo.
Sentei-me na cadeira, para recobrar o fôlego.
Danica apontou para a televisão, onde Blokhin, o craque do time soviético, aparecia em destaque após fazer boa jogada.
“Ele é da minha terra!”, disse, cheia de orgulho.
Aquilo me confundiu um pouco. “Hein? Mas todos eles não são?”
Ela balançou as mãos. “De certa forma. A 'soyouz' é composta por muitas repúblicas. Ele e eu somos da mesma. Ucrânia.”
Eu me perguntei se isso afetava as coisas de alguma forma. Resolvi que não. Torcia (rezava) para que não. Eu não sabia disso, mas quase metade daquele time em campo contra o Brasil era de ucranianos. Russos mesmo, eram três.
Despedi-me de Danica, dei-lhe um beijo e voltei pra casa.
Quando voltei, fui logo interpelado por meus amigos. Onde tinha ido? Fazer o quê? E outras perguntas do tipo. Eu não respondi, meus olhos grudados na televisão.
“Foi ver a russa, não foi?”, minha irmã perguntou.
“Ela é ucraniana.”, corrigi.
Meus amigos se entreolharam, confusos.
Luísa explicou a história pra eles.
“Cara, você saiu no intervalo pra ir transar? Radical!”, disse Fernando, que provavelmente ainda era virgem.
Eu abri uma lata de refrigerante e voltei ao meu lugar no sofá.
O Brasil havia voltado melhor pro segundo tempo. Paulo Isidoro, do Grêmio, entrara no lugar de Dirceu, que não havia feito um bom primeiro tempo, e que só jogara porque Cerezo estava cumprindo suspensão por um cartão vermelho, ainda nas eliminatórias. Levávamos mais perigo nas subidas ao ataque e a defesa parecia mais segura. Foram quase 30 minutos de um quase “ataque contra defesa”, até Sócrates receber uma bola mal rebatida pela defesa soviética, limpar dois marcadores e mandar um canudo no canto do goleirão Dasayev, que nada pôde fazer.
Vibramos, pulamos e nos abraçamos. Alguém apertou minha bunda. Tenho quase certeza de que foi minha ex.
Alguns minutos depois, aos 36, Luizinho resolveu testar a fé do povo brasileiro e interceptou um cruzamento soviético com a mão, dentro da área. O juizão novamente deu aquela força e nada marcou.
O Brasil seguiu em cima. Aos 41, o carequinha soviético, o mesmo que havia sofrido o pênalti não marcado no primeiro tempo, recebeu sozinho perto da marca do pênalti e estufou a rede brasileira. Mas estava impedido e o gol não valeu.
Pouco depois, o Brasil atacava pela direita. Paulo Isidoro rolou pra trás. Falcão fez o corta-luz e a bola chegou até Éder, que dominou já levantando-a do chão. Sem deixá-la cair, ele mandou sua patenteada bomba de esquerda, que só parou quando bateu na rede soviética.
Vira, vira, vira, virou.
“Placar verdadeiramente sensacional aqui em Sevilha!”, decretou Luciano do Valle.
Já não dava mais tempo pra nada. Quando o juiz ergueu os braços, houve um suspiro de alívio nacional, para explodir em alegria logo depois. Nas ruas, crianças corriam. Casais se beijavam.
O Brasil dera o primeiro passo rumo ao tetra.
Com minha ajuda.
Jair surgiu com duas garrafas de vodca. Bebi até ficar doido.
Acordei no dia seguinte na cama com a ex.
Ah, Brasil, as loucuras que você me faz cometer.
A seleção escocesa estava longe do topo da cadeia alimentar do futebol. Mas também não era nenhuma baba: se classificara pras últimas três copas (1974, 78 e 82). Em 1978, eles venceram a eventual finalista Holanda, e quase se classificaram no lugar dela: ambas fizeram o mesmo número de pontos, com a Holanda se classificando por ter um melhor saldo de gols.
A questão era… Onde arranjar uma escocesa?
Como meus amigos agora sabiam da minha missão, eles podiam me ajudar. E foi justamente o que aconteceu: o irmão de um amigo da minha irmã, que estava fazendo intercâmbio na Inglaterra, conhecia um casal escocês que estava no Brasil.
“São mochileiros.”, me disse Luísa.
“Eles vendem mochilas?”, eu falei.
Ela revirou os olhos. “Não, seu tapado… Mochileiro é gente que fica viajando pelo mundo.”
“Ah, Saquei… Mas, você disse que é um casal.”
”Sim.”
“Isso não me ajuda muito. Como vou transar com ela se tem marido? E ele vai estar com ela, ainda por cima.”
“Ah…” Ela abriu um sorriso sacana. “Eles curtem uma sacanagem.”
“Hm? De que tipo?”
“Sexo a três... A esposa curte dar pra outro na frente do marido.”
“Nossa… Isso existe?”
“Sim, sim.”
“É meio esquisito isso tudo…”
“Bom, é pegar ou largar.”
Eu considerei as opções. “Tudo bem. Tem certeza de que eles não são assassinos ou algo assim?”
“Não sei. Acho que não.”
“Não me parece muito certa. Não acha melhor checar? Não quero que fique com peso na consciência caso aconteça algo comigo.”, brinquei.
“Ah, não tem problema. Sempre quis ser filha única.”, ela disse, rindo.
Eu mostrei-lhe o dedo médio.
“Onde eles estão?”, perguntei.
“Então… Em Cabo Frio.”
“Cabo Frio.”, repeti.
“Sim.”
“Meio longe, não?”
“Bom, é mais perto do que a Escócia. Se não gostou, vá procurar seus próprios escoceses!”
“Não, não… Tudo bem!”
Após algumas rodadas de telefonemas, conseguimos marcar tudo.
Ou melhor, Luísa marcou tudo.
Eu estava montando um itinerário pra minha viagem.
Iria no dia seguinte, saindo do Rio ao meio-dia e chegando em Cabro Frio por volta das três da tarde. Às cinco, encontraria o casal, no hotel onde eles estavam hospedados. E pegaria o ônibus de volta pro Rio às oito.
Bati na porta ainda pensando como aquilo acabaria pra mim.
A porta se abriu. Era a esposa. Seu nome era Mairi, e ela tinha cerca de um metro e setenta de altura, cabelos ruivos cacheados e era branca como uma vela. O marido era Peter (’Píta’). Era alto e magro. Ambos eram jovens, deviam estar ali nos seus vinte e poucos anos.
“Oh my, he’s a wee yin.”, ela disse.
Eu sorri e entrei.
Ela falava pouquíssimo português, e eu, nenhum inglês. Nossa comunicação era, digamos, deficitária.
Mas, tudo bem. Afinal, eu não tinha ido lá para conversar.
Mairi retirou a camisa, uma blusa de frio de gola alta, e atirou-a de lado.
“Come ‘ere, luv.”, ela disse, segurando em minha mão.
Sem cerimônias, ela me puxou pra junto de si e me beijou.
Era um beijo envolvente, gostoso. Tanto que me fez esquecer, ainda que por breves segundos, de que estamos nos beijando na frente do marido dela.
Quando esse fato voltou à minha mente, abri os olhos um pouquinho para ver o que ele estava fazendo: estava sentado na poltrona ao lado da cama, nos observando. Em seu rosto, um misto de tesão e vergonha.
Após o beijo, ela já me puxou para a cama.
“Will ye fuck ma guidman as well?”, Mairi me perguntou.
Eu dei de ombros, mostrando que não havia entendido.
Ela apontou pra mim. Depois, para o marido. Então, fez o sinal parecido com o OK, com o a ponta do indicador indo até a base do dedão, gerando um formato de rosquinha. Aí, com o indicador da mão direita, penetrou nessa rosquinha.
“Não! No, no!”, eu disse, balançando a cabeça.
“Oh… No fun for ye, honey.”, ela disse ao marido. “Bit ah’m sure there ur other ways ye kin git some fun.”
Ela agarrou meu short e começou a puxar. Eu ergui meu tronco da cama, para ajudá-la.
Ela começou a acariciar meu pau por sobre a cueca.
“Look, hun… His boaby is bigger than yers!”, ela disse ao marido, que sorriu amarelo.
Eu, que não havia entendido bulhufas do que foi dito, fiz o mesmo.
Tirei a cueca. Ia atirá-la pra longe, mas Mairi a tomou de minha mão. Num movimento rápido, ela jogou as pernas pra fora da cama e se levantou. Foi até o marido e enfiou minha cueca todinha dentro de sua boca.
“Ye keep it there until ah say sae!”, ela disse. Ao ver minha cara de surpresa, ela tratou logo de me acalmar: “He likes it… Ele gosta.”
Ela voltou pra cama. Deitou do meu lado e ficou me beijando enquanto me punhetava.
Quando fiquei em ponto de bala, ela deitou e me puxou pra cima dela.
Coloquei devagar. Ela gemeu.
“Hm… Yes, yes!”
Ela me puxou bem pra junto de si e me beijou.
Comecei a meter com força.
A boceta dela era uma delícia. Molhadíssima. Acabei me empolgando e gozando rápido.
Pedi desculpas, ela disse que não tinha problema. Ficamos nos beijando até eu me recuperar.
Ela montou em mim e cavalgou. Ela alternava olhar nos meus olhos e olhar pro marido.
Peguei Mairi de quatro, na pontinha da cama, pra ela ficar bem próxima do marido.
“Do ye want me tae put mah finger up your ass?”, ela me perguntou, quando já tínhamos voltado ao ‘papai e mamãe’.
‘Ass’, essa palavra eu conhecia. A safada provavelmente estava querendo saber se eu gostaria de comer o cu dela. Claro que queria. Cu e pênalti só perde quem é trouxa.
“Yes… Yes ass.”, eu respondi.
Ela sorriu maliciosamente. Achei que fosse ficar de quatro novamente. Enquanto isso, ela foi deslizando uma das mãos até minha bunda. Ao chegar lá, deu-lhe uma boa apertada. Depois foi a vez da outra mão.
Algumas garotas com quem eu já havia ficado curtiam fazer isso, era gostosinho.
Mas aí Mairi fez algo que nenhuma delas tinha feito. Escorregou metade de seu indicador pra dentro de mim.
“Ei, ei, ei!”, eu disse, dado um pulo na cama.
Ela riu. ‘Sorry aboot that, luv.”
Voltei a meter nela.
Ela virou o rosto para o marido.
“Ye can start chugging now, hon.”
Ao ouvir isso, Peter colocou o membro pra fora e começou a se masturbar.
“Avisa… Gozo.”, ela pediu.
Já estava bem próximo. Dei mais meia dúzia de metidas e lhe disse.
“Cum in mah mouth, luv.”, pediu Mairi. Ao ver minha cara de paisagem, ela abriu a boca e apontou pra dentro dela.
“Ah, tá. Entendi.”
Fui até sua boca e comecei me masturbar. Na poltrona, Peter fazia o mesmo.
“Vou gozar!”, anunciei.
Mairi pôs a cabeça pra frente e engoliu meu pau.
Contei cinco jatos.
Ela se levantou, boca fechada, e foi em direção ao marido.
Este, já sabendo o que ia acontecer, tirou minha cueca da boca. Mairi o beijou, dividindo minha porra com o marido. Justamente naquela hora, ele gozou.
Surpreso e com nojinho, desviei o olhar.
“How dae ye like his cum, hun?”
“I love it!”, respondeu Peter.
Eu tomei uma ducha e me aprontei para ir embora.
“Bruno.”, ouvi Mairi chamando e me virei.
Ela apontou pra minha cueca.
“Ah… Podem ficar.”, disse. Até parece que eu ia querer aquilo de volta.
Despedi-me deles. Antes de fechar a porta, arrisquei uma última olhadela: Peter estava vestindo minha cueca.
Pervertidos.
“Como foi?”, perguntou Luísa, assim que cheguei.
“Foi… Estranho.”
“Estranho como?”
“Você NÃO quer saber, acredite.”
“Eita. Tá bom, me convenceu.”
Dois dias depois, era dia do jogo. Dessa vez, seria na minha casa.
O jogo começou franco, com ambas as equipes buscando o ataque. O Brasil chegou algumas vezes, mas sem levar muito perigo. A Escócia, menos ainda. Mas, aos 17 minutos, o camisa 14 escocês, Narey, mesmo encaixotado por três marcadores, acertou um chute que eu tenho certeza de que foi o primeiro e último desses que ele conseguiu na vida. A bola foi no ângulo. Um belo gol.
“É, dessa vez não foi culpa do goleiro.”, observou Arthur.
Com a vantagem no placar, a Escócia se fechou. O Brasil continuou chegando sem levar muito perigo.
Até que aos 34, cobrando uma falta sofrida por Cerezo, Zico mandou lá onde a coruja dorme. O goleirão escocês mal se mexeu.
O gol alterou pouco o jogo. Logo, veio o intervalo.
Não sei o que aconteceu no vestiário, mas a seleção voltou com sangue nos olhos pro segundo tempo.
Logo no comecinho, Júnior cobrou um corner da esquerda e Oscar, meio de cabeça e meio de ombro, mandou pro fundo da rede. Era a virada.
A partir daí, a seleção começou a empilhar chances de gol.
Aos 19, Éder faz um golaço de cobertura, quase do bico da área.
Aos 41, Sócrates rola para Falcão. Esse, manda a bomba no cantinho.
Brasil 4x1. Virada (mais uma) com direito a chocolate.
Após toda essa agitação, eu resolvi tirar o próximo jogo, contra a inexpressiva Nova Zelândia, pra descansar. Primeiro porque eu não tinha ideia de onde encontrar uma neozelandesa (país esse que eu sequer sabia que existia, até ver uma matéria no Jornal Nacional sobre os adversários do Brasil). E depois porque não era necessário. O jogo era apenas uma mera formalidade. A vitória sobre a Escócia deixara o Brasil já praticamente classificado. E essa classificação foi selada sem nem mesmo o Brasil precisar entrar em campo, com o empate entre União Soviética e Escócia no dia seguinte. Independente do que acontecesse no jogo contra a Nova Zelândia, o Brasil seria o primeiro do grupo.
O que de mais interessante haveria naquela dia era a definição dos adversários do Brasil na fase seguinte.
Antes da copa, após os grupos (e os cruzamentos entre eles) terem sido sorteados, era quase unânime a aposta em um grupo formado por Brasil, Bélgica e Polônia na segunda fase. O primeiro do grupo do Brasil (Grupo 6), ficaria num grupo com os segundos colocados dos grupos 1 e 3, onde estavam, respectivamente, Itália e Argentina, seleções que, esperava-se, ficariam em primeiro em seus grupos. O que não aconteceu: a Argentina perdeu na estreia para a boa seleção belga e goleou os esforçados húngaros na segunda partida. Já a azzurra empatara os dois jogos, com Polônia e Peru.
Logo pela manhã já ficamos conhecendo um dos nossos adversários, a Itália, que segurou (mais) um modorrento empate de 1-1 com Camarões, se classificando assim pelo critério de gols marcados. A Argentina precisava ganhar pra se classificar na segunda vaga do grupo, a primeira já era da Bélgica. Eu, claro, torcia fervorosamente contra.
Mas, não teve jeito, a Argentina venceu a fraca seleção de El Salvador de forma sem brilho e sem sustos e garantiu sua vaga.
Estava decidido, então.
O caminho do tetra passava por Argentina e Itália.
Do jogo contra a Nova Zelândia, não há muito o que falar. O Brasil jogou sério e fez o que se esperava dele: gols. Com destaque para o primeiro, uma linda puxeta de Zico.
Havia um motivo - bom motivo, alguns diriam - para minha repulsa à ideia de um jogo contra nossos hermanos.
E tal motivo vai soar, a princípio, contraditório: ao contrário de todos os casos até aqui, eu conheço uma argentina.
A história é a seguinte: quando eu era mais jovem, morava umas três ruas acima. Na mesma rua, havia uma família argentina. O pai e a mãe eram gente boa. Já a filha, Antonela, nem tanto. Ela era mais velha que eu, e me perturbava. Chegava quase ao ponto de bullying. Eu tinha medo dela. Sempre antes de sair, ia pra janela olhar se ela não estava na rua.
O que me consolava era que eu, muito provavelmente, não teria que recorrer à ela. Não devia ser tão difícil assim achar uma argentina, afinal. Havia achado uma soviética - soviética! Uma argentina, país vizinho ao nosso, deveria ser tranquilo.
Mas não foi.
Dia após dia, as buscas eram infrutíferas. Quando me dei conta, já era antevéspera do dia do jogo.
Suspirei. É, teria que ser Antonela.
Eu liguei pra casa dela. Sua mãe atendeu. Disse que ela não morava mais lá, com eles, mas me passou o número de sua casa nova. Agradeci.
Liguei e Antonela logo atendeu. Quando me identifiquei, ela foi muito simpática. Perguntou como eu estava, porque tinha sumido. Levei até um susto. Rapaz, as pessoas mudam.
Marcamos de nos encontrar numa lanchonete próxima.
No dia e hora marcada, lá estava eu. Uma pilha de nervos.
“Bruno?”, ouvi chamar. Perdido em pensamentos como estava, acabei levando um susto. Virei a cabeça.
Era ela.
Continuava alta, embora agora eu fosse mais. Vestia um terninho, os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo. As sardas continuavam lá, embora menos pronunciadas do que antes.
Estava linda.
Desviei o olhar.
“Hã… Sim, sou eu. Como vai?”
Ela me abraçou, de forma efusiva.
Papo vai, papo vem. Ela contou o que tinha acontecido nesses três anos.
Um observador poderia nos confundir por velhos amigos.
Envolvido na conversa como estava, acabei contando a ela o que estava acontecendo. Minha missão.
Achei que isso fosse fazê-la sair correndo ou, no mínimo, rir de mim.
Ah, ela riu, claro. Mas foi um riso divertido, não um de pilhéria.
“Que história doida!”, ela disse.
Ri amarelo.
Ela apoiou o queixo numa das mãos.
“Hm…”
“Que foi?”
“Estava pensando… Sexta jogam Brasil e Argentina.”
“Sim.”
“E eu sou argentina.”
“Sim.”
Ela sorriu maliciosamente. “Por acaso esse é o motivo desse encontro? Faço parte da sua… Missão?”
Ia dar de ombros, mas resolvi jogar limpo: “Sim.”.
“Que safadinho.”, ela respondeu, o sorriso malicioso ainda nos lábios.
Ela não saiu correndo, o que era um bom sinal.
“Bom… Eu estou solteira.”
“E então… Tem jogo?”
Ela pousou a mão sobre a minha. “Com você, claro.”
Não podia acreditar na minha sorte.
Fomos até a casa dela.
Suas palavras me trouxeram de volta: “Tira a roupa.”, ela disse.
“Hein?”
Ela revirou os olhos. Andou até mim, os saltos emitindo uns sons de “clic-clic”. “Fica pelado. Agora.” Ela continuava tão intimidadora quanto antes.
Eu obedeci.
“Muito bom! Gostei de ver que não deixou de bem obediente nesses anos todos.”, ela disse, rindo. “Agora fica de quatro.”
“Mas hein?”
“Vou ter que ficar repetindo tudo? Fica de quatro aí no chão, porra!”
No susto, acabei obedecendo.
Ela sentou-se na poltrona, esticou os pés e os repousou sobre minhas costas.
Ligou a TV.
“O quê—”
“Shhh.”, ela fez, enquanto mudava de canais. “Quer me comer, não é?”
“Sim, mas—”
“Então vai fazer o que eu mandar.”
Ficamos assim pelo que pareceu uma eternidade. Um capítulo inteiro de O Homem Proibido, para ser mais exato.
“Antonela…”
“Sim, querido?”, disse, jocosamente.
“Meus joelhos estão doendo.”
“Ah… Coitadinho!”, ela disse. “Pode descansar um pouco, então.” Ela tirou um dos pés de cima das minhas costas, encostou a sola do pé nas minhas costelas e me empurrou. Eu cai de barriga pra cima.
“Por… Por que está fazendo isso?”, perguntei.
Ela riu. “Você está sendo punido por ter sumido… Me abandonado por todo esse tempo…”
Que louca!
Seus pés começaram a percorrer meu corpo. Quando chegou até meu pênis, ela pisou nele. Com força, mas sem machucar. Imediatamente, ele deu sinais de vida.
“Olha só… Parece que alguém gosta de ser pisado.”, disse, rindo.
Ficamos assim por algum tempo.
Eu estava quase cochilando quando sua voz me trouxe de volta ao mundo dos despertos: “Lambe.”
“O quê?”
Ela revirou os olhos. “Meu pé, meu pé, meu pé!”, disse, enquanto passava o pé em meu rosto.
Segurei seu pé esquerdo e comecei a lamber.
“Os dedos, isso…”, comandava.
Fiquei lambendo até ela se dar por satisfeita.
Perguntei se podia ir ao banheiro. Ela deixou.
“Aproveita e escove os dentes.”, disse, rindo.
Quando voltei, ela me segurou pelo pinto e me puxou até o quarto.
“Essa sua língua parece ser boa… Vamos ver como ela se sai em outro lugar…”
Ela me empurrou na cama e pulou em cima de mim. Foi subindo até chegar ao meu rosto.
Já estava muito molhada.
“Vai, seu puto. Chupa—” Antes mesmo dela terminar, eu já tinha começado a lamber. Ela gemeu.
“Nossa… Isso… Vai…”
Ela foi se empolgando. Começou a rebolar. Logo, estava cavalgando meu rosto.
“Isso! Isso, caralho! Chupa essa boceta!”, ordenava.
Eu chupava, lambia, mordiscava, soprava… Estava me esbaldando.
“Vou gozar! Vou goza—” A palavra se transformou em um grito. Seu corpo ficou tenso como uma rocha, e depois relaxou, desabando sobre mim.
“Meu Deus. Que boca. Quem diria!”
Ela ajeitou-se. “Quero mais!”
Continuou sentada sobre meu rosto, mas dessa vez virou-se pro outro lado, possibilitando um 69.
“Vou ser boazinha e dar um pouco de atenção a esse rapazinho aqui.”, ela disse, segurando meu pau. “Mas nada de gozar. Se gozar sem ter permissão, te jogo pra fora pelado!”
Começou a me chupar. Um boquete bem molhado.
O 69 prosseguiu e logo ela gozou novamente.
Ela ficou lambendo e mordiscando meu mamilo enquanto me punhetava. Isso foi mais do que suficiente pra fazer eu me recuperar.
“Você foi bem obediente, então agora vai ganhar seu prêmio…”, ela disse. Montou em mim. “Aproveite.”
Ela começou a cavalgar, dessa vez em meu pau. E que visão era! Aqueles seios, durinhos e perfeitos… O rosto com sardas, tão bonito… Seus cabelos cor de fogo… Os olhos verdes… Tão lindos quando intimidantes… Mas havia algo mais neles. O quê?
“Vou gozar!”, anunciei. Ela manteve o ritmo.
Após eu me derramar dentro dela, ela saiu de cima de mim.
“Você pode se retirar.”, ela disse, esticando a mão até o criado-mudo. Apanhou um cigarro e acendeu.
Eu vesti a roupa. Só queria sair dali.
Abri a porta. Já do lado de fora, algo me ocorreu. Abri a porta e botei a cabeça pra dentro.
“Antonela?”
“Sim?”
“Malvinas é meu ovo! Falklands! Chupa essa!”, eu disse, mostrando meu dedo médio pra ela.
Segundos depois, um pequeno jarro de plantas estraçalhava-se contra a parede onde minha cabeça estivera segundos antes.
Desci as escadas correndo, os joelhos doendo horrores, e rindo como um doido varrido.
Quem diria que acabaríamos namorando?
Dia 2 de julho. Brasil e Argentina jogariam um contra o outro pela segunda copa seguida.
Cheguei cedo na casa de Arthur, o anfitrião da vez.
A Argentina, tendo perdido o primeiro jogo para a Itália por 2x1, precisava vencer para continuar sonhando com a classificação. “Podemos fazer 3x0 no Brasil”, disse o técnico argentino, na véspera.
O jogo começou franco, com ambas as equipes praticando um futebol ofensivo. A Argentina, por necessidade, e, o Brasil, por vocação.
Foi dos hermanos a primeira grande chance. Kempes (o artilheiro da copa anterior) cruzou da esquerda e Barbas cabeceou de frente pro gol. Waldir Peres pegou.
“Em cima dele é mole!”, esbravejou Arthur, dando prosseguimento à sua campanha pessoal contra o arqueiro canarinho.
No chumbo trocado que estava sendo aquele começo de jogo, o chumbo brasileiro era mais forte: Éder soltou um míssil em cobrança de falta, Fillol resvalou na bola, ela acertou o travessão, quicou sobre a linha e Zico e Serginho se jogaram sobre ela pra fazer o gol. Zico foi mais rápido e empurrou pras redes.
Daí até o fim do primeiro tempo, o jogo ficou um pouco mais morno. O Brasil levou perigo em belo chute de primeira de Falcão, que triscou o travessão, após bela tabela com Sócrates. A Argentina levou perigo em algumas bolas aéreas.
No segundo tempo, Maradona, o craque argentino, voltou querendo jogo. Tivera um primeiro tempo apagado. Embalado por ele, a Argentina dominou os primeiros minutos. O Brasil logo equilibrou, e o jogo voltou a ficar parelho.
Éder recebeu na esquerda e deu de três dedos para Zico. Este enfiou para Falcão, que passou que nem um foguete. Dentro da área, o Rei de Roma parou, olhou e botou a bola na cabeça de Serginho, que fez. Brasil 2x0.
Vendo-se eliminada (pelo arquirrival, ainda mais), a Argentina foi toda pro ataque. Ao fazê-lo deixava espaços. E foi um desses espaços do qual Zico se aproveitou para deixar Júnior na cara de Fillol. Aí foi só marcar e correr pro abraço, com direito a sambadinha.
Aos 38, uma entrada criminosa tira Zico do jogo.
Minutos depois, outra entrada criminosa, dessa vez de Maradona em Batista. Cartão vermelho para o argentino. O jogo terminaria sem os dois camisas 10 em campo.
Quase no apagar das luzes, a Argentina ainda faz seu (bonito) gol de honra, com Díaz.
E assim termina. Brasil 3x1.
Após o perrengue que havia passado com Antonela, eu só queria algo tranquilo. E parecia que era isso que eu teria: Luísa estudava com uma italiana.
Molezinha, certo?
“Então…”, Luísa disse. E isso nunca era um bom sinal. “Ela viajou.”
“Putz… Pra onde?”
“Manaus.”
“Poooorra. E agora?”
Ela deu de ombros. “Vai ter que encontrar outra.”
No dia seguinte, após uma busca infrutífera, fui num restaurante recém-inaugurado.
A garçonete, uma jovem muito bonita, esperava meu pedido.
Pelo sotaque, reparei que era estrangeira.
Só então eu notei que todo o restaurante era decorado com coisas da região do Mediterrâneo, incluindo um mapa dela nos cardápios. Olhei para o nome no cardápio.
‘Mediterrango’
É, fazia sentido.
“Você é estrangeira, né?”
Ela riu. “Sou sim.”
“Seria muita intromissão perguntar de onde?”
Ela disse que não, e disse um nome que eu nunca tinha ouvido na vida.
“Hã… Onde fica isso?”
A cabine onde eu estava sentado tinha uma versão maior do mapa que havia nos cardápios na parede. Ela debruçou-se sobre a mesa e, nesse mapa, apontou para uma ilha bem perto da costa italiana.
Rapaz, alguém lá em cima gosta de mim.
Ativei o modo ‘Missão’, e comecei a xavecagem. Ela estava tímida no começo, mas mostrou-se receptiva.
“Senta aqui um pouco, vamos conversar.”
“Ah, agora não posso.”, ela disse, dando uma olhada pro balcão, de onde uma senhora opulenta que operava o caixa nos observava com atenção.
“Pode me dar seu telefone, então?”
“Claro!”, ela disse, rindo. Retirou um papel do bloquinho que usava para anotar pedidos, anotou seu número e me entregou.
Naquela noite mesmo eu liguei pra ela. Conversamos por quase uma hora. Ela se chamava Annette e morava no Brasil há apenas cinco meses. Ela fez aulas de português antes de vir, por isso já era tão bom.
Nos marcamos de sair no dia seguinte, após ela sair do trabalho.
Eu a busquei e fomos ao cinema. Ela queria assistir ao chatíssimo Carruagens de Fogo, mas a fila estava grande. Acabamos vendo Se Meu Fusca Falasse, que estava sendo reexibido.
Depois, eu a levei até em casa, como um cavalheiro.
Um cavalheiro com segundas, terceiras e quartas intenções.
“Não gostaria de entrar?”, Annette perguntou.
Claro que aceitei.
E claro que transamos.
Ela dividia o apartamento com uma amiga, por isso tivemos que ser cautelosos. Transamos duas vezes na sala e ela me chupou no banheiro.
Chegou o dia 2 de julho. Atmosfera de decisão. Mas clima de confiança. Afinal, a seleção italiana chegara ali aos trancos e barrancos.
“Então… Bruno… De onde é a italiana que você comeu?”, perguntou Roberta, visivelmente com ciúmes.
“Ah, de uma ilha lá… Não lembro direito o nome…”, disse. “Parecia o nome da cola de dentadura que o vô usa.”, disse para Luísa.
Luísa fez uma careta enquanto tentava decodificar aquilo. “Córsega?”
“Isso!”, respondi.
Um silêncio sepulcral se abateu sobre a sala.
“O que foi?”
Ninguém respondeu. Olhavam uns para os outros.
“Bruno… Córsega não faz parte da Itália.”, disse Luísa.
“Que papo é esse? Não é aquela ilha lá de onde vêm os mafiosos? O Poderoso Chefão e tal?”
“Não, isso é a Sicília. Córsega é da França.”
“Ah, você está tentando me zoar.”
“Não. É sério.”
Eu olhei pra ela, tentando captar se havia, por menor que fosse, alguma indicação de que fosse tudo brincadeira. Não havia.
Suor começou a brotar em minha testa.. Levantei e fui correndo até a estante, onde ficava nossa coleção da enciclopédia Mirador. Fui acompanhando com o dedo até achar o volume que queria: “6: Cinema-Crusta”
“Aqui está, Córsega!”, disse. “’Ilha montanhosa… localizada no Mediterrâneo… parte da França desde…” Podia jurar que meu coração parou de bater. “Parte da França.”, repeti.
Segui lendo. “Aqui diz que a ilha já foi da Itália! Bom, da República de Gênova, seja lá o que isso for. Talvez isso conte, né? Né??”
Como que o universo estivesse respondendo à minha pergunta, Cabrini alçou na área, certeiro na cabeça de Paolo Rossi, que fustigou para o gol, sem chances de defesa. A azzurra fazia 1x0.
Eu larguei o volume da enciclopédia e voltei ao sofá. Sem olhar pra ninguém ou dizer nada, sentei-me no mesmo lugar de sempre, encolhido.
“Isso não quer dizer nada! Era só mesmo uma fantasia da sua cabeça!”, disse Jair. “Além disso, saímos perdendo contra a URSS e contra a Escócia e conseguimos virar!” Vai, Brasil!”, gritou ele. Mas havia dúvida em sua voz.
Aos 11 minutos, Sócrates tocou pra Zico perto do bico direito da área italiana. O galinho conseguiu se desvencilhar da marcação implacável, ferrenha do italiano Gentile e devolveu pro magrão, que havia passado em ultrapassagem. Sócrates invadiu a área, carregou a bola um pouco, até ficar cara a cara do o o goleiro Dino Zoff. Chutou num espacinho mínimo entre o goleiro e a trave esquerda, empatando o jogo.
Eu levantei do sofá e comemorei dando murros no ar.
Talvez Jair estivesse certo, e fosse uma coisa da minha cabeça. Tínhamos o melhor time e iríamos ganhar.
Certo?
Aos 25 minutos, Cerezo arriscou um passe horizontal na nossa intermediária. O esperto Paolo Rossi interceptou-a, livrou-se facilmente de um atabalhoado e precipitado carrinho de Luizinho e partiu em direção ao gol. Da entrada da área, fuzilou Waldir Peres, que novamente nada pôde fazer.
Itália 2x1.
“Como esse filho de uma puta faz uma coisa dessas?”, esbravejou Jair, injuriado. “Se nego faz uma jogada dessas num jogo no campinho da rua de cima, leva um tapa no orelha na hora! Porra, até num jogo de 5ª série sabem que não pode dar um passe horizontal na frente da área! E ESSE FILHO DA PUTA FAZ ISSO NUM JOGO DE COPA DO MUNDO!?!” Essa última parte foi pontuada por violentas pancadas no braço do sofá.
“Ow, sem quebrar meu sofá, por favor.”, disse Ricardo.
Daí pro fim do primeiro tempo, o Brasil martelou a defesa italiana, embora que de forma desordenada. Quando as finalizações não iam pra fora, paravam no goleiro Zoff.
Intervalo.
Fui até o banheiro jogar uma água no rosto.
Estava tonto, atordoado. Como pudera cometer um erro daqueles?
Ouvi a porta do banheiro. Era Roberta.
“Robert—” Ela me beijou.
Eu a afastei. Não estava no clima. Mas ela não desistiu.
“Você está muito tenso, Bru. Sabe do que está precisando?”, ela disse, aos sussurros.
Eu já imaginava, mas ainda assim perguntei. “Do quê?”
Ela sorriu e começou a se abaixar. “Acho que você precisa dar uma gozada.”
“Roberta, eu não—”
Ela agarrou meu short e cueca e os puxou pra baixo, fazendo meu pau saltar, já meio duro.
“Hm… Acho que ele quer…”
Ela sentou sobre o tampo da privada e abriu as pernas.
Eu me agachei e a comi ali mesmo.
Foi bom, apesar da posição incômoda. Pelo menos esquecera daquela situação toda por alguns momentos.
No segundo tempo, o rolo-compressor canarinho continuava, mais na vontade do que qualquer outra coisa. Acuada, a Itália não atacava muito, mas levava perigo quando o fazia, como aos 13 minutos: Rossi recebeu sozinho belo cruzamento de Graziani, quase na marca do pênalti, dominou, mas chutou pra fora.
Foi possível ouvir o suspiro coletivo de toda a nação.
A persistência da equipe brasileira foi premiada aos 22 minutos, quando Falcão recebeu passe de Júnior, puxou para o meio e soltou uma bomba da entrada da área. 2x2.
Agora mais tranquilo (o empate era nosso), o Brasil passou a jogar melhor. Numa jogada que poderia ter definido o jogo, Éder aproveitou bobeada do beque italiano e roubou a bola. Em vez de passar para Sócrates, livre no meio da área, insistiu na jogada individual e acabou desarmado.
Roberta segurou minha mão.
Aos 29, após cruzamento de Antognoni, Cerezo cabeceou para a linha de fundo, numa tentativa tacanha de recuo. Waldir Peres se esforçou, mas não conseguiu evitar o corner.
Na cobrança, Bruno Conti jogou na área. Sócrates e Oscar disputaram no alto com Scirea, e acabaram atrapalhando um ao outro. A bola foi pra entrada da área. Marco Tardelli chutou, meio sem jeito. O chute saiu fraco e mascado, mas encontrou Paolo Rossi (sempre ele) no meio caminho. Sobre a risca da pequena área, ele praticamente só escorou, fazendo o terceiro dele e da Itália.
Itália 3x2.
O terceiro gol italiano pareceu abater o time brasileiro. Já a Itália, tornou-se mais perigosa. Chegou a marcar um quarto gol, com Antognoni, que foi anulado por um impedimento inexistente.
Aos 43, a última grande chance do Brasil. Éder cobrou uma falta da esquerda, e Oscar cabeceou forte, à queima-roupa, quase um tiro. Houve quem gritasse gol, mas Zoff pegara.
Pouco depois, o juiz erguia os braços e enterrava o sonho brasileiro do tetra. O silêncio era ensurdecedor. Um a um, meus amigos foram levantando e indo embora, sem dizerem uma só palavra, todos eles com lágrimas nos olhos. Mesmo Luísa, que não era lá grande fã de futebol, estava com os olhos marejados. Jair, o anfitrião, subiu para o seu quarto.
No meio do caminho de casa, Luísa, vendo minha tristeza, pegou minha mão. Assim fomos até nossa casa.
“Onde vai?”, ela perguntou, ao ver que eu não tinha cruzado o portão.
“Preciso dar uma volta. Minha cabeça está cheia. Pesada.”
“Tá.”, disse, e me deu um beijo na bochecha. “Mas nada de ir pra casa da Roberta!”,
Abri um débil sorriso. Na fossa que estava, era mais fácil eu ir visitar a Antonela.
Em minha caminhada, vi centenas de pessoas tristes, chorando. Crianças e adultos, homens e mulheres. Minha vontade era a de ajoelhar e pedir perdão a cada um deles.
Eu cresci ouvindo histórias sobre a derrota pro Uruguai emSobre como Obdulio Varela, o capitão daquele time, saiu incógnito nas ruas do Rio de Janeiro após o jogo. Presenciou ao vivo e em cores a tristeza que ele e seus dez companheiros causaram. Hoje, eu era o Obdulio Varela.
Como acontecera em 50, a caça às bruxas começou quase que imediatamente. O alvo preferido foi Toninho Cerezo. Afinal, dois dos três gols italianos vieram de erros cometidos por ele.
Outro vilão bem cotado foi o próprio Telê, tachado de intransigente e inflexível. Por que não escalara Edinho no lugar de Luizinho? Por que não levara Reinaldo? Por que a insistência em Serginho? Por que não entrou mais defensivo contra a Itália, já que o empate classificaria o Brasil?
E, claro, muitos culparam Paolo Rossi. Coitado. Fez justamente o que estava ali para fazer: gols. E seguiu fazendo: mais dois na semi, contra a Polônia e um na final, contra a temida Alemanha Ocidental. Terminou com artilheiro da competição. E amaldiçoado por toda uma nação.
Mas, estavam todos errados. A culpa não era de Cerezo, ou de Telê, e muito menos de Paolo Rossi. Era minha. Eu falhara.
Parei de andar. Na casa, pela janela aberta, vi um senhorzinho escutando rádio. Vestia uma camiseta do America tão desbotada que o vermelho já virara quase rosa. Ele tinha idade suficiente para ter visto a derrota de 50. Estava triste, mas não chorava.
“Então é isso, Brasil. Infelizmente, não era o nosso dia.”, dizia o locutor no rádio. “A seleção, está fora, mas a copa continua. E o tetra… Bom, 86 está logo ali, e a Colômbia, próxima sede, é aqui pertinho.”
O senhorzinho desligou o rádio.
86.
Sorri.