Capítulo 1
O Suspeito corria apressadamente pelo beco leste da grande cidade de Chicago, atrás dele estava eu, policial Charlie, patrulheiro do distrito 015. Minhas pernas tremiam tanto que eu não sabia como ainda conseguia correr tão rápido. Meu colete estava frouxo devido a intensa movimentação corporal, minha camisa estava vermelha do sangue da vítima, dobrei a esquina seguindo o suspeito pela avenida movimentada, pessoas passavam pela faixa de pedestre, algumas saíram da frente não se importando com um policial ensanguentado correndo atrás de um homem possivelmente armado.
Chicago não era conhecida só pela sua baixa temperatura. Aqui o normal era ver assaltantes em um banco na manhã de segunda-feira.
- Central! Policial Charlie distintivo 05781 Solicitando Reforços, Suspeito em direção a leste da avenida da escola, possivelmente armado, estou atrás dele, preciso de duas unidades.
- Entendido Policial, o Reforços está a caminho, tempo estimado 3 minutos - a voz de uma mulher soou no rádio.
- Droga! É muito tempo - o suspeito agora entrava em um beco sem saída, eu sabia disso porque era ao lado de uma fábrica de ferragens, lembrava de um chamado há uns meses atrás envolvendo uma situação com refém.
O suspeito, virava a cabeça, olhando para cima, talvez procurando uma saída.
Cheguei perto dele retirando a arma do pente, e apontando em sua direção. Ele virou em direção a mim e foi nessa hora que nossos olhares se cruzaram por uns segundos.
- Não têm saída, abaixe a arma ! - gritei pra ele, minha voz saiu trêmula, mas ainda sim firme - não têm saída, abaixe a arma e vem comigo.
O suspeito parou e pareceu pensar em suas alternativas, o seu rosto estava coberto por suor, ele suava com sua respiração incontrolável, talvez não tivesse muita experiência em fugir da polícia.
- Tá bem! Eu vou baixar, só não atire. - ele disse jogando a arma na lixeira à sua esquerda.
- Okay, agora eu quero que você vire e coloque as mãos na cabeça - meus passos em sua direção era contínuo, conforme eu chegava ao seu encontro, ele virava lentamente com as mãos na cabeça. - okay agora vamos pra delegacia - a trava da algema prendeu em seu pulso, meu suspiro de alívio foi eminente.
Caminhamos pelo mesmo lugar que a meia hora atrás estava eu correndo, o jovem de capuz se chamava Paul, tinha 20 anos, metido com gangues, tráfico de drogas e roubo a mão armada. Um rapaz que tinha tudo pra ser um cidadão bom, honesto e trabalhador, mas graças a falta de estrutura para jovens em situações de risco se envolverá com o que não prestava.
- Me diz Paul, porquê correu?
Ele me olhou, seu olhar estava misteriosamente calmo e relaxado, ele pareceu estudar as minhas palavras e sorriu debochando delas.
- Você gritou meu nome e apontou uma arma na minha cara! Queria que eu fizesse o quê?
- Não sei! Talvez ficasse parado, mas graças a você não terei que ir à academia hoje e eu paguei caro pela matrícula.
Mesmo com suas mãos algemadas ele se inclinou para trás, me olhando de baixo para cima.
- Pelo visto não vai lá à um bom tempo então. - Sua gargalhada atravessou meus ouvidos, ele estava debochando da minha cara, da minha autoridade. Apertei mais o braço dele fazendo o gemer de dor, sua voz saiu em um suspiro contido. - Estou brincando! Poxa vocês policiais não levam nada a brincadeira.
- Combatemos o crime, corremos perigo todos os dias para proteger pessoas, crianças, mulheres de pessoas como você! Então me desculpe se a minha falta de gentileza fere a sua pessoa.
- Caramba!
- Cale a boca ou eu vou te mandar para o dentista Paul.
- Resolveu recolher o lixo hoje Charlie? – disse Taylor assim que adentrei no distrito 015 com Paul ao meu lado. Taylor um homem de 28 anos, era o patrulheiro que ficava atendendo a delegacia, um cara legal. Apesar de ainda insistir em me levar para jantar, umas das coisas que aprendi nesse departamento é, não namore, transe com alguém que trabalhe aqui. Tem muito peso emocional nessas paredes.
Olhei para Paul, ele pareceu ofendido, mas nada que ele não pudesse aguentar.
- Sabe como é né? Se os patrulheiros não conseguem pegar um simples traficante muquirana sobra pra mim pegar né Paul? - olhei para o Paul, ele suspirou revirando os olhos - além do mais, correr 4km em 15 minutos não é nada para mim.
- Devo dizer que estou impressionado...
- POLICIAL CHARLES? - disse uma voz atrás de mim, eu já sabia quem era antes mesmo de me virar para ficar diante da figura grande e musculosa a poucos passos de mim.
- Sargento - engasguei seco, já implorando para que ele não soubesse do que tinha acontecido a uns dias atrás.
- Temos que conversar - ele me olhou, Seu olhar foi de mim para Taylor e logo em seguida para Paul. Droga é aquele olhar que eu não consigo decifrar, e agora?
Me virei para olhar Taylor enquanto apontava para Paul que ainda estava algemado ao meu lado olhando curiosamente para meu sargento.
- Será que você pode...
- Claro, vai lá! Ele parece estar bravo. - Taylor falou por cima de mim.
Virei para meu sargento que agora estava sentado em sua mesa, me olhando com uma cara impaciente. Meus passos até sua mesa foram largos e apressados, minha mente estava em total loucura. Nada de bom poderia sair daquela conversa.
- Feche a porta, por favor! - disse desviando sua atenção para uma pasta marrom que estava em sua mesa.
- Então senhor… sargento… se está aqui pra falar sobre o que aconteceu na semana passada, a culpa não foi minha …
- O que tem na semana passada? - ele me olhou confuso.
- Éee… - demorei uns segundos para perceber que não era nada o que estava pensando - nada, senhor. Acho que me confundi.
- Pois bem, policial o senhor sabe bem como estamos a meses atrás de um traficante de drogas mexicano que se instalou na cidade de Chicago. - afirmei com a cabeça - então ficamos sabendo agora que ele vai expandir o seu negócio, quer traficar armas, explosivos e até contrabando de medicamentos como oxicodona, além do seu produto de ganho oficial a metanfetamina.
- Isso não parece muito bom senhor, e me desculpe senhor mas porque está me contando isso? – questionei afrouxando o meu colete enquanto sentava em uma cadeira de frente para ele.
- Simples, eu quero você infiltrado. Quero que acabe com esse traficante de dentro para fora.
Tive que recuperar a minha respiração, porque esse diálogo me deu um tapa nos meus dois lados do rosto, não que eu tenha medo. Longe de mim, mas era o traficante mais procurado em toda Chicago, até agora 3 corpos encontrados, dois de mulas ( adjetivo para mulheres com contrabando de drogas em seu corpo, seja ele vaginal ou ingerido. ) E um de um cara negro, membro de uma gangue local de Chicago.
- Senhor, eu fico muito lisonjeado com essa oferta, mas como eu vou fazer isso? Não tenho experiência com esse tipo de caso. Sou um patrulheiro, eu ajo nas ruas.
- Por isso que preciso de você, você conhece a cidade, conhece as pessoas, sabe como passar despercebido, olhe eu também não queria te envolver nisso, mas estou sem opção. O prefeito tá puxando o meu pescoço com uma corda de vidro, ele quer esse traficante preso o mais rápido possível ou ele vai fechar o meu departamento.
- Não sei senhor, eu quero ajudar mas…
- Eu estou pedindo, e eu não vou me esquecer desse favor que fará para mim.
Olhei para ele, sua preocupação era visível. De fato eu conhecia bem a cidade, os lugares e as pessoas, mas me infiltrar? Nunca tinha feito isso. Era coisa nova pra mim, como fazer o cara mais procurado de Chicago confiar em mim? Essa era a questão.
Mas por outro lado, isso também seria de grande ajuda, o sargento me ia ficar devendo um favor, e um favor do sargento é algo difícil de se conseguir, isso leva ao fato de ele ser um cara difícil de se curvar para qualquer outro ser, fora o prefeito é claro.
" Homens" pensei comigo mesmo.
- Tudo bem! – disse a ele. - o sargento Ramón me olhou exibindo um sorriso alegre enquanto se levantava, o que me fez levantar também - mas… se as coisas complicarem, eu quero que me garanta que não vai me deixar sozinho nessa enrascada.
- Claro Policial, tem a minha palavra.
- Pois bem! Quando eu começo?