Comprada a cerveja, enquanto estava voltando, vinha ao meu encontro uma mulata e tanto. Alta em cima de sapatos plataforma, usando calças bocas de sino e uma camisa de botões estampada e aberta até o limite baixo de seus seios. Aliás, lindos seios médios, empinados, ofensivos, sustentados por uma fina cintura e um quadril avantajado. Tinha ainda uma boca carnuda coberta por um batom de um vermelho forte, intenso, e, em seu rosto, uma maquiagem bem marcante, cercado por grandes brincos de argola. Por fim, um cabelo “Black Power” somado a sua atitude confiante a transformava numa das imagens mais impressionantes que eu já vira em toda a minha vida. Fiquei embasbacado e a encarei sem medo:
- Qual é, cara!? Vai encarar? - Ela me repreendeu em alto e bom som pela forma como a olhava: - Nunca viu uma preta, seu racista de bosta.
- Ra… Ra… Racista, eu!? - Falei quando a voz me retornou de um passeio pelo meu saco: - Não sou racista.
- E tá olhando o quê, cara?
- Você é a mulher mais linda que já vi na minha vida… - Falei involuntariamente para elogiar apenas, sem qualquer maldade mesmo.
Ela se surpreendeu e logo após abriu um imenso e belo sorriso para mim. Um puta de um negão, do tamanho de um armário ao seu lado, sorriu para ela e se adiantou na passada. Ela então pousou sua mão em meu rosto:
- Então… Obrigada! - Falou e me beijou a bochecha, continuando seu caminho sem olhar para trás.
Sei que ela não olhou para trás porque ela seguiu confiante seu caminho, ao lado do armário ambulante e sei disso porque eu me virei para admirar aquela bunda redonda e imensa. Senti nessa hora minha costela arder num beliscão forte, cortante. Quando me virei para ver quem seria meu agressor, Nana me encarava com sangue nos olhos. Cometi meu segundo erro ao confrontá-la:
- Mas eu não fiz nada. Só… Só… Elogiei uma bela mulher. - Falei.
- E você faz isso com todas? Vai ser assim a nossa vida?
- O que é isso, Nana!? Você não é hippie? Amor livre, lembra? - Insisti.
Ela engoliu a seco, mas não me confrontou. Ainda assim pedi desculpas, mas senti que alguma coisa não havia ficado bem acertado entre a gente com as minhas explicações. Preferi deixar o assunto morrer, mesmo porque não tinha qualquer intenção de ficar com a mulata. Eu já havia escolhido a minha mulher e eu estava de mãos dadas a ela, e faria de tudo para continuarmos assim.
Voltamos para nossa comunidade e Guto estava uma fera por termos deixado ele dormir agarrado com o branquelo. Veio inclusive dizer que acordou com o pau do branquelo no meio de sua bunda, se adiantando em dizer que não rolou nada porque seu cu não estava ardendo. Rimos à beça e, entre eu e Nana, parecia que as coisas haviam se acertado. Passamos a namorar, conversar, fazer amor, comer, beber, tudo isso várias vezes e não necessariamente nessa ordem. À noite, fizemos um amor gostoso outra vez, mas desta vez ela me pediu, exigiu na verdade, o direito de me cavalgar e eu, cavalheiro que sou, claro permiti. Posso estar enganado, mas foi a gozada mais intensa da minha vida. Ela sabia mesmo como tirar o melhor de mim e caprichou na sentada. Dormimos juntos e cada vez mais apaixonados um pelo outro.
No outro dia, ficamos curtindo com nossa galera hippie dentro de nosso assentamento porque já eram mais de dez barracas e uma penca de gente. Passamos o dia na praia, comendo, bebendo e transando. À noite, a galera decidiu fazer outro luau e, batata!, sobrou pro mineiro armar uma fogueira. Cumprida minha obrigação com louvor, a festa começou tranquila e embalou quente. Logo, bebida, comida e maconha rolavam solta. À certa altura, tresloucado de erva, perdi a Nana de vista. Só fui encontrá-la tempos depois ajeitando a saia perto de nossa barraca:
- Cê sumiu. Onde cê tava? - Perguntei, piradaço na batatinha.
- Só curtindo, amor. - Ela me rebateu: - Melhor cê manerar, hein!?
- Tô de boa, broto do meu coração. Tô de boa…
Voltamos a beber e eu já estava quando tombando. Depois de um tempo, Lú apareceu nos convidando para outra festinha, mas agora em sua barraca, maior e mais confortável. Topamos na hora e a acompanhamos. Lá dentro, fomos surpreendidos pelo negão que a enrabou e outro cara, um moreno magrelo e gente boa, com quem eu já tinha bebido antes. Fiquei desconfortável e Lú explicou que eles eram para ela, mas que queriam companhia naquela noite. Passamos a transar, eu com a Nana e Lú com os outros dois. Depois da minha primeira gozada, louco de bebida e maconha, apaguei e não consegui acordar mais. Ainda assim lembro de ouvido sons de gemidos e de uma foda louca. Também tive alguns sonhos estranhos, nos quais o moreno e o negão pirocudo se revezavam na Nana, junto da Lú. Num desses delírios noturnos, sonhei que a Nana fazia uma dupla penetração com o negão por baixo e o moreno a enrabando. Ela gemia e chorava ou gozava, não sei bem… Só sei que foi tão real que eu a chamei, pedindo que parasse e ela me olhou assustada, parando na mesma hora e vindo em minha direção. Se deitou e ficou me acariciando, mas o cheiro de sexo me incomodou um pouco e acabei virando a cabeça para o outro lado, apagando novamente. Tempos depois, num outro sonho, eu vi a Nana deitada de bruços, sendo enrabada pelo negão. Não havia sinal da Lú em lugar algum. Nana se debatia e o outro moreno segurava seu tronco no chão enquanto o negão a penetrava sem dó, fazendo toda aquela tora sumir dentro de sua bunda dentre os sons de uma foda pesada. Depois disso, apaguei novamente e só me lembro de ter aberto o olho e a visto deitada toda gozada e me encarando de uma forma estranha…
No dia seguinte, acordei sozinho na barraca. Saí e logo encontrei Lú, mas não havia qualquer sinal da Nana. Me aproximei e perguntei onde ela estava. Lú pareceu ter ficado surpresa com minha pergunta, mas não soube o que responder. Olhou para alguns amigos e o branquelo com cabelo rastafari, curtido na maconha, nos encarou e disse:
- Ela seguiu o fluxo, meu irmão. Só seguiu o fluxo.
Na hora ri de seu comentário, mas logo depois um calafrio me percorreu toda a espinha. Entrei correndo em minha barraca e não encontrei nenhuma de suas coisas. Rapidamente, coloquei uma calça, sandália e camiseta, e voltei até onde o branquelo estava novamente:
- Pra onde ela foi? - Perguntei.
- Sei lá, cara. Só seguiu o fluxo.
Eu o peguei pelo colarinho, dei duas ou três chacoalhadas nele e insisti:
- Eu já entendi isso, cara. Esquerda ou direita? Faz tempo?
- Foi… Foi… Pra lá. - Disse indicando nossa direita.
Nem esperei a segunda resposta e saí correndo, sob o olhar assustado dele e da Lú. Corri não sei quanto tempo, mas nada de encontrá-la. No trajeto, fui perguntando às pessoas sobre aquela linda mulher com rosto e corpo de menina que havia roubado meu coração. Somente uma senhora a reconheceu pela descrição, mas disse que já fazia um bom tempo que ela havia passado, indicando o caminho para onde ela poderia ter ido. Andei mais um tempão, mas nem sinal dela. Exausto, acabei me sentando num banquinho e fiquei olhando para uma estrada que parecia não ter fim, pensando se deveria ou não continuar:
- Ô, maluco! Que cê tá fazendo aí? - Ouvi a voz do Guto e, ao olhar em sua direção, o vi dentro do Abacate.
Entrei correndo no meu fusca e dei a indicação do caminho a seguir. Rodamos vários quilômetros e não consegui encontrá-la. Vencido, aliás, derrotado, voltamos para nosso acampamento, onde a Lú me aguardava, sentada triste na frente da minha barraca:
- Encontrou ela, Gui? - Me perguntou.
Minha cara já era uma resposta em si. Só balancei negativamente a cabeça para reafirmá-la e peguei uma cerveja para beber. Naquela hora, eu queria lavar minha alma e esperava que a latinha vomitasse tudo o que tinha dentro dela em cima de mim. A abri e nem uma gota espirrou. Olhei inconformado para a latinha e a virei sobre minha cabeça, na vã tentativa de resfriá-la um pouco:
- Gui… Desculpa! Eu devia ter te entregado isso antes. - Lú me falou, esticando um pedaço de papel dobrado.
Eu a olhei atônito ou triste, talvez irritado, porque já imaginava o conteúdo daquelas linhas. Mesmo assim a abri e comecei a ler:
“Gui, mais que uma primeira vez, acho que encontrei meu primeiro amor. Nunca fui de acreditar em contos de fada, mas meu príncipe literalmente caiu na minha frente, só que com a bunda no chão. Te adorei desde o primeiro momento. Você é mesmo um pão de homem, mas eu não conseguiria viver se você me rejeitasse por tudo o que aconteceu. Espero de coração que fique bem e encontre alguém que te respeite e ame como eu te amo. Um beijo no coração. Da sempre sua, Nana.”
Comecei a chorar como um bebê e naquela hora ela me abraçou. Passou a me pedir mil desculpas por ter nos convidado, mas disse que achou que nós iríamos curtir uma surubinha. Eu a encarei atônito e só então entendi que meus sonhos não foram sonhos e agora mais se assemelhavam a pesadelos:
- Era pra todo mundo ter participado, Gui. Até a Dinalva apareceu depois para brincar com você, mas você apagou e não voltou mais. A Nana tentou porque tentou te acordar, mas nada. Nós já íamos terminar a brincadeira quando ela mesma disse que queria aproveitar um pouco, já que vocês iriam se casar. A gente até estava pensando em fazer o casamento de vocês aqui na praia, não tava, galera?
Apesar do climão instalado, todos confirmaram. Ela continuou:
- Só que aí, depois de uns cigarrinhos mais fortes, a coisa degringolou e virou uma putaria pesada. Nana até tava dando conta do recado, mas depois surtou. Disse que não podia ter feito aquilo sem você ter participado, que se sentia suja, uma traidora, e saiu. Quando consegui sair do pau do Carlão e vir aqui para conversar, ela já tinha sumido.
Olhei então para o negão que estava quieto, amoado num canto e perguntei:
- Então, você enrabou mesmo ela ontem? Contra a vontade dela?
- O que é isso, cara!? Ela quis experimentar. Só que aí depois pediu para a segurarmos, senão não conseguiria terminar. Foi tudo de boa. Depois, no final, ela curtiu adoidado e gozou bastante. Posso te garantir.
Verdade ou mentira, aquilo tudo me dilacerou. Saí andando sem rumo, procurando alguma coisa que eu próprio não sabia o que era. Andei pra caramba, sem direção. Só me lembro de ter sido alcançado pelo Guto quando já estava no início da subida da serra. Ele praticamente me jogou no Abacate e voltamos para casa.
Oito anos se passaram desde então. Depois de um período em que quase fui internado em uma clínica psiquiátrica em decorrência de uma depressão, que na década de 60, era tratada como uma das várias vertentes da loucura, acabei conseguindo me recuperar. Bem… Não me recuperei exatamente. Um sentimento de abandono somado ao de traição tomou conta de mim e nunca consegui me relacionar novamente com outra mulher, nem com ninguém.
Abandonei o curso de direito em que havia ingressado. Graças a persistência do meu pai e avô, que me colocou sob sua asa, me afeiçoei as coisas do campo e me tornei administrador de sua fazenda. Depois de um tempo passei a ser conhecido como “Coronelzinho do Monte”, pois além de bom administrador, era duro no trato com os empregados e agregados.
Cansei de ser convidado para bailes e eventos sociais. Eu recusava quase todos, pois sabia que as mocinhas da cidade iriam se atirar aos meus pés. Meu pai e avô me obrigaram a ir em alguns, mesmo que a contragosto, e nestes eu escolhia a dedo algumas para ficar e deflorar, usar e depois abandonar a sua própria sorte.
Certa vez, meu avô me convidou, aliás, intimou a acompanhá-lo numa feira agropecuária, pois desejava comprar alguns implementos e maquinários para a fazenda e, nada mais justo e correto, que seu administrador participasse. Aqui, por um desses inexplicáveis acasos do destino, conheci uma das mais belas mulheres que já vi na minha vida. Uma mulata alta, faceira e inteligentíssima, que ajudava seu pai no estande de exposição de uma colheitadeira futurista para café. O interesse foi mútuo e a convidei para um jantar, depois da feira, que foi aceito. Soraia era seu nome e dizia ter a impressão de me conhecer de algum lugar, mas não sabia de onde:
- Da praia… - Balbuciei, ainda em dúvida.
Depois relembrei o encontro com uma mulata que tive anos antes na praia e ela começou a rir, dizendo se lembrar daquilo:
- Quase te dei uma surra naquele dia. - Me disse, entre risadas.
- Por quê?
- Eu fazia parte de um grupo de luta contra o racismo e quando te vi me encarando pensei na hora “mais um”. - Falava e ria: - Mas aí você me elogiou com um brilho no olhar quando eu te enfrentei que me fez ficar mole. Meu irmão, que estava ao meu lado, curtiu pacas a forma como você me falou. Até me criticou por eu não ter te dado uns “amassos”.
- Uai! Devia ter dado mesmo. - Respondi e me toquei da impropriedade da frase, mas, já fodido mesmo, emendei na sequência: - Será que é muito tarde?
Ela me sorriu enigmática, não concordando, nem negando. Coincidência ou não, acabamos ficando grudados nos demais dias da feira. Meu avô comprou alguns maquinários e implementos, mas nada do pai da Soraia. Independentemente disso, ficamos realmente muito próximo. Almoçávamos juntos, jantávamos juntos, mas nada além de um beijo na última noite rolou entre a gente. Trocamos telefones e passamos a nos contatar com frequência depois da feira.
Eu estava louco por aquela mulher e se havia alguma chance de eu reconstruir uma família, decidi que seria com ela. Num certo dia, de surpresa, fui até sua cidade montado no meu Opala 75 marrom com capota de couro bege, bem como seu interior e bancos de couro. O carro era lindo! Pensei em lhe dar o nome de “Mousse”, mas já me sentia adulto demais para essas brincadeiras, mesmo que para mim mesmo. Estacionei em frente à casa da Soraia e desci, no mesmo instante em que ela saía pela porta da entrada. Coincidência ou não, quando nossos olhares se cruzaram, parecíamos dois imãs sendo atraídos um para o outro. Ela se jogou em meus braços e nossos lábios se tocaram. Nessa noite, tivemos nossa primeira noite de amor e eu a pedi em casamento:
- Cê tá louco, Gui? Cê mal me conhece. - Ela relutou.
- Conheço o suficiente para saber que quero você ao meu lado para o resto de nossas vidas.
Ele aceitou e, já no outro dia, pedi sua mão em casamento aos seus pais. O velho Gonzaga me olhou torto e não gostou nadinha de saber que sua linda filha estava disposta a se casar com um branco. Depois ela me contou que ele foi membro dos Panteras Negras e que a última coisa que ele imaginaria seria sua filha casando com um branco. Ela, usando o mesmo argumento que ele lhe ensinara de ser errado um branco ser racista com um, jogou na cara dele que ele estava sendo racista comigo. Por fim, ele nos deu sua benção e nos casamos em questão de meses.
Viajamos para o sul em lua de mel e foi a primeira vez que pude provar com vontade aquelas carnes. Me esbaldei em sua boceta, dando o melhor de mim num oral. Fiquei encantado com sua mata nativa, de pelinhos mais encaracolados que outras que eu já vira. Depois de uma noite de sexo, em que ela quase me quebrou ao meio em uma surra violenta na cama. Ficamos deitados nos curtindo e eu alisando sua moitinha selvagem:
- Eu posso tirar, se você quiser.
- Tirar o quê?
- Meus pelos, Gui. Você não tira a mão daí.
- Eu adorei. São lindos. - A beijei para acalmá-la: - Mas se quiser tirar um dia, só pra variar, também não vou ficar ofendido.
- Topo! - Me beijou também e disse na sequência, rindo: - Mas os dois. Vou adorar te chupar sem pelo no saco. Assim eu não engasgo.
Ri de sua proposta, mas depois de um tempo notei que falava sério. Ainda que constrangido, topei a ideia. No dia seguinte, ela marcou um horário com uma profissional e lá fomos nós. Ela foi primeiro e tirou de letra. Ficou lisa, linda e cheirosa, pois a profissional lhe aplicou alguns cremes na região. Tive a impressão que massageou mais que o necessário, mas eu não quis criar nenhuma situação constrangedora. Na minha vez, ela começou podando meus pelos com uma tesoura para diminuir a altura e depois aplicou uma cera quente. Até aí tudo bem, mas quando ela colocou um pano em cima e puxou, eu vi estrelas no teto do quarto:
- Ai! Pô, mulher! Vai “rancar” meu pau assim! - Gritei, colocando a mão sobre minha púbis.
- Mas moço, é assim que faz. - Tentava se justificar.
Soraia se deitou sobre mim, segurando meus braços acima da cabeça e cochichou no meu ouvido:
- Imagina quantas vezes vou te chupar gostoso depois e relaxa.
- Relaxar!? - Falei e já senti o contato da cera quente novamente em mim: - Essa mulher vai me matar, Sora…
Nem terminei a frase e senti aquele puxão novamente, e novamente, e novamente. Por fim, a depiladora me perguntou que eu queria depilar o cu também e eu neguei veementemente. Saí mancando e andando com as pernas meio abertas de seu estabelecimento:
- Para de drama, Gui. - Soraia me falava, às gargalhadas.
- Pô, Soraia. Se eu tiver que passar por isso toda vez que você quiser depilar, pode deixar a mata crescer à vontade. Vou desbravá-la no dente, se for preciso.
Soraia se esbaldou em mim, pois nunca ganhei um boquete como o que ela me deu naquela noite, beijado, lambido, bem babado. Eu também pude chupar sua “manguinha” sem um fiapo sequer e vou te dizer, com pelos o aroma se acentua, mas lisa, o sabor é magnífico. Além disso, depilou também seu cu e pude lambê-lo com vontade fazendo-a gritar de tesão:
- Ai… Caralho, Gui! Já que você quer, mete a língua no meu buraco, seu safado.
Claro que obedeci! Meti minha língua, meu dedo, aliás, dois, e depois meu pau, gozando horrores naquele buraco apertado. Não senti falta de sua boceta nessa noite, nem ela me cobrou, pois pareceu ter gostado bastante de fazer sexo anal comigo.
Voltamos da lua de mel ainda mais apaixonados. Decidimos ficar alguns dias na casa de seus pais, para organizar sua mudança em definitivo para nossa casa, uma charmosa construção com quatro quartos, sala de estar, de jantar, cozinha, vários banheiros, que meu avô havia construído em sua fazenda para minha moradia alguns anos antes. Antes de viajarmos, numa tarde, encontramos um casal de amigos dela, Fátima e João Vinícius, que inclusive foram seus padrinhos de casamento e que fizeram questão de nos convidar para um jantar de despedida, frisando que usariam bastante pimenta no cardápio. Soraia riu e disse que avisaria se não fosse muito indigesto para mim. Eu não entendi e em casa, enquanto nos arrumávamos, ela me explicou:
- Eles são meus amigos mais íntimos. - Começou dizendo, enquanto me encarava: - Mas tão íntimos que chegamos a dormir juntos algumas vezes.
- Juntos!? Você na casa deles…
- É! - Estranhei sua entonação e forma de me encarar.
- Quarto de hóspedes?
- Então… Não. - Ela respirou fundo, segurando minha face em direção a sua e soltou: - Nós já transamos juntos.
Eu a encarei surpreso com a revelação e não consegui me afastar porque ele me segurou forte, mantendo sempre contato comigo:
- Não… Gui! Fala comigo. - Pediu, me segurando para não sair de perto dela: - Não quero ter segredos com você. Fala comigo, grita, me xinga, mas não vou deixar você sair daqui.
- Eu não tenho o que falar, Soraia, a gente não estava junto nessa época. - Disse enquanto a encarava: - Ou estava?
- Não, Gui. Não estava…
- Então, fica tranquila. Não estou entendendo teu grilo…
- É que eles deram a entender com a história da pimenta que, se você topar, gostariam de fazer uma brincadeirinha mais íntima.
Apesar de surpreso, eu não poderia culpá-la, muito menos julgá-la. Eu mesmo já havia participado de um ménage anos antes, mas ainda assim estava surpreso e não me senti à vontade. Preferi ser sincero:
- Olha só… Talvez até role, mas não hoje. Foi muito súbito e eu estou meio sem jeito. O jantar eu topo, mas só!
- Tá bom. Vou falar com eles. Só quero que fique tranquilo. Não estou te cobrando nada, mas eu preciso ser sincera contigo. - Soraia respondeu e veio me beijar.
Depois daquilo, continuamos organizando sua mudança e, no final da tarde, fomos nos arrumar para o jantar. Soraia caprichou no visual, colocando uma calça justa que realçou ainda mais suas belas e voluptuosas formas. Uma blusa com um decote em “V” com leve babado na manga, a deixou ainda mais desejável. Uma maquiagem marcante e o inseparável “Black Power”, aliados a joias e um sapato de salto alto finalizaram aquele deslumbre de mulher. Me vesti à altura dela e saímos em seguida.
Chegando na casa de nossos “padrinhos”, Fátima veio nos receber de braços abertos, beijando primeiramente minha bochecha e depois a de Soraia. Loira, ela usava um vestido longo, com um corte lateral que deixava sua perna direita bem à mostra. Também estava bem maquiada e usava algumas joias que a deixavam ainda mais insinuante. Aliás, essa era uma palavra bem justa para aquele momento, porque ambas pareciam querer se insinuar naquela noite, uma mais que a outra. O João Vinícius surgiu em seguida e, depois de beijar a face e abraçar forte a Soraia, me cumprimentou, arrastando-me para um barzinho de sua casa, onde começamos a beber. Elas se foram para a cozinha, mas logo nos chamaram para bebermos todos juntos numa mesa redonda. Um clima estranho se instalou nesse momento, pois era claro que o casal me encarava meio desconcertado com a situação, alternando entre mim e Soraia. Às vezes, até senti Soraia me encarando, inclusive, foi dela a iniciativa de melhorar o clima:
- Gente, o Gui não é nenhum bicho do mato. Já contei para ele o que rolou entre a gente e ele aceitou numa boa.
Agora sim eles me encararam, surpresos e a aparentemente ainda temerosos com alguma reação contrária da minha parte:
- Não é que eu aceitei numa boa. Eu só não tenho como te cobrar nada de um período em que ainda não estávamos juntos.
- Ah, “qualé”, Gui!? Vai me dizer que você nunca fez uma safadeza diferente no seu passado? - Soraia me cobrou.
- Já! - Respondi rápido ao me lembrar da Nana: - Mas prefiro não comentar.
- Agora eu fiquei curiosa! - Soraia falou, me encarando, curiosa.
- Né!? Até eu fiquei. - Fátima reforçou.
- Então, somos três. - João completou.
- Sério, gente. Não quero falar.
- Ah, “qualé”, Gui!? Alguém comeu teu cu? Porque o João já deu… - Soraia falou.
- Ô! Dei nada! Sai dessa, Soraia. - João retrucou imediatamente, caindo numa gostosa risada: - Foi só um consolo e eu não curti.
Agora eu o encarava surpreso e curioso, enquanto as duas gargalhavam na mesa de nossas reações. Preferi abrir o jogo de forma genérica e sem detalhes:
- Participei de uns ménages no meu passado, com duas mulheres. Só isso.
- Olha! Safadinho meu marido. - Soraia me encarou e falou sorrindo: - E por que nunca me contou?
- Não sei. Talvez pelo mesmo motivo pelo qual você nunca me contou das suas surubinhas.
Apesar de não ter sido a minha intenção, a forma como eu respondi parece tê-la deixado constrangida. Aliás, ela e os demais. Me desculpei, mas o estrago estava feito. Voltamos a conversar, mas o assunto esfriou e o clima não melhorou muito. Depois de jantarmos, acabamos não ficando muito mais na casa deles e voltamos para a dos pais da Soraia. Em nosso quarto, eu tentei remediar oferecendo meu corpinho para Soraia aproveitar, mas ela, educadamente, me recusou. Dormimos juntos, mas separados por um travesseiro naquela noite. No dia seguinte, quando acordei, Soraia já havia acordado e estava sentada, encostada na cabeceira da cama, me encarando e falou, sem papas na língua:
- Precisava ter falado comigo daquele jeito?
Esfreguei meus olhos e me sentei para confrontá-la, mas ela me metralhou novamente antes que eu pudesse dizer qualquer coisa:
- Criou um climão com meus amigos. Do jeito que falou, parece que tínhamos feito alguma coisa errada. Como vou encará-los agora?
- Eu não quis criticar ninguém, amor. Só quis deixar claro que eu não te falei pelos mesmos motivos que você não me falou, medo ou talvez insegurança. Sei lá… Só isso. Vocês é que entenderam errado.
- Você está com nojo de mim pelo que eu fiz? - Ela queria brigar.
- Claro que não! E espero que não pense o mesmo de mim. - Ela estava com os braços cruzados e me olhava feio: - Seu passado é seu. Eu só quero que você seja feliz. Apesar de que, se você quisesse fazer isso agora, eu não sei como reagiria, afinal, estamos casados.
- Taí! E se eu quisesse fazer agora que estamos casados, com você junto?
- Duas mulheres?
- Duas mulheres, ou dois homens, ou outro casal, sei lá! Tanto faz…
- Poxa! Não sei. Eu pensei que depois de casados, seríamos só eu e você.
- E o sexo, a vontade de trepar acabam depois do casamento?
- Eu, pelo menos, espero que nunca acabe.
- Então!? Qual a diferença de ser antes ou depois se for com o parceiro que escolhemos para nossa vida?
Eu a encarei, tentando encontrar alguma resposta. Na sua face, eu via uma estranha vontade de transgredir, de me enfrentar ou de talvez só experimentar e me levar a experimentar também com ela. Só sei que naquele momento, praticamente recém casados, eu não me sentia pronto e decidi ser sincero:
- Olha, Soraia, talvez com o tempo a gente até possa experimentar alguma coisa diferente, mas, hoje, praticamente recém casados, eu queria que fôssemos só eu e você. Eu te amo demais para te dividir com alguém.
Acho que ela ficou surpresa com minha argumentação e se calou, encostando-se ainda mais na cabeceira da cama, mas sem tirar os olhos de mim. Entretanto, seu olhar de fúria foi substituído por outro que indicava compreender minha insegurança e, por fim, ela acabou cedendo:
- Desculpa. Eu acho que fiquei chateada com a forma que você falou, mas entendo seu ponto de vista.
- Fica tranquila. Depois eu ligo para eles e peço desculpas por ontem.
Ela se aproximou de mim e me beijou, falando em seguida:
- Me desculpa também. Acho que eu preciso aprender a pensar em nós e não somente em mim também. Por mais que eu goste, ou queira, também preciso levar em consideração você.
- Relaxa. Tô de boa.
Enfim reconciliados, nos vestimos e fomos tomar um café da manhã. Cumprindo minha promessa, liguei para eles e me desculpei pela má impressão da noite anterior. João e Fátima aceitaram as desculpas de boa, mas impuseram como condição para o perdão que passássemos o dia com eles na piscina, num churrasco de confraternização com dois outros casais de amigos. Me senti mais seguro sabendo que haveria mais pessoas e, depois de perguntar para Soraia que adorou a ideia, concordei. Não mais que trinta minutos depois, estávamos chegando na casa deles novamente.
A recepção foi muito mais tranquila e leve que na noite anterior. Talvez saber de nossos passados e ter pedido desculpas pelo ocorrido, fez com que todos nós ficássemos muito mais tranquilos com nossa própria presença. Eles nos conduziram até a piscina de sua casa e lá fomos apresentados aos dois outros casais de amigos: Beth e Jairo, e Maria e Tenório.
Beth e Jairo era um casal na nossa faixa de idade. Ela era uma mulata relativamente mais baixa que a Soraia, magra, mas com pernas fortes e bem definidas, que depois vim a saber ser prima de segundo grau da Soraia. Jairo era um bicho grilo que aparentava ter um pouco menos de altura que eu, já com uma barriguinha de bebida, mas nada que desabonasse tanto a sua aparência.
Maria e Tenório já eram um casal bem mais maduro que a gente. Aliás, ela morena, aparentava ter pouco mais que a minha idade, com um corpo normal, nem magro, nem gordo, mais para baixa que para alta, mas com uma bunda e peitos bem grandes. Já ele devia ter passado de seus sessenta anos, baixo e praticamente careca, ostentava uma barriga bem proeminente, coberta por uma farta camada de pelos grisalhos.
Nos enturmamos rápido com todos. A bebida sempre ajuda nesses momentos. O churrasco corria solto e a bebida era a atriz principal daquele momento. Bebíamos sem controle e limites. A certa altura, as mulheres decidiram diminuir o consumo de carnes e bebidas para tomar um pouco de sol na piscina e se foram para dentro da casa com a Fátima se trocar. Ficamos os quatro ainda comendo e falando mal dos comunistas e dos militares. Conforme as posições políticas se acirraram nos debates, o consumo de bebida alcoólica aumentava exponencialmente. O Tenório, típico coronel, defendia os militares ferrenhamente. Jairo era quase um comunista:
- Gordo reacionário e careca! - Chegou a gritar Jairo.
- Vou é reagir colocando o careca bem dentro da boceta da tua mulher, seu comuna sem vergonha! - Rebateu Tenório.
A certa altura, eu e o João tivemos que intervir para evitar que a discussão se transformasse numa briga mesmo. Num momento de distração, Jairo voltou a provocar, mas a reação do Tenório acabou me surpreendendo:
- Sorte sua que tua esposa trepa como uma vadia, senão eu te arrebentava.
- Digo o mesmo da puta da tua mulher. Se ela não fosse uma engolidora de espada de primeira, eu te entregava pros militares. - Tenório riu.
Pouco depois, os dois voltaram a se entender, relembrando farras do passado com as mulheres um do outro. Eu só olhei para o João que deu de ombros para mim e terminou falando:
- Bebida é uma merda, cara.
Vi que Maria saía quase correndo pela porta da cozinha e só parou quando viu que estávamos os quatro conversando numa boa, dando risada do que quase aconteceu. Eu ria mais para acompanhar porque, sinceramente, saber que aqueles outros dois casais também mantinham relações bem íntimas, me deixou me deixou bastante desconcertado. João deve ter notado meu constrangimento e me convidou para ir com ele até um bar próximo buscar mais bebida, com o que acabei concordando. No caminho, ele se desculpou:
- Queria te pedir desculpas, Guilherme. Aqueles dois são assim mesmo: vivem brigando e se amando. É coisa de louco!
- E pelo que entendi, eles também…
- Sim! - Ele me interrompeu: - Eles curtem uma troca de casal. Nós já até trocamos com o Jairo e a Beth também, e até já ficamos com a Maria, mas ainda nunca rolou nada com o Tenório. Ele é meio abusado, às vezes…
- João, já que a gente está falando sobre isso, você não fica com ciúmes da Fátima quando ela transa com outro?
- Muito! - Ele falou, estacionando o carro numa pracinha perto do bar para me dar mais atenção: - Mas o tesão sempre compensa tudo. Além disso, ela sempre volta com umas histórias muito loucas para me contar na cama e aí eu me acabo comendo ela toda. Parece que ela fica até mais tarada.
- Mas é que… Sei lá, cara. Não sei se eu conseguiria.
- É o seguinte: tudo o que você quiser tem que estar de acordo e bem combinado com a Soraia. Se um não quer, dois não fazem, entendeu? É prazer, cara, não amor. O amor dela é seu e o seu é dela, mas o corpo de vocês podem emprestar para quem quiserem, desde que o outro permita. - João me falava quase didaticamente: - Só te aconselho a não assistir sua mulher dando para outro logo de cara. Se você acha que vai surtar, curta você num quarto, ela em outro e depois compartilhem a experiência. Daí, num outro dia, assista e dê o seu show para ela também, vale muito a pena.
- Sei lá. Vou conversar com ela. Quem sabe um dia, role.
- Isso aí, cara. - Disse, dando novamente a partida em seu carro: - Só tem que combinar antes para ninguém se sentir traído ou usado. O combinado não é caro!
Chegamos a um bar e compramos algumas garrafas de bebida de vários tipos para os mais variados gostos que foram acondicionadas em uma caixa e voltamos para sua casa, antes passando em uma padaria para pegar alguns pãezinhos. As mulheres já haviam descido e cada uma ostentava um biquíni mais revelador que o outro, inclusive, minha própria esposa usava um que eu nunca havia visto antes. Ao me ver chegando com a caixinha de bebidas e devido a forma como eu a encarei dos pés à cabeça, acredito que ela tenha se incomodado e veio correndo em minha direção, praticamente nua naqueles paninhos mínimos:
- Gui, deixa eu te explicar. É que eu…
A interrompi com um beijo que foi bem recebido e correspondido à altura. Quando nossos lábios se separaram, a peguei pela mão e a girei sobre o próprio pé, para que eu pudesse vê-la por inteiro. Então, comentei:
- Está linda! Só não precisava ter escondido de mim. Eu não sou tão quadrado assim.
- É isso que eu queria explicar. A alça do meu biquíni arrebentou quando o estava colocando e a Fátima me emprestou um dela. Se quiser, busco o meu para você ver que não estou mentindo.
- Fica tranquila. O mais conservador aqui sou eu. Os outros nem vão se incomodar, tenho certeza.
- Me leva em casa e eu visto outro, Gui. Só não quero que você fique chateado.
- Eu sei. Fica tranquila. - Disse, a beijei e depois ainda brinquei: - Agora vai queimar esse bundão gostoso porque, se cru já é uma delícia, assado deve ficar maravilhoso.
- Porra! Que raba, hein!? - Tenório falou passando por trás dela e eu o encarei irado.
João ouviu e ao ver minha cara, veio correndo para repreender o Tenório, gritando para nos respeitar que nós éramos afilhados dele, mas não do meio e que, se continuasse, seria colocado para fora aos pontapés. Maria e Fátima também ouviram e se aproximaram, mas somente a Maria o metralhou. Fátima se ocupou de nos acalmar e pedir desculpas pelo “amigo”, o que também foi reforçado por Maria que despachou seu marido para a piscina, indo atrás na sequência. Quando ele e Maria se afastaram não pude evitar de brincar com Soraia e nossos padrinhos:
- Mentindo ele não estava. - Disse e dei um belo tapa na bunda da Soraia.
- Ai, Gui! - Gritou Soraia, sem a menor intenção de me repreender de verdade.
Começamos a rir e fiquei preparando algumas caipirinhas para as mulheres. Tive que praticamente despachar a Soraia para a piscina que não queria se desgrudar de mim. O Tenório estava deitado na borda da piscina igual uma morsa e Jairo roncava numa rede num canto do rancho. Quando me aproximei das mulheres com copos de caipirinha, me surpreendi com a Beth deitada sobre uma toalha totalmente pelada. Agi como se aquilo fosse normal, mas foi difícil desviar o olhar daquela bela mulata e Soraia notou, dando-me um sorrisinho malicioso em certo momento. Decidi voltar para o rancho para ajudar o João em alguma coisa no churrasco e comecei a beber para disfarçar meu nervosismo. Ele, malandro na área, notou:
- Calma, Gui! É só uma bunda, cara.
Eu só o encarei e fiz um meneio com a cabeça, dando a entender que estava tudo bem. O Jairo acordou e bebeu um copo de caipirinha como se fosse água, indo em direção à piscina. Ao ver sua mulher nua, tirou sua bermuda e cueca, também ficando nu e se jogou sobre a esposa que começou a resmungar e conseguiu rolar para o lado, jogando-o na piscina. Tenório que estava ou fingia estar dormindo, ao ver a movimentação se sentou e vendo Beth e o Jairo pelados, fez o mesmo, exibindo orgulhoso um pau bem grande, mas mais que isso, muito grosso, escondido numa farta pelagem já grisalha também. Maria o repreendeu, mas ele foi curto e grosso:
- Qual é, Maria!? - Disse e apontou pro Jairo: - A “Iracema” aí pode ficar pelado e eu não?
- Tem visita que não é do “meio”, Tenório. - Maria falou, indicando nossa presença.
- Só o Gui ainda não liberou, mulher! Até a Soraia já andou dando que eu sei.
- Sabe como, Tenório? - Soraia o interpelou.
- A Iracema comunista aí que deu com a língua nos dentes. - Respondeu, apontando para o Jairo.
Todos encararam o Jairo e ele respondeu:
- Se eu falei, estava bêbado, porque não me lembro.
Depois todos se voltaram para mim e agora eu estava claramente chateado com aquela revelação. Afinal, todos ou já tinham visto, ou comido, ou já sabiam da vida paralela da minha esposa, menos eu. Soraia me encarava sem saber o que fazer, nem eu sabia bem o que ela poderia fazer, e me ocorreu afogar minha mágoa na cachaça. Foi isso que fiz. Ainda havia quatro copos de caipirinha que eu havia preparado que eu virei na hora, um atrás do outro. João me encarou surpreso e Soraia veio correndo me dizer algo que nem ela própria sabia começar. Ao meu lado, ela só me encarava, com medo até mesmo de me tocar e foi minha a deixa para acabar com aquele silêncio:
- O tonto aqui, o lerdo, o típico corno último a saber, vai dormir um pouco. - Falei e me dirigi até a rede em que o Jairo estava antes.
Não devia ter me deitado. Quando fiz isso, a bebida subiu ao galope e fiquei literalmente perdido. Ainda vi Soraia do meu lado, perguntando se eu estava bem e acho que, mesmo grogue, devo ter respondido algo para ela. Depois disso, não me lembro de mais nada. Aliás, até me lembro de alguns flashes, dela ao meu lado, do Tenório pelado quase esfregando aquela jeba na minha cara, de uma bunda morena pelada perto de mim, acho que da Beth e do João enfiando sal na minha boca. Depois disso, apenas uns sonhos muito loucos, com todo mundo pelado, correndo em volta da piscina, do Tenório transando com a Maria de quatro na sombra do rancho, ele irado porque ninguém mais quis dar para ele. As imagens se misturavam e cheguei a ver outras pessoas transando perto e dentro da piscina, mas não vi a Soraia em canto algum e isso até me acalmou. Quando já era umas cinco horas da tarde, consegui acordar, grogue pra caramba, e vi que todos estavam pelados e isso me deu um frio na espinha, ainda mais quando vi Soraia se aproximando de mim, vestida só com a calcinha do conjunto:
- Cê tá melhor, Gui? - Me perguntou, preocupada.
- Tô com uma puta dor de cabeça. - Respondi e depois de firmar bem a visão, indaguei: - Tá todo mundo pelado ou eu ainda estou louco da pinga?
- O sol estava quente e eles tiraram pra curtir…
- Curtir!?
- É curtir o sol, Gui. - Respondeu, mas desviando o olhar e isso me deixou encucado.
Logo a Fátima, nua e sem vergonha alguma, veio saber como eu estava. Confirmado que eu estava bem, apesar da dor de cabeça, voltou para junto de seu marido e dos demais, mas sempre me olhando pelo canto de olho, como também os demais faziam. Pouco depois, o Jairo foi para perto de umas roupas e de lá em minha direção:
- Tenho remédio pra dor aqui, cara. - Me entregou uma espécie de comprimido: - Toma um que daqui a pouco cê vai tá legal.
Como minha cabeça estava uma bagunça e dando até choque de tanta dor, tomei mesmo, o comprimido e um copo de suco que estava na mão da Soraia:
- Gui, tem um pouco de whisky aí. - Ela me falou, mas já era tarde.
- Morrer eu não vou. - Respondi, me sentando na rede em direção a ela e aos demais, mesmo que distantes: - Por que você está sem a parte de cima do biquíni?
- É que todo mundo ficou pelado e eu fiquei sem jeito de negar. - Disse sem ser convincente e sem sequer me encarar.
- Eles andaram transando, né? Pelo menos, eu acho que vi alguma coisa assim… - Falei na lata e ela me ignorou, fazendo-me questioná-la: - Mas você não deu pra ninguém, né?
- Come alguma coisa, Gui. Assim você se recupera mais rápido. - Disse Fátima, agora se aproximando com um prato de comida para tentar desviar o assunto ao ver que o clima entre eu e a Soraia estava azedando.
- Soraia. Responde! - Insisti e ela, além de não me encarar, agora começou a choramingar, respondendo o óbvio: - Não precisa dizer mais nada.
Me levantei, cambaleando e fui até onde estava uma bolsa e roupas nossas. Peguei minha carteira, as chaves do carro e me dirigi para a saída da casa do João que veio correndo em minha direção:
- Por favor, Gui, não sai desse jeito. - Falou.
- Desse jeito, como? Com um par de chifres na testa? Ou foram mais? - Respondi, olhando para a Soraia que já chorava alto no rancho, olhando em minha direção, e me voltei para o João: - Sabe o que é pior? Eu já estava pensando em experimentar essa loucura toda.
- Mas então, cara, o que mudou? - João insistiu.
- Mudou que ela não combinou nada comigo, não me pediu autorização, nem respeitou meu tempo. - Praticamente gritei sempre a encarando: - Puta trairagem!
Irado, dei as costas para todos e me dirigi até o portão que separava o quintal da garagem que dava acesso à rua. Tentei chutar o portão, mas me desequilibrei e meti a cara no muro de cimento em chapisco grosso. Quando coloquei a mão no rosto, o sangue já jorrava. Soraia veio correndo em meu socorro, mas não deixei que me tocasse:
- Gui, pelo amor de Deus. Deixa eu cuidar de você. - Me pediu.
- Tira a mão de mim, Soraia! - Gritei, com sangue nos olhos.
Sangrando e me arrastando pelo muro, consegui chegar até meu carro e o João tomou as chaves de minhas mãos. Meu equilíbrio, que já não estava muito bom, foi ficando cada vez pior e minha visão embaçou. Só me lembro de ter alcançado meu Opala, mas não consegui me apoiar nele e caí no chão. Ainda me lembro de alguém ter perguntado ou comentado alguma coisa sobre uma tal “balinha”. Depois disso, apaguei.