PESSOAL,
SÓ QUERO ME DESCULPAR PELA DEMORA NO DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA. OS ÚLTIMOS MESES DO ANO SEMPRE SÃO OS PIORES PARA MIM. A DEMANDA DE TRABALHO ESTÁ MUITO ALTA. MAS, ESPERO TERMINAR ESSA HISTÓRIA SEM MAIS ATRASOS. UM ABRAÇO!
***
Você já se sentiu no meio de uma encruzilhada? Os passos de Enzo Gabriel o levaram para dois caminhos: o amor ou a carreira. Ele passou anos construindo a empresa que mudou a sua vida, porém, a chegada de um venezuelano o transformou de uma outra maneira.
Prático como sempre, o empresário repassou todas as opções e decidiu fazer algo que não queria, mas era necessário. Sem perder tempo, o irmão de Erick recorreu a única pessoa que poderia ajudá-lo naquela situação.
— Preciso da sua ajuda. — ele disse ao entrar na sala de Ian de supetão.
— Olha só. — Ian cruzou os braços. — Pode falar, chefinho. — a ironia escapou de Ian, mas ele se controlou e esperou a resposta de Enzo.
— Eu preciso que você de um jeito na sua merda. Ian, eu amo essa empresa. A TechLand sempre foi um sonho para mim, mas agora existe uma pessoa que precisa mais da minha ajuda. — Enzo quase não respirou e o pedido surpreendeu Ian.
— Desculpa, Enzo. — Ian se desarmou, pois se sentiu mal da maneira como agiu nos últimos meses. Ele se tornou a imagem do seu pai e aquilo era como um tiro em seu coração. — Eu errei. Deixei me levar por um sentimento egocêntrico. Eu sinto muito. E vou te ajudar. — respirando fundo. — Sem planos malignos ou traição. Eu prometo.
— Ok. Mas você não vai fazer isso sozinho, Ian. O André vai ficar na sua cola. — avisou Enzo, andando na direção da porta.
— Eu não preciso de uma babá, chefinho. — disse Ian, dessa vez, deixando a ironia bem clara em seu tom de voz.
— Qual é, Ian. Vocês dois se curtem. Quanto mais cedo você assumir seus sentimentos, melhor vai ser. Agora eu tenho um venezuelano para encontrar. Tchau. — saindo da sala e deixando Ian pensativo.
Geralmente, Enzo é tranquilo no trânsito, porém, para alcançar o namorado, o jovem empresário se transformou em um dos motoristas de 'Velozes e Furiosos'. Cortou vários automóveis, ultrapassou dois sinais vermelhos e não parou para uma idosa que queria atravessar a faixa de pedestre.
— Desculpa! — gritou Enzo, que recebeu uma ligação de Erick e colocou a chamada no sistema de som do carro.
— O que foi? Eu estou ocupado. — disse Erick, que parecia ofegante do outro lado da linha.
— Eu vou pra Venezuela.
— Você vai para onde?
— Venezuela. O Noslen descobriu quem é a família dele. Eu não posso deixá-lo sozinho.
— Calma, Enzo. Calma. — Erick pediu, pensando em um plano, enquanto Enzo chegava em casa. — Eu vou com você. Ainda tenho uns dias de folga da corporação.
— Vai pra onde? — questionou Celina.
— Venezuela. O meu 'irmanito' vai salvar o 'amorzito' dele.
— Eu vou também. — soltou Celina. — A minha primeira viagem internacional. — batendo palmas.
— Gente, não precisa...
— Corta essa, Enzo. Eu sou o teu irmão. E nunca deixaria você ir sozinho para a Venezuela. Vou preparar as minhas coisas. Vamos estar prontos para quando você chegar. — informou Erick, desligando o telefone.
"Sem tempo, irmão". Essa frase poderia estar estampada no rosto de Enzo Gabriel. O seu coração continuava apertado devido ao Noslen que seguia sozinho para a Venezuela. Eles poderiam ir de avião, mas não faziam ideia onde ficava a casa do namorado em terras venezuelanas.
Em uma mochila, ele guardou roupas e alguns objetos pessoais como, por exemplo, carregador e documentos. Erick e Celina já estavam prontos e não demoraram muito para pegarem a estrada. No caminho, eles passaram em um posto de gasolina e encheram o tanque de combustível.
Ao todo, o trio levaria mais de quatro dias para chegarem na Venezuela. Ao todo, a distância entre o Brasil e o país vizinho é de 8,700 quilômetros. Eles aproveitaram para fazer uma inspeção rápida no carro do empresário, além de comprarem dois pneus extras. Tudo isso, em menos de uma hora.
No caminho, Enzo explicou melhor tudo o que estava acontecendo com Noslen. Contou sobre a descoberta do avô e a sua origem na Venezuela. O casal quase não acreditou, afinal, a memória do venezuelano não havia voltado e o destino conseguiu o levar para a família.
— E como a gente vai achar o Noslen? — perguntou Erick, que baixava uma versão offline do mapa.
— Ele pegou o ônibus Tesouro da Amazônia. O Nico viu a passagem dele e mandou uma foto. — explicou Enzo, olhando para a estrada e desejando encontrar o ônibus. — O ônibus saiu umas 12h, ou seja, estamos com quase duas horas de diferença.
— O ônibus deve parar em algum lugar. Dessa forma, ganhamos alguns minutos. — Celina falou, querendo deixar Enzo menos apreensivo.
— Valeu, galera. Essa viagem vai ser melhor com vocês. — afirmou Enzo, ligando o sistema de som do carro e deixando sua playlist tocar.
Se tem uma coisa que Noslen detesta é incomodar as pessoas. Por causa desse valor, o venezuelano se aventurou para descobrir suas raízes. O avô pediu para que ele fosse de avião, mas a tentativa foi em vão. Munido de sua identidade e algum dinheiro, Noslen partiu em direção ao Estado de Roraima, que fica ao lado do Amazonas.
A viagem de ônibus levava 12 horas. Nesse meio tempo, Noslen analisava fotos e documentos de sua família. Ele pedia aos céus para lembrar de sua vida, só que a memória continuava o traindo. O rosto da mãe sempre esteve nos sonhos, já o pai virou uma surpresa para ele, uma vez que Noslen era uma cópia de Carlos Fuertes.
Vulto de árvores e pequenas casas. Essa foi a visão do venezuelano nas últimas horas. Aos poucos, ele se perdeu entre os pensamentos e adormeceu. Para Noslen, aquela oportunidade era única. Se reunir a família se tornou uma espécie de objetivo em sua vida. Porém, ao mesmo tempo, havia Enzo. A decisão de seguir sozinho para a Venezuela acabou sendo egoísta e, no fundo, Noslen sabia.
Após mais de 10 horas de viagem. O ônibus chegou na cidade de Boa Vista, capital de Roraima. Anos atrás, aquele lugar foi uma espécie de lar para Noslen. Depois do acidente, o jovem se recuperou em uma casa de apoio para venezuelanos e conheceu Nico. Juntos, eles decidiram viajar para Manaus com o intuito de ganhar mais dinheiro.
Em Manaus, André recebeu uma notícia nada boa por telefone. Era fim de expediente e não havia ninguém para cuidar de Arnoldo, o seu irmão caçula. Enquanto descia no elevador, ele esbarrou com o Ian, que ainda tentava limpar a sua barra.
— Não vai rir? — questionou Ian com a intenção de chamar a atenção de André.
— Não tô no clima, Ian. — respondeu André, tentando ligar para o irmão, mas sem conseguir. — Por favor.
— André, o que aconteceu?
— Nada, cara. — saindo do elevador, após a porta abrir e sendo seguido por Ian.
— Não, você está visivelmente nervoso. O que está acontecendo? — quis saber Ian, seguindo André pelo corredor.
— A minha mãe está na em um hospital e teve uma crise. Eu não tenho ninguém para ficar com o meu irmão. Ele está em casa sozinho e ainda não jantou e...
— Ei. — parando André e tocando no rosto dele. — Eu te dou uma carona até a clínica e vou cuidar do seu irmão. — sugeriu.
— Isso é uma pegadinha? — André olhou para os lados. — Onde estão as câmeras?
— Aff. — revirando os olhos e pegando no ombro de André. — Quero fazer algo de bom para variar e blá, blá, blá. Vamos para o carro.
As estradas podem ser perigosas à noite. Um desvio errado pode significar vida ou morte. O motorista da vez era Erick, que estava na quarta garrafa de energético. O grupo pararia na próxima cidade. No meio tempo, Enzo dormia no banco de trás e Celina acompanhava o namorado como copiloto.
Eles conversaram sobre diversas coisas, principalmente, sobre a morte dos pais e a responsabilidade de cuidar de um irmão mais novo. Segundo Erick, o emprego na polícia apareceu graças ao padrinho que é um tenente da Polícia Militar do Amazonas.
A cada minuto que se passava, Celina ficava mais feliz por ter dado uma oportunidade para o namorado. Ele era um cara marrento, mas que por dentro era uma manteiga derretida. O bate-papo fluía tanto, que eles não perceberam a placa da cidade.
O carro de Enzo estacionou na frente de um pequeno hotel. Erick saiu para verificar se havia vaga no hotel para a pernoite. Em seguida, ele voltou para acordar o irmão.
— Ei, maninho. — passando a mão na cabeça de Enzo, que acordou aos poucos. — Vamos descansar no hotel. Cedo a gente continua a viagem.
Por um instante, Erick lembrou de Enzo quando criança. Ele sempre protegeu o irmão e o amou. O amor fraternal era maior do que qualquer coisa como, por exemplo, seguir o namorado do irmão em uma viagem internacional.
Após deixar André na clínica, Ian seguiu para um restaurante. Ele decidiu fazer algo de bom para uma pessoa que só lhe deu alegria. O empresário usou um mapa digital para chegar ao endereço do André.
A casa era simples e Arnoldo já aguardava Ian na janela. Ele poderia ser considerado uma cópia de André. A aparência de Aroldo surpreendeu Ian, que entrou e não se sentiu incomodado com a simplicidade do local.
— Você é namorado do meu irmão? — questionou Aroldo, analisando Ian da cabeça aos pés.
— E se eu fosse? — quis saber Ian, deixando a sacola de comida em cima da mesa.
— Ele gosta muito de você. Tem várias fotos suas no celular dele. — entregou Arnoldo, olhando para Ian que tirava a marmita da sacola.
— Bom saber. Olha. Fique ao meu lado e vai se dar muito bem. — soltou Ian mostrando o ravioli que comprou para Arnoldo.
Apagado. O cansaço pegou Enzo de jeito. Ele dormiu durante horas e despertou sem saber onde estava. Ainda sonolento, ele pegou o celular para checar alguma possível mensagem de Noslen. Infelizmente, não havia nenhum recado, apenas Kleber o tranquilizando sobre a empresa. Em seguida, Enzo abriu o álbum de fotos e refez uma trajetória de seu relacionamento.
Quem fazia a mesma coisa era Noslen. No ônibus, o venezuelano observava as fotos que tirou ao lado do namorado. Mesmo com todos os problemas internos, Noslen nunca duvidou do seu amor por Enzo. Eles seguiram um caminho natural para ficarem juntos. De amigos a amantes. Existia uma química entre eles que Noslen nunca sentiu por nenhuma outra pessoa.
Ele adormeceu balbuciando o nome do amado. Noslen acordou em uma casa diferente. Não havia paredes ou portas. O ar estava lhe causando mal. De repente, um carro quebrou as paredes e ele acordou assustado, quase acordando a moça que repousava no acento ao lado.
O ônibus chegou às 7h da manhã na rodoviária de Boa Vista, em Roraima. Confuso com a movimentação, Noslen seguiu para o guiché de informações. Ele se esforçou para falar português, pois sabia que lhe facilitaria a vida.
— Moça, bom dia. — desejou Noslen com um sorriso forçado no rosto.
— Olá. — a mulher mal olhou para ele.
— Eu gostaria de saber os horários dos ônibus para Venezuela. — pediu.
— Venezuela? Impossível. — disse a mulher encarando Noslen, que quase ficou sem ar devido a rispidez dela. — Os trajetos para a Venezuela estão cancelados. Dois ônibus foram assaltados e as empresas estão temendo.
— E como as pessoas estão viajando?
— Avião. Carro. Ônibus não. — explicou a mulher voltando a atenção para os seus documentos.
— E agora? — pensou Noslen olhando em volta e se sentindo frustrado.
Uma parte da estrada estava dando trabalho para Erick. Buracos, na verdade, crateras abertas que dificultavam a vida dos motoristas. O grupo parou para tomar café em uma lanchonete simples. Tá bom, eles engoliram o café da manhã, graças a pressa de Enzo, que queria encontrar o namorado.
— O Noslen não atende o celular? — questionou Erick, prestando atenção na estrada.
— Já liguei de todos os jeitos. Ele é cabeça dura. — reclamou Enzo, olhando para o celular na esperança de ver uma mensagem de Noslen.
— Tá. Se a gente não o alcançar na estrada, tipo, você sabe onde ele mora? — quis saber Celina, que estava no banco de trás do automóvel.
— Não, mas eu mandei uma mensagem para o André. Ele vai cuidar disso. Finalmente, o idiota do Ian vai servir para alguma coisa. — afirmou Enzo dando uma risada que assustou Celina e Erick.