Era um meio de semana de verão, anterior à pandemia. Minha mãe chegou muito cedo do trabalho. Acabara de adormecer na cama do casal, nua e coberta com o lençol, o mesmo que ela puxou me descobrindo ao me chamar.
— Acorda, menina! Isso lá é hora de dormir?
Assim que a ficha caiu, pensei apavorada: fodeu!
Olhei assustada à procura do meu pai que estava comigo na cama minutos antes. Ele não estava mais no quarto.
— Pode me explicar o que está fazendo pelada na minha cama, senhorita?
Pensei rápido ao ver a toalha amontoada aos meus pés.
— Eu senti um mal-estar no banho e vim falar pro meu pai. Ele falou pra eu deitar um pouquinho que passaria logo. Acabei dormindo.
— Tá melhor? — questionou mamãe enquanto pegava a toalha.
— Tô sim.
— Cadê seu pai?
— Acho que saiu — respondi.
Após levar bronca por conta da toalha úmida na cama, o clima ficou tenso.
— Você está usando a toalha do seu pai, mocinha? — perguntou mostrando a inicial bordada.
Ao mesmo tempo, meu pai saiu do banheiro da suíte enrolado na minha toalha do Corinthians.
Minha mãe olhou pra ele, depois para a toalha em sua mão, e finalmente pra mim. Pelo seu olhar inquisidor era notório que em sua cabeça passava a ideia de uma teoria conspiratória.
O negócio ficou punk pro seu Flávio e pra mim, foi preciso muita criatividade com as mentiras para contornar e atenuar a situação complicada. Penso que deu certo, pois a vida seguiu com ambos ainda vivos.
Este foi um dos inúmeros casos anteriores ao divórcio dos meus pais.
Contarei um pouco mais para conhecerem e entenderem, se possível, nossos hábitos e condutas familiares:
Banho coletivo, por exemplo, era uma prática da nossa família vivida com naturalidade. Os precursores foram meus avós maternos que são naturalistas. Meu pai nunca foi, mas uma pessoa liberal como ele, adaptou-se com os hábitos não convencionais que também foram adotados em nossa casa. Eu já nasci naquele ambiente liberal.
O nudismo não era considerado tabu quando estávamos em nossa intimidade familiar, não era corriqueiro, em razão de ser incômoda a sensação de estar sendo observada por algum vizinho ou de precisar atender estranhos à porta.
A nudez ocorria com frequência durante as entradas, saídas e, naturalmente, durante os banhos que eram praticados solitários, a dois ou a três.
Muitas vezes, no meio de semana, meu pai entrava no banho enquanto mamãe ainda se ocupava em preparar o jantar. Se eu não fosse requisitada para ajudar na cozinha, ou atrasasse minha lição de casa, tomava banho com ele.
Certo dia a dona Helena subiu de surpresa e adentrou de repente o recinto. Seu Flávio praticava comigo nossa brincadeira preferida, luta com os corpos nus ensaboados. Óbvio que tendo ele quase o dobro do meu tamanho, seu domínio era total e os toques de mãos e contatos nas partes íntimas eram inevitáveis.
Tentava escapar dele, mas só de farra, era o nosso joguinho. Ele mantinha nossos corpos colados fazendo pressão por detrás de mim.
Ao primeiro olhar reprovador da dona Helena, seu Flávio foi rápido movendo-se para debaixo da ducha na tentativa de esconder o pênis ereto. Quanto a mim, evitei o incômodo constrangimento de cruzar meu olhar com o dela, deveria estar estampado em meu rosto a frase CULPADA em letras garrafais. Outro motivo para o meu desconforto era a evidência de sêmen no chão entre meus pés. Acredito que fui rápida o suficiente pisando sobre e misturando com a espuma.
Há casos de crimes que podem levar uma década para serem solucionados. Creio que não se aplica a este caso, já que naquele mesmo dia mamãe decretou como encerrado o ciclo de banhos coletivos em nossa família. O tom austero da dona Helena durante o jantar daquela noite, deu a tônica sobre como seria o próximo capítulo de nossa convivência familiar. Será de perigos, monitoramentos e chegadas surpresas imaginei.
Deduziu erroneamente quem pensou que foram os banhos ou a nudez que oportunizou meu caso íntimo com papai. O culpado foi um sentimento que transcendeu a relação pai-filha, some a isso a nossa química perfeita: triscou, acendeu!
Outros cantos da casa também foram testemunhas desse romance proibido, mas a partir daquele dia todos os lugares e todos os horários passaram a ser de risco, por conta da desconfiança e vigilância da dona Helena.
Papai criou um código para avisar-me quando a área estivesse limpa. Era uma mensagem por WhatsApp que dizia apenas isso: "Precisamos ter uma conversa urgente".
Eu saia de onde estivesse e corria pra casa. E claro que a conversa era sem roupa.
Apesar dos cuidados, o perigo de um flagra de conteúdo explícito era iminente. O nosso romance naquela casa estava nos capítulos finais, deduzi com tristeza. "que seja eterno enquanto dure". Desejei.
Por hora é isso.
Meu agradecimento a todos vocês.