Talvez vocês estejam se perguntando o porquê das coisas terem mudado tanto. Como uma menina que sofreu tanto como eu, de repente passa de mocinha a vilã? As coisas são mais complicadas do que parecerem. Vou contar um pouco da minha história e vocês decidem no que acreditar.
Eu sou a Clara e todos vocês já me conhecem. Fernando é sim o amor da minha vida. Hoje mais do que nunca. Tanto Miguel, quanto o nosso bebê que cresce forte dentro de mim, são seus filhos. Disso eu tenho certeza, pois me cuido. Nos conhecemos desde sempre, pois crescemos juntos e sempre fizemos parte da vida um do outro. Durante a infância e a adolescência vivíamos em universos diferentes, mas Fernando jamais deixou de me ajudar quando eu precisei. Desde a primeira série ele sempre foi o meu professor particular. Sempre disposto a me fazer melhorar e tirando sempre o melhor de mim.
Aos olhos dos outros, ele era o estranho, o antissocial, o tímido. Para mim, não! Aos meus olhos, ele sempre foi o garoto doce e gentil que me ajudava. Eu sempre gostei dele, mas sabemos como a escola é um ambiente hostil para o diferente. Com medo de ser julgada, acabei me rendendo ao status quo, e mantive minha amizade com Fernando pura, imaculada, mas afastada do conhecimento de todos. Eu já sabia que gostava dele e tentava lutar contra esse sentimento. No fundo, eu não queria ser excluída.
Eu nunca fui santa, jamais disse que era e no intuito de manter a minha popularidade, acabei despertando cedo para a safadeza. Meu grupo era composto, basicamente, pelas mesmas pessoas de hoje, só que naquela época, ninguém ainda era parceiro fixo de ninguém. Éramos os elementos dominantes do colégio, o que todos queriam ser, com quem todos queriam estar.
Do grupo original, somente Diana se juntou a nós mais tarde. Bárbara, Alice e eu sempre estudamos juntas. Glauco, César e Mariano estavam um ano à frente. Alice e Mariano, Bárbara e Glauco, mesmo sem namorar sério, estavam sempre ficando, o que fazia com que César e eu sobrássemos. Ele sempre investiu em mim, tentou me conquistar, mas eu nunca tive sentimentos ou nenhum tipo de atração por ele. Vivíamos assim, os dois casais e os dois amigos que não se entendiam romanticamente.
Por volta dos quinze, dezesseis anos, eu comecei a ser mais independente, conhecer pessoas diferentes e me envolver com outros garotos. Isso irritou César e acabou por afastar os outros dois casais de amigos, ambos em relacionamentos mais sérios, já se tratando como namorados. Por mais que eu gostasse de Fernando, ele nunca tomou uma atitude. Mesmo me insinuando, dando indiretas, a timidez dele era mais forte, e isso acabava me deixando frustrada. Ele continuava me ajudando com os estudos e assim eu consegui chegar ao segundo grau sem maiores problemas.
Minha vida começou a mudar em um torneio entre escolas aqui da cidade. Foi naquele dia que eu conheci uma pessoa que me mostraria o lado B da vida. Lucas era lindo, extrovertido e não tinha nenhuma dificuldade em se aproximar de uma mulher. Junto dele, Diana veio no pacote. Tudo conspirou a favor, pois ela e César logo se entenderam e ele saiu do meu pé.
Foi com Lucas que perdi a virgindade e a minha sanidade. Foi com ele também que experimentei maconha pela primeira vez e me tornei uma usuária frequente. Estávamos sempre juntos, os quatro, Lucas e eu, Diana e César. Os pais de Lucas viajavam com frequência e como ele era filho único, sua casa era um verdadeiro oásis de paz e tranquilidade e acabou virando o local de encontro perfeito para nós.
Eu ainda tinha dúvidas, mas cada dia que passava, me mostrava que Fernando jamais tomaria uma atitude. Aos poucos, a gente se afastou e nos falávamos menos. Lucas ganhava espaço e me mostrava ser a escolha certa para o momento.
Em uma tarde, ouvindo os gemidos de Diana e César no quarto ao lado, parei de resistir e me entreguei. Naquele dia, eu tinha recebido a notícia sobre Fernando. Saber que ele iria embora sem nem ao menos me avisar, contar dos seus planos, foi uma traição. Senti que eu não tinha importância para ele e cedi as investidas de Lucas.
Vendo que eu estava nervosa, ele me ofereceu um trago daquele cigarrinho artesanal, que ganhava mais adeptos a cada dia. Todos falavam bem, glorificavam sua capacidade de aliviar o estresse, seu uso medicinal, diziam que não havia riscos. Só esqueceram de me contar que ele era a porta de entrada para um mundo que escravizava as pessoas, que a tornavam zumbis, párias da sociedade. Tirando Bárbara, todos os meus amigos já eram adeptos. Eu iria descobrir no futuro que cada um reage de forma diferente a o vício.
Lucas foi carinhoso e paciente. Sua pegada era gentil, mas me deixava em brasa. Os efeitos da maconha potencializavam as sensações no meu corpo. Sua língua brincando em meus seios, minha barriga, minhas coxas, me deixavam com uma vontade enorme de ir até o fim. Sua sugada forte em meu grelo me fez ver estrelas, me levando a um estado de excitação que eu sequer imaginava existir. Suas carícias me faziam querer mais.
Ele era experiente, apesar de novo. Sabia onde me tocar e como fazer com que eu me entregasse e pedisse mais. Senti a cabeça do pau pressionando a entrada da minha xoxota e abri mais as pernas, facilitando seu trabalho. Esperto, Lucas colocou um preservativo.
Eu estava anestesiada pela droga e não senti dor nenhuma com a penetração, apenas um pequeno desconforto, logo superado pelo prazer de suas estocadas carinhosas dentro de mim. Viajando na loucura do entorpecimento, comecei a ver Fernando me comendo, socando fundo aquele pau dentro da minha bocetinha. Eu sabia que era Lucas ali, mas minha mente insistia em me mostrar Fernando. Sentindo que estava fazendo algo errado, traindo quem eu amava, chutei Lucas com força, tentando fazer com que ele saísse de dentro de mim. Ele se assustou:
- O que foi? Não está gostando?
Eu nem respondi. Procurei rapidamente a minha roupa e me vesti. Sua gentileza se transformou em raiva:
- Sua vadia louca! O que deu em você? Garota idiota, some da minha casa.
Terminei de me vestir enquanto Diana e César vieram correndo para saber o que estava acontecendo. Passei no meio dos dois e sai correndo dali. Nem eu entendia o que estava acontecendo.
Por quase três meses, eu pirei. Fumando cada vez mais, andando com as piores pessoas, longe dos meus amigos. Até a tarde que o meu pai me deu a notícia derradeira. Lembro de estar no sofá, vendo televisão, quando ele entrou:
- Já foi se despedir do seu amigo? Ele embarca amanhã. Depois, só daqui há quatro anos.
Inconscientemente, eu culpava Fernando pelo rumo que a minha vida tomou. A maconha me fazia esquecer de que ele iria embora. Naquele momento, com a mente limpa, eu precisava tomar uma atitude. Eu sabia que seus pais tinham saído e ele estava sozinho, conseguia ouvi-lo, nossas casas eram muito próximas. Não resisti e fui falar com ele pelo muro.
Vocês sabem tudo o que aconteceu naquele dia, vamos focar no depois. Bem depois, pois tudo o que eu contei para Fernando ao confessar, é a mais pura verdade. Vamos falar sobre Diana e Glauco, e das coisas que eu não me orgulho.
Quando eu estava no fundo do poço, depois de não me sentir digna de estar perto do meu filho, sendo destratada por minha mãe, Diana descobriu que eu estava me prostituindo e me deu uma escolha: trabalhar para ela como camgirl. Ela cuidaria de mim. Eu não era a única. Éramos quatro meninas, além dela e Alice. A proposta foi feita logo após Glauco e Mariano me resgatarem da vida que eu estava levando. Sem opções, eu aceitei.
No começo, me senti feliz. Os ganhos eram maravilhosos e eu pude voltar a sustentar o meu próprio filho. Com a ajuda do meu pai, colocando minha mãe no seu devido lugar, voltei a ser a mãe do Miguel e uma pessoa normal outra vez. Foi naquele momento que eu tive uma ideia: sabendo que o Sr. Antônio, pai do Fernando, adorava crianças, fui fazendo com que Miguel e ele se tornassem próximos. Minha intenção era contar o mais breve possível. Naquele momento eu já sabia que Fernando ficaria mais tempo fora, talvez nem voltasse mais. Eu contaria aos poucos e daria a Miguel a família que ele tinha o direito de conhecer.
Fernando tinha se tornado uma lembrança boa no meu coração, meu primeiro amor, meu primeiro homem completo, a primeira vez que eu tive um orgasmo… eu sempre lembrava dele com carinho. Nunca deixei de pensar nele, mas o tempo e a distância fizeram com que o sentimento fosse esfriando, ficando guardado bem fundo no meu coração. Eu nem imaginava que algum dia a gente pudesse ter outra chance.
Diana foi, aos poucos, me convencendo a melhorar minha performance. Cada vez ela exigia mais. Alice estava sempre a favor dela e eu acabava cedendo. Sua primeira ideia louca foi aquele sexo lésbico a três, seguido de uma transa com aqueles três homens. Sendo voto vencido, eu topei. Só não imaginava o que aconteceria naquele dia.
Logo após a transa entre Alice, Diana e eu, os espectadores foram à loucura, assinando rapidamente o meu canal, ansiosos para ver o que aconteceria na sequência. Pedi que Alice e Diana me deixassem descansar por alguns minutos, sem entender o motivos delas começarem a se vestir. Sem me informar, ou perguntar se eu estava pronta, Diana recomeçou a transmissão, saindo do quarto em seguida junto de Alice. Fiquei ali sem entender e nem tive chance de reagir, pois os três homens, contratados para aquele dia, praticamente me atacaram, achando que eu estava ciente de tudo o que iria acontecer.
Ao me ver sendo segurada, chupada e sem ter como lutar contra os três homens, comecei a gritar e o pessoal que participava ficava ainda mais animado, achando que era uma cena. Diana, preocupada com os vizinhos, rapidamente voltou ao quarto e interrompeu a transmissão. Os três homens me olhavam sem entender, preocupados se estavam cometendo um crime. Diana quis dar uma de inocente:
- Que porra é essa, Clara? Você concordou.
Eu fiquei extremamente revoltada, tentando partir para cima dela e sendo segurada pelos homens:
- Eu achei que seríamos nós três. Você me enganou. O que você acha que eu sou?
Eu não sei se entendi errado, se Diana estava se fazendo de esperta, mas ela se desculpou:
- Talvez eu tenha explicado errado, me desculpa. Se você não quer, paramos agora.
É claro que eu não queria, mas acabei perdoando Diana. Alice já tinha ido embora. Decidi que era hora de ter uma vida normal, procurar um emprego como todo mundo.
O lance com César e Diana, juntos, aconteceu antes. Aquele dia foi o último. Não posso negar que o sexo com César foi bom. Ele é um amante carinhoso e sei que sempre quis estar comigo. Diana acabou conseguindo me convencer da sua inocência, de que aquela situação não passou de um mal-entendido. Eu relevei e segui em frente, mantendo meus amigos próximos a mim. Afinal de contas, eu só tinha eles.
Sobre Diana e o final dessa história, só o Fernando pode dizer, pois é ele que está contando. Eu só vim aqui dar a minha versão. Vocês gostando ou não, essa é a verdade. Agora, sobre Glauco, essa é uma questão mais grave e que merece ser contada da forma certa.
Um pouco antes do Fernando retornar ao Brasil, em um momento que a minha vida passava por uma grande mudança, eu acabei sendo presa fácil no jogo de chantagem do Glauco. Se eu fiz certo ou não, avaliem vocês. Estou aqui apenas para contar o que aconteceu.
Naquela semana, Glauco me procurou durante o dia e me mostrou o depoimento de um traficante. Nele, meu nome era citado como uma das pessoas que revendiam suas drogas. Confesso que enquanto fazia os meus programas e com a intenção de sustentar o meu vício, acabei realmente fazendo isso por alguns meses, mas parei assim que fui resgatada.
Como uma das pessoas que me trouxeram de volta à vida e à realidade, achei que Glauco queria me proteger e me senti grata por sua amizade. Ele disse que conversaria com o traficante e tentaria fazer com que ele desistisse daquela versão.
Naquela época, Bárbara e ele estavam brigados e no final de semana seria aniversário de Alice, com uma grande festa em uma casa noturna famosa da nossa cidade. Todos achavam que até o dia festa os dois já teriam feito as pazes e tudo voltaria ao normal.
Eu cheguei na balada com Diana e César e todos já estavam presentes. Bárbara e Glauco não estavam se falando e o clima não era dos melhores. Ele não estava normal, parecia bem alterado. Estava sempre arrumando brigas com outros clientes e usando seu poder de polícia para intimidar os outros. Mariano e César tiveram trabalho para lidar com ele.
Por termos reservado um espaço separado, tínhamos direito a um banheiro privativo. Não era próximo a nossa área, mas valia a pena por não ter que encarar as enormes filas. No meio do caminho, Glauco nos surpreendeu e segurou firme no meu braço, dizendo que precisava conversar. Sem ter como fugir, agarrei no braço da Diana e ele nos trancou no banheiro e começou a falar sobre Bárbara. Parecia triste em estar brigado com ela.
Eu sentia que alguma coisa estava errada. Eu tentava resolver a situação e Diana estava estranha, forçando para que a gente continuasse ali. Me pegando de surpresa, Glauco começou a tentar me beijar. Minha primeira reação foi empurrá-lo, dizer que ele estava doido, mas ele era mais forte e eu não consegui evitar. Naquele momento, ele me chantageou:
- Para com isso, você já deu para quase todo mundo, só falta eu. Vai negar uma foda para quem está lhe ajudando?
Ele voltou a me beijar, me colocando sentada na pia do banheiro. Procurei Diana, mas não a encontrei. Ele voltou a pressionar:
- Você que sabe. Vai dar uma de difícil comigo e depois se acerta com a justiça sozinha.
Eu tentei recorrer ao seu amor por Bárbara:
- Para, Glauco! Não podemos fazer isso. Bárbara não merece.
Ele já levava a mão a minha boceta e afastava a minha calcinha. Seu corpo me pressionava contra a parede e eu estava com meus braços imobilizados, sem poder reagir. Glauco me penetrou de uma só vez:
- Não faz isso, Glauco! Por favor… aaaaah…
Meu gemido não foi de prazer, e sim de dor. Eu não estava no clima para sexo. Sua penetração me machucou. Sem ter como escapar e refém de sua chantagem, fiquei ali, imóvel, rezando para aquilo acabar rápido.
Ele gozou em poucas estocadas, me deixando ali como um pedaço de carne, sem se importar com o que tinha feito. Me senti um lixo, usada e abusada, sem ter ninguém a quem recorrer. Até Diana tinha fugido e me deixado sozinha, talvez com medo de ser a próxima.
Por que eu neguei quando Bárbara perguntou? No dia seguinte, desesperado com o que tinha feito e me pedindo perdão, ele me convenceu a não estragar a vida dele. Disse que me protegeria sempre que eu precisasse. Barbara estava péssima, sentindo a falta dele e eu não poderia estragar a vida dela também. Diana concordou em manter o segredo, e a nossa vida seguiu. Posso ter sido covarde, mas desse dia em diante, Glauco se transformou em uma pessoa melhor, bom para Bárbara, cuidou do depoimento do traficante, ajudou a todos os amigos quando solicitado. Eu apenas esqueci e segui em frente. Logo depois Fernando voltou e vocês sabem o que tem acontecido.
Eu não sou especial ou acima da média. Amo Fernando desde sempre e assim que ele voltou, tudo que estava escondido lá no fundo do meu coração resolveu se libertar outra vez. Vê-lo na padaria naquele dia, sentir o seu toque eletrizando o meu corpo, o quanto ele havia mudado e estava tão bonito, ainda mais inteligente, bem-sucedido… enfim, eu logo descobri que existia Savana e foi péssimo, mas respeitei. Me mantive quieta e esperei a oportunidade. Quando ela se apresentou, sabendo que Savana tinha ido embora, eu aproveitei. Eu mesma disse a Fernando que faria o DNA e até preferia que fosse dessa maneira.
Eu sou a mãe dos filhos dele, a mulher que ele escolheu e eu lutarei com todas as minhas forças para que ele saiba que tem em mim uma aliada para a vida toda, alguém que o ama com todo o coração e não medirá esforços para sempre vê-lo feliz.
Tirem suas conclusões, eu não disse nada além da verdade, mas cada um tem sua forma de interpretar o que lê.