Fui acordada por uma voz gritando no meu ouvido. Na verdade, foi um sussurro, mas pareceu um berro, devido a uma dor de cabeça que estava me matando. Não consegui abrir os olhos e fiquei puta ao reconhecer a voz do Dr. Osvaldo. O cretino invadiu meu quarto novamente, pensei.
— Acorda, meu anjo, você precisa ir embora — insistiu ele.
Como assim, ir embora? Estou na minha casa. Resmunguei em pensamento e entreabri os olhos. Deduzi que ainda era noite; o quarto estava iluminado somente pelo abajur de cabeceira. O estranho era que nem a cama e nem o quarto era meu… Muito menos a casa, percebi ao acordar de vez. Estava nua em uma cama de casal alheia com o doutor peladão deitado ao meu lado.
— Como eu vim parar aqui?
— Veio de Uber, Nicole, não lembra?
— Tô lembrando agora, assim que cheguei você me entupiu de bebidas fortes pra poder abusar de mim.
— Não foi isso que aconteceu, quando começamos com as carícias você estava completamente sóbria.
— Algo estranho aconteceu para eu só lembrar de fragmentos. De uma língua entre minhas pernas, por exemplo, ou do seu peso em cima de mim golpeando minha periquita. Também recordo de beijos com gosto de sexo. Eu já devia estar bebaça.
— Você se lembra quando tirou sua roupa e dançou fazendo um striptease pra mim?
— Magina que eu pagaria um mico desse.
— Não foi nenhum mico, foi lindo e sensual demais você nuazinha, só com a gargantilha balançando no pescoço e dançando bem safadinha. O melhor show que já assisti na minha vida.
— E depois você se aproveitou de mim, né? Deveria me agradecer por não te acusar de estupro.
— Eu não te forcei a nada, princesa, fui carinhoso e você permitiu. Você até disse: "hoje eu sou toda sua, faz o que quiser comigo". Juro por Deus!
— Hum! Realmente eu estava de porre.
— Pelos gemidos desenfreados que deu, tenho certeza que também gozou gostoso. Tudo foi consensual.
— Ah tá! Duvido que algum delegado concorde com isso quando checar a minha idade e a sua e souber que me embebedou.
— Que isso, Nicole, o que aconteceu? Nos divertimos tanto essa noite. Desculpe se fiz algo que não gostou.
— Você se aproveitou da minha embriaguez para me tratar como uma vadia. Estou com incômodo até no ânus, seu tarado.
— Eu te respeito, menina, tive o maior cuidado para não te machucar.
— Isso não é o que parece, tô cheia de dores e marcas.
— Espero que perdoe meu único instante de negligência. Você sabe que é especial, tão linda e sedutora que tiraria a razão de qualquer um, inclusive a minha. Então me entusiasmei.
— O que você está tentando me dizer?
Ele pegou algo na gaveta ao lado e esticou o braço em minha direção. Era uma embalagem com uma pílula do dia seguinte.
— Seu irresponsável filho da puta, você me comeu sem camisinha e ainda gozou dentro?
— Perdoe, foi impossível de evitar. Você não faz ideia dos efeitos que seu corpo faz no meu. Toma isso por precaução.
— Sabe que não é só isso, né espertalhão? Não pensou no risco de doenças?
— Você tem razão, vacilei. Desculpe. Mas juro que sou saudável, linda.
— Você vai precisar mais do que desculpas se pretende sair ileso dessa história.
— Pô, princesa! Além do pedido de desculpas e de todo o meu carinho, eu não posso lhe oferecer muito mais.
— Você me deu banho, né safado? Foi para esconder as evidências do crime?
— Quê isso, Nicole! Foi pra você se sentir melhor.
— Me engana que eu gosto!
— É sério, meu anjo, não te forcei a nada. Mas posso ser generoso, se pedir algo ao meu alcance
— Bom… Você pode começar a recuperar tantos pontos perdidos se me ajudar a passar o feriado prolongado na Bahia.
— Sozinha? — perguntou ele todo animado.
— Não, com meus amigos.
— Que pena. E de quanto você precisa?
— Não preciso de dinheiro, preciso da autorização da minha mãe, mas está difícil convencer a dona Helena.
— Se for para ganhar pontos e ser perdoado, acredito que consigo dar um jeito.
— Você tem quatro dias — disse em tom de ultimato.
Ele assentiu com a cabeça e disse para me vestir que ele tinha um compromisso.
— Que horas são?
— Vinte pras nove.
— Puta merda! Mas ainda tá escuro.
— Não está, são as cortinas.
— Me leva pra casa, pelo amor de Deus! Minha mãe deve estar soltando os cachorros. Cadê meu celular?
Meu aparelho estava desligado. Liguei e ouvi um monte de mensagens ameaçadoras da mamãe. Também uma mensagem que mandei pra ela às onze da noite, horário que deveria ter voltado pra casa, no entanto, menti dizendo que dormiria na casa de uma amiga.
Caraca! Por que não consigo lembrar de nada disso. Esse meu sábado não será nada fácil, pensei.
Até logo!
Meu agradecimento a todos vocês