UM VENEZUELANO NA MINHA VIDA - 15: VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 2027 palavras
Data: 09/10/2022 13:14:21

O final de semana formou um novo casal em Manaus. A vida poderia ter muitos obstáculos, mas Enzo Gabriel se sentiu indestrutível naquela segunda-feira pela manhã. O jovem vestiu as melhores roupas, passou o perfume favorito e comprou um café da manhã reforçado. Ele passou na casa de Noslen, que já o esperava para mais um dia de trabalho.

A recepção do venezuelano foi um beijo doce, lento e apaixonado. Com uma das mãos, Noslen acariciou o rosto de Enzo, que se entregou e aproveitou cada toque. Um casal apaixonado não quer guerra com ninguém. Infelizmente, eles não poderiam ir além dos beijos, pelo menos, naquele momento.

Ao som de Francisca Valenzuela, uma cantora chilena que virou meio que a trilha sonora delas, os dois seguiram caminho. A canção da vez era "Ya No Se Trata de Ti". Por um momento, Noslen até esqueceu da reunião que teria com o homem misterioso. A música era uma das poucas coisas que o faziam relaxar e aproveitar.

Nos últimos meses, a relação dele com o Enzo se tornou um porto seguro. Havia uma cumplicidade entre o casal, algo que ultrapassava todas as barreiras internas, isso era válido para os dois. Enzo se tornou alguém mais leve, enquanto o Noslen deixou de lado a tristeza que o consumia por dentro.

Há muito tempo, o jovem venezuelano não se sentia um estranho em Manaus. Ele conseguiu construir uma rede de amigos que supria todas as suas necessidades sociais e emocionais, principalmente, a família de Enzo. Afinal, Erick se tornou uma figura fraternal para Noslen e o aconselhava de diversas maneiras.

Por outro lado, o empresário Ian D'ávila ficou encurralado devido às suas próprias mentiras e planos malignos. No fundo, ele se arrependeu, mas não queria dar o braço a torcer. Muito pelo contrário, ele manteve a sua pose e criou uma armadilha para Diana.

A jovem secretária nem de longe parecia a que entrou na empresa meses atrás. Ela estava mais segura de si e se sentia poderosa, ainda mais por estar ameaçando o seu irmão postiço. Isso mesmo. Diana entrou na Techland para dificultar a vida de Ian e sua família.

— O Ben quer saber se você já tem a primeira parte do dinheiro? — perguntou Diana ao entrar na sala de Ian.

— Claro, irmã. — respondeu Ian com um tom irônico. — O dinheiro está aqui. — colocando um maço de dinheiro sobre a mesa.

— Do que você me chamou? — questionou a secretária, arrumando os óculos.

— Irmã! — disse Ian, quase soletrando a palavra. — Achou mesmo que eu não descobri a sua origem, bastarda?

— Você está ficando louco. Isso é...

— Verdade. Bem, não foi difícil descobrir a verdade, afinal, parecemos ter o mesmo sangue. Você é muito patética. Porque veio atrás de mim, uma vez que poderia entrar na empresa do velho? — quis saber Ian, cruzando as pernas e curioso para saber a verdade, mas não obteve nenhuma resposta da irmã. — Qual é, bastardinha. Conta logo eu não tenho o dia todo.

— Eu não sou bastarda! — gritou Diana se exaltando, mas recobrando a compostura. — Eu descobri isso através de uma carta da minha mamãe. Ela trabalhou para a sua família e, aparentemente, o teu pai não conseguia manter o pinto dentro das calças. E cá estou eu. — abrindo os braços. — Feliz, irmão?

— Claro, — soltou Ian. — velho asqueroso. — murmurou. — Bem, bastarda. Sinto muito lhe dizer, mas veio para o lado errado da família. Deveria ter investido no Iago ou Icaro, eles são os tapados da família. — garantiu.

— Acha que eu não tentei? Seu pai logo descobriu a minha origem e não tive nem chance de ir para as entrevistas na empresa dele. Eu soube que você trabalhava aqui e tentei a sorte.

— Então, foi por isso que você envolveu o Benjamin na história? Os dois estavam juntos desde o início para me ludibriar? Roubar o Enzo e me lascar? — Ian questionou de uma forma dramática e deixou a Diana sem entender nada. — Pensei que você quisesse me encontrar porque era a minha irmã, mas se uniu ao Benjamim para me derrubar! — chorando.

— Eu, eu, eu pensei que você me odiasse, Ian. Você sempre me destratou. A gente pode dar um jeito no Benjamim. Eu nunca quis te envolver e...

— Você já falou demais. Leve o dinheiro do Benjamim e pare de me ameaçar. Já não basta esse baque de que você é a minha irmã e agiu pelas minhas costas. — limpando as lágrimas.

— Ian, eu...

— Por favor, Diana. Apenas vá. Você já me traiu demais. Eu não esperava isso da minha irmã. — Ian pegou o dinheiro e entregou para Diana. — Leve esse dinheiro maldito. Tudo é sobre dinheiro.

Sem perder tempo, o trambiqueiro procurou a diretoria da Tech Land e contou todo o plano que desenvolveu. A situação era grave, mas, pelo menos, Ian conseguiria dividir a culpa com Diana e sairia como uma das vítimas. Não demorou muito e a notícia caiu no "colo" de Enzo, que ficou surpreso com a confusão.

— Pera aí, a Diana é irmã do Ian? — questionou Enzo, andando de um lado para o outro, enquanto Ian se fazia de vítima e era consolado pela diretoria.

— Sim, Enzo. Eu sempre me achei superior a você. A Diana aproveitou essa minha fraqueza e trouxe o Benjamim para a minha vida. Agora, eles estão em ameaçando. — chorando e fazendo a atuação de sua vida.

— Droga, Ian. Eu confiei em você. Puta merda. — soltou Enzo, se aproximando de Ian e dando um tapa em seu rosto.

Todos ficaram surpresos com a atitude de Enzo. Kleber, André e Popi assistiram a cena incrédulos. As mãos de Enzo formaram uma marca no rosto de Ian, que não reagiu e aceitou o tapa. De certo modo, ele sabia que merecia muito mais, afinal, queria interferir e roubar algo que Enzo sonhou a vida toda.

Preocupados, os amigos separaram Ian e Enzo para evitar um barraco no meio da empresa. Envergonhado. Esse era o sentimento dentro do coração de Ian. Ele sentiu a raiva de Enzo e ficou envergonhado por trair o seu colega, ainda mais quando no início do projeto, Enzo confiou em Ian mesmo não o conhecendo de fato.

— Se vocês quiserem chamar a polícia, eu vou...

— Não. — Enzo cortou Ian e sua voz estava trêmula. — Sem a polícia. — pediu. — Não vamos trazer publicidade negativa para a empresa. Já pensou se os clientes e investidores descobrem?

— Eu posso fazer um pronunciamento de desistência. Eu quero ajudar. Desculpa, eu pisei na bola, mas Tech Land faz parte da minha vida, Enzo. E não, a Diana não teve nada a ver com o que está acontecendo agora. Eu confiei no Benjamin, eu fiz toda essa cagada. Eu posso tentar ajudar, por favor. — Ian implorou por uma segunda chance.

— Vou decidir o que fazer com você, Ian. — Enzo parecia decidido e olhou para o André. — Você o acompanhe. Não o deixe ficar um minuto sozinho na empresa. — olhando para Ian. — Você vai voltar para a sua antiga função. Sem polícia ou confusão. Os investidores não podem saber de nada. Eu não vou manchar meu nome por sua causa, Ian. Eu não vou.

Uma reunião após a outra, assim se resumiu o dia de Enzo e Ian. Eles estavam em busca da melhor estratégia para escapar das garras de Benjamin. No mesmo instante, Noslen se arrumava para encontrar o homem misterioso. Ele emprestou uma camisa de Erick, porque não queria ir de qualquer jeito.

No vestiário da Tech Land, Noslen deu uma arrumada no cabelo e buscou o endereço do homem na internet. O trajeto não era longo, só que o trânsito poderia ser um problema. Após dar a última olhada no espelho, ele seguiu para o local.

No carro de aplicativo, o venezuelano olhou para o cartão do homem, mas não havia muitas informações, apenas o endereço. "Será que é loucura da minha parte?", o venezuelano se questionou, enquanto o carro cortava o trânsito da cidade. A vista fazia Noslen pensar em mil possibilidades para o motivo do encontro.

Depois de alguns minutos, o veículo estacionou em uma das Avenidas mais movimentadas de Manaus, a Djalma Batista. Noslen pagou o motorista e desceu do automóvel com o coração apertado. Ele não sabia, mas sua vida estava prestes a dar uma guinada de 360 graus.

Ele desviou das pessoas que passavam pela calçada e entrou em um dos maiores prédios da região, que ficava dentro de um shopping. Ao se dirigir até a recepcionista, Noslen apresentou o cartão e explicou que encontraria o dono do escritório.

Solicita, a mulher ligou para a ramal do homem, que liberou a subida do venezuelano. No elevador, Noslen apertou o 23º andar. Algumas pessoas entraram e foram saindo nos andares inferiores. A cada minuto, o frio na barriga do rapaz crescia e seus pensamentos ficavam confusos.

De repente, o bip do elevador, anunciando a chegada ao 23º andar, trouxe Noslen de seus devaneios. As portas se abriram e relevaram um belo hall de entrada. Na parede, uma placa anunciava que aquele era o escritório de advocacia Yilmaz.

— Noslen, — uma senhora baixinha e de óculos recepcionou o venezuelano. — o senhor Yilmaz está te aguardando no escritório. Por aqui. — apontando para frente.

— Ok. — Noslen respirou fundo e seguiu a mulher.

— Com licença, seu Yilmaz, o Noslen chegou. — ela anunciou e pediu para Noslen entrar. — Vou preparar um café.

— Obrigado, Hilda. — a voz grossa do homem arrepiou os poucos pelos do corpo de Noslen. — Você está crescido. — disse o homem, ainda sentando.

— Você, você me conhece? — Noslen questionou, parado, pois não sabia como agir naquela situação.

— Claro, você acha que um avô esqueceria do próprio neto? — o homem respondeu com uma pergunta. Uma pergunta que deixou Noslen chocado e com as pernas trêmulas.

— Espera, eu sou o seu neto? — se aproximando de Yilmaz. — Quem eu sou? Onde estão os meus pais?

— Ah, rapaz. — suspirou o homem, apontando para a cadeira. — Sente-se. Temos muitas coisas para conversar.

Ao sentar, Noslen percebeu os quadros que pintou estavam pendurados como decoração no escritório de seu avô. Sua cabeça estava confusa e seu coração parecia uma bomba relógio prestes a explodir. Afinal, durante anos, o venezuelano buscou a família e o seu avô morava em Manaus.

— Fale, o que aconteceu?

— Você se chama Noslen Yilmaz Fuertes. Seus pais se chamavam Ingrid e Carlos. Eles faleceram em um acidente de carro na fronteira da Venezuela com o Brasil. Eu tinha perdido contato com ambos e durante muito tempo te procurei. Contratei diversos detetives, mas nenhum te encontrou. Até que vi suas obras expostas na galeria. Chorei ao rever o rosto da minha amada, Ingrid. — o avô de Noslen começou a chorar. — Eu não fui justo com ela, nem com o Carlos. Eu fui contra o casamento e só fiz afastá-los.

— Desculpa, mas eu não lembro de nada. — o venezuelano explicou, então, o homem pegou um álbum de família e entregou para Noslen.

Nas páginas, rostos e mais rostos desconhecidos. Apesar do esforço, Noslen não conseguia reconhecer ninguém daquele álbum. Porém, ele estava entre as pessoas. Diversas fotografias dele, nas mais diferentes fases da vida. As lágrimas foram inevitáveis. Com os dedos, ele acariciou uma fotografia que estava com sua mãe e pai.

De acordo com Yilmaz, muitas pessoas tentaram se passar por Noslen, mas os exames de DNA foram negativos. Porém, o idioso sentia que o venezuelano parecia muito com seus pais. O homem levantou da cadeira e deu um abraço em Noslen, que se sentiu acolhido e amado. Sentimentos que eram tão distantes deles, agora faziam sentido.

— E agora? — questionou Noslen, enxugando as lágrimas.

— Bem, eu que te pergunto. Tem alguma coisa que você deseja fazer?

— Eu queria ir até a Venezuela. Eu preciso ver essa casa. Ela sempre esteve em meus sonhos. — Noslen tirou uma das fotos do álbum e mostrou para o seu avô.

— Ótimo. Vou marcar o avião e...

— Não. Eu... isso é... isso é algo que preciso fazer sozinho. Eu sei que você teve a melhor das intenções, mas eu preciso lembrar. Eu preciso saber quem eu sou de verdade. — afirmou o jovem.

— Tudo bem, Noslen. Mas lembre que não está mais sozinho. — pegando no ombro do venezuelano e apertando. — Você não está mais sozinho.

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Comentários

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Caraca chorando de emoção. Que coisa linda. Noslen (que é meu nome invertido) merece lembrar do seu passado só espero que isso não o afaste do homem que ama.

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Isso realmente vai ser uma reviravolta na vida de Noslen, o encontro com o avô!!!! Porém ainda existem algumas questões: pelo visto, esse avô é preconceituoso. Apesar de não sabermos o motivo dele ser contra o casamentos dos pais de Noslen, está quase implícito que foi algum tipo de preconceito. Olhando por esse prisma, será que ele vai aceitar/entender a relação de Noslen com Enzo?

E Ian, adorei o tapa que Enzo deu nele nas ainda não consigo confiar nesse arrependimento, ele é muito cafajeste para mudar assim. Entendo que a descoberta da irmã pode ter mexido com os sentimentos dele, mas essa mudança tão repentina é, no mínimo, estranha.

Quanto a Diana, será que está se arrependendo??? Não sei, o sentimento de vingança é muito forte e difícil de se livrar. Independente disso, ainda acho que ela merece uma boa lição...

Ainda temos o pai de Enzo que, pelo visto, é o mais canalha de todos. Precisa de uma boa lição também.

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