A Reencarnação de Déa - Quinta Parte

Um conto erótico de Paulo_Claudia
Categoria: Heterossexual
Contém 2573 palavras
Data: 10/10/2022 15:45:05
Última revisão: 10/10/2022 16:40:50

A situação era delicada. Eu e Déa havíamos finalmente nos reencontrado, e o Inspetor Guará veio nos alertar que havia algo estranho acontecendo na casa da mãe dela, um vulto ou sombra que aparentemente seria o espectro do “Reizinho”, o homem que havia assassinado minha amada na outra vida!

Mas talvez não fosse nada disso. A mãe dela, embora eu não a conhecesse de perto, deveria ter alguma perturbação mental há muito tempo, e acabou piorando. A convivência com Déa certamente não havia sido fácil, uma coisa levou à outra.

Conversamos com o Inspetor Guará mais um tempo, ele disse que gostaria de retornar em outra ocasião para ter uma conversa mais prolongada conosco. E se colocou à disposição para qualquer situação mais urgente. Depois, despediu-se e foi embora.

Uma coisa muito importante, no entanto, havia ficado pendente. O pai de Déa, o Senhor Francisco, ainda não sabia que ela estava morando comigo. Quando eu havia conversado com ele no episódio da pixação do mausoléu, ele havia me dito que sua saúde não estava boa. Sabia alguma coisa a respeito dela por intermédio do Inspetor, com quem continuara a manter contato, e com o padre que ele conhecia, mas sempre coisas superficiais. Como ele reagiria ao saber que ela havia deixado a casa da mãe e havia decidido ficar comigo, antes de ir falar com ele?

- Déa querida, vou ligar para o seu pai e pedir para ele vir aqui. Talvez seja melhor do que você ir lá sozinha e ele levar um choque repentino.

- Acho melhor ligar agora. Já faz quase uma semana, eu confesso que fiquei com medo de ir para a casa dele e encontrar a polícia por lá. Seria o primeiro lugar onde iriam me procurar... e foi.

Peguei o telefone e falei com Seu Francisco. Disse que precisava falar com ele em particular, perguntei se poderia vir à minha casa. É óbvio que ele desconfiou de imediato. E veio já com a esperança de rever sua filha.

Quando ele chegou , sua surpresa foi ainda maior, porque Déa, durante a adolescência, foi ficando mais e mais parecida com aquela moça da encarnação anterior.

- Déa!! Minha filha! Você voltou de verdade!!

- Voltei, paizinho!!! Sou eu mesma!!!

Os dois se abraçaram, e ficaram assim por vários minutos, chorando de alegria.

- Fiquei com medo de ligar pra você antes, paizinho! Você podia passar mal!

- Minha filhinha...quando o Inspetor foi lá em casa procurar por você, imaginei que vocês deveriam estar juntos. Afinal, você já é uma moça adulta. E vi como vocês se amavam.

- Paizinho... depois que as coisas se acalmarem, vamos nos ver com mais frequência.

Resolvi interferir:

- Esperem. Se o Senhor quiser, pode ficar aqui em casa, temos mais dois quartos vazios, a casa é grande. Pelo menos até Déa se acostumar à nova vida...

- Não, meus filhos. Posso ficar aqui hoje, mas vocês têm que recuperar os anos em que ficaram afastados. Eu já tinha uma filha adulta e independente. Não é mesmo, sua boboca?

- Boboca é você, Seu Francisco! (risos)

Entramos na casa, fui fazer um café, enquanto os dois colocavam a conversa em dia. Felizmente, ele não passou mal. Seria terrível se ele tivesse um infarto naquele momento.

Tomamos café e ficamos comparando nossos pontos de vista sobre o que havia acontecido naqueles anos. Foi muito interessante ver como nossas experiências, apesar de baseadas nos mesmos fatos, havia nos afetado de formas diferentes. Embora possa parecer uma coisa óbvia, a repercussão emocional, embora muito intensa para nós três, aconteceu de maneira diversa com cada um.

Claro que foi muito pior para Déa. Imagine se sentir, repentinamente, em um outro corpo, ainda sendo você mesma. E em um corpo cheio de limitações, porque recém começou a se desenvolver.

As horas passaram sem percebermos. Fizemos questão que Seu Francisco ficasse para jantar. Resolvi pedir uma pizza, já que cozinhar tomaria tempo e queríamos continuar nosso papo.

Comemos a pizza, tomamos uma garrafa de vinho. Depois, continuamos a conversar na sala. Em um determinado momento da conversa, resolvi deixar que pai e filha conversassem a sós, achei que seria importante.

Fui para o quarto, e aproveitei para reler os cadernos que eu havia escrito ao longo dos anos, bem como a carta emocionada que Déa havia escrito aos quinze anos de idade. Meu Deus, eu ainda não havia entendido o motivo daquele “Drama Cósmico”! Se havia alguma lógica por trás de tudo aquilo, era tão complexa que minha mente não conseguia conceber.

Déa e seu pai conversaram até umas duas da madrugada. Então, me pareceu ouvir uns ruídos do lado de fora, no quintal. Peguei o tablet e, através do aplicativo da empresa de segurança, fui ver as câmeras. De início, não vi nada.

Procurei ver as imagens desde alguns minutos antes. Embora a resolução das câmeras fosse muito boa ( tinha infravermelho para registrar imagens no escuro), não vi nada. Fui observando todos os cantos do quintal. Perto do muro lateral esquerdo, do direito... então vi algo !

Parecia uma sombra que se movia! Tinha uma vaga forma humana, mas que mudava, parecia encolher, esticar, em movimentos sinistros. Confesso que senti medo. O que poderia ser?

Notei então que a luz externa estava apagada, provavelmente a diarista havia desligado o interruptor sem notar. Com o interruptor ligado, a lâmpada acendia à noite, e havia uma outra com sensor de movimentos. Liguei o botão, e o quintal ficou claro como se fosse dia, a sombra desapareceu. Não disse nada a Déa ou a Seu Francisco.

Dei uma pesquisada, poderia ser uma Larva Astral, uma entidade que ficaria procurando se alimentar da energia das pessoas...ou então um espírito desencarnado que ficou preso à Terra, sugando a energia dos vivos para tentar se manter neste plano.

Voltei para perto deles. Como já estava muito tarde para Seu Francisco ir para sua casa, Déa arrumou um dos quartos para ele. Então, fomos dormir.

- Boa noite, paizinho. Amo muito você.

- Também a amo, filha.

Não falei a eles sobre o vulto no quintal. Mas talvez devesse ter contado. Porque Déa teve um sono agitado, e acordou de repente, como se tivesse levado um susto:

- Papai!

Ela se levantou e correu até o quarto onde ele dormia. Seu Francisco estava caído no tapete ao lado da cama, pálido, ofegante.

- Paizinho, o que aconteceu??

- Não sei, filha. Foi como se houvesse mais alguém no quarto, então me senti fraco, e caí da cama.

- O vulto...

- O que foi, meu amor? Que vulto?

- Enquanto vocês conversavam, vi um vulto...uma forma que encolhia e se esticava, no quintal. Mas desapareceu quando acendi as luzes.

- Por que você não me falou?

- Eu não queria assustar vocês.

Seu Francisco murmurou:

- Deve ser um espírito ainda ligado à Terra, talvez tenha começado por sugar a energia de animais para não desaparecer por completo, e agora quer sugar a de humanos para retomar sua forma anterior.

- Mas o que podemos fazer, então?

- Vamos deixar as luzes acesas, pra começar.

Dormir com a luz acesa foi difícil. Assim que amanheceu, liguei para o Inspetor Guará, já que ele estava trabalhando com os tais “Arquivos Ocultos”. Talvez ele conhecesse algum médium ou “expert” no assunto. Eu já estava certo que o tal vulto seria do “Reizinho”.

O Inspetor foi muito solícito. Parecia que estava aguardando meu telefonema. Ele disse que logo iria até nossa casa.

Não demorou nem meia hora. Ele chegou acompanhado de uma bela mulher, que apresentou como sendo sua assistente, Diana. Segundo Guará, ela era especialista em assuntos esotéricos. E ela não perdeu tempo.

- Como era exatamente esse vulto, se é que conseguiu dar uma boa olhada nele?

Descrevi detalhadamente como eu o havia visto, e como havia desaparecido com a luz forte.

- É mesmo um espírito desencarnado, que está se recompondo até ter condições de realizar sua vingança.

- E como pode saber disso?

- Por tudo o que aconteceu antes. O Inspetor me deu os detalhes. Embora algo insólito, o que aconteceu com vocês não é tão incomum.

- É bom ouvir isso...mas o que, então, pode ser feito?

- Existem várias coisas que podem ser feitas para evitar que o espírito entre na casa ou consiga sugar as energias de vocês. Vamos usar incenso, velas, cristais...e mais algumas coisas que não posso revelar, são segredos do ofício.

Déa aceitou imediatamente:

- Ah moça...faça tudo o que puder, eu quero ficar longe desse “Reizinho”.

- Déa...é esse o seu nome atual, não?

- Não, Déa sempre foi o meu nome.

- Mas sua mãe lhe seu o nome de Maria Tereza.

- Isso porque ela não entendeu quando eu disse a ela meu verdadeiro nome, que não era o que ela me deu no cartório.

- Hum. Então, Déa, você é um espírito que voltou do “outro lado”, com todas as suas memórias. Já o vulto, que deve ser o “Reizinho”, desencarnou e seu espírito, com o corpo etérico e o astral, ficou vagando por aí até entender o que havia ocorrido com ele.

O fato é que, após algum tempo, esses corpos vão se desfazendo, de maneira parecida com o que acontece com o corpo físico. Se o espírito está possuído por um ódio muito grande, ele passa a se alimentar das energias dos vivos para manter sua forma.

Da maneira que seu companheiro descreveu, ele devia já estar em uma fase final de decomposição quando, de alguma forma, percebeu que você estava viva. Isto porque ele odeia você por algum motivo.

- Claro que odeia. Ele não conseguiu me estuprar, aí me matou.

- E você, com uma certa razão, provocou o acidente que fez com que ele desencarnasse.

- Com uma certa razão??? O que você faria em meu lugar?

- Desculpe, eu me expressei mal. Eu faria o mesmo, se pudesse. Mas isso gerou uma conexão entre vocês. E não creio que ele vá querer se redimir ou aceitar partir deste plano sem concretizar sua vingança.

- E o que pode ser feito, então, além de apenas fugir dele?

- Confrontá-lo e dissipar os corpos etérico e astral, antes que ele recupere a forma por completo.

Ela se aproximou de mim e falou:

- Ela não pode fazer isso, tem que ser você.

- Eu faço o que for preciso, senhora.

- Pode me chamar de Diana mesmo, deixe o “Senhora” de lado.

- Tudo bem...Diana.

Ela me chamou para um canto reservado da casa. Déa, o Inspetor e Seu Francisco ficaram conversando na sala.

Diana me explicou que eu precisaria aprender como sair de meu corpo físico, fazendo a chamada “Viagem Astral” ou “Desdobramento”. E a seguir, algumas técnicas secretas que ela havia aprendido em uma das Ordens que participou.

- Será que eu consigo?

- Você precisa conseguir. Eu não tenho essa conexão que você tem com Déa. E é esse amor que vocês partilham que tem o poder de dissolver o mal.

- É fácil falar.

- E...existe um último recurso, mas pode ser muito perigoso para você.

- Pode me dizer. Eu faço qualquer coisa por Déa. Ela já sofreu demais, isso tem que parar.

Diana, então, me ensinou uma “palavra secreta” que faria com que o vulto se dissolvesse e sua alma Seria imediatamente transportada para o “outro lado”...mas eu poderia ser levado também.

- Então eu iria com ele?

- Não. Ele iria para onde ele pertence, um dos níveis mais baixos do mundo espiritual, e você para um lugar melhor.

- Mas aí eu estaria morto.

- Desencarnado.

- Diana, não diga nada disso a Déa. Ela ficaria arrasada.

- Pode ficar tranquilo, não vou contar.

Voltamos a reunir, os cinco, e providenciamos tudo o que era necessário. A casa ficou Envolta em uma aura de proteção, segundo Diana.

Por uma questão de segurança, o pai dela ficou conosco nos dias que se seguiram. E, realmente, não vimos mais sinal do vulto do “Reizinho”.

Mas as coisas sempre podem piorar.

Alguns dias depois, recebemos a notícia que a mãe dela nesta vida havia tido morte súbita. Foi encontrada por uma vizinha, que a viu estendida no jardim.

Isso foi um choque imenso para Déa.

- Ah não!!! Não tínhamos um bom relacionamento, mas eu nunca desejei mal a ela! À sua maneira, ela queria o melhor para a filha ... Só que eu não era a filha que ela queria.

Tivemos que ir até lá e providenciar tudo, Déa era a única com quem ela poderia contar, uma vez que havia se afastado de todos os parentes do lado do falecido marido. Felizmente, ela possuía um seguro que custearia seu funeral e demais despesas. Curiosamente, os documentos estavam em uma pasta bem à vista na sala de estar.

Déa estava arrasada e com medo.

- Foi ele. Tenho a certeza que foi ele. Ele a matou e agora virá atrás de mim.

- Mas eu não vou deixar que nada aconteça a você, querida.

- O que você pode fazer contra um espírito maligno?

- O que eu puder, meu amor. E o que não puder também.

Uma coisa era certa: com a energia que ele havia roubado da sua última vítima, talvez já tivesse se materializado o suficiente para vir nos atacar.

Aparentemente, as defesas que Diana havia colocado na casa estavam funcionando. E eu praticava dia após dia o que ela me havia ensinado. Só que a tal “saída do corpo” ou “desdobramento” não acontecia.

Eu andava cada vez mais preocupado, até que finalmente consegui. Eu estava deitado na cama, treinando a técnica que me havia sido dada, e de repente me vi flutuando no teto do quarto, olhando para meu corpo e o de Déa , deitados . A seguir, procurei dar uma volta ao redor da casa. Depois, voltei. Após algumas vezes, foi ficando cada vez mais fácil.

Era uma sexta-feira à noite quando aconteceu. Déa e Seu Francisco já estavam um pouco mais tranquilos, e após o jantar, fomos dormir.

Fiz como já era quase um costume: deitei, procurei respirar calmamente, em um determinado ritmo, depois relaxei o corpo e saí, em projeção astral. Alguns segundos depois, senti que me golpeavam. Então vi o vulto: tinha forma humana, e uma aparência que , embora horrenda, lembrava mesmo o “Reizinho”, que tanto mal havia feito À mulher da minha vida.

Fui me defendendo dos golpes como podia. Achei que, sendo alguém “do bem”, conseguiria dominá-lo facilmente, mas não foi o que aconteceu. Então me agarrei a ele e fiz força para voar e me elevar a um nível bem alto, talvez ele enfraquecesse, afinal era um “espírito baixo”.

Ele continuava a de debater e me socar onde podia, eram como descargas elétricas que me acertavam, mas eu não podia me intimidar ou sentir medo, era a vida de Déa que estava em jogo.

Fui mais alto ainda, mas parece que a altitude no plano em que estávamos não o enfraquecia. Não me restou alternativa a não ser utilizar o recurso que Diana me havia ensinado, na verdade eram três sílabas.

Então pronunciei:

- ( obviamente, não posso revelar, devido às consequências)

Foi como se um clarão nos envolvesse. O vulto foi se desfazendo, e finalmente exclamou:

- NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOooooooooooo

Vi o que me pareceu ser um buraco no céu, que dava para um lugar escuro, e aquela forma viscosa foi sugada completamente.

Pensei imediatamente em voltar para Déa, o amor da minha vida, e desci o maois rápido que pude.

Porém, foi apenas para ver Déa chorando ao lado do meu corpo inerte, na cama, o pai dela rezando, as mãos postas.

Foi assim que eu morri.

Mas a história não terminou, se não eu não estaria aqui, escrevendo.

CONTINUA

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Comentários

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Cara , não tem como está história ficar melhor irmão...rs...Muuuito massa Paulo, no de mais !! Rs...

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Muito bom. Gostei do desfecho e do gancho para uma continuação.

Vamos ver o que virá

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Demais casal que obra prima de espiritismo e amor parabéns pela ousadia nota mil e agora só na expectativa da continuação da saga.

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Excelente parte, que fecha com chave de ouro as anteriores. Aqui o lado fantástico se completa, e finalmente teremos uma nova etapa. Se a história continua, muito que bem, se não continuar, está completa pois agora é ela que terá que esperar por ele. Grande conto. Parabéns! Como dizem os que acreditam: Só o amor redime tudo. Todas as estrelas e o texto foi excepcionalmente objetivo, se firulas, sem detalhe barrocos, sem rococó e sem excessos. Direto ao ponto. Narrativa perfeita par um conto como esse.

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