HOMOFOBIA. Conhecendo o mal que começa dentro de casa.

Um conto erótico de Allan
Categoria: Homossexual
Contém 1469 palavras
Data: 12/10/2022 09:34:18
Última revisão: 12/10/2022 09:52:33

Bom dia!

Meu nome é Allan (real), nasci e cresci num interior com população atual cerca de 12 mil habitantes, pessoas de mentes fechadas, preconceituosa, fofoqueiras e ardilosas.

Fisicamente sou pardo, 1,78m, atualmente 72kg, sou um pouco magro pela genética, e naturalmente tenho poucos pelos; naturalmente porque hoje em dia eu me depilo todo, já que agora tenho liberdade pra fazer isso.

Vou direto ao ponto.

Em 2014 eu tive um grande problema. Eu já entendia e sabia que gostava de homens, assim como minha família e os vizinhos, já que eu era um pouco afeminado, por mais que eu tentasse não ser por medo de represália e acabar sendo vítima de preconceito em casa, pois minha família religiosa, e parentes são altamente intolerantes. Mas não tinha saída, eu ouvia piada dos meus irmãos, meus pais e meus parentes.

Na rua eu também ouvia piadas, especialmente dos moleques da rua e de outras ruas que parece que só tinha a minha rua pra eles irem. Eles ficavam dando risada quando eu passava, ficavam de pedindo o cu, mas não era de verdade, era só pra me avacalhar; então eu feito besta xingava, fechava a cara, aí que era pior, porque riam mais ainda, ficavam gritando estilo vaia, e falando alto "pega viado, pega viado". Tinha uns que eu sei que pegavam gays, eu nunca vi, não posso afirmar, mas esses diziam que se eu desse um valor a eles, que eles me comeriam. Claro que eu não fiz isso, primeiro porque não tinha dinheiro nem para mim mesmo; segundo, se eu ousasse ficar com algum daqueles moleques, meu nome seria hasteado numa bandeira imediatamente.

E meus pais e irmãos algumas vezes ouviam os meninos zombarem de mim e me darem piadas, mas eles não diziam nada pra nenhum deles; eles apenas diziam que era culpa minha por eu parecer um viado, por eu andar mexendo a bunda, como que se eu fizesse de propósito; eles nem imaginavam o tanto que eu tentava não parecer gay. As coisas que eu ouvia na rua não surtiram tanto efeito na minha cabeça quanto às que eu ouvia dentro de casa, principalmente por serem sangue do meu sangue, daqueles que deveriam me proteger.

Eu ainda era virgem, nunca havia sido tocado por um homem, muito menos por mulher, por mais que eles jogassem meninas pra cima de mim, eu não aceitava, e isso piorava minha situação dentro de casa. Eu só vivia do colégio pra casa ou pra igreja, e morria de desejos por dentro, que eu tentava reprimir a todo custo, mas com insucesso.

Havia um vizinho que morava logo na casa ao lado que me tratava super bem. Falava comigo com semblante leve, sem aquele ar de preconceito ou sem aquela cara de ironia como muitos faziam. Eu gostava dele, mas só como vizinho, sem maldade. Só a mulher dele que eu não curtia. Ela era linguaruda, barraqueira, brigona, chata e braba.

Num belo sábado de tarde eu fui mandado comprar pão. Saí pelo portão e estava o vizinho em pé encostado na grade da porta dele, conversando com um homem. Aparentemente colega ou amigo do trabalho porque estavam os dois sujos de tinta - ele era pintor. Assim que saí pelo portão (de grade) os dois direcionaram o olhar para mim e ficaram calados. Eu percebi, mas disfarcei a percepção, fechei a grade, passei o ferrolho, e eles me olhando. Olhei pra eles, dei um sorriso e falei:

- Oi, vizinho!

- Diga vizinho, beleza? - Respondeu ele.

Com o outro eu o olhei, balancei a cabeça e falei:

- E aí! (Aqui onde eu moro, esse "E aí" é um tipo de saudação).

O homem estava me acompanhando com o olhar e um sorriso cínico no rosto, e respondeu:

- Diga!

Eu atravessei a rua nervoso; não nervoso de raiva, sim de timidez, porque eles continaram em silêncio e eu sabia que estavam me olhando.

Quando acabei de atravessar a rua ouvi o homem dizer:

- Aí não tem pra onde correr, é veado.

Meu vizinho falou baixinho:

- Já tô ligado!

O homem falou dando risada e com tom de perturbação:

- E ele gosta de você.

O vizinho não disse nada e deu risada respondendo à risada do amigo. Eu não ouvi mais nada porque dobrei a esquina pra ir à padaria, mas eu fiquei muito sem graça, a ponto de querer chorar e parecer que minhas pernas faltaram.

Pra voltar pra casa eu voltei pela outra rua pra fazer o caminho mais longo, pra ver se dava tempo o homem ir embora. Mas não adiantou, e foi até pior, porque pela outra rua eu andei muito em direção a eles, e tive que lidar com o olhar dos dois, sorrisos, e conversinhas quase no pé do ouvido.

Também fui me aproximando de cara fechada, nem olhei pra eles, e entrei. Em casa fui para meu quarto querendo chorar, me deitei de bruços e fui estudar, era o que desligava mais minha mente do mundo.

No domingo seguinte eu não coloquei os pés fora de casa. Foi um sacrifício eu convencer meus pais pra ir à igreja naquele dia, pois eles queriam porque queiram que eu fosse o tempo todo, pra eles eu deveria morar lá dentro, certamente pra expulsar o demônio do corpo e virar hétero. Eu tinha de ir e ser obrigado ouvir um pastor que direcionava a pregação para os gays quando ele me via ali; e ser obrigado conhecer um deus que salvava assassinos, estupradores, vilões, ladrões (pecados por opção), mas mandava para o inferno o homossexual que não pediu pra vim ao mundo, muito menos pediu para ser gay, e algo que nem "opção" é, sim, algo que está no sangue, no genes, na carne. Ah, e manda para o inferno mesmo que não pratique, apenas por ter nascido homossexual, já que a Bíblia é taxativa ao dizer que os homossexuais não herdarão o reino dos céus (lá não diz "caso" pratique).

Voltando ao assunto.

Só na segunda-feira coloquei os pés fora de casa às 7 da manhã pra ir comprar pão. E sim, todos esses servicinhos eram pra mim, mesmo eu tendo um irmão mais novo, e 2 mais velhos. E dei de cara com o vizinho saindo para o trabalho. Eu fechei a cara e fingi que não o vi, mas ele falou comigo em alto e bom tom, e com a naturalidade de sempre. Eu não tive escolha, tive que engolir a frustração dele não ter ignorado as palavras do amigo, e tive que responder.

Acontece que os dias foram se passando e esse vizinho começou me tratar com diferença. Quando a rua estava vazia e passávamos um pelo outro, ele me olhava diferente, abria sorrisos para mim, aqueles tipos de sorriso que sabíamos que havia intenções, mas eu não dava crédito, eu ficava com medo de eu estar imaginando coisa demais, ou tinha medo de alguém saber, medo da família; eu era regado a medos, medos e medos.

A intensão do vizinho foi ficando cada vez mais clara. As vezes eu saia, ele falava comigo com cara de safado, me acompanhava com o olhar, eu percebia porque às vezes eu olhava pra trás e via ele me acompanhando com o olhar, algumas vezes ele balançava a cabeça com um sinal de afirmação; noutras ele soltava outro sorriso quando eu reolhava pra ele.

Até que um belo dia de quinta-feira de manhã cedo, fui comprar pão, ele estava em pé na grade do lado de dentro, eu olhei pra ele, falei, ele respondeu com cara de safado e deu uma apertada no pau por cima da bermuda jeans. Eu gelei, perdi o ar, o chão me faltou nos pés, mas eu queria ter certeza. Atravessei a rua e olhei pra ele; ele deu outra apertada; dobrei a esquina, mas uma vontade esquisita me trouxe de volta pra rua. Ele estava entrando, e quando me viu voltou para a grade, me olhou com ar de safado, deu outra segurada no pau. Dessa vez tive certeza e me estremeci por dentro, uma mistura de alegria, tesão e medo. Mesmo assim eu sorri pra ele. Entrei em casa como se tivesse esquecido algo, e voltei pra rua pra ir comprar pão. Estava ele em pé na grade, eu sorri dinovo, ele retribuiu com um sorriso lindo, e eu fui correndo pra padaria. Parecia meio bobo, mas eu saí correndo de alegria, parece que a felicidade que senti naquele momento me impulsionou a correr.

Naquele dia fui para o colégio muito feliz. Não via a hora de chegar em casa e chegar a tardezinha pra ver ele. Eu nunca havia sido paquerado daquele jeito, só era paquerado por rapazes que me chamavam pra fuder, me pediram boquete, diziam que queriam comer meu cu, mas nunca daquele jeito que achei especial.

Continuo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 36 estrelas.
Incentive Allan2003 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de Allan2003Allan2003Contos: 23Seguidores: 56Seguindo: 55Mensagem Leitor de histórias (preferência reais) e querendo compartilhar um pouco da minha.

Comentários

Foto de perfil genérica

Início de vida gay e ainda mais no interior... Quanta inocência!!!!

Esse vizinho só parece estar usando uma abordagem diferente dos outros mas com as mesmas intenções, ainda mais por ser casado e, você caindo direitinho nas artimanhas dele.

Tomara que eu esteja enganado mas acho que você ainda vai ser muito exposto por ele.

3 0
Foto de perfil de Allan2003

Sim, fui inocente. Eu acreditava nas coisas bobas que se passavam pela minha imaginação. Realmente ele foi igual aos outros. Fui exposto sim. Muito obrigado, amigo!❤

1 0
Foto de perfil de Foresteer

Aposto que você já tinha lido a continuação, Mãe Diná.

0 0
Foto de perfil genérica

É realmente não estou vendo esse vizinho com bons olhos. Me parece mais um safado e provavelmente vai te comer. Agora reza pra ninguém saber principalmente a esposa dele. Mas se ele te comer pode estar certo que "aquele" amigo vai saber e vai querer te comer tambem.

1 0
Foto de perfil de Allan2003

Pois é, amigo, já aconteceu. Infelizmente! Muito obrigado, amigo!❤

0 0
Foto de perfil genérica

NÃO TEM NADA DE ESPECIAL NESSE VIZINHO. ELE É IGUAL A TODOS OS OUTROS. SE FOSSE DIFERENTE TERIA TE DEFENDIDO DAS PALAVRAS DO COLEGA DELE. CUIDADO, VC VAI É SE DAR MAL.

1 0