Membrum virillis
Ao final da Batalha do Margo as tropas dos exércitos oriental e ocidental aclamaram Diocleciano como único imperador romano que, ao reformular a estrutura governamental do império, conseguiu estabilizá-lo tanto econômica quanto militarmente. Nessa conjuntura passei minha adolescência na costa litorânea do Mar Adriático, mais precisamente em Salona na Dalmácia. Terceiro filho do aristocrata senatorial do império, Titus Maurus Constantius, minha instrução foi voltada à filosofia, às artes e à política, com vistas a ocupar futuramente um cargo tão ao mais importante que o do meu pai. A mesma disciplina e exigências eram feitas aos meus irmãos que, mais velhos do que eu, já tinham planos mais estruturados para um dia serem membros ativos do Senado em Roma. Confesso que não me interessava pela política, achando-a tremendamente aborrecida, mas nunca tive coragem de revelar isso aos meus pais, para evitar conflitos maiores. A mesma postura adotei em relação aos nossos mestres que não se cansavam de elogiar o progresso dos meus irmãos nesse assunto, enquanto lutavam para que eu me empenhasse mais, uma vez que costumava ficar disperso enquanto eles discursavam seus ensinamentos.
Morávamos numa grande propriedade que formava uma vila com algumas dezenas de famílias funcionárias, que se estendia por uma larga faixa do litoral rochoso e avançava num platô, continente adentro, até onde terminavam os campos de videiras. Eu raramente deixava a propriedade, ela me parecia extensa o suficiente para as minhas necessidades e para as longas e demoradas caminhadas que costumava empreender com a solidão dos meus pensamentos. Minha mãe se exasperava quando o anoitecer chegava e eu continuava perambulando sem que ninguém soubesse onde, obrigando-a a deslocar empregados de suas funções para irem no meu encalço. Isso sempre me rendia longos sermões, inicialmente por parte da minha mãe e, posteriormente, pelo meu pai; quando não algumas palmadas nos fundilhos, embora eu já estivesse bastante grandinho para levar uma surra, às vezes a tolerância deles tinha minguado e ela acabava acontecendo, apesar dos meus protestos e xingamentos.
- Esse moleque está cada vez mais atrevido e respondão! – queixava-se minha mãe ao meu pai, nessas ocasiões; e seu queixume era o que bastava para meu pai me impor algum tipo de castigo. Eu quase nunca me submetia a eles por mais do que algumas horas, tratando de fugir sorrateiramente para me livrar deles.
Nosso vizinho mais próximo, Valerius Rufinianus Ovinius era um vir illustris (homem ilustre) membro e chefe de uma das unidades montadas, Comes Domesticorum Equitum dos protetores domésticos, a guarda de elite do imperador que ficava estacionada no palácio imperial que Diocleciano havia mandado construir, mas ao qual vinha esporadicamente, entre uma campanha de suas tropas e outra. Ele vivia com a esposa, um primogênito e três filhas numa propriedade igualmente extensa e mais ao sul da nossa que terminava num bosque de faias e carvalhos. Como comandante militar da unidade de cavalaria da região, ele gozava de certo prestígio entre as famílias daquele rincão do império.
A corte de Diocleciano e dos outros imperadores da tetrarquia não era propriamente um reduto da virtuosidade e da moral, aspectos do caráter humano que estavam em decadência quando comparados a antiguidade clássica. Na luta pelo poder e prestígio, as cortes eram inchadas por todo tipo de usurpadores e parasitas que mantinham a opulência das festas, das cerimônias que exaltavam os imperadores que eram os únicos a poderem usar vestimentas de cor purpura distinguindo-os dos cidadãos abaixo deles, das orgias com concubinas, eunucos, efebos escravizados, prostitutas de elite oriundas de casas senatoriais ou militares que ocorriam nas alcovas e corredores palacianos, todos eles gozando de regalias e não tendo sua índole questionada. Tudo era feito de maneira ostensiva, a nudez e o coito, fosse entre homem e mulher, entre dois homens ou duas mulheres, eram práticas comuns e até denotavam o status de seus praticantes. Esses imperadores não eram propriamente os regentes do Império, eram quase sempre generais que com suas tropas haviam conquistado povos e territórios e sido aclamados por seus exércitos como imperadores. Portanto, havia diversas cortes secundárias, fora de Roma e dos domínios dos imperadores da tetrarquia que também viviam nessa opulência e devassidão social.
Meu pai e o general Valerius não eram propriamente amigos, mas se davam bem conquanto o assunto de suas conversas não versasse sobre a grande perseguição aos cristãos imposta por Diocleciano por influência do imperador Galério, um dos imperadores da tetrarquia instaurada por Diocleciano. Enquanto meu pai não via problema algum dos cristãos professarem sua religião, o comandante Valerius não se conformava com a rápida expansão dessas pessoas. Talvez fosse esse o motivo de meu pai não querer que meus irmãos e eu, fossemos a propriedade dos Ovinius com frequência e sem uma razão justificada para tanto. Meus irmãos eram mais influenciados pelas ideias e condutas do meu pai, enquanto eu nem me dava ao trabalho de pensar sobre elas. Portanto, as eventuais diferenças que ele tinha com o nosso vizinho, também não me diziam respeito. Ademais, havia um motivo bem mais atraente para eu ultrapassar os limites da nossa propriedade e vagar pela do vizinho. E esse motivo atendia pelo nome de Maximus Augustus, o primogênito e único filho varão de Valerius. Maximus tinha a fama de ser um jovem rebelde, dono de uma personalidade forte e ideias um tanto quanto estapafúrdias, o que lhe rendia alguns conflitos com o pai impositivo.
Comecei a ter mais contato com ele quando das minhas andanças pelas escarpas e pequenas praias que se formavam entre as rochas que dominavam aquele trecho do litoral da Dalmácia repleto de ilhas que se enfileiravam ao longo da costa, algumas podendo ser avistadas no horizonte. Parece que ambos tínhamos essa necessidade de ficar sozinhos com nossos pensamentos, de explorarmos os arredores a fim de conseguirmos um tempo só para nós longe da rotina doméstica de nossas casas. Era uma forma de não sermos chamados à atenção por qualquer pequena besteira que praticávamos. Apesar das enormes diferenças que tínhamos, tanto físicas quanto emocionais, acabamos nos tornando amigos. Ele era dois anos mais velho do que eu, era ligeiramente mais alto, uns quatro ou cinco dedos, dono de um corpo atlético e musculoso, conseguido com a ajuda dos exercícios que praticava junto com os soldados do regimento que o pai comandava, tinha uma cabeleira vasta um pouco encaracolada, com grandes mexas castanhas que faziam sua cabeça parecer maior. Ao empreender suas caminhadas, ele gostava de usar o mesmo uniforme que os soldados comandados por seu pai usavam, embora não fosse oficialmente um deles, apenas frequentando regularmente o quartel onde costumava treinar as artes da guerra. Ele já se sentia um militar, pensava como eles, agia como eles, se preparava para ser um deles. A ampliação das fronteiras do império, conquistando outros povos e suas terras, que os imperadores estavam realizando, tinha se entranhado na mente de muitos jovens que queriam se enfileirar nas tropas dos exércitos para eles mesmos se sentirem conquistadores e poderosos. A cada quinze homens em média, um ostentava alguma patente militar e gerava gastos que iam sendo cobertos com o aumento de impostos. Maximus era um exemplo típico desses jovens, e era exatamente nisso que residiam as nossas grandes e principais diferenças. No meu entender, as conquistas deveriam ser fruto de discussões, argumentos, convencimento e não às custas de sangue e vidas. Para mim o poder estava no intelecto e não nas armas, e era isso que me fazia sair à busca de conhecimento e cultura, não aprendendo a lutar e a manejar uma espada.
Nossas conversas iniciais, logo depois de nos conhecermos, giravam basicamente em torno desses pontos de vista antagônicos, um tentando convencer o outro de seus ideais. Às vezes, essas discussões se acaloravam, chegávamos mesmo a brigar e ficar alguns dias sem nos vermos, mas acabávamos retornando aos passeios por alguma razão que ambos desconheciam. No entanto, naquela época, éramos jovens demais para compreender toda a extensão e complexidade do mundo que nos cercava, e essas desavenças eram logo superadas em nome da nossa amizade que estava se tornando mais profunda e intensa.
Foi no verão do ano em que completei dezoito anos que me dei conta do quanto gostava do Maximus. Fazia uns quatro ou cinco anos que partilhávamos aquela amizade, aqueles dias quentes nos banhando nas praias ou nas piscinas naturais que se formavam entre as rochas durante a maré alta, aquelas tardes mais frescas de inverno quando passeávamos entre as videiras recém podadas ou, aquelas noites de céu limpo pontilhado de estrelas e alguma das fases da lua projetando sua luz prateada e fria, sentados ombro a ombro nas varandas das nossas casas. Depois desses anos todos, falávamos sobre tudo, sobre coisas íntimas, sobre nossos medos, sobre nossos sonhos, ao ponto de sermos os únicos guardiões dos segredos um do outro. Também foi naquele verão que ele encontrou uma concha enorme e muito bonita durante um mergulho e me presentou com ela, dizendo que além do rugido das ondas, se eu apurasse a audição, sempre ouviria a voz dele me confessando o quão importante eu era na vida dele. Eu lhe dirigi um sorriso franco e carinhoso, tive vontade de beijá-lo, mas era tímido demais para tanta ousadia. Pareceu-me que ele estava com a mesma vontade, mas teve receio de que eu interpretasse mal o seu gesto atrevido.
O sol de agosto brilhava inclemente desde as primeiras horas da manhã, era sábado e meus irmãos e eu não precisávamos nos submeter aos ensinamentos dos nossos mestres, indo até o liceu onde eles doutrinavam. Tomei meu desjejum na companhia da família e sumi, ninguém mais dava importância aos meus sumiços prolongados, anos tentando me disciplinar com admoestações e surras tinham se mostrado infrutíferos, simplesmente haviam desistido de mim. No verão anterior o Maximus me presenteou com dois filhotes de mastim napolitano por ocasião do meu aniversário, cujos pais um general amigo do pai dele havia trazido de uma campanha na península itálica. Eles já esperavam ansiosos por mim quando tomei a trilha que levava à praia, tinham se tornado meus companheiros de peregrinação. O Maximus e eu chegamos praticamente ao mesmo tempo no lugar onde costumávamos nos banhar no mar de águas rasas de um azul intenso.
Não demoramos a tirar as roupas e cair na água pelados, nadando próximos e em círculo, era assim que costumavam começar as brincadeiras, um tentando montar nos ombros do outro, um tentando enfiar a cabeça do outro dentro da água para ver quem era o mais habilidoso, um jogando água na cara do outro. Ficávamos nessa provocação mútua até nos cansarmos e voltarmos a praia, onde deixávamos nossos corpos cansados despencarem sobre a areia, enquanto secavam aquecidos pelo sol. Já havíamos perdido a conta de quantas vezes repetimos esse ritual nos últimos anos e, mesmo assim, ele ainda nos era prazeroso e divertido, tendo servido também para consolidar nossa amizade.
Naquele dia, porém, aconteceu algo novo, um comportamento que o Maximus nunca tivera antes e, que começou logo que cheguei a praia.
- Esse sol passando por suas vestes e me revelando seu corpo me deixa maluco! – afirmou ele quando me viu descendo a encosta contra o brilho do sol.
- Você é um maluco por natureza, não há nenhuma novidade nisso! – devolvi. – Só espero que não comece com suas costumeiras brincadeiras de mau gosto para o meu lado. – emendei
- O que eu posso fazer se você me excita? – indagou ele
- Enfiar-se na água fria, tomar algumas gotas de beladona, ou ir para o raio que o parta! – respondi zangado.
- Só posso fazer a primeira, as outras duas me matariam e você choraria a minha falta! – retrucou caçoando.
- Quem foi que te disse que eu vou sentir sua falta se morresse? O mais provável seria eu dar uma festa por ter me livrado das besteiras que você fala. – devolvi
- O seu coração! É ele quem me diz que você prantearia a minha morte até o último dos teus dias. – revidou ele
- Você não passa de um grandessíssimo convencido! Vou dar um mergulho para não ter que ouvir a sua voz. – afirmei, tirando minha túnica e saltando da pedra onde estávamos para dentro de uma das piscinas naturais que a maré havia formado.
Ele ficou me olhando nadar, dando cambalhotas dentro da água que as rochas quentes haviam amornado, enquanto uma de suas mãos manipulava o cacetão indômito que o martirizava com uma ereção irreprimível. Afastei-me um pouco das rochas e da arrebentação nadando para um lugar de águas mais tranquilas e profundas, quando voltei a me virar na direção da encosta, ele estava a poucas braçadas de mim. Achei que ele tinha nadado submerso para me assustar, puxando minhas pernas como costumava fazer. Comecei a jogar água na cara dele e fui tentar enfiar a cabeça dele novamente para debaixo da superfície. Noutras vezes ele me deixava fazer essa brincadeira fingindo aceitá-la, uma vez que, se ele assim o quisesse, eu não o conseguiria dado que minhas forças não eram páreo para as dele. Mas, dessa vez fui surpreendido pela reação ligeira dele. Quando entrei no alcance dos braços dele, ele me girou dentro d’água e com um dos braços prendeu-me pelo pescoço, enquanto sua ereção resvalava nas minhas nádegas nuas a cada movimento nosso. Ao mandar que me soltasse, ele me puxou para mais perto de seu corpo e começou a me encoxar gananciosa e explicitamente. Eu me debatia com todas as forças para me livrar dele, mas isso só o fazia arfar mais intensamente junto a minha orelha que ele prendia entre os lábios.
- Para Maximus! O que você pensa que está fazendo? Me solta! – gritei assustado, conseguindo me desvencilhar dele enfiando meus dedos na cara dele.
Nadei o mais rápido que pude para fora da água, blasfemando e xingando-o pelo atrevimento. Ele me perseguiu com o cacetão ainda todo armado, tentando me impedir de voltar para casa. Vendo-o se aproximar ligeiro, nem vesti a túnica e saí correndo nu pela trilha que conduzia para casa. Só parei esbaforido e com o coração quase saindo pela boca quando estava a uma distância segura, mas ainda distante o suficiente de casa para que ninguém me visse pelado. Vesti a túnica sobre o corpo molhado, o que a fez aderir às minhas curvas e entrei em casa, correndo diretamente para os meus aposentos. Fiquei mais de uma hora ali sentado tentando processar o que fora aquilo, enquanto minha respiração voltava ao ritmo normal. Comecei a sentir raiva do Maximus, daquele caralhão que me deixou apavorado, da sanha desatada com a qual ele me agarrou e se esfregou em mim, e me dei conta de que estava chorando quando uma lágrima caiu sobre a minha coxa. Por que ele tinha que fazer isso com a nossa amizade, questionei-me. Eu praticamente não tinha amigos, ele era o único, o que eu mais gostava, o que melhor me compreendia. Agora estava tudo acabado. Nunca mais essa amizade seria a mesma, havia perdido a ingenuidade, a confiança.
Como no dia seguinte não voltei à praia, ele veio ter comigo pouco antes do horário do jantar. Mandei o empregado, que me trouxe a notícia de que ele esperava por mim na varanda, dizer que eu não queria falar com ele, que fosse embora e nunca mais voltasse a me procurar, embora isso oprimisse meu peito.
- Por que mandou seu amigo embora sem recebê-lo? – perguntou minha mãe durante o jantar.
- Porque ele é um bestalhão! – respondi, enquanto meus pais se entreolhavam e disfarçavam uma risadinha.
- E por que esse empregado já tinha que correr e fazer fofoca no seu ouvido? Será que não se pode ter um minuto de privacidade nessa casa? – retruquei zangado
- Ele não veio fazer fofoca, eu que perguntei quem estava a sua procura, foi só isso. Ele cumpriu o seu dever. – respondeu minha mãe
- Claro! Aqui todos cumprem os seus deveres, menos eu, eu sempre sou o errado, eu nunca estou com a razão. – resmunguei ofendido.
- Ninguém disse isso! Agora, que você gosta de sempre ser do contra, isso você não pode negar! – exclamou meu pai, entrando na conversa.
- Por que vocês brigaram? – perguntou minha mãe, não me dando a chance de retrucar a afirmação do meu pai.
- Eu já disse, porque ele é um bestalhão! Não é o bastante?
- Até essa manhã ele não era um bestalhão, você saiu daqui todo entusiasmado para encontrá-lo. – afirmou minha mãe.
- Isso foi antes .... antes de .... – vi que estava na hora de me calar. – Antes de ele virar um bestalhão, ora! E chega dessa conversa! Não quero mais falar sobre esse assunto. – devolvi resoluto.
Eu não fazia a ideia exata de qual vigília era, só sabia que a media nox (início da terceira vigília que começava às 24h, meia-noite) já devia ter ficado para trás a algum tempo, enquanto eu lutava para conciliar o sono que, naquela noite, parecia decidido a não me alcançar, quando o Maximus entrou sorrateiro nos meus aposentos, pela janela, escalando a parede da casa. De tão absorto que estava com meus pensamentos, acabei levando um tremendo susto.
- Sssshhh! – fez ele com um dedo indicador sobre lábios ao se aproximar de mim.
- O que está fazendo aqui, seu maluco? Saia imediatamente ou começo a gritar pedindo ajuda! – ameacei.
- Larga a mão de ser fresco! Quer acordar a casa toda por conta de um capricho? – questionou ele, sentando-se na minha cama. – Por que não veio conversar comigo essa tarde?
- Porque não temos o que conversar! Agora saia daqui! – respondi
- Não vou a lugar algum sem a gente conversar! E, você vai ficar bem quietinho, está me entendendo? – revidou ele. – Por que reagiu daquele jeito quando estávamos brincando? Você sabe que eu gosto de você e não ia fazer nada para te machucar. – acrescentou
- Eu não gosto quando você fica esquisito daquele jeito! Desde que você começou a ficar todo peludo naquele lugar, você ficou esquisito comigo. Eu não gosto! – respondi amofinado.
- Não estou esquisito, você é que está com inveja! – revidou ele
- Inveja? Do que é que eu vou ter inveja, seu tonto? – indaguei, e melhor teria sido não o fazer.
- De eu ser homem, do meu membrum virillis! – respondeu ele
- Do seu o quê? Que bobagem é essa?
- Meu membrum virillis! Sim, por que eu agora tenho um membrum virillis, enquanto você não tem. – respondeu ele.
- Membrum virillis, de onde você tirou essa besteira? Se muito, isso que você tem aí no meio das pernas é um penis pilosus, nada mais! – retruquei, minimizando a importância que ele estava dando aquele troço colossal, e que havia se tornado bizarro com o passar dos anos.
- É um membrum virillis, sim! É ele quem faz os filhos nas mulheres, fique você sabendo! – revidou impávido.
- Estou pouco me lixando para o que ele faz! Já que você quer fazer filhos em mulheres, vá procurar uma e não fique esfregando esse troço em mim! – devolvi.
- Não quero fazer filhos em mulheres! Quero você! – retrucou obstinado.
- Tonto! Você é o sujeito mais bestalhão que eu conheço! Só fala besteira, o tempo todo! – afirmei. – Agora suma daqui! Já devem estar a sua procura. E, nunca mais volte a me procurar!
- Ninguém vai me procurar, eu avisei que vinha dormir na sua casa. Vou dormir aqui com você, nessa cama. Tente me expulsar se conseguir! Só vou te prevenir de que se começar a me agarrar eu não respondo pelo membrum virillis, se ele ficar duro a culpa é sua. – disse ele, ao se enfiar na cama ao meu lado
- Eu odeio você, Maximus! Odeio, sabia? – resmunguei
- Eu sei! Agora trate de dormir! – revidou ele, virando as costas para mim e se ajeitando sob o cobertor.
Com aquele corpão maciço e quente tão próximo a mim, a certeza de que não conseguiria conciliar o sono se tornou real. Nunca havia divido a cama com ninguém, e aquela respiração cadenciada preenchendo o quarto não me deixava relaxar, nem pensar direito. O pior foi constatar, depois de algum tempo, que aquilo era a coisa mais maravilhosa que já tinha me acontecido. Droga Maximus, não consigo sentir raiva de você por muito tempo, seu bruxo malvado. Membrum virillis, essa é boa, o que é que falta esse bobão inventar, foi a última coisa que questionei antes das pálpebras pesadas se fecharem.
Antes do dia raiar, ele me deixou, escapulindo por onde tinha vindo, só para não ter que passar pelo constrangimento de explicar o que tinha vindo fazer nos meus aposentos durante a noite, caso alguém da minha família ou um dos empregados o flagrasse. Quando abri os olhos o dia já estava claro; a cama, ao meu lado, vazia, mas os lençóis ainda guardavam o cheiro dele, o cheiro inconfundível de Maximus, um cheiro que eu conhecia muito bem. Lamentei ele não estar ali ao meu lado.
Não sei por que não tive coragem de ir à praia naquela manhã, receio de ele repetir o que tinha feito no dia anterior e eu gostar como gostei de dormir ao lado dele? Não claro que não, onde já se viu eu ter medo daquele bobalhão. Eu precisava provar a todos que minhas decisões eram definitivas, irrevogáveis. Se meus pais achavam que tínhamos brigado, então não seria eu a voltar atrás e ficar numa boa com o Maximus. Passei o dia amuado, aquele lugar nas rochas me fazia falta, mesmo que por apenas um dia. A impressão que eu tinha era a de que meu dia não estava completo sem aqueles encontros. Até meus cães pareciam estar sentindo falta daquela caminhada pela trilha, que percorriam farejando o chão como se estivessem se certificando de que algum animal silvestre como um lince, uma corça ou uma raposa a tivessem cruzado durante a noite. Eles não paravam de me rodear e latir, como se quisessem dizer – o que está esperando, vamos logo – enquanto eu relutava em me encontrar com o Maximus. Mantive minha postura e não fui. Fiquei sabendo que ele estivera à minha espera, pois minha mãe havia designado um empregado para pescar algumas pandoras para o almoço, e ele foi interpelado pelo Maximus sobre o meu paradeiro.
- Você ainda não fez as pazes com o seu amigo? – perguntou minha mãe quando o empregado voltou com a informação.
- Não! E nem nunca mais vou fazer! – exclamei, o que a fez rir, juntamente com as outras empregadas que estavam na cozinha naquele momento. Ninguém punha fé nas minhas convicções. Saí de lá furioso, era impossível conviver nessa casa, sem que todos caçoassem de mim o tempo todo.
Três dias, fui tudo que consegui aguentar. Estava sentindo tantas saudades daquele imbecil que fiquei furioso comigo mesmo. No meio da tarde abandonei minhas convicções, deixei minha raiva de lado e fui até os rochedos. No caminho fiquei conjecturando que a chance de encontrá-lo seria menor, uma vez que não tinha ido pela manhã e deixado combinado de regressarmos a tarde. No entanto, assim que passei pelos campos de gramíneas altas que corriam ao longo do topo dos penhascos, eu o vi sentado nu sobre um dos rochedos que aflorava junto a costa formando uma pequena ilha e, onde costumávamos ficar nos secando ao sol depois dos mergulhos, por ela ter a superfície relativamente plana e ser extensa o bastante para se caminhar sobre ela. Hesitei em ir ter com ele, pois precisaria tirar minha túnica, o que significava também ficar nu e nadar algumas braçadas até chegar à ilhota. Ele me viu antes de eu me embrenhar na volta para casa.
- Anda! O que está esperando para vir até aqui! – berrou ele, para superar o barulho das ondas se arrebentando contra as pedras, e o vento que soprava em direção contrária.
Fui até ele, que se levantou para me alçar pelo braço quando saí da água.
- Oi!
- Oi! Por que não veio me ver todos esses dias? Ainda está bravo comigo? – questionou ele
- Que todos esses dias, foram apenas dois! Eu estava ocupado! – respondi, fazendo com que ele logo me soltasse, pois eu já não conseguia mais olhar para aquele tal de membrum virillis sem ficar constrangido e a cabeça cheia de pensamentos impróprios.
- Ocupado com o quê? Você não tem nada para fazer! Estava fugindo de mim, isso sim! – afirmou ele. Não respondi, ele estava certo.
Apoiei as costas numa parte lisa da rocha e fiquei olhando o horizonte ao lado dele. Ninguém dizia nada, estávamos ou sem assunto, ou ainda pensando naquele incidente que pareceu ter mudado tudo em nossa velha e amistosa relação. Meu corpo secava aos poucos, algumas gotas ainda pingavam dos meus cabelos e escorriam pelo rosto caindo sobre meu peito e meus mamilos. A mão dele estava quase resvalando na minha e ele levou sutilmente dois dedos para cima dela, como se estivesse com receio de me tocar, ao mesmo tempo em que ardia de desejo de o fazer. Não me retraí, eu gostava de sentir ele me tocando. Ele não tirava os olhos de mim, mais precisamente de uma das minhas tetinhas, em cujo mamilo havia se fixado uma das gotas que caiu dos meus cabelos.
- O que foi, por que está me olhando desse jeito? – perguntei, por aquele olhar estar me fazendo sentir umas coisas estranhas.
- Que jeito? Vai implicar até como eu olho para você agora?
- Vou! E você não tem nada que reclamar! – protestei. Nisso vejo a mão dele vindo cautelosamente na direção do meu mamilo, o polegar dele tocando de leve na gota e a espalhando sobre o biquinho rosado da minha tetinha.
- Você é tão lindo, Julius Atticus Constantius! Eu poderia passar a vida inteira olhando para você e admirando essa formosura de corpo. – murmurou ele enfatizando todo o meu nome, e fazendo o polegar rodopiar ao redor do meu mamilo.
- Você ficou maluco?
- Estou ficando, por culpa sua! Olha o que você faz comigo! – exclamou ele, tirando a mão de cima do cacetão que começava a endurecer.
- Eu vou embora! Sabia que não devia ter vindo, sabia que não queria mais ver essa sua cara! – esbravejei, querendo me levantar para ir embora.
Ele me segurou, nós começamos a lutar, ele me dominou e montou em mim, que fiquei preso debaixo do corpão pesado dele, arfando, enquanto o rosto dele vinha se aproximando lentamente do meu, até ele encobrir minha boca com a dele, num beijo tórrido e molhado. Parei de resistir assim que senti o sabor da saliva dele entrando na minha boca. Por alguns segundos fiquei confuso e desorientado, sem saber como agir, até que meus lábios começaram a se movimentar e aceitar os dele consumando o beijo e a aceitação dele. Quando o beijo terminou, ficamos sem saber como agir, eu estava excitado e meu corpo todo sentia isso através de um frenesi que me fazia tremer, ele estava com o caralhão completamente duro e já não o escondia de mim. Pulamos na água para desfazer aquele clima sensual que havia se instalado, e começamos a brincar inocentemente como sempre, como se nada daquilo tivesse acontecido.
Maximus era um palhação! Tinha crescido e virado um homem vigoroso e atraente, mas continuava com o cérebro de um moleque travesso e safado. E era exatamente assim que eu gostava dele, muito mais do que seria capaz de admitir, se me perguntassem. Tendo passado pela puberdade sem as mesmas transformações tão óbvias e modificadoras quanto as dele, comecei a me sentir atraído por sua masculinidade. Tinha dificuldade de confessar a mim mesmo que estava apaixonado por ele, que queria que ele sentisse o mesmo amor que eu sentia por ele, e não tinha coragem de revelar.
- Faz tempo que está esperando por mim? – perguntou-me ele no início de uma tarde bastante quente para aquela época do ano, ao chegar ao nosso refúgio na praia.
- Quem te disse que eu estava a sua espera? Vim apenas fazer meu passeio diário, não seja convencido achando que só venho aqui para te ver. – respondi. Ele soltou uma gargalhada.
- A quem você quer enganar com essa mentira? O principal motivo que te traz até aqui sou eu, pensa que não sei! – devolveu ele.
- Nem vou me dar ao trabalho de responder! E, pode ir me soltando, você está todo suado. – protestei, quando ele me agarrou e me abraçou, querendo me dar um beijo na boca, do qual fugi, levando apenas um chupão no pescoço, enquanto ele se divertia com meu protesto. Havia se tornado um prazer para ele ficar me agarrando a todo instante enquanto eu procurava me libertar de sua tara devassa.
- Passei a manhã no quartel, tivemos ensinamentos de como manejar os escudos ao mesmo tempo em que se avança com a espada. Foi muito legar! – disse ele, tirando a pesada armadura de couro que carregava sobre a túnica, e depois se despindo completamente e se atirando nas ondas.
- Deve ter sido uma manhã esplendorosa então! Um bando de marmanjos se gladiando com espadas. Que esporte fascinante! – ironizei, quando ele saiu do mar e se sentou ao meu lado.
- É mais divertido do que ficar o tempo todo lendo e escrevendo estas bobagens que você escreve sobre amor e todas essas outras besteiras. – revidou ele.
- Não são besteiras! Chama-se poesia, se é que interessa saber. – retruquei
- E o que é que se conquista com essas poesias? Alguém já ganhou alguma batalha escrevendo e lendo poesias? – questionou ele.
- Maximus, você é o maior bestalhão que eu conheço! – exclamei, diante da insensibilidade dele.
- Você conhece poucas pessoas, afora os funcionários do seu pai, e de algumas famílias amigas dele, você só conhece a mim, portanto, a sua opinião a meu respeito não é lá muito verdadeira e confiável. Você praticamente nunca saiu daqui, aposto que dá para contar nos dedos das mãos as vezes em que você foi até Salona, Aquum ou Iader que ficam praticamente aqui ao lado. – afirmou ele, querendo menosprezar minha opinião.
- Já estive em Doclea e até atravessei o mar para ir até Ancona, não sou um bobão como você pensa! – exclamei zangado.
- Ah, então podemos dizer que já é um cidadão do mundo, o nosso Julius Atticus! – debochou ele, enfatizando bem o meu nome quando queria me provocar.
- E você conhece o que, Maximus Augustus, além da sua espada e dessa parafernália toda com a qual fica se exibindo por aí? – ele se zangava quando eu o chamava pelo seu prenome completo.
- É briga que você está querendo? Eu posso dar um jeito nisso agora mesmo. – ameaçou ele, atirando-se sobre mim e procurando me imobilizar.
- Me solta, Maximus Augustus Ovinius! – gritei, quando ele estava com aquele corpão imenso, pesado e nu me prensando contra a areia. Chamá-lo pelo nome completo só o deixou ainda mais irritado, ele sabia que eu estava caçoando dele quando fazia isso.
- Do que você me chamou? Repete, se tiver coragem e for homem para isso!
- Maximus Augustus Ovinius! – repeti encarando-o e pronunciando lentamente as sílabas.
Ele ficou excitado comigo me debatendo debaixo dele. Ultimamente ele se excitava facilmente com a minha nudez e, quando isso se juntava ao contato físico, o caralhão dele endurecia em questão de segundos. Ao perceber que a brincadeira do agarra-agarra estava se transformando num desejo sexual crescente, eu consegui me virar e tirar ele de cima de mim. Ai fugir correndo do alcance dele, mas não fui ligeiro o bastante e logo ele voltou a me derrubar e me agarrar. Desta vez ele se lançou diretamente sobre a minha bunda com sua ereção insaciada. Mesmo eu me agitando, ele conseguiu me penetrar. Ao sentir a dor inclemente do meu ânus se distendendo e se rasgando, eu gritei agoniado a plenos pulmões.
- O que você está fazendo? Pare já com isso! Ai, ai Maximus! Para, Maximus! Está doendo! Você está me machucando, seu maluco! – eu demorei a me dar conta do que estava acontecendo, de que era a carne rija dele entrando no meu corpo por uma via que eu nem fazia ideia que podia ser empalada.
Ele estava tão ou mais surpreso por ter logrado êxito numa façanha da qual só tinha ouvido histórias dos soldados do quartel. Ao sentir a maciez do meu cuzinho estreito constringindo sua rola, ele se deixou guiar pelo tesão e pelo prazer intenso que aquilo estava lhe provocando. O que lhe haviam contado os soldados era verdade, meter a pica numa vagina ou num cuzinho era realmente algo maravilhoso e estimulante. Ele nem pensou em mim, isso ninguém havia lhe dito, que o coito bruto acarretava dor. Ele só pensava naquela sensação inebriante que vinha do seu cacete, e num frenesi descontrolado, continuou a me estocar com seu caralhão, como se estivesse num duelo e seu cacete fosse sua espada. Eu gritava e gania sem parar, subjugado pela força e pela tara dele. Ao notar que quanto mais eu lutava, mais ele usava de sua força para me dominar, eu me rendi, achando que isso o faria sair de dentro e de cima de mim. O que eu não imaginava, era que isso só ia acontecer depois de ele se satisfazer, depois de ele inundar minhas entranhas com seu líquido quente e viril, o que levou mais tempo do que eu supunha. Quando ele liberou um urro e terminou de se movimentar sobre mim, ele arfava como se tivesse corrido por léguas, estava num estado de êxtase, num transe que o deixou atordoado, ao mesmo tempo que sentindo um prazer indescritível. Só então ele se deu conta do meu desespero, do pavor expresso no meu semblante, do sangue rubro e abundante que escoria do meu reguinho e se espalhava pelas nádegas e coxas. Meu corpo todo tremia, tomado por espasmos clônicos involuntários que eu não conseguia controlar.
- Olha o que você fez, seu estúpido! Você me machucou, eu estou sangrando! Eu te odeio, Maximus, eu te odeio! – berrei, tentando entender o que estava acontecendo comigo.
- Você me provocou! Você sabe que eu não gosto quando você fica me provocando! – retrucou ele prontamente, como que querendo se eximir da culpa por sua intemperança desvairada. – Eu não quis te machucar, Julius! – emendou, com a voz branda e condoída.
- Mas machucou! Nunca mais vou olhar na sua cara! Nunca mais! – esbravejei, vestindo minha túnica e tomando a trilha de volta para casa.
Eu mal conseguia andar, o sangramento não parava e já estava na altura do meu joelho. Comovido com meu caminhar cambaleante, ele veio ao meu encalço, me abraçou pela cintura, o que me deixou ainda mais irritado. Naquele momento, o toque daquelas mãos que tantas vezes tinha acendido um desejo estranho e prazeroso em mim, agora me dava medo. Subitamente percebi que eu não conhecia nada da essência humana, dos desejos e prazeres da carne, da lascívia que só conhecia das minhas leituras e de algumas conversas entre meus irmãos mais velhos que sempre paravam assim que eu me aproximava. Que mundo de sensações era aquele pelo qual meu corpo havia passado enquanto o Maximus estava me possuindo? Me senti a mais tola das criaturas e, precisei me esforçar para que aquele nó na minha garganta não se transformasse em choro.
- Eu vou te levar para casa! – disse ele, quando tentei me desvencilhar de seu braço vigoroso.
- Fique longe de mim! Não me toque! Você já fez estragos suficientes! O que mais pretende fazer comigo? – vociferei
- Nada, não pretendo fazer nada com você! Só te ajudar a chegar em casa. – afirmou ele. Me calei, contra a obstinação dele havia pouco que se pudesse fazer.
Não era de todo ruim sentir o amparo daquele braço e o calor do corpo dele resvalando no meu, mas isso eu não confessaria nem sob tortura. Muito menos, que aquele formigamento úmido no meu ânus era a coisa mais maravilhosa que já tinha sentido. O que ele pensaria, ou pior, o que qualquer outra pessoa ia pensar de mim se soubesse o que eu estava sentindo.
- Agora vá embora! Nunca mais quero te ver! Ninguém pode me ver entrando em casa nesse estado! – afirmei
- Podemos dizer que você se machucou. – retrucou ele.
- Ah, eu me machuquei? Como é que se machuca a própria bunda até ela sangrar? Você consegue explicar isso? Vá embora, Maximus! Suma pelo resto da vida! – devolvi zangado.
Entrei em casa me esquivando dos empregados e de qualquer um, como se fosse um ladrão. Corri à sala de banho, me livrei da túnica ensanguentada e me meti na banheira de água fria. Pedir que algum empregado trouxesse água quente seria o mesmo que expor a libertinagem ocorrida na praia. Ninguém podia nem sonhar com o que tinha acontecido, ou eu estaria irremediavelmente perdido. Comecei a sentir medo de que não fosse parar de sangrar, que minha devassidão fosse descoberta. Meu coração parecia querer sair pela boca enquanto eu me limpava. Fechei-me em meus aposentos e fiquei lá pensando e rememorando cada instante daquele período em que o Maximus ficou engatado em mim. Felizmente ninguém mais se importava com as minhas ausências durante as refeições e, o anoitecer veio sem que ninguém me procurasse.
- O que faz aqui? Você não pode ficar vindo aqui e entrando pela janela durante a noite, se te pegam vão querer saber o que está procurando nos meus aposentos. Vai embora! – ordenei, quando o vi invadindo o quarto já tarde da noite.
- Eu precisava saber como você está! – respondeu ele. – Ainda está sangrando? – perguntou comedido. Eu neguei com um aceno de cabeça. – E doendo? – continuou retraído. Neguei novamente.
Ele não foi embora, eu sabia que não ia adiantar eu insistir nessa questão. E, como tinha feito da primeira vez em que invadiu meu quarto, ele se deitou comigo e me abraçou. O calor do corpo dele funcionou como um bálsamo a embalar meu sono.
Na manhã seguinte, um empregado flagrou-o na ala íntima da casa à primeira hora do alvorecer e foi relatar o que viu ao meu pai, que o questionou quanto à sua presença ali àquela hora. Maximus não era o tipo de homem que se deixava intimidar por quem quer que fosse. Com displicência e naturalidade ele afirmou ao meu pai que estava ali para irmos juntos à praia. Não era mais nenhum segredo que ele e eu passávamos horas infindáveis naqueles rochedos que não atraiam mais ninguém, e isso começara a intrigar especialmente a minha família.
- Que atrativos há naquele lugar para que você e o Julius passem tanto tempo perambulando por aquelas bandas? Mal acaba de amanhecer e você já está aqui chamando por ele. – questionou meu pai, após convidá-lo a tomar o desjejum conosco.
- Nada em especial! Gostamos de fazer caminhadas por lá, de tomar banho de mar. – respondeu o Maximus.
- Todos os dias? Até quando chove vocês passam horas por lá. – insistiu meu pai, que há algum tempo desconfiava daquela minha amizade com o filho do vizinho.
- Sim! Levamos os cães para passear, eles gostam! – Maximus era ligeiro no pensamento, sempre tinha uma resposta por mais capciosa que fosse a pergunta.
- Como vai seu treinamento no quartel? Pretende se tornar um legionário? – indagou meu pai, levando a conversa para outro rumo, enquanto formulava um ultimato quanto a nossa amizade.
- Estou bastante avançado! Os generais disseram ao meu pai que logo estarei apto a integrar as fileiras do imperador. – respondeu orgulhoso o Maximus.
- Seu pai deve estar orgulhoso de você! Parabéns! – bajulou meu pai, vendo que tinha conseguido baixar a guarda do rapaz inexperiente que tinha diante de si.
- Está sim! Obrigado! Ainda vou conquistar muitas coisas para o meu futuro, pretendo me tornar um comandante, pois o imperador recompensa muito bem aos que lhe são leais e vitoriosos nas batalhas. – sentenciou meu amigo.
- E o Julius faz parte dessas suas conquistas? – era nesse ponto que meu pai queria chegar com aquela conversa toda.
- Sim, faz! Eu quero o Julius para mim! – isso meu pai não esperava, uma resposta tão direta e sincera.
- Eu sei que rapazes vigorosos como você costumam ser presenteados pela família com escravos mancebos com os quais podem exercitar os prazeres do sexo, mas o Julius não é um efebo solto no mundo, nem escravo para ser adquirido e usado como servo sexual de homens viris como você. Nós prezamos pela felicidade dele, pelo futuro como um senador ou um diplomata do império. – asseverou meu pai.
- Eu não o quero como servo sexual! Eu amo o Julius! Quero viver ao lado dele, quero que façamos as nossas conquistas juntos. – afirmou com franqueza
- Admiro sua sinceridade! Tornar-se-á um homem de valor, sem dúvida! – afirmou meu pai, simpatizando com aquele atrevido que certamente passara a noite coabitando com seu filho que estava longe de demonstrar a masculinidade de outros rapazes de sua idade e posição.
- Obrigado, senhor! – agradeceu o Maximus, sentindo que aquela batalha ele havia ganho. – Eu vou cuidar muito bem do Julius, posso lhe garantir com a minha honra!
- Assim espero!
Quando o Maximus me falou dessa conversa eu fiquei muito zangado. Agora todos iam ficar sabendo da nossa ligação, daquela amizade que eu ainda não tinha aprendido a reconhecer muito bem. Ele, como sempre, pareceu não se incomodar com isso. Eu podia até jurar que ele estava feliz por ter tido aquela conversa com o meu pai e, algo me dizia, que até a família dele já sabia das safadezas que fazia comigo naquele rochedo isolado, cujos segredos de luxúria e intimidade daquela amizade que testemunhava jamais poderia revelar.
Ele já não precisava mais escalar as paredes para entrar ardilosamente nos meus aposentos, uma vez que tomou a conversa com o meu pai como um aval para passar as noites comigo, embora nunca tivesse obtido uma autorização ou, ao menos, uma condescendência para tanto. Maximus o fazia por que era um atrevido descarado, seu tesão por mim e aquele famigerado apetite sexual que apoquentava seus colhões taurinos, é que guiavam suas ações. Mesmo tendo ficado bastante assustado pela maneira como ele me desvirginou, e até zangado por ele ter me machucado tanto e me feito sangrar, eu não conseguia ficar bravo com ele por muito tempo. Eu o amava demais para nutrir qualquer sentimento de repúdio por ele, mesmo em situações onde ele se esquecia de gentilezas e bom senso. Contudo, tomei a decisão de doutrinar minimamente aqueles ímpetos animalescos dele, a bem da integridade do meu cuzinho. Pus minha tática em prática alguns dias depois quando ele me perguntou se eu já havia sarado completamente. A pergunta dele me fez rir, pois eu sabia exatamente o que ele queria com aquela resposta.
- Claro que não! – respondi a princípio, enfaticamente. – Nem sei se um mês será suficiente para isso acontecer. – acrescentei engrupindo.
- Um mês! – exclamou ele atônito e inconformado. – Um mês é o bastante até para ressuscitar um morto! Isso não é possível! E nós nem estamos falando de um golpe de espada, ou de uma lança cravada profundamente, estamos falando de uma pequena ruptura em suas partes íntimas. É impossível que algo tão superficial leve tanto a cicatrizar! – continuou ele, ponderando a situação, o que só fez meu riso se tornar incontrolável.
- Superficial por que não foi a sua carne que se rasgou! Eu é que sei o quão bruto você foi, seu desalmado!
- Você está mangando de mim, Julius! – exclamou ele, quando percebeu que eu não conseguia conter o riso. – E eu vou te dar uma lição por estar caçoando de mim e não me deixando fazer o que estou louco para fazer com você. – emendou obstinado, vindo para cima de mim.
- Espere, espere, Maximus! – assim não, você vai me machucar novamente; impedi-o, espalmando minhas mãos sobre o tronco viril e maciço dele. Aqueles seus colegas do quartel agem como selvagens por que estão a pegar raparigas desfrutáveis, prostitutas que se entregam a mais de um homem por dia. Eu não sou uma delas. Eu conheci o ‘coitu ani’ só agora, uma única vez, com esse seu tal de ‘membrum virillis’ do qual você tanto se vangloria. Portanto, se quiser continuar me penetrando, seja gentil comigo. – impus.
- Guarde bem o que vou te dizer agora! Você acabou de afirmar que conheceu o ‘coitu ani’ comigo, certo? E vai ser só comigo que você vai continuar a fazê-lo, com mais ninguém! – revidou ele, repentinamente sério e me encarando fundo nos olhos.
- Seu bobão! Eu por acaso disse que queria outro homem fazendo amor comigo? – indaguei.
- É bom deixar as coisas bem esclarecidas, por via das dúvidas! – resmungou ele, ao me ver sorrindo de modo cativante para aquela cara de braveza que o deixava irresistivelmente sensual.
Beijei-o por todo o rosto ao mesmo tempo em que movia meus dedos sobre os pelos do peito dele, excitando-o com a lascívia do meu olhar sequioso. Ele começou a arfar mais profunda e ruidosamente, enquanto a ereção se consumava. Meus beijos foram descendo pelo abdômen dele, com um destino premeditado, aquele imenso cacetão que, à medida que enrijecia, também começava a expor a gigantesca cabeçorra arroxeada que ia se tornando úmida com o pré-gozo perfumado que fluía da uretra.
- Aff, Uff, Ãff ... – era tudo que escapulia entre seus lábios cerrados
O primeiro gemido veio quando meus lábios se fecharam ao redor da glande, e uma sugada sutil sorvendo seu sumo pré-ejaculatório foi carinhosamente chupada. Ergui meu olhar para o rosto embasbacado e surpreso dele, dei outra chupada suave antes de começar a lamber a cabeçorra com a ponta da língua. Quanto mais o pré-gozo minava, mais eu lambia, descendo ao longo do caralhão até o escroto peludo. Ele grunhia, me agarrava pelos cabelos, jogava a cabeça para trás e enchia os pulmões de ar, liberando-o lentamente como se o tesão o estivesse sufocando. As pontas dos dedos deslizaram para dentro dos densos pelos pubianos, explorando, afagando aquela genitália colossal que agora estava completamente em minhas mãos, à minha mercê, para ser sentida e apreciada em sua potencialidade. Minhas narinas eram inundadas com o aroma almiscarado dele, um cheiro peculiar e único, um cheiro de Maximus, um cheiro de macho. Coloquei uma de suas bolas peludas na boca, massageei-a com os lábios e a língua, ele se contorcia e grunhia meu nome. A carne dura e latejante dele na minha boca atiçou meus esfíncteres anais, eles se contraíam em espasmos cada vez mais intensos, me estimulando a chupar aquela verga com todo desvelo e carinho. O caralhão dele estava tão rijo e tenso que eu já não o conseguia mover, ele o estocou na minha garganta um punhado de vezes, eu mal conseguia respirar quando minha boca começou a se encher com a porra que ele ejaculava dentro dela, me obrigando a engolir seu esperma cremoso e morno.
- Julius! Julius! Julius! – repetia ele entre rosnados roucos e grunhidos, enquanto esporrava feito um touro, contemplando-me a deglutir sua virilidade.
- Você é tão saboroso, Maximus! – exclamei ao terminar de lamber todo o sêmen que havia escorrido e lambuzado sua pica.
Ele me puxou para seus braços, me envolveu neles de forma tão carinhosa como nunca o tinha visto agir antes. Ficamos a nos beijar demoradamente, parecia não haver fim para aquele desejo que ardia feito fogo dentro de nós. Aos poucos, ele me reclinou sobre o leito, lambeu meus mamilos, chupou os biquinhos rijos e sensíveis, sugou-os até eles adquirirem o formato de sua boca, mordeu-os cravando cobiçosamente seus dentes neles até me ouvir gemer de tesão e dor. Sua mão devassa vasculhava meu reguinho, amassava minhas nádegas, procurava pela minha fendinha anal com a mesma avidez que um avarento procura ouro. Soltei um gemido longo quando senti o dedo grosso dele intrometido nas minhas preguinhas, se movendo em círculos, explorando e devassando minha intimidade. Ele me lançou um sorriso impudico e libertino ao sentir os espasmos do meu cuzinho tentando chuchar seu dedo puxando-o avidamente para dentro, e revelando abertamente o desejo que me consumia. O Maximus me virou de bruços, apartou minhas pernas, ficou mordiscando minhas nádegas, algumas vezes com tanta voracidade que deixava as marcas de seus dentes gravadas nelas. Eu gemia, gania, me contorcia querendo sentir novamente aquele macho dentro do meu corpo, mesmo que para isso precisasse passar pela mesma agrura do dia em que ele me desvirginou. Era ele que eu queria sentir pulsando nas minhas entranhas, era ele que eu queria aconchegar tão profundamente quanto possível para que ele pudesse sentir a plenitude do meu amor. Uma linguada úmida sobre as minhas preguinhas extraiu um gritinho excitado dos meus lábios, fazendo-o saber que eu estava pronto para recebê-lo. Imediatamente a língua foi substituída pelo cacetão, que ele pincelou vagarosamente algumas vezes ao redor da minha fendinha anal.
- Ai Maximus, vá devagar! Por favor, vá devagar! – supliquei, sentindo o potencial destrutivo de sua luxúria.
Ele forçou a cabeçorra entre as pregas, mas foi gentil e comedido. Eu estava tão tenso e travado que nenhum dos meus músculos conseguia relaxar, meu cuzinho parecia uma fortaleza indevassável. Mas eu o queria, precisava me abrir, precisava deixá-lo entrar em mim. Com uma inspiração profunda, segurei o ar nos pulmões, arrebitei a bunda e abri o cu, ele imediatamente enfiou o caralhão na fendinha que se abrira, e meu grito ecoou pelo quarto revelando a paixão libertina daquela relação. Entre sussurros eu suplicava para ele não ser bruto comigo, o que o fazia ser cada vez mais carinhoso e ir atolando seu tão idolatrado ‘membrum virillis’ cuidadosamente nas profundezas do meu cuzinho, cujos esfíncteres se amoldavam estreitamente ao redor dele, sentindo cada pulsação daquele falo quente e duro como uma rocha. Ele me estocava em pé, comigo deitado e me contorcendo sobre o leito, o que fazia o cacetão comprimir minha próstata contra o púbis e desencadear uma dor lancinante e prazerosa. Eu me agarrava a tudo que estava a minha volta, como um náufrago tentando não afundar. Aos poucos fui me virando, ele começou a se deitar em cima de mim, sacou a jeba com um movimento abrupto que me fez gritar quando a cabeçorra estufada atravessou meus esfíncteres. Encaixando-se entre as pernas que eu agora mantinha fletidas e abertas no ar, ele meteu novamente o caralhão no meu cuzinho, eu o puxei sobre mim e me agarrei em seus ombros, gemi o nome dele enquanto o membro dele deslizava obstinadamente para dentro do meu cu. Nós nos beijávamos sofregamente, formando um único ser com os corpos atados. Meus dedos arranhavam suas costas largas, afagavam sua nuca onde a pele dele se arrepiava toda ao menor e mais sutil toque das pontas dos meus dedos. Os impulsos vigorosos dele não paravam, ganhavam cadência, transformavam-se em estocadas num vaivém contínuo, atiçando e esfolando minha mucosa anal. Eu gania, ele grunhia e isso só ia nos deixando cada vez mais alucinados de tanto tesão. Eu me esporrei todo enquanto sussurrava o nome dele. Levei mais algumas estocadas antes de ele gozar novamente, inundando meu cuzinho com sua porra abundante e viscosa que ia aderindo à minha mucosa anal amenizando o ardor que a afligia.
- Amo você, Maximus! – confessei pela primeira vez com a voz embargada e os olhos marejados.
- Do jeito que fizemos agora eu senti muito mais prazer! Me perdoe por ter sido tão bruto com você da primeira vez. Você é tão suave e intenso ao mesmo tempo, Julius. Você é único, é o que mais amo nessa vida. Diga que vai ser meu para todo o sempre. Eu amo você, Julius! – devolveu ele, arfando e deixando que aquele prazer que dominava seu corpo fosse se diluindo vagarosamente em meus braços.
Suas visitas à nossa casa se tornaram diárias, ele não dava nenhuma explicação para se demorar quando a noite caía e avançava sem que ele demonstrasse nenhuma intenção de partir, nem quando deixava meus aposentos à primeira luz da manhã, com aquela cara de felicidade iluminando seu semblante e aquela leveza de ter saciado seus instintos primais no meu cuzinho.
Eu não sabia bem o que queria da vida, se viver com ele sob o mesmo teto, viver submisso à sua virilidade e aturar aquela sua empáfia de macho dominador era mesmo o que me faria feliz. Eu gostava muito dele, isso era inegável, gostava de fazer amor com ele, mas isso é o bastante para se sentir realizado na vida? Era nisso que eu pensava numa tarde enquanto assistíamos ao pôr-do-sol recostados nus contra as pedras aquecidas pelo sol.
- Vou reivindicar uma daquelas ilhas mais distantes, daquelas ali, está vendo, quando conquistar a vitória nas batalhas que vou enfrentar contra os exércitos do Império de Palmira. Qual delas você acha mais bonita? Vou reivindicar a que você quiser. É lá que vamos morar e viver, só eu e você a princípio. Depois vou fazer filhos em você metendo meu ‘membrum virillis’ na sua ‘stricta ani scissura’, dois ou três, todos varões que um dia se tornarão generais importantes e até imperadores. Eles vão ter a sua doçura e a minha coragem, serão homens destemidos e valorosos. – afirmava ele, deitado no meu colo enquanto eu afagava o contorno de seu rosto másculo e espinhudo, coberto com aquela barba hirsuta e curta.
- Você é mesmo um bestalhão! Eu não sou mulher para você conseguir fazer filhos em mim, seu bobalhão safado! Aposto que você aprende todas essas besteiras no meio daqueles soldados tarados, pois não consigo imaginar de onde você tira tanta asneirada junta. – retruquei
- É que você não sabe do que meu ‘membrum virillis’ é capaz! Não se esqueça que eu te fiz sangrar como uma mulher na nossa primeira vez! Eu vou te foder tanto, te inseminar tanto até você engravidar. Não duvide de mim, e do que sou capaz de fazer com você, que é a minha fêmea. – continuou ele, em seus delírios de macho.
- Não sou sua fêmea, não sou mulher, sou um homem! Eu sangrei por que foi um bruto insensível comigo, você agiu como se estivesse digladiando comigo e não fazendo amor. Se você continuar a dizer que sou mulher ou fêmea vou brigar sério com você, entendeu! – esbravejei
- Por fora você até pode se parecer um pouco com um homem, mas aí dentro eu sei que você é uma fêmea, uma fêmea que vai me dar filhos. – ratificou ele.
- Não dá para conversar com você! É tanta besteira que não adianta querer conversar a sério. Bestalhão! Vou acabar me alistando no quartel também, e você vai ver se sou homem ou não! – blefei
- Só se for sobre o meu cadáver! Você não vai nem chegar perto daquele lugar! Quando aqueles sujeitos virem esse seu corpo bronzeado, sentirem essa sua pele aveludada, tocarem essa bunda gostosa vão te foder feito leões famintos. Eu sou o único que pode fazer isso, o único, está me compreendendo? Você é meu, só meu! – revidou ele, zangado.
Passados alguns minutos em meio a um silêncio tenso mantido às custas da revolta que havia em ambos, ele puxou minha cabeça em direção a sua boca. Ele continuava deitado no meu colo e eu o beijava com um sentimento tão profundo de paixão e amor que quase me dava vontade chorar, pelos meses que ficaríamos afastados um do outro; ele sabe-se lá onde correndo mil riscos, enquanto eu precisava me conformar com uma espera infindável.
- Eu te amo, bestalhão! – ronronei, acariciando-o e cobrindo-o de beijos, enquanto o cacetão dele ia se encolhendo lentamente no meu rabo lanhado e úmido.
- Eu também te amo, Julius, minha eterna paixão! – devolveu ele, erguendo o tronco e vindo se inclinar sobre mim.
Minutos depois, eu gania e gemia sentindo o cacetão dele estocando e pulsando freneticamente no meu cuzinho. O sol já havia se posto quando saímos do nosso refúgio, eu tão galado que sentia seu esperma pegajoso nas minhas pregas e ele com o caralhão relutando em se encolher. Se os delírios dele pudessem se concretizar, eu certamente já estaria prenhe dele depois daquele coito intenso e envolto em tanta paixão.
Eu estava particularmente melancólico naquela tarde do final do verão do ano 272, ele acabara de me dar a notícia de que dentro de um mês estaria partindo numa campanha contra o Império de Palmira em sua primeira função de comandante de uma tropa do imperador Lúcio Domício Aureliano, que fora alçado a esse título ascendendo nas fileiras do exército sob Galiano e Claudio Gótico. Propositalmente, ele havia deixado para me dar a notícia depois de transarmos, uma vez que já suspeitava que eu iria me entristecer e, talvez, até não me dispusesse a fazer a amor, ou o fizesse com o pensamento distante deixando de lhe proporcionar todo o carinho a que tinha direito. Estávamos seguindo rumo a casa dele, onde eu iria passar a noite, pois também ali já não se fazia segredo sobre o que rolava entre nós, quando ele começou a falar. A família dele até via com bons olhos o fato de o filho estar exercitando a sua masculinidade, não com um escravo ou um subalterno, mas com o filho de um aristocrata senatorial do império, o que não era pouca coisa, e só confirmava a capacidade do varão de conquistar objetivos importantes, mesmo quando estava a se divertir com as premissas do sexo. Até então, ninguém encarava o nosso relacionamento como algo mais sério e definitivo, acreditavam que estávamos apenas dando vazão aos instintos que nossos hormônios ditavam.
- Dentro de quatro semanas a minha tropa vai se juntar ao exército de Aureliano quando passarem por Salona. – seu olhar mirava o chão quando falou, por algum motivo ele não se atreveu a me encarar. – Vou me ausentar por, no mínimo, 18 meses. Talvez mais, a depender do quanto será preciso para dominarmos o Império de Palmira.
- Quatro semanas? Quer dizer que é esse o tempo que ainda nos resta para ficarmos juntos? Desde quando está sabendo da sua partida? – perguntei
- Há pouco mais de um mês! – respondeu num tom de voz baixo
- E por que não me disse nada antes?
- Sabia que você ia ficar chateado, não quis te aborrecer! – respondeu sincero
- Você omitiu o fato por que sabe que eu não aprovo o que está fazendo, não por que eu ia me aborrecer. Será que você não consegue pensar em outra coisa que não seja esse maldito exército, essa sua mania de querer se meter em batalhas inúteis, em participar de guerras que não são suas? – questionei zangado
- Consigo sim! Eu penso em você! O tempo todo, dia e noite, acordado ou sonhando, é sempre você que vive nos meus pensamentos. – respondeu ele
- Se isso fosse verdade você não ia me deixar por dois anos sozinho. – argumentei acabrunhado
- Você sabe que isso não é verdade! Minha prioridade, desde a primeira vez que te vi, foi sempre você! Mas, eu sou homem, e um homem precisa conquistar algo que possa oferecer a quem ama, para lhe proporcionar conforto e segurança. É atrás disso que estou indo. Estou indo atrás daquela ilha que você gostou, é lá que vamos viver o nosso amor. – afirmou ele
- Eu não preciso de nada disso, eu só preciso de você ao meu lado. Eu só quero poder te amar, te sentir dentro de mim, te ter ao meu alcance. Nada além disso me importa! – asseverei.
- Você terá tudo isso e muito mais, eu prometo!
- Estou com medo, Maximus! Será que você não entende? Uma guerra é uma guerra, não é a mesma coisa com a qual você e aquele seu bando de amigos do quartel ficam brincando enquanto se gabam de suas façanhas sexuais. Os homens se ferem nas guerras, os homens morrem nas guerras e deixam os que os amam na solidão eterna. – argumentei ao ser tomado por um mau presságio.
- Isso não vai acontecer! Você pode não acreditar, mas eu sou bom no que faço! Sou um guerreiro hábil, bato qualquer um dos meus companheiros de quartel com facilidade. Não será diferente no campo de batalha, especialmente por que lá eu estarei lutando por nós dois, pelo nosso amor. – afirmou ele.
- Eu não quero que você lute por mim, você já me tem por inteiro, você já tem todo o meu amor. Como a mim você já conquistou, agora quer novos desafios, essa é a verdade! E tudo apenas para poder se vangloriar, como faz em relação ao seu ‘membrum virillis’. – afiancei. – Eu te imploro Maximus, não vá, não me deixe. – emendei choroso
- Não me peça uma coisa dessas, Julius! Eu me dedico há anos para ser um bom comandante, você não pode me pedir que desista disso. – devolveu ele convicto.
Eu, de fato, sabia que não tinha esse direito. Não tinha o direito de ir contra os sonhos dele, mesmo que esses sonhos colocassem em risco a sua vida. Éramos ambos homens, mas ele tinha algo que o distinguia de mim, ele era aquele tipo de homem macho, aquele macho alfa que precisava exercer e ter reconhecido o seu poder de dominação e liderança sobre os demais. Não eram as conquistas que ampliariam ainda mais as fronteiras do Império Romano que lhe importavam, mas tão somente, o reconhecimento de suas façanhas.
Não brigamos, eu tive que aceitar a decisão dele. Também não lhe neguei meu cuzinho nem minhas carícias naquela noite, pois era tudo o que eu tinha a lhe oferecer, e tudo do que ele sentiria saudades enquanto estivesse fora. Ele pareceu compreender meu presente de despedida e me amou como nunca.
Nossas idas até o penhasco e a praia começaram a ter um sabor saudosista, como se a cada dia e a cada transa, estivéssemos correndo contra o tempo. Um tempo que se extinguia numa velocidade maior do que desejávamos.
- Toda vez que você vier para cá enquanto eu estiver longe, vai poder se conectar comigo através desse pôr-do-sol, eu vou olhar para ele onde quer que esteja e te mandarei um beijo cheio de paixão e amor para que se lembre de mim todos os dias. O mesmo vou fazer com a lua, toda noite vou ficar olhando para ela desejando estar com meu ‘membrum virillis’ dentro da sua ‘ani scissura’, sonhando com seus afagos e seus beijos de amor. – disse ele, comigo deitado sobre seu peito fazendo carícias com seus pelos.
- Isso não vai preencher o vazio que vou carregar por aí sem você! – devolvi.
- Olhe bem para o sol agora, lá está vendo? – apontou ele para o terço restante da esfera amarelo-alaranjado intenso que mergulhava lentamente no mar espalhando seus raios dourados sobre tudo ao seu redor. – Olhe bem, mas bem mesmo, aguçando o olhar, está vendo que bem no meio dele existe uma porta? É dessa porta que eu vou voltar para você, com a nossa ilha conquistada; com o dobro, não, o dobro não, o triplo do amor que sinto por você, e pronto para te levar comigo para lá onde vamos morar até ficarmos velhinhos. – continuou ele, tentando amenizar a dor daquele momento, o que não impediu que minhas lágrimas caíssem sobre o peito dele. Percebendo que eu chorava em silêncio, acrescentou – Também não se esqueça que é lá que vou te engravidar! – ele sorria querendo fazer graça para me dar ânimo, mas seu sorriso era triste.
Fiquei com ele até o último instante em que me foi permitido. Meus irmãos me acompanharam até o campo nos arredores de Salona de onde o exército partiria. Havia milhares de pessoas se despedindo de um filho, de um esposo, de um amigo, de um amor que ninguém sabia quando voltaria a ver. O Maximus havia passado a noite comigo e eu ainda sentia o ardor no meu cuzinho deixado pela sofreguidão com a qual o caralhão dele me fodeu, assim como sua umidade viril formigando na mucosa do meu casulo anal. Os olhos dele brilhavam quando me apertou contra o tronco musculoso logo após a troca de um longo beijo, e enquanto eu passava delicadamente as pontas dos dedos no rosto dele e ele fazia o mesmo comigo. Tanto o brilho do olhar dele quanto o do meu eram fruto de lágrimas que não deixamos cair diante daquela multidão, muito embora ninguém estivesse se incomodando com o que acontecia à sua volta, todos estavam concentrados naquela despedida dolorosa do ente amado que partia.
Os primeiros meses foram talvez os mais dolorosos, pois eu ainda acordava no meio da noite sentindo o calor do corpo do Maximus enroscado no meu, e a ausência do caralhão dele enfiado no meu rabo. Depois, foi como se minha mente tivesse sido anestesiada para me poupar do sofrimento, embora as lembranças continuassem acocoradas num canto dela. Quando a dor voltou após dois anos da partida dele, ela tinha outra configuração, era uma dor de saudade, uma dor de temor de que ele nunca mais voltaria, uma dor que feria e mutilava, uma dor de que talvez já não se lembrasse mais de mim, com tantas novidades e fatos novos que estaria vivenciando numa vida mais glamorosa longe do isolamento do nosso refúgio no litoral esquecido da Dalmácia.
Quando Valerius Ovinius, pai do Maximus, veio ter com meu pai numa manhã de domingo em pleno inverno eu pressenti que era portador de más notícias, assim que o vi se aproximando da casa acompanhado de um empregado. Eu corri de encontro a ele, seu rosto contraído expressava um pranto contido, não tive coragem de lhe perguntar nada antes de ele ficar frente a frente com os meus pais. Ele pigarreou para limpar a garganta, ou talvez para engolir o nó que trazia dentro dela.
- Esta manhã chegou um mensageiro da Ásia Menor, trazendo informações de que os exércitos de Aureliano tinham reconquistado de forma definitiva o território do Império de Palmira vencendo as tropas do general Zabdas na Batalha de Emesa, na qual o Maximus perdeu a vida. – as últimas palavras dele me fizeram sentir uma vertigem e eu precisei me amparar na parede mais próxima deixando meu corpo escorregar por ela até me encontrar sentado no chão.
Alguém aspergia água fria no meu rosto, embora estivesse com os olhos abertos, não via mais do que vultos e sombras ao meu redor, os sons que entravam no meu ouvido vinham de algum lugar distante e se misturavam às palavras do general Valerius – Maximus perdeu a vida ... Maximus perdeu a vida ... Maximus perdeu a vida – que se repetiam como gotas de chuva caindo ritmadas no telhado, enquanto eu caía num poço escuro e sem fundo que subitamente se abrira aos meus pés.
- Lamento te trazer essa notícia Julius! – exclamou o general. – Estamos todos consternados lá em casa. Maximus era tudo o que nós tínhamos, era a nossa maior esperança. – continuou ele, percebendo que eu havia me desconectado da realidade.
- Expressar nossas condolências é pouco diante da dor que o general está enfrentando. – afirmou meu pai em solidariedade ao vizinho. – Maximus já era tido como um filho dentro dessa casa. – acrescentou sincero.
- Meu filho viveu os seus melhores anos ao lado do seu, quando descobriu a paixão que sentia por ele. Essa foi a razão de nunca nos termos oposto a esse relacionamento. Seu filho preencheu o coração do meu como ninguém antes havia conseguido, e eu e minha esposa lhe seremos eternamente gratos por isso, meu filho! – concluiu com a voz embargada dirigindo-se a mim.
Quando o general voltou para casa, eu sabia que meu mundo e minha vida haviam terminado naquele momento. Eu jamais voltaria a sentir o toque vigoroso das mãos do Maximus no meu corpo, eu nunca mais ouviria a sua voz grave me fazendo juras de amor, me falando besteiras, me levando na conversa para conseguir transar comigo depois de ter dito ou feito alguma bobagem que tinha me deixado zangado, eu nunca mais sentiria o sabor másculo de sua boca nos beijos apaixonados que trocávamos, eu nunca mais o sentiria pulsando voraz e viril nas minhas entranhas, eu nunca mais teria o privilégio de contemplar aqueles olhos tão verdes que escondiam os mistérios e o que regia aquele coração apaixonado por mim.
Depois que recebi a notícia da morte de Maximus, nunca mais fui o mesmo, tinha perdido a maior razão de viver. Havia algumas semanas que a melancolia e a tristeza tinham se agravado mais, eu só pensava nele e tinha crises de choro constantes, até que naquela tarde, pouco antes do pôr-do-sol, fui ter à praia. De alguma maneira ela me conectava com ele, com as boas lembranças vividas ali com ele, onde o nosso amor que tinha nascido, se consumado e crescido entre aqueles rochedos e aquelas pequenas nesgas de areia branca e fofa. O crepúsculo estava especialmente lindo naquele dia no qual o sol havia brilhado forte desde o amanhecer. O círculo amarelo alaranjado descia devagar no horizonte distante, banhando a superfície do mar com tons que iam do dourado ao ocre terroso, formando como que uma estrada que levava da praia ao sol, tal qual eu e ele havíamos assistido centenas de vezes. A impressão que se tinha, era a de que seria possível caminhar sobre esta estrada e que haveria uma porta na qual se pudesse adentrar nele. Eu enxergava a porta da qual o Maximus havia me falado antes de partir, ela realmente estava lá exatamente como ele a descrevera. Eu havia caminhado até o ponto mais alto do promontório rochoso, um pouco mais distante de onde costumávamos ficar. Havia um paredão de mais de cem metros, quase reto, descendo até onde as ondas arrebentavam contra as rochas. Minhas lágrimas que desciam copiosas pela face pareciam já não ter mais o mesmo poder curador de antes, a chaga no meu coração só fazia aumentar. A primeira lufada fresca vinda do mar e prenunciando o anoitecer ergueu a aba da minha túnica e expos minha bunda antes de ser soprada contra as minhas coxas. Eu gritei com toda a intensidade dos meus pulmões, chamando por ele, implorando para que voltasse de onde estivesse. Em minhas mãos estava a concha que ele me dera e onde tinha dito que, se eu a colocasse junto ao ouvido e me esforçasse o bastante, poderia ouvi-lo me confessando seu amor eterno. Levei-a até a orelha e, entre o rugido das ondas, a voz dele me chamava. Quatro passos me levaram até a beira do penhasco, eu abri os braços e tornei a chamar por ele. Seu rosto risonho estava lá, junto à porta de entrada do sol, no fim daquela estrada dourada. Eu me lancei apaixonado nos braços dele.
Meu corpo foi encontrado no dia seguinte, enroscado entre as rochas quando a maré baixou, mas minha alma tinha se encontrado com a dele e, felizes, nadávamos num mar etéreo, com elas entrelaçadas se beijando e vivendo aquele amor por toda a eternidade.
