— Piranha!— era como Reginaldo esbravejava, irritado, sempre ao ouvir aqueles sons. Gemidos de algum casal fazendo sexo eram comuns de se ouvir pela janela do banheiro. A clareza do som permitia ouvir não apenas os gemidos, mas também os diálogos obscenos entre os dois. Isso, somado ao som dos corpos se chocando, fazia de qualquer ouvinte acidental, uma espécie de expectador da vida sexual daquele casal. A orquestra de ruídos indecorosos a muito incomodava Reginaldo. A maneira daquele casal expor sua intimidade, mesmo sem querer, o ofendia. Como poderiam duas pessoas terem um momento de intimidade com forma tão indecorosa? Não tinham respeito pelos vizinhos, mas pareciam não ter respeito nem por eles mesmos. Aos olhos de Reginaldo, aquele era um casal perdido e a culpa, só poderia ser da mulher.
Nem todos os homens tinham a sorte de estarem bem casados como ele. Sua esposa, Flávia, era uma mulher gentil, carinhosa, e acima de tudo, se dava ao respeito. Era discreta, tanto em suas vestimentas quanto em seu comportamento. Formavam um casal perfeito, perturbado apenas pela falta de pudor alheia. Ele não fazia ideia do tanto.
Flávia, de fato, era uma mulher recatada e dedicada ao esposo. Viviam juntos a poucos anos, sendo um casal jovem, ela com vinte anos e ele com vinte e seis. A convivência entre os dois era tranquila, assim como a vida sexual. Nada os abalava, até se mudarem para aquele condomínio e ouvirem os sons lascivos ecoando pela janela do banheiro. Até então Flávia não imaginava ser possível fazer as coisas daquele jeito. Sua intimidade era compartilhada com Reginaldo de forma tão singela e nunca se imaginou se expressar daquela forma como eles faziam. Nas primeiras vezes aquilo a chocou, da mesma forma como a seu marido. Com o tempo, ela percebeu algo naqueles gemidos descontrolados e dos diálogos vulgares. Os dois se expressavam com liberdade, de tal forma a explodirem em algum momento. Flávia começou a refletir sobre ele e ela própria e questionar se faltava algo em sua vida.
Foi quando Flávia quis se soltar mais com o marido. Na cama, com ele por cima dela, passou a gemer mais alto, como se estivesse chamando por algo ainda desconhecido. Foi reprimida pelo marido. — Você tá parecendo aquela piranha— ele disse. Naquela noite Flávia engoliu o tesão e também as lágrimas. Se sentia culpada por querer mais. Nos dias seguintes, não tentou mais diferir, deitando se com ele sempre no mesmo papai e mamãe até o orgasmo dele, um beijo, e uma noite de sono.
Flávia sentia o contraste entre a vida sexual dela e os tais vizinhos escandalosos, mas não queria desagradar o marido. Se sentia culpada, pois desejava algo mais em seu casamento, mas não entendia o que seria. Quanto mais Reginaldo expressava seu desprezo, mais a culpa aumentava. Com o tempo, isso provocou o efeito contrário.
O jeito como Reginaldo chamava tal vizinha de piranha passou a mexer com Flávia. Ele falava aquilo com um certo desprezo, mas com muita raiva. Tal sentimento fazia ele se expressar com uma intensidade incomum. Flávia percebia um volume incomum na calça de Reginaldo nesse momento, deixando-a confusa, mas ao mesmo tempo curiosa. Ela, antes incomodada em ver o marido irritado, passou a querer ficar perto dele no momento em seus momentos de fúria. Se antes o ouvia quieto, passou a endossar seus comentários. Coisas como “ela é uma sem vergonha mesmo” ou quaisquer fofocas recebidas de outros vizinhos serviam para estender o momento de stress do marido, estimulando-o a expor aquele sentimento reprimido. De cara percebia sua ereção mais evidente a casa comentário. Flávia tremia ao ouvir o marido, e não era mais por medo.
Pelas fofocas dos outros vizinhos, ela descobriu quem seria a vizinha. Era uma advogada, de alguns andares acima. Cada história ouvida sobre ela era mais escandalosa que a anterior. Haviam relatos de orgias no apartamento dela com os pedreiros na época em que reformaram. Vizinhos de outro prédio relataram ver ela fazendo sexo com algumas pessoas na sua varanda e o próprio marido estava no meio. Segundo alguns relatos, nem a própria corretora escapou ao apresentar a casa aos dois. Definitivamente, era uma devassa, uma mulher provavelmente desagradável de tão promíscua. Apesar de gostar de usar os gemidos para estimular a fúria excitante do marido, tais relatos a mantiveram certa de querer distância dela. Porém, dentro de um condomínio, isso nem sempre é possível.
Certo dia, Flávia voltava para casa. Tinha a pele clara e os cabelos pretos longos e lisos. Seu vestido longo lhe garantia um visual discreto. Na entrada do elevador, percebeu a chegada de alguém e segurou a porta. Entrou uma mulher morena, com cabelos ondulados, vestindo um elegante terno. A gentileza foi o convite para as duas iniciarem uma amistosa conversa. Dentre os vizinhos conhecidos, Flávia nunca teve uma conversa tão animada no pouco tempo do elevador subir. Sua surpresa aumentou quando as duas se apresentaram.
— Berenice — disse ela. Depois de todas as histórias a respeito, Flávia nunca imaginaria Berenice como uma mulher tão gentil e agradável. Berenice tinha jeito espontâneo de se comunicar e um sorriso sedutor. Flávia não queria terminar aquela conversa e deixou de ir ao seu apartamento para continuar o papo, subindo até o andar de sua vizinha.
Com Paulo fora, o apartamento estava vazio. As duas se sentaram à mesa e continuaram sua conversa. Falaram de suas vidas, da mudança de Flávia e suas impressões do condomínio. Omitiu sobre os gemidos e as reações de seu marido pois não queria quebrar aquele clima. Porém a própria Berenice tocou no assunto.
— Olha, se você ouve uns sons estranhos, uns gemidos e tal… saiba que somos nós. A gente se gosta tanto e às vezes não nos controlamos. Nenhum vizinho reclamou diretamente conosco, mas eu acho que eles têm vergonha — confessou Berenice.
— Ouvimos algo, mas quase não notamos — disfarçou Flávia.
— Não incomoda a vocês?
— Não. Nem um pouco.
— Vocês gostam de ouvir?
A pergunta pegou Flávia de surpresa, fazendo seu rosto queimar. Mesmo se esforçando para controlar suas expressões, o rosto vermelho de vergonha era indisfarçável.
— Sua safada, você gosta, né.
O sorriso malicioso da vizinha quebrou a tensão de Flávia. Rindo da brincadeira de Berenice, ficou mais leve e lentamente foi se soltando mais.
— Eu confesso que… acho que gosto sim. Não pense que fico espionado vocês
O sorriso de Berenice tomou todo o seu rosto.
— Não penso em nada não. Eu gosto de saber estar sendo ouvida, olhada. Essas coisas me deixam mais excitada.
— Eu percebo que você fica bem… solta.
Berenice ri.
— É que eu gosto muito de sexo. Eu devo ser ninfomaníaca, sei lá. Só sei que sinto um prazer tão grande que quero pôr tudo para fora. Quando eu gozo, então, ninguém me segura. Não é assim com você?
A expressão de Flávia perdeu seu sorriso.
— Eu não sei o que é isso.
Diante de Berenice, Flávia se transformou. Sua vizinha antes exibia um sorriso farto. Agora, nem a olhava mais nos olhos, virando o rosto de lado. Berenice entendeu na hora. Segurou as mãos de sua vizinha e procurou confortá-la. Foi quando as primeiras lágrimas caíram do rosto. Berenice prontamente saiu de sua cadeira para abraçá-la. Foram longos minutos de cafuné e um abraço carinhoso e duradouro o bastante para secar todas as lágrimas. Berenice sentiu a obrigação de ajudá-la.
Convidou-a para seu quarto e pediu para se sentar na cama. Sentada, Flávia observou sua vizinha tirar o blazer e depois a calça enquanto reclamava de não gostar de ficar vestida em casa. Se impressionou com o fato de sua vizinha ficar seminua na sua frente quando acabaram de se conhecer e mais ainda com a calcinha minúscula usada por ela. As laterais eram apenas fios e praticamente só havia tecido na frente. Atrás, a peça se escondia em suas nádegas. Flávia seguia olhando aquela mulher exibindo o seu corpo enquanto procurava algo no armário. Sempre reparando naquela calcinha. Parecia tão imoral usar aquilo, mas ao mesmo tempo, se impressionava como a forma daquela minúscula calcinha valorizar o seu corpo. A bunda de Berenice atraía seus olhares. Flávia se perguntou se ela mesma poderia conseguir atrair olhares daquela forma. Milhares de coisas passaram na sua cabeça até Berenice finalmente encontrar algo no armário
A pequena caixa de Berenice tinha em seu interior uma série de objetos fálicos. Uns, com formato discreto a ponto de Flávia não entender o uso deles, e outros replicando um pênis até mesmo em suas veias. Em alguns casos com tamanhos assustadores para Flávia.
— Porque está me mostrando isso?— perguntou Flávia, com os olhos arregalados.
— É minha caixinha do prazer. Uso quando o Paulo não está aqui ou quando quero gozar sozinha mesmo.
— Meu Deus! Berenice. Onde você conseguiu essas coisas?
— Umas pela internet, outros uma loja aqui perto. Fiquei amiga da dona.
Flávia estava surpresa em saber o quão acessível eram aqueles brinquedos. Imaginava serem coisas de pessoas pervertidas, compradas apenas de forma clandestina e não numa loja de shopping. Berenice deixou Flávia se espantar e olhar todas aquelas novidades até lhe mostrar um em particular. Tinha a cor rosa e parecia um batom, de tão discreto, mas era maior.
— Leva esse com você, já está carregado. Se você apertar aqui, ele liga— disse, demonstrando como ligar a vibração do brinquedo, assustado Flávia. — use quando estiver sozinha para aprender como gosta de brincar. Eu costumo usar com o Paulo dormindo e ele nem percebe.
— Como eu uso isso? — perguntou Flávia, espantada.
Paciente, Berenice explicou tudo, inclusive o efeito maravilhoso da vibração no clitóris. Abriu as pernas na frente de Flávia e simulou como ela esfregava o bullet nos lábios, sua boceta ou se introduziria. Berenice dava uma aula de masturbação, se exibindo, deslizando o brinquedo por cima da calcinha. Flávia olhava atentamente o corpo de Berenice rebolando, enquanto sua vizinha dizia sobre a importância do corpo responder ao prazer. Assistiu toda a demonstração sentindo um estranho formigamento entre as pernas. Berenice se viu obrigada a terminar a demonstração antes de começar a usar o brinquedo de verdade. Flávia saiu daquela casa com a boceta melada e a mente cheia de ideias.
A noite Flávia preparou o prato favorito de Reginaldo e depois da janta, foi para o quarto e pediu ao marido para esperar. Foi chamado a entrar, Reginaldo viu sua esposa vestir apenas uma blusa e uma calcinha. A blusa estava fechada e a calcinha lhe cobria bastante o quadril, mas o gesto , deixou o marido de pau duro na hora. Mal sabia ele que sua esposa estava imitando a piranha da vizinha.
Flávia sentiu o desejo de seu marido pela força com que a abraçava. As mãos a apertavam com firmeza enquanto os dois trocavam beijos apaixonados. Flávia lembrou dos conselhos de Berenice e passou a esfregar sua pelve no esposo e sentiu ele endurecendo cada vez mais. Flávia apagou a luz enquanto era agarrada por Reginaldo e os dois se deitaram. Ele a beijava enquanto se colocava por cima. No escuro daquele quarto o tato era ainda mais importante. Reginaldo "leu" todo o corpo de Flávia com suas mãos enquanto a beijava carinhosamente. Quando a penetrou, deslizou fácil. Algumas estocadas depois, Reginaldo gostou, abraçando Flávia com força, empurrando seu pau inteiro dentro dela.
Ficaram ali, juntos, trocando beijos e sorrisos, nus e abraçados na cama até os dois dormirem. Ou até ele dormir.
Flávia tirou do criado mudo o bullet recebido de Berenice. Ciente do quão pesado era o sono do marido, se enfiou sob as cobertas e deslizou aquele objeto pelo seu corpo. Os lábios vaginas receberam e abraçaram aquele brinquedo escorregando entre eles. Lembrou-se dos conselhos de Berenice e balançou seu quadril. Flávia rebolava no bullet quando ligou sua vibração. Precisou controlar o gemido na primeira vez, mas seguiu se estimulando. Quando o brinquedo a penetrou, Flávia suspendeu o quadril, como se os movimentos de ida e volta partissem dele, engolindo e se afastando daquele objeto vibratório. O grelo, endurecido, implorava por atenção e Flávia levou o brinquedo para vibrar junto a ele. Sua respiração mudou na hora, tamanho o prazer proporcionado. Seu quadril continuava a rebolar enquanto o clitóris era vibrado. A deliciosa vibração a fez se lembrar dos momentos com Reginaldo e depois da simulação de Berenice. Sua imaginação misturou as lembranças. A vontade de gritar era crescente, até explodir. Flávia pôs a mão na boca enquanto seu corpo se contorcia. Quase caiu da cama.
Olhando para o teto no escuro, Flávia se deu conta de nunca ter sentido aquilo em sua vida. Estava maravilhada com aquela explosão de prazer, mas também havia a sensação de estar faltando algo. Olhou para o lado e observou o marido dormindo. Sentia a necessidade de compartilhar algo tão incrível com ele. Só não sabia como.